O Morro dos Ventos Uivantes...

By KateBrasil23

11.3K 745 22

Esta é uma história de amor e obsessão. E de purgação, crueza, devastação. No centro dos acontecimentos estão... More

*Comunicado *
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 15

121 11 1
By KateBrasil23

Outra semana se passara... e eu cada dia mais perto da saúde e da Primavera! Já ouvi inteirinha a história da vida do meu vizinho, contada em várias sessões sempre que a governanta fazia uma pausa noutros afazeres mais importantes. Continuarei a contar a história pelas suas próprias palavras, apenas um pouco mais resumida. Ela é na verdade uma excelente narradora e eu não sou capaz de melhorar o seu estilo. Nessa tarde --recomeçou ela --na tarde do dia em que fui ao Alto dos Vendavais, sabia, como se estivesse a vê-lo, que Mr. Heathcliff andava a rondar a casa. Por isso evitei sair, pois tinha ainda em meu poder a carta que ele me incumbira de entregar, e não queria ser ameaçada de novo. Tinha decidido não a dar à senhora enquanto o meu patrão estivesse em casa, uma vez que não podia imaginar qual seria a reação dela. Por essa razão, a carta só foi entregue ao fim de três dias. O quarto dia era domingo, e só quando já toda a família tinha saído para a missa subi ao quarto da senhora e lhe entreguei a carta.

Ficara apenas um criado a guardar a casa comigo e, durante as horas da missa, era costume mantermos as portas trancadas. Naquele dia, porém, o tempo estava tão ameno e agradável que resolvi deixá-las abertas para cumprir a minha promessa. E, para afastar o outro serviçal, disse-lhe que a senhora desejava comer laranjas e que era necessário que ele desse um salto à vila para as ir comprar e que eu no dia seguinte as iria lá pagar. Assim que ele saiu, subi as escadas.

Mrs. Linton estava, como de costume, sentada à janela. Trazia um vestido branco a cair solto e, sobre os ombros, uma pequena romeira. Quando caíra à cama, tinham-lhe cortado grande parte do cabelo espesso e longo e, agora, penteava-o com simplicidade, com os caracóis a cair soltos sobre as têmporas e a nuca.

A aparência de Catherine, como eu dissera a Heathcliff, tinha mudado bastante. Todavia, quando estava mais calma, parecia que dessa mudança irradiava uma beleza sobrenatural. O brilho cintilante dos seus olhos dera lugar a um olhar sonhador e melancólico que dava a impressão, não de fitar os objeto à sua volta, mas de se fixar além, muito mais além, quem sabe se fora deste mundo. Também a palidez do seu rosto, se bem que já sem os traços escavados da magreza e com as faces mais compostas, e a expressão própria do seu estado mentalmente conturbado, contribuíam para acentuar o interesse comovedor que a sua imagem suscitava, embora revelassem dolorosamente as suas causas. Eu não tinha quaisquer dúvidas, e penso que qualquer outra pessoa que a visse as não teria, de que o seu aspecto refutava qualquer prova tangível de convalescença e a condenava ao definhamento. À sua frente, pousado no parapeito da janela, estava um livro cujas folhas se agitavam à passagem da brisa que corria quase imperceptível. Creio ter sido Linton quem ali o deixara, pois Catherine não se distraía com a leitura nem com qualquer outra ocupação semelhante; era ele quem passava horas a fio tentando cativar a sua atenção para assuntos que outrora a interessavam. Ela tinha consciência do esforço que ele fazia e, quando a boa disposição lho permitia, suportava tudo com serenidade, mostrando apenas a inutilidade de tais esforços ao suspirar de vez em quando, desmotivando-o, por fim, com beijos e melancólicos sorrisos. Outras vezes, voltava-lhe as costas, petulante, e escondia o rosto entre as mãos, chegando mesmo a mandá-lo embora. Ele apercebia-se então de que melhor seria deixá-la sozinha, pois a sua presença de nada lhe valia. Os sinos da capela de Gimmerton repicavam ainda e os murmúrios suaves das águas da ribeira, correndo no vale, chegavam-me aos ouvidos. Eram aprazíveis substitutos dos murmúrios musicais da folhagem estival, ainda ausentes, que, quando as árvores se cobriam de folhas, abafavam os restantes sons que ecoavam pela Granja. Era a música das tardes calmas no Alto dos Vendavais, depois dos grandes degelo ou das chuvas torrenciais. E era no Alto que Catherine pensava, se é que pensava ou escutava alguma coisa; tinha aquele ar vago e distante que não denunciava qualquer :, reconhecimento das coisas materiais, fosse com os olhos ou com os ouvidos.

--Mrs. Linton, tenho uma carta para si --disse eu --metendo-lha gentilmente numa das mãos, a que estava poisada no regaço. --Deve lê-la imediatamente, pois espera uma resposta. A senhora deseja que quebre o selo?

--Quebra, sim respondeu ela sem desviar o olhar. Abri a carta. Era muito breve.

--Agora, leia-a, por favor! --insisti.

--Ela moveu a mão e deixou cair a carta. Coloquei-lha novamente no regaço e esperei que se dignasse olhá-la, mas demorou tanto a fazê-lo que achei por bem insistir.

--A senhora quer que lha leia? É de Mr. Heathcliff. Ao ouvir este nome, Catherine estremeceu e o seu olhar brilhante refletia perturbantes recordações, e um esforço evidente para coordenar as ideias. Pegou na carta, percorreu os olhos pelas esparsas linhas e, quando chegou à assinatura, suspirou. Contudo, vi que não tinha compreendido o seu verdadeiro significado, pois quando a instei a dar-me uma resposta, limitou-se a apontar para o nome, ao mesmo tempo que me questionava com o olhar triste e ansioso.

--Sabe, ele deseja vê-la --disse eu, reparando na necessidade de um intérprete. -Neste momento, já deve estar no jardim, impaciente, à espera de uma resposta. Enquanto falava, reparei que o enorme cão deitado ao sol no relvado arrebitou as orelhas como se fosse ladrar, mas logo voltou a baixá-las, suavemente, anunciando pelo abanar da cauda que alguém conhecido se aproximava.

Mrs. Linton inclinou-se ligeiramente para a frente, sustendo a respiração. Dai a instantes, ouvimos passos no vestíbulo. A porta aberta era tentação demasiada para Heathcliff não entrar. Supusera talvez que eu tinha faltado à minha palavra e, por essa razão, resolvera confiar na sua própria audácia.

Catherine, não conseguindo conter a ansiedade, fixou o olhar na porta do quarto. Mr. Heathcliff não encontrou logo o quarto que procurava e Catherine fez-me sinal pára que o ajudasse. Contudo, isso não foi necessário, pois ele logo o encontrou e, com duas passadas largas, chegou junto dela e tomou-a nos braços.

Durante mais de cinco minutos não falou nem afrouxou o abraço, e atrevo-me a dizer que aproveitou esse tempo para lhe dar mais beijos do que jamais lhe dera em toda a sua vida. No entanto, foi a minha patroa quem o beijou primeiro, e era evidente que enfrentar o olhar dela era para ele uma agonia. Desde o primeiro momento em que a viu, ficou convicto, tal como eu, de que não havia qualquer esperança de recuperação e de que ela estava condenada à morte.

--Oh! Cathy! Oh, minha vida! Como posso eu suportar esta dor? foram as primeiras palavras que proferiu, num tom onde não realçava o desejo de mascarar o desespero. Os olhos dele fixavam-na com tanta intensidade que julguei esse olhar capaz de lhe rasar os olhos de água. Porém, as lágrimas nem tempo tiveram para rolar, pois a angustia secou-as primeiro.

--E agora? perguntou Catherine, recostando-se na cadeira e retribuindo-lhe o olhar com um súbito endurecer da expressão. O seu humor era como um catavento, sempre ao sabor dos caprichos.

--Tu e o Edgar destroçaram-me o coração, Heathcliff! E vêm agora lamentar-se ambos junto de mim, como se fossem as vítimas! Não terei compaixão de vós! Não eu, a quem os dois deram a morte. Penso que lucraste com a situação; olha como estas forte! Quantos anos pensas ainda viver depois de eu morrer?

Heathcliff tinha posto um joelho em terra para a abraçar, mas, ao tentar levantar-se, ela agarrou-o pelos cabelos, obrigando-o a manter-se na mesma posição.

--Gostava de poder abraçar-te até morrermos os dois! --prosseguiu ela, amargamente. --Não importa o que sofresses. Não me preocupo com os teus sofrimentos! Por que não hás-de tu sofrer, se eu sofro tanto! Será que me vais esquecer? E ficares muito contente quando eu estiver debaixo da terra? E, daqui a vinte anos, dirás junto à minha sepultura: --Aqui jaz a Catherine Earnshaw. Amei-a há muitos anos e perdê-la dilacerou-me o coração; mas tudo isso são coisas do passado. Depois dela, já amei outras mulheres... os meus filhos são-me mais caros do que ela foi, e, quando morrer, não me sentirei feliz por ir para junto dela; muito pelo contrário, lamentar-me-ei por abandonar os meus: filhos. Não será assim Heathcliff?

--Não me tortures até eu ficar tão louco como tu! --gritou ele, libertando-se, e rangendo os dentes de raiva. Para um espectador imparcial, formavam os dois um quadro :, bizarro e assustador. Catherine bem podia acreditar que o céu seria a sua pátria de exílio, mas só se ao perder o corpo ela perdesse também o carácter. O seu rosto empalidecido tinha agora um ar selvagem e vingativo, com os lábios descorados e os olhos cintilantes. Mantinha a mão fechada e, por entre os dedos, espreitavam as madeixas de cabelo que ela lhe tinha arrancado. Quanto ao companheiro, e enquanto se levantava com a ajuda de uma mão, com a outra agarrava-a por um braço. A falta de consideração pelo estado em que ela se encontrava era tanta que, quando a largou, pude ver quatro marcas vermelhas na sua pele esmaecida.

--Deves estar possuída pelo diabo continuou ele, desvairadamente, --para falares comigo nesse tom, atendendo sobretudo a que estás à beira da morte! Já pensaste bem que todas essas palavras vão ficar gravadas na minha memória, consumindo-me a alma eternamente depois de tu morreres? Sabes que mentes quando afirmas que fui eu quem te levou a esse estado deplorável. E tu também sabes, Catherine, que enquanto eu viver nunca te esquecerei! Não será suficiente para o teu egoísmo atroz saberes que, enquanto descansas em paz, eu sofrerei os tormentos do inferno?

--Não terei paz! gemeu Catherine, debilitada pela fraqueza física, devida ao batimento acelerado e desigual do coração, visível e audível neste acesso de exacerbada agitação. Enquanto o paroxismo durou, nada mais disse. Depois, continuou, mais docilmente.

--Heathcliff, eu não te desejo os tormentos que passei. Só quero que nunca mais nos separemos, e, se algum Jia as minhas palavras te angustiarem, lembra-te de que sentirei a mesma angústia debaixo da terra. E, pelo que sentes por mim perdoa-me, por favor! Chega-te perto de mim e ajoelha-te outra vez! Tu nunca na tua vida me fizeste mal algum. Se algum rancor ainda guardas, será pior recordá-lo que às minhas palavras ásperas! Vem, aproxima-te outra vez.

Heathcliff colocou-se atrás das costas da cadeira e inclinou-se para ela, mas de maneira a que Catherine não pudesse ver-lhe o rosto, pálido de emoção. Ela voltou a cabeça para olhar para ele, mas ele não a deixou, afastando-se bruscamente para junto da lareira, onde permaneceu em silêncio e de costas para nós duas.

O olhar de Mrs. Linton seguiu-o com desconfiança; cada movimento despertava nela um novo sentimento. Após uma pausa e um prolongado olhar, Catherine prosseguiu, dirigindo-se agora a mim, num tom de desapontamento e indignação.

--Vês, Nelly! Ele não tenta, nem por um momento, salvar-me da sepultura! É assim que ele me ama! Mas não faz mal. Este não é o Heathcliff que eu amo. A esse continuo a amá-lo e levá-lo-ei comigo. Esse faz parte da minha alma. E, acima de tudo --disse ela, pensativa --o que me aflige mais é esta prisão. Estou cansada, cansada de estar aqui encarcerada. Só desejo fugir para esse mundo glorioso e não mais de lá sair. Não quero vê-lo turvado pelas lágrimas, nem desejá-lo entre as paredes de um coração dolorido, mas sim estar com ele, e nele, na verdadeira acepção das palavras.

--Olha, Nelly, tu pensas que tens mais sorte que eu porque tens saúde e forças; e, por isso, tens pena de mim. Mas não tenhas, pois em breve tudo mudará. Serei eu a ter pena de ti, pois estarei incomparavelmente muito além e muito acima de todos vós. Admira-me que ele não queira estar junto de mim! --e continuou a falar sozinha. Pensei que era isso que ele queria. Heathcliff, meu querido, não fiques zangado, vem para junto de mim!

Num impulso, Catherine levantou-se, apoiando-se nos braços da cadeira. Ele voltou-se para ela, em resposta a tão resoluto apelo, com o semblante toldado pelo desespero. Os olhos dela, desmedidamente abertos e umedecidos pelas lágrimas, lançaram-lhe, por fim, um olhar ameaçador, e o seu peito arfou em convulsões. Nem um segundo eles se mantiveram afastados; de tal sorte que mal pude observar o reencontro. Catherine deu um salto e Heathcliff recebeu-a nos braços, enlaçando-se os dois num abraço do qual pensei que a minha senhora jamais se libertaria com vida. De facto, aos meus olhos, ela parecia inanimada.

Ele deixou-se cair no sofá mais próximo e, quando me aproximei para me certificar de que Catherine não tinha desmaiado, ele rosnava e espumava como um cão raivoso, apertando-a contra o peito, possuído pela avidez e pelo ciúme. Senti que esta criatura não pertencia à minha espécie, pois parecia não me compreender enquanto falava com ele. Por isso, afastei-me, perplexa, abstendo-me de emitir qualquer opinião. Quando Catherine moveu a mão para agarrar o pescoço de Heathcliff e encostar o seu rosto ao dele, sosseguei um pouco mais. Entretanto, ele retribuía o gesto dela com frenéticas carícias, dizendo furiosamente:

--Mostraste-me agora o quão cruel tens sido. Cruel e falsa! Por :, que me desprezaste, Cathy? Por que traíste o teu próprio coração? Não tenho sequer uma palavra de conforto para te dar. Tu mereces tudo aquilo por que estás a passar. Mataste-te a ti própria. Sim, podes beijar-me e chorar o quanto quiseres. Arrancar-me beijos e lágrimas. Mas eles queimar-te-ão e serás amaldiçoada. Se me amavas, por que me deixaste? Com que direito? Responde-me! Por causa da mera inclinação que sentias pelo Linton? Pois não foi a miséria, nem a degradação; nem a morte, nem algo que Deus ou Satanás pudessem enviar, que nos separou. Foste tu, de livre vontade, que o fizeste. Não fui eu que te despedacei o coração, foste tu própria. E, ao despedaçares o teu, despedaçaste o meu também. Tanto pior para mim, que sou forte e saudável. Se eu desejo continuar a viver? Que vida levarei quando... Oh! Meu Deus! Gostarias tu de viver com a alma na sepultura?

--Deixa-me em paz! Deixa-me... --suplicou Catherine, a soluçar. Se errei, vou morrer por isso! Não achas o suficiente? Tu também me abandonaste, mas eu não te censuro!

Eu perdoo-te. Perdoa-me tu também!

--Não é fácil perdoar, olhar para esses olhos e agarrar essas mãos mirradas respondeu ele. Beija-me e não me deixes ver os teus olhos! Perdoo-te o mal que me fizeste. Eu amo a minha assassina. Mas... e à tua, como poderei perdoar-lhe?

Quedaram-se os dois em silêncio, com as faces encostadas, lavadas pelas mesmas lágrimas. Creio que choravam ambos, pois Heathcliff só em ocasiões como esta choraria. Entretanto, a inquietação começou a atormentar-me: a tarde escoara-se num instante e o homem que eu havia mandado às laranjas já tinha regressado e; já se avistava ao longe, à luz do sol poente que iluminava todo o vale, a multidão de fiéis no adro da capela de Gimmerton.

--A missa já terminou. --Anunciei. --O meu patrão estará de volta em menos de meia-hora.

Heathcliff resmungou qualquer coisa, apertando contra o peito uma Catherine, que continuava inerte. Pouco tempo depois, reparei num grupo de criados que vinha estrada acima, a caminho da área da cozinha. Mr. Linton já não devia estar longe. Ele próprio abriu o portão e continuou paulatinamente o seu percurso, como se a saborear aquela tarde esplendorosa, tão semelhante às de Verão.

--Ele já chegou! --exclamei. --Por amor de Deus, :, apressem-se! Ainda pode ir-se embora sem se cruzar com ninguém nas escadas. Seja rápido, e deixe-se ficar escondido entre as árvores até ele entrar.

--Tenho de ir, Cathy --disse Heathcliff, tentando libertar-se dos braços da companheira. --Mas, se eu não morrer, voltarei outra vez antes de tu adormeceres. Não me afastarei mais de cinco jardas da tua janela.

--Não vás! --pediu ela, agarrando-se a ele com a convicção que as suas débeis forças permitiam. Tenho a certeza de que não devias ir!

--E só por uma hora --suplicou ele.

--Nem que fosse por um minuto!

--Tenho de ir, não tarda o Linton aparece cá em cima--insistiu o intruso, denunciando alguma preocupação. E ter-se-ia levantado, se tivesse conseguido libertar-se dos dedos que o prendiam. Mas Catherine agarrou-o ainda com mais força. Podia ver-se pela expressão do rosto dela que tinha tomado uma decisão irracional.

Não! --gritou ela. --Oh! Não vás, não vás! Esta é a última vez! Edgar não nos fará mal. Se fores, eu morrerei, Heathcliff!

--Maldição! Aí vem ele! --gritou Heathcliff, voltando a sentar-se. --Não digas nada, Catherine, e não te preocupes, que eu fico aqui contigo. E, se ele me matar, exalarei o último suspiro com uma benção nos lábios.

Tornaram a abraçar-se. Ouvi o patrão subir as escadas. Suores frios escorriam-se pela fronte; eu estava apavorada. O senhor vai dar ouvidos aos desvairos dela? --perguntei, indignada. --Ela não sabe o que diz. Vai arruiná-la, só porque ela não tem capacidade para se ajudar a si própria!

Levante-se! Ainda está a tempo de fugir. Este é o ato mais diabólico que o senhor cometeu em toda a sua vida. Estamos todos perdidos... o senhor, a senhora e a criada. Eu contorcia as mãos e gritava tanto que Mr. Linton estugou o passo ao ouvir os meus gritos. No meio da minha agitação, fiquei, apesar de tudo, mais tranquila, quando me apercebi de que os braços e a cabeça de Catherine pendiam inertes. Desmaiou ou morreu. Tanto melhor --pensei. --Antes morrer que ser um fardo de infelicidade para quantos a rodeavam. Edgar atirou-se ao hóspede indesejável, lívido de raiva e estupefacção. O que ele se preparava para fazer, isso eu não sei. Contudo, o outro pôs fim a quaisquer ímpetos, depondo-lhe nos braços o corpo aparentemente sem vida de Catherine.

--Calma, homem! --disse ele. --A não ser que seja um demônio, trate dela primeiro e depois ajuste contas comigo!--e retirou-se para a sala, onde se sentou. Mr. Linton chamou-me, e foi com grande dificuldade, e só após aturados esforços, que conseguimos reanimá-la. Mas ela delirava, gemia e suspirava, e não reconhecia ninguém. Mr. Edgar, preocupado com o estado dela, esqueceu-se do odiado hóspede. Mas eu não. Na primeira oportunidade, fui avisá-lo de que Catherine já estava melhor e supliquei-lhe que partisse, prometendo-lhe que na manhã seguinte o informaria de como ela havia passado a noite.

--Não me recuso a sair por aquela porta --respondeu ele.

--Mas não arredarei pé do jardim; vê lá, Nelly, amanhã não te esqueças do que prometeste. Lembra-te de que estarei debaixo daqueles abetos. Se não apareceres, far-lhe-ei outra visita, quer o Linton lá esteja, quer não.

Lançou um olhar rápido à porta entreaberta, para se certificar de que eu dissera a verdade, e livrou a casa da sua presença nefasta.

Continue Reading

You'll Also Like

22.6K 4.4K 33
As luzes do fogo que queimava as tochas enfurecidas dos aldeões estavam se aproximando, o desespero consumia Lady Louise Longman com a mesma rapidez...
188K 7.5K 60
@𝑡𝑟𝑎𝑝𝑙𝑎𝑢𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑒𝑐̧𝑜𝑢 𝑎 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑖𝑟 𝑣𝑜𝑐𝑒̂
12.6M 934 6
Livro físico disponível na Shopee: https://shopee.com.br/product/489712971/2990483070/ Ebook disponível na Amazon: https://amz.onl/3YfVV10 "Cruel" na...
1.7M 148K 99
Os irmãos Lambertt estão a procura de uma mulher que possa suprir o fetiche em comum entre eles. Anna esta no lugar errado na hora errada, e assim qu...