A Mais Bela Melodia

By CarolTeles

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A história de Lorena e Klaus se passa em Esperança, uma cidade pequena, onde vivem entre as desavenças na esc... More

Capítulo 1: Klaus
Capítulo 2: Lorena
Capítulo 3: Klaus
Capítulo 4: Lorena
Capítulo 5: Klaus
Capítulo 6: Lorena
Capítulo 7: Klaus
Capítulo 8: Lorena
Capítulo 9: Klaus
Capítulo 10: Lorena
Capítulo 11: Klaus
Capítulo 12: Lorena
Capítulo 13: Klaus
Capítulo 14: Lorena
Capítulo 15: Klaus
Capítulo 16: Lorena
Capítulo 17: Klaus
Capítulo 18: Lorena
Capítulo 19: Klaus
Capítulo 20: Lorena
Capítulo 21: Klaus
Capítulo 22: Lorena
Capítulo 23: Klaus
Capítulo 24: Lorena
Capítulo 26: Lorena
Capítulo 27: Klaus
Capítulo 28: Lorena
Capítulo 29: Klaus
Capítulo 30: Lorena
Capítulo 31: Klaus
Capítulo 32: Lorena
Capítulo 33: Klaus
Capítulo 34: Lorena
Capítulo 35: Klaus
Capítulo 36: Lorena
Capítulo 37: Adônis
Capítulo 38: Klaus
Livro 2: Entre Notas

Capítulo 25: Klaus

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By CarolTeles

Eu voei com a moto.

Estava morto de preocupação com Diego, mas estava três vezes mais com Lorena. Ela simplesmente não falou nada depois que eu disse que o irmão estava no hospital. Levantou e se vestiu às pressas. Saímos da cabana tão rápido que eu esqueci até de fechar a porta. Achei estranho ela não ter me perguntado o que exatamente Adônis tinha dito ao telefone, o que foi bom, já que Adônis tinha sido bem evasivo quanto a isso. Lorena entrou em choque desde a ligação dele, e ainda nem sabíamos de fato o que havia acontecido.

Diego tinha sido levado ao hospital de Burguesa, e isso em si já era preocupante, visto que para Burguesa só ia o que o hospital de Esperança não podia lidar.

Meia hora de estrada e paramos em frente ao Hospital Memorial Arthur Azevedo. Lorena pulou da moto e jogou o capacete em cima de mim sem nem me olhar. Eu não queria parar para prendê-los no elástico, então sai arrastando os dois de qualquer jeito. Corri para alcança-la, e quando ela parou na recepção eu deslizei no chão liso.

— Diego Sanchez. — Ela disse o nome à recepcionista, que teclou alguma coisa no computador e levantou a cabeça sorridente.

— Ele está em cirurgia no momento, mas a família está na sala de espera no segundo andar, corredor sete.

Ouvi a respiração de Lorena sair forçada, e pedi a todos os santos que o sorriso da atendente sumisse. Como alguém colocava uma mulher sorrindo para informar sobree um paciente em cirurgia?

— Eu sou a única família dele.

Lorena fuzilou a mulher, que pareceu murchar instantaneamente, e saiu pisando forte pelos corredores, procurando o elevador entre as placas. Eu queria que ela parasse um momento para respirar, mas ela não parecia estar disposta a isso. E quando achou a porta do elevador, ficou apertando o botão impacientemente. Segurei sua mão com delicadeza, mas ela a puxou de mim sem me encarar.

Quando o elevador chegou, nós subimos ainda em silêncio. Eu sentindo toda a tensão dela através dos seus poros. Querendo abraça-la e dizer que tudo iria ficar bem. Mas Lorena não é dessas que recebem abraços para se convencer de que as coisas ficariam bem. Era dessas que explodiam, e esse era o meu medo.

O que diabos havia acontecido com Diego?

Chegamos o corredor sete e a sala de espera logo em seguida. Por um momento pensei em encontrar os pais deles por lá, mas só Adônis e Marcos ocupavam o lugar. Ambos levantaram quando nos viram, e Marcos desatou a chorar. Nada bom. Isso não iria ajudar Lorena a se concentrar.

Ela deu a volta na mesa de centro e pegou Marcos pelos ombros, o sacudindo.

— O que foi que aconteceu?

O rosto de homem estava manchado pelas lágrimas. O casaco sujo e o rosto ferido e arranhado eram provas de que algo tinha acontecido a ele também.

Lorena esperou, mas Marcos não parava de chorar tempo suficiente para conseguir formular uma frase com sentido. Então ela explodiu.

— Fala, porra! — Ela gritou e uma enfermeira que estava passando pelo corredor parou para ver se estava tudo bem.

Eu me adiantei e puxei Lorena de cima de Marcos, que soluçava mais a cada minuto. Ela se desvencilhou de mim, de novo, e colocou a mão na cabeça, andando de um lado para o outro.

— Ele não vai conseguir falar se não estiver calmo, Lorena. — Falei firme, pegando um copo de plástico de um suporte e enchendo com água do filtro que estava no corredor.

Entreguei na mão de Marcos, que ainda chorava e tremia. Adônis me lançou um olhar nervoso, algo raro vindo dele, e foi quando me perguntei como ele tinha ido parar ali. Gravei na memória para perguntar depois.

Esperamos um tempo. Lorena ainda andando de um lado para o outro, roendo as unhas. Marcos respirando difícil. Adônis e eu parecendo completamente deslocados entre os dois.

— Você está melhorando? — Perguntei a Marcos, que confirmou com a cabeça num soluço. — Está pronto para conversar com ela? — Ele pareceu em pânico, mas confirmou novamente. — Loren — Chamei e ela se aproximou, se abaixando na frente dele enquanto respirava fundo e tentava parecer calma, mas eu via o tremor leve no canto de seus olhos profundos.

— O que aconteceu? — Ela perguntou num tom baixo, mas com os dentes trincados.

— Saímos do teatro e estávamos indo para a praça, para curtir o festival.— Marcos parou por um momento, provavelmente escolhendo com cautela as palavras. — E um carro estacionou ao nosso lado querendo saber como chegar à clínica alguma coisa, não lembro o nome. Era uma mulher e pelo o que Diego comentou, parecia turista. Ele tentou explicar como chegava ao lugar, mas ela parecia bem perdida, então nos oferecemos para leva-la, com a condição que ela nos levasse de volta depois. — Uma sombra de terror cruzou os olhos de Marcos, que se abraçou. — Diego começou a dizer que o caminho estava errado e que ela estava saindo da cidade, então tudo aconteceu muito rápido. Ela estacionou em uma rua escura quando alguns caras abriram a porta do carro e nos puxaram de lá. Começaram a bater na gente, mas Diego estava chamando a atenção para ele. — Ele voltou a chorar, mas tentando se controlar para poder falar. Virei para Lorena rapidamente, e seus olhos eram mistério e ódio. — Eles nos pisaram, chutaram, apedrejaram, e bateram com a cabeça de Diego na calçada repetidas vezes. — Marcos pegou no ombro de Lorena e as lágrimas começaram a cair novamente. — Eu não consegui impedi-los. Eu tentei, mas eles espancaram Diego bem ali na minha frente e eu não pude fazer nada. Desculpe-me...

Lorena levantou num pulo quando ele voltou a chorar compulsivamente. Eu estava tão chocado quanto ela parecia estar, só que eu não era feito de fogo como Lorena era. E afirmei isso ao ver o perigo e o medo estampados no rosto nervoso dela. O rosto que eu aprendera a amar.

Adônis passava a mão nas costas de Marcos, tentando acalma-lo, e me olhava com tanta agonia e pavor, que por um momento me vi refletido nos olhos dele. Ele apontou com a cabeça em direção a Lorena e eu dei de ombros, preocupado.

— Você conseguiu ver quem foi, Marcos? — Perguntei baixinho. Loren ouviu e voltou para perto da gente, tentando escutar a conversa.

— Não, a polícia já me perguntou isso. Eles estavam encapuzados. Mas um deles tinha uma tatuagem de uma rena embaixo do braço direito, perto do ombro. Vi quando ele esticou a mão com a cabeça de Diego nela.

Olhei para Lorena e ela parecia enjoada quando fechou os olhos e respirou fundo. Levantei ligeiro e a escorei quando ela ameaçou cair.

— Você quer alguma coisa? Quer que pegue uma coisa para você?

— Eu quero meu irmão bem, Klaus. E isso você não pode me dar.

Ela saiu de perto de mim e se sentou em uma cadeira o mais distante possível da gente. Encolheu-se inteira, como se fosse uma criança, e ficou lá parada olhando para a parede. Uma enfermeira apareceu um pouco depois com um remédio para Marcos, e ofereceu um a Lorena, que bateu na bandeja da mulher e a mandou sair de lá aos berros. Eu me desculpei com o olhar, mas ela balançou a cabeça negando. Provavelmente as pessoas por ali tinha costume de fazer coisas estúpidas quando alguém que amavam estava com problemas.

Os minutos se transformavam em horas, e eu já podia sentir o frio da manhã gelando cada ponto em transe do meu corpo. Sentado próximo a Adônis e Marcos, que estavam tão silenciosos quanto eu. Lorena ainda afastada, olhando para o nada. Pensei por várias vezes em me sentar ao lado dela, mas, como disse, Lorena não é dessas pessoas que precisam de uma escora. Ou pelo menos ela achava que não, e a última coisa que eu queria no momento era afasta-la mais ainda de mim.

Como uma noite maravilhosa como aquela tinha acabado nisso? Por que a gente não conseguia ter um relacionamento normal como os adolescentes normais?

A reposta veio em forma de um médico velho, com uma roupa de centro cirúrgico e uma expressão cansada.

Levantamos ao mesmo tempo e ele suspirou quando nos viu.

Por favor, não dê uma notícia ruim. — Pensei olhando apreensivo para Lorena.

— Vocês são parentes de Diego Sanchez? — Ele perguntou

— Ele é meu irmão. –— Ela respondeu se adiantando.

— Bom, seu irmão passou por uma cirurgia complicada, mas com sucesso. — Ouvi meu próprio alívio se misturar com o dos outros. — Ele teve três costelas quebradas e sofreu um traumatismo craniano sério. Está com muitos hematomas pelo corpo. O colocamos em coma induzido, para ele poder se recuperar. Está na UTI, mas vai ficar bem.

Lorena se apoiou no médico, que a segurou e a sentou na cadeira. Ele gritou por uma enfermeira e pediu por algo que não ouvi, já que tinha voado de onde estava para ficar perto dela. Segurei sua mão, que pendia na cadeira ao lado. Eu estava apavorado por vê-la fraca dessa forma.

O médico mediu sua pressão, que estava muito baixa, como também o açúcar no sangue. Deram uma injeção de glicose e um remédio para subir a pressão, e só concordaram que ela visse Diego através do vidro se ela fosse à cantina e comesse alguma coisa.

Fui com ela e deixei Adônis tomando conta de Marcos, que estava catatônico. Provavelmente de cansaço. Eu sabia o que tinha acontecido com os dois, como tinha certeza que Lorena também sabia. Era uma questão de tempo até ela dar uma de justiceira e sair pela cidade procurando os babacas que fizeram isso com ele. Eu não podia permitir. Não suportaria encontra-la em um hospital no mesmo estado que ele.

Não sabia pelo o que Marcos estava passando, mas suspeitava que eu não teria a mesma força para segurar algo assim. Se ela quisesse fazer loucura, bem, então eu teria que dar um jeito de impedi-la. Ou ir junto.

Quando Lorena foi ao banheiro, eu mandei um SMS para meu pai informando do acontecido, o que provavelmente ele já sabia. Eu estava na cantina com ela tentando tomar um suco quando ele chegou. Parecia muito menos cansado do que na manhã anterior, e foi com cautela que ele se aproximou e se sentou.

— Lorena? — Ele perguntou calmo, e ela olhou de mim para ele, tentando descobrir como meu pai tinha ido parar lá. — Adônis me disse que encontraria vocês aqui.

— Não precisava ter vindo até aqui, delegado. — Ela murmurou com a voz embargada.

— É o meu trabalho, Lorena.

— Então eu acho que o senhor é péssimo no que faz! — Ela bateu o copo na mesa com firmeza, e o fuzilou com os olhos. — Do contrário eu não precisaria estar em um hospital sabendo que meu irmão sofreu um traumatismo craniano porque tem um bando de homofóbicos em Esperança.

Pensei que meu pai vacilaria frente à declaração dela, mas ele possivelmente escutava coisas do tipo pelo menos três vezes ao dia. E foi com tranquilidade que falou:

— Eu imagino o que você está sentindo.

— O senhor não tem ideia do que eu estou sentindo nesse momento. — As lágrimas começaram a cair dos olhos dela lentamente. Ela os secou com ignorância. — Vai me dizer que você achou os idiotas? Porque se não achou, eu não tenho noção do que está fazendo aqui ainda.

— Eu vou fazer o meu trabalho, Lorena, mas preciso fazer algumas perguntas antes. Para saber por onde começar. — Meu pai estava tentando ser o mais calmo possível, e eu sabia que Lorena testava a paciência de qualquer pessoa.

— Vá fazer suas perguntas a Marcos. Ele estava com Diego na hora, ele quem sabe de tudo.

— Eu já fiz, e ele me disse que você entrou em uma briga com um grupo num bar um dia desses por conta de Diego.

Lorena enrijeceu ao meu lado, e eu senti quando ela começou a tremer. Até aquele momento não tinha se lembrado do grupo de caras no bar, e nem eu, mas era de longe a nossa melhor pista.

Ela levantou tão rápido, que meu pai deu um pulo pra trás assustado.

— Klaus, preciso voltar à Esperança. — Ela falou saindo da cantina, e eu a segui.

— Loren, espera. — Resmunguei andando rápido para acompanha-la. — Você precisa me ouvir antes.

— Eu não preciso ouvir porra nenhuma, Klaus! — Ela gritou no meio do corredor do hospital, o que assustou um senhor seminu com um andador. — Você vai me levar? Porque se você vier com essa palhaçada de deixar a polícia trabalhar, eu peço a Adônis para me levar, ou vou a pé, não me importo.

Passamos pela recepcionista, que se encolheu quando viu Lorena. Eu sabia bem o que ela estava sentindo. Quando saímos pela porta, a luz da manhã me cegou por um momento. Puxei seu braço e coloquei as mãos em seu rosto. Ela era linda até quando estava nervosa e possessa.

— Por favor, me escuta. Só por um momento, me escuta. — Ela amoleceu na minha mão, mas ainda tremia bastante. — Eu não acho que você deveria ficar esperando a polícia nem nada disso, mas você pode facilitar as coisas para eles e esperar pelo menos um dia antes de sair caçando esses caras pela cidade. — Ela revirou os olhos para mim, querendo sair, mas eu a apertei mais. — Você ouviu o que eles fizeram com Diego, e sinto muito meu amor, mas nem que eu precise te prender na cadeia para isso, não vou deixar você sair pela cidade sozinha procurando por monstros. — Ela vacilou por um momento, os olhos ainda pegavam fogo. Um fogo diferente da noite anterior. Esse era perigoso.

— Eu preciso fazer isso, Klaus. — Ela falou num soluço.

Eu sabia que ela precisava fazer, só não deixaria que fosse sozinha.

— A gente espera até amanhã. Se a polícia não encontrar nada, eu vou com você para procurá-los. Mudo até meu nome se você quiser, mas, por favor, dê um dia para eles tentarem. Pode não parecer, mas meu pai é muito bom no que faz.

Ela pensou por um momento, sem desviar dos meus olhos hora alguma. Vi quando seu corpo aceitou ceder porque sua expressão abrandou. Ela relaxou em minhas mãos, e eu a puxei em um abraço apertado, sentindo que minha vida estava voltando com aquele abraço. Eu tinha tanto medo de quando Lorena estava possessa daquele jeito. Eu tinha medo dela querer se afastar de mim e de me jogar no escuro de novo. Eu havia prometido cuidar dela, e isso não era nenhuma caridade. Era mais a coisa de não saber realmente mais o que seria de mim sem ela ao meu lado.

Quando eu consegui ter forças para soltá-la, beijei de leve seus lábios e a vi voltar pela mesma porta por onde tinha saído. Suspirei soltando todo o meu ar, sentindo meu coração travar uma batalha com meu cérebro. Se meu pai não conseguisse encontrar nada, eu mesmo começaria essa caçada. Não jogaria Lorena na cova dos leões, e nem deixaria ela se jogar propositadamente.

— Bom trabalho! — A voz do delegado me despertou, e o encontrei em pé atrás de uma pilastra. — Só espero que essa parte de vocês irem atrás das pessoas que fizeram isso não seja verdade.

Tinha preocupação em seus olhos. Muita preocupação. O velho sabia que não podia me impedir de fazer nada, e isso o deixava louco. Passei os últimos dias tentando esconder o que sentia por Lorena dele, e eu achava que ele sabia de cada pedaço desse sentimento, só estava me esperando falar sobre isso.

— Você se lembra de quando leu A Divina Comédia para mim quando eu era criança? — Perguntei

Ele sorriu e balançou a cabeça.

— Lembro. Você disse que era uma péssima história para meninos de sete anos.

O que de fato era. Meu pai nunca foi fã de clássicos como Pinóquio ou o Flautista Mágico.

— Se lembra do que falei sobre Dante?

Ele franziu os olhos, se concentrando. E então seu rosto se iluminou com o reconhecimento.

— Disse que achava uma babaquice Dante descer nove círculos do inferno por alguém.

Eu sorri, cansado demais para que parecesse um sorriso divertido.

— Foi a mesma coisa que falei sobre Orfeu, tá lembrado?

Ele assentiu e baixou a cabeça, brincando com a aba do boné de delegado, algo que ele fazia quando não encontrava palavras. Acho que o velho entendeu onde eu queria chegar antes mesmo que pudesse falar.

Passei a mão nos cabelos e me aproximei do meu pai a ponto de ver suas rugas. Eu já estava maior do que ele, e tinha o mesmo porte físico. Éramos versões da mesma coisa, só que distorcidas pelo tempo e por dores diferentes, e tão iguais ao mesmo tempo.

— Comecei a entender Dante e Orfeu agora. — Falei sentindo os olhos preocupados dele sobre os meus — Eu cruzaria todos os círculos do inferno e adormeceria Cérbero por Lorena. Mesmo que perdesse minha alma no caminho.

O rosto do delegado se transformou em alguma coisa compreensiva. Ele bateu de leve no meu ombro, como se dividisse algo importante comigo. Talvez todo homem já tenha se sentido invencível e apaixonado dessa forma, com coragem para combater seus maiores medos para salvar alguém que ama. Talvez ele mesmo já tenha se sentido assim. Foi esse tipo de mensagem que eu recebi através daquela batida no ombro, mas também foi a batida que me fez lembrar o custo da alma do meu pai por ter cruzado o inferno por alguém. Contudo era o tipo de coisa que a gente deixa os filhos entender por conta própria, e eu estava mais do que disposto a me jogar nesse abismo.

— Acho que sei disso desde a primeira vez que os vi juntos. — Ele murmurou mais para si do que para mim. — Só lembre que em nenhuma dessas histórias os heróis acabam com as mocinhas, e ambos sofrem demais por isso.

— Não vou deixá-la, pai. — Resmunguei com a boca apertada.

— Não achei que fosse. Mas às vezes a gente não tem escolha. — Ele deu de ombros — Orfeu errou quando olhou para Eurídice, não foi?

Dizendo isso ele se afastou e me deixou embaixo da marquise do hospital. Sentindo o cheiro sufocante de cloro sair quando ele passou pela porta. Vendo pessoas angustiadas entrando e outras saindo.

O limite da vida e da morte era uma linha tênue no infinito espiritual. Eu não podia garantir meu futuro, mas podia garantir meu presente, e Lorena era todo ele. Se fosse de me arrombar por isso, eu iria, porque não conseguia pensar em fazer mais nada no mundo além de enfrentar monstros por ela, e com ela.

Estava na hora de juntar minhas forças e descobrir por onde começar a caçar esses monstros. 

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