Como não se apaixonar

By Kamisbsantos

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"Se persistirem os sintomas o livro deverá ser consultado." Luisa Lemez se apaixonou perdidamente aos quinze... More

Epígrafe
1° capítulo
2° capítulo
3° capítulo
4° capítulo
5° capítulo
6° capítulo
7° capítulo
8° Capítulo
9° capítulo
10° capítulo
11° Capítulo
12° Capítulo
13° Capítulo
14° Capítulo
15° Capítulo
16° Capítulo
17° Capítulo
18° Capítulo
19° Capítulo
20° capítulo
21° Capítulo
22° Capítulo
24° capítulo
25° capítulo
26° capítulo
27° capítulo
28° capítulo
29° capítulo
30° capítulo
31° capítulo
32° capítulo
33° capítulo
Bônus 25k
KAMIS: A FLOPADA

23° Capítulo

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By Kamisbsantos

Nem preciso dizer que me arrependi no segundo seguinte de ter contado para Mag que Rafael é o real motivo de eu ter feito a que considero agora: uma maldita lista. Ela só tem me causado problema nesses últimos dias e agora me arrependo de não ter a deixado no passado junto com tudo que Rafael me fez.

Fiquei debaixo do chuveiro por quase uma hora, achando que água morna que caia sobre meu corpo, poderia levar toda tensão de mim e que Mag fosse vencida pelo cansaço de me esperar e caísse no sono. Para minha infelicidade nenhuma das duas coisas aconteceu.

No entanto, consegui me esquivar de todas suas perguntas, prometendo que contaria tudo a ela depois e que no momento eu estava exausta demais sobre o assunto e a única coisa que eu queria era poder dormir, que no caso era completamente verdade. Mag respeitou minha decisão dizendo que não iria me pressionar e me daria o tempo que eu precisasse, e apesar de eu não acreditar que ela vá mesmo me dá esse tempo, acabei concordando.
Contudo, eu não consegui dormir um segundo ao menos porquê toda vez que eu fechava os olhos, um filme se passava em minha cabeça e eu via nitidamente Rafael rindo de mim ao lado de seus amigos no dia em que descobri tudo.

Eu pretendia dormir o dia inteiro, mas fui acordada às oito da manhã com os gritos histéricos de Jasmim. A mesma chorava porque descobriu que não ganhou a boneca que queria de natal, e como meu pai é o maior puxa-saco da história, saiu em pleno dia natalino à procura de uma loja aberta com o intuito de achar a bendita boneca.

Minha cabeça estava explodindo e meus olhos estavam inchados por conta de tanto choro; minha mãe logo percebeu isso quando sentamos para tomar café. A minha sorte, é que ela estava igual uma doida cantando com o som da Tv na maior altura e lavando as louças, que acabei conseguindo me livrar do interrogatório dela também.

— Você quer conversar sobre aquilo agora? — Mag sussurra mesmo que minha mãe esteja muito entretida, ao mesmo tempo que enfia um pedaço exagerado de bolo de cenoura com calda de chocolate em sua boca.

Estava demorando.

Eu reviro os olhos enquanto brinco com o pedaço de bolo em meu prato, sem nenhuma vontade de comer. Comi tanto ontem a noite, que tenho a sensação que se eu beber uma gota de água a minha barriga vai explodir.

— Mag, você disse que não iria me pressionar. — Eu faço uma careta quando ela murcha na cadeira ao ouvir minha resposta.

— Eu não tô te pressionando — contestou. Faço outra careta ao ver ela mergulhar um pão de queijo dentro do leite com Toddy e o jogar todo dentro da boca. — Não se sinta pressionada.

— Você já me perguntou isso umas dez vezes desde que acordamos. Então sim, isso é pressão!

Ela bufa e se levanta da cadeira de frente para mim e se senta ao meu lado, virando seu achocolatado goela abaixo de uma só vez.

— Me conta, por favoooor — ela implora. — Não é justo você jogar essa bomba no meu colo e depois não dizer mais nada!

Solto um suspiro, derrotada.

— Mag, é só que eu queria poder não ter que falar sobre isso nunca mais, entende?

— Você sabe que eu sou curiosa, não faz isso comigo. O Que o Rafael fez? — Eu me apresso a tapar sua boca assim que o nome dele sai dos seus lábios e olho em direção a minha mãe para me certificar que ela não ouviu nada.

— Não diz o nome dele alto — reclamo em um sussurro. Logo após me levanto guardando meu pedaço de bolo intacto e deixando o prato na pia para que minha mãe possa lavar. Me surpreendo quando ela não reclama. 

Mag acompanha meus movimentos, emburrada, mas um sorriso cresce no seu rosto quando ela olha minha mãe e a vê dançando.

Essa é uma das coisas que minha mãe mais gosta de fazer. E ela faz bem! É uma pena eu não ter puxado isso dela.
Minha mãe me contou uma vez, que na adolescência ela e mais algumas amigas tinham um grupo de dança e que se apresentavam em todos os festivais da cidade. Foi em um desses que ela se envolveu com meu pai, disse também que antes disso, eles eram bons amigos como eu e Marcos somos hoje. Nem preciso dizer o motivo de ela ter dado ênfase nessa última parte, não é?

Falando em Marcos, ele nem me ligou desejando feliz natal. Só mandou uma simples mensagem ontem.

"Feliz natal", a mensagem dizia.

— Vem dançar comigo! — minha mãe nos chama empolgada, quando se aproxima o refrão da música que ela tanto gosta.

Mag se levanta rapidamente e para ao seu lado e juntas começam a fazer a coreografia, cantando a plenos pulmões.

— ASEREHE RÁ DE RE, DE HEBE TU DE HEBERE... SEIBIUNOUBA MAHABI, AN DE BUGUI AN DE BUIDIDIPI... ASEREHE RÁ DE RE, DE HEBE TU DE HEBERE... SEIBIUNIUBA MAHABI, AN DE BUGUI AN DE BUIDIDIPI... — elas gritam, tão sincronizadas na dança, que parecem as próprias garotas do Rouge.

Fico encostada na ilha rindo das duas. Eu queria poder filmar essa cena e jogar na internet, mas acho que Mag não aguentaria mais um vídeo seu circulando por aí.

— Vem Luisa, dançar com a gente — minha mãe chama de novo. As mãos dela estão cheias de espuma de detergente e ela estica um braço de cada vez e depois para trás de seu corpo, assim como no clipe da música.

— Eu não sou dessa época, mãe. Não conheço a coreografia — minto. Minha mãe já me obrigou a dançar essa coreografia tantas vezes, que acho impossível que algum dia eu vá esquecer.

— Para de ser chata, a gente já dançou isso um monte de vezes — Mag reclama, quando começa a tocar o refrão de Ragatanga mais uma vez.

Elas ficam entretidas com a música e essa é minha deixa para escapar das duas. Depois de tomar banho eu troco de roupa e procuro o celular para ligar para Marcos, não sei se pra desejar feliz natal ou para brigar com ele por ter passado por cima de minhas escolhas e ter ido falar com Rafael. Porém, quando me estico para pegar o celular em cima da cama, vejo a maldita foto em que está eu e Rafael jogada ali perto.
Me agacho para pegá-la e fico a olhando por mais tempo que deveria e meu cérebro entra em uma batalha com meu coração entre rasgar a foto ou não. Eu sabia que meu cérebro tinha razão, eu não deveria guardar nada dele, muito menos uma foto. Tento rasgá-la no meio três vezes seguidas, mas em todas a coragem me falta.

Por fim, jogo ela dentro da gaveta da escrivaninha impaciente e disco o número de Marcos. Ligo umas quatro vezes, mas todas vão parar na caixa postal. Odeio quando isso acontece.

Mag entra no quarto, minutos depois se abanando e reclamando que já não tem mais idade para fazer o que acabou de fazer. Ela se joga toda suada em minha cama e eu respiro fundo pra não dar uma de chata e reclamar.

Ela começa a falar sobre uma polêmica que está levando a internet a loucura e eu me limito a concordar com a cabeça, arrumando a bagunça que deixamos enquanto nos arrumávamos para a ceia. Fiquei agradecida por ela não tocar mais no assunto Rafael.

Até que ela começou a falar de Igor e sobre a briga com Diego.

— Até que achei bonitinhos eles brigarem por mim — ela diz com um sorriso, olhando para o teto.

Paro o que estou fazendo e fico de braços cruzados, encostada no móvel, ouvindo suas histórias.

— Igor me disse que o Diego falou que eu era a namorada dele — Magda conta e eu reviro os olhos. — Foi fofo quando ele disse que o Diego não me merecia.

Eu digo isso pra ela a todo instante e ela nunca achou fofo. Quero muito saber tudo que eles conversaram na minha ausência, mas não quero que Magda ache que me importo o bastante.

— Hum — murmuro, me sentando na ponta da cama. — Teve notícias do Igor? Vocês estão tão próximos agora, deve saber bem como ele está.

Ela finalmente para de viajar no seu mundinho cor de rosa e se senta, me olhando.

— Eu vou ignorar esse seu tonzinho sarcástico. — Mag puxa seu celular que estava em cima do travesseiro e começa a digitar freneticamente, enquanto fico esperando uma resposta sua. Quando ela parece acabar o que estava fazendo, ela se senta na cama puxando o travesseiro para o seu colo. — Mandei mensagem pra ele perguntando se está tudo bem e dizendo que vou passar no hotel pra ver se ele precisa de ajuda. Quer ir junto?

Franzo minhas sobrancelhas em uma confusão total. Ela tem o número dele?

— Uau, já estão até trocando mensagens!

— Não começa, Luisa.

— Eu não tô começando nada, Magda. Só acho incrível você já ter pego o número dele. Tem o quê? Uns dez dias que ele tá aqui?

— Pra sua informação, foi ele quem pediu meu número, tá? — Mag diz, emburrada. — E isso foi desde o dia que a gente ficou no Flop's. Não tem nada demais!

Semicerro meus olhos e minha boca se abre em choque, com tamanha informação. Eles vêm mantendo contato há dias e sei lá mais o quê e ela não me contou nada. Que tipo de amiga ela é?

E se ele está interessado em mim como parece estar, por que não pediu o meu número?

Tenho medo de estar confundindo tudo e esse "interesse" ser só da minha parte. A insegurança volta a tomar o meu corpo.

É claro que Igor iria gostar mais dela do que de mim. A Magda é mais bonita, mais simpática, mais extrovertida, mais experiente, mais tudo! E eu sou só mais uma chata, medrosa, feia e rancorosa.

— Não me olha com essa cara! A gente só troca algumas mensagens falando do nosso cotidiano, nada demais — ela tenta se justificar mais uma vez.

Me levanto rapidamente, querendo não continuar com esse assunto e volto a arrumar as coisas em minha escrivaninha.

— Tá bom, Magda. Você não tem que me dar satisfações de nada. Vocês são solteiros, fiquem quantas vezes quiserem. Eu não me importo.

— Por que você não para de ser tão ciumenta? — Mag eleva a voz, mesmo que ela esteja bem atrás de mim agora. — Isso é tão chato!

Termino de jogar as coisas de qualquer maneira na gaveta e a encaro irritada.

— Por que você não para de ser tão assanhada e de dar em cima de todo mundo? — rebato. Suas sobrancelhas se franzem e ela parece chateada com minha pergunta, mas finge não se abater, quando começa a gritar na minha cara:

— Porque sou livre, desimpedida e dou em cima de quem eu quiser! — Sua voz sai um pouco chorosa. — E se você está falando isso por causa Igor, tenho que te lembrar que não beijei ele sozinha e se me lembro bem, ele gostou MUITO!

— Ótimo pra ele!

— Ótimo!

— Vai lá ficar com ele então. — Eu a empurro em direção a porta. — Saí daqui!

— E tem mais: deve ser por isso que o Rafael te largou. Ninguém aguenta uma garota chata e possessiva como você. — Ela balança a cabeça de um lado para o outro, debochando de mim.

— Saí logo daqui! — Pego a primeira coisa que encontro na minha frente, que no caso é um secador de cabelo e jogo em sua direção, mas Magda é mais rápida em fechar a porta. O secador bate na madeira com força e cai no chão.

Fico trancada até a hora do almoço, quando minha mãe me obriga a sair antes que ela: "arrombe a porta e quebre a minha cara", palavras da própria. Eu não queria sair porque achei que Igor viria junto com meus avós almoçar aqui, mas quando vi que ele não veio, tive a certeza que ele e Magda estavam juntos.

Dane-se.

No final da tarde quando meus avós foram embora, minha mãe decidiu nos levar até a loja onde será sua floricultura dos sonhos. Fomos os quatro andando de mãos dadas pelas ruas, ouvindo todo o planejamento que tem para o local. Quando chegamos lá, descobri que era onde ficava o antigo Pet Shop da cidade, que não ia muito bem e acabou falindo. O lugar é enorme e muito bem localizado no centro de Macarena, e o melhor de tudo, minha mãe conseguiu comprar por preço de banana. Quando minha mãe passou a chave na fechadura da porta de madeira com um quadrado de vidro, foi bonito de se ver o sorriso e o brilho nos olhos que ela e meu pai tinham.

O estabelecimento possui dois andares e mais um quintal atrás que ajudará bastante na cultivação das plantas da minha mãe. O cômodo principal da entrada é amplo e tem duas janelas grandes que ocupa quase toda a parede. A pintura branca com listras pretas está desgastada e a pintura no teto está soltando pedacinhos do cimento junto com a tinta, de tão velho que está. Em um outro cômodo menor, tem uma escada pequena de ferro que leva ao segundo andar. Quando subimos, ficamos impressionados de como lá em cima é bonito e grande. Todos os cômodos são bem divididos, a pintura branca e cinza está conservada, e daria facilmente para alguém morar aqui. Eu não me importo nada de me mudar pra cá e minha mãe abrir seu negócio lá.

Minha mãe continua tagarelando quando voltamos para o andar debaixo e ela indica cada canto dizendo como as coisas vão ficar e quais cores de tinta ela quer nas paredes.

Ela está tão sorridente e feliz que isso acaba me contagiando também e por minutos esqueço de todos os meus problemas. Fico tão feliz de vê-la realizada que dou um abraço apertado nela.

Enquanto conversamos, Jasmim corre pelo cômodo empoeirado e depois gruda na minha perna insistindo que eu brinque com ela de esconde-esconde. Acabo sendo vencida pela insistência e pelos olhinhos brilhantes e quase verdes que a mesma herdou de meu pai e começamos a brincar. Meu pai e minha mãe acaba entrando na brincadeira e no fim, se torna mais divertido do que eu imaginava. Eu sinto saudades de ter momentos como esses, pois, com a correria do dia a dia e com as responsabilidades, acabamos ficando sem tempo de nos divertir assim.

Quando eu encerro a brincadeira por conta do meu coração que parecer vir parar em minha garganta, deitamos os quatro no chão empoeirado. Jasmim e eu no meio, meu pai e minha mãe em cada ponta.

— Tá tudo tão estruturado aqui em minha cabeça, que tenho vontade de começar a fazer as coisas agora — minha mãe volta ao assunto anterior. Estamos todos olhando para o teto caindo aos pedaços, cada um com os seus pensamento. — Tenho medo de esquecer todos os detalhes que quero para esse lugar.

— Você pode fazer algumas anotações, amor — papai sugere. — E também não vai demorar muito pra gente começar as obras. Vamos só esperar passar todas essas datas comemorativas.

— A gente bem que podia vir morar aqui e você construir sua loja lá em casa — comento, sem aguentar me segurar. Eu realmente achei esse lugar incrível e meu quarto no andar de cima ficaria um máximo.

Minha mãe não parece gostar da ideia, pois me dá uma careta como resposta.

— Você não gosta da nossa casa? — meus pais perguntam juntos. Mesmo com eu e Jasmim no meio dos dois, os vejo trocando um olhar divertido por ter perguntado a mesma coisa, juntos.

— Claro que eu gosto, mas é que esse lugar é incrível!

— Foi por isso que o escolhi. — Minha mãe se gaba. — Eu já consigo te ver com um avental e uma vassoura na mão, trabalhando para mim — ela provoca, batendo seu ombro no meu. O seu tom de voz me faz pensar que é brincadeira, mas, no fundo eu sei que não é.

— A senhora tá brincando, não é? — pergunto, para confirmar.

— Não.

— Pensei que a senhora tinha concordado em me dar um ano de folga, mãe. — Lembro a ela da conversa que tivemos meses atrás de quando eu estava perto de terminar os estudos e ainda não sabia o que queria. Por isso ela e meu pai concordaram em me dar um ano pra decidir. Foi maravilhoso não ter que pensar em vestibular ou em qualquer coisa do tipo.

— Concordamos em te dar um ano de folga dos estudos e pra pensar no que você quer, isso não incluí trabalhar.

— Eu vou receber um salário pelo menos?

— Vai receber moradia, alimentação e roupa limpa todos os dias.

— Isso eu já recebo, mãe. — Franzo minhas sobrancelhas para a mesma, vendo um sorriso divertido em seus lábios.

— E se quiser continuar recebendo, vai trabalhar pra mim de graça e sem reclamar. — Ela dá um beijo estalado em minha bochecha quando faço cara emburrada, arrancando uma gargalhada de meu pai.

Já tinha escurecido quando voltamos para a casa e ao chegar lá, vi Marcos, sentado na calçada esperando por nós. Ele tinha um pauzinho entre os dedos, passando-o pelo vão dos paralelepípedos. Quando nos viu, ele o jogou fora e se levantou, sorrindo diretamente para mim.

— Não tá na hora de fazer visitas, rapaz — meu pai fala, assim que paramos de frente para o Marcos.

— Pai! — o repreendo.

— Para de ser chato, Miguel. Vamos entrar e colocar essa princesinha pesada pra dormir na cama — minha mãe diz, tentando ajeitar Jasmim que dormiu no meio do caminho, em seus braços.

Às vezes sinto saudades de ser carregada no colo de alguém. A vida era tão mais fácil.

Meu pai pega Jasmim de minha mãe, assim como eles fizeram o caminho inteiro, jogando minha irmã para lá e para cá como se fosse um saco de cimento.

— Feliz natal pra vocês! — Marcos deseja aos meus pais com um sorriso, quando minha mãe finalmente acha a chave em sua bolsa e consegue abrir a porta.

Meu pai sorri a contragosto e dá o ultimato que eu não demore na rua porque está tarde.

São sete e vinte e sete neste exato momento.

— Como vai a flor mais bonita do meu jardim? — Ele brinca, abrindo os braços para me abraçar, mas antes que ele possa cumprir tal ato, dou um tapa estalado em seu braço que acho que doeu mais a minha mão do que nele. — Au! Por que você fez isso? — ele reclama com uma careta de dor, massageando o lugar onde bati.

— Por que você foi falar de mim pro Rafael? — rebato sua pergunta, cruzando os braços e fazendo a melhor cara de brava que consigo.

O problema é que nunca consigo ficar brava com ele, por mais que eu tente ou que ele me dê motivo. Essa carinha de menino carente dele derrete meu coração.

— Então quer dizer que aquele pela-saco finalmente criou coragem? — ele fala mais pra si mesmo, balançando a cabeça com um sorriso nos lábios.

— Eu disse que não estava preparada, Marcos — choramingo.

— Acontece que se depender de você, você nunca vai estar, Luisa! — Marcos retruca, me deixando seu uma resposta.

Odeio o fato de ele estar sempre certo sobre tudo. Chega a ser irritante.

— Vocês conversaram? — questiona. Eu suspiro, jogando a cabeça pra trás e fechando os olhos.

Quando esse assunto vai parar de ser o cetro da minha vida? Isso é tão cansativo.

Encaro a rua deserta, ouvindo o barulho dos grilos e algumas músicas vindo das casas de meus vizinhos.

— Vamos entrar — o chamo, andando em direção a porta.

Quando entramos em casa, não encontro meus pais pela sala, por isso grito para meu pai dizendo que já entrei.

— Espero que não na companhia do seu amigo. — É o que ele me responde de dentro do seu quarto.

Sorrio para Marcos e o puxo até o meu quarto, fechando a porta atrás dele. Deito de um lado na cama e ele faz o mesmo.

— Quer apostar quanto que ele vai vir aqui conferir? — Marcos comenta, rindo.

— Eu tenho certeza que ele virá!

— Conversaram ou não? — Ele volta a perguntar, mudando de assunto. Marcos entrelaça nossos dedos os levando para cima de sua barriga.

— Mais ou menos.

— Quero detalhes.

— Ele me pediu desculpa. — Dou de ombros, me lembrando da conversa que tive. — A mesma ladainha de sempre sobre ele ser uma criança naquela época e tudo mais. Eu já sei as desculpas dele de cor, não preciso que ele venha até aqui dizer o que já sei.

— Mas éramos mesmo muito crianças. — Ele se ajeita na cama, ficando de lado, escorando a cabeça na palma de sua mão. Reviro os olhos com o seu comentário e franzo meu cenho. — Não me olha assim, você sabe que tenho razão! Não acha que talvez você esteja levando isso a sério demais? Você só tinha treze anos, talvez você tenha confundido os sentimentos.

— Tá dizendo que eu tô fazendo drama? — Me sento de pressa na cama, sem acreditar no que acabei de ouvir.

— Eu não disse isso. Só acho que você tá sendo intensa demais com tudo — ele diz e solto uma risada anasalada, incrédula com os comentários do meu "melhor amigo".

— Você realmente acha que eu tô fazendo drama! — Minha voz sai esganiçada.

— Luisa...

— Não, Marcos — o interrompo, me levantando da cama. Ele se senta e bufa ao me ver irritada. — Ele me expôs ao ridículo! Ele tirou fotos minhas seminuas e mostrou para aqueles amiguinhos nojentos dele! Você sabe disso!

Ele concorda com a cabeça e abre a boca para dizer algo, mas o impeço.

— E se as fotos tivessem vazado? — o questiono. — E se meus pais vissem aquelas fotos? — Só de pensar na possibilidade meus olhos já se enche de lágrimas. — Imagina o que eles e as pessoas pensariam de mim? Você acha mesmo que isso tudo é só um drama da minha parte?

Dói vê-lo fazendo pouco caso da situação, sendo que ele estava no meio deles, enquanto eu tentava segurar a barra toda sozinha depois de ser ameaçada pelo primo do Rafael, dizendo que se eu pensasse em contar algo a alguém, eu pagaria caro.

Confesso que até hoje tenho medo dele.

Ele levava um canivete para a escola!

Caio o nome dele, eu me lembro bem, ele já estava no terceiro ano e comandava a turminha idiota toda do Rafael. Ele me fez passar os piores dias da minha vida, até que Marcos resolveu ficar do meu lado.

Fiquei tão feliz quando ele saiu da escola e até hoje não o vi mais. Poucos meses depois, soube que ele tinha sido preso com drogas, e que quando saiu da cadeia foi embora da cidade. Eu agradeci as céus por isso.

— Não, não. — Marcos me tira dessas lembranças ruins, segurando meu rosto entre suas mãos — Eu não quis dizer isso, me desculpa.

— Se não fosse por você, eu não... — Um soluço escapa dos meus lábios e enfio o rosto na curva de seu pescoço com vergonha de mim mesmo. — Eu não sei o que teria sido.

— Ei, eu não deixei e nunca vou deixar nada de ruim acontecer com você. — Marcos volta a encaixar meu rosto entre suas mãos, me obrigando a olhar pra ele. — Nunca! Se for preciso eu quebro mais um dente do Rafael. Isso te deixaria melhor?

Dou risada em meio ao choro, lembrando que Marcos literalmente quebrou um dente do Rafael.

Rafael tentou implicar diversas vezes comigo depois que descobri tudo e dei um tapa na cara dele, na frente de todos seus amigos. Depois disso ele declarou guerra contra mim e só me deixava em paz quando Marcos estava ao meu lado. Um dia eu me cansei e contei tudo para o Marcos.

Na hora do recreio ele foi até Rafael e deu um soco forte em sua boca que resultou a um mar de sangue e um dente quebrado.

— Ei, não pense mal de mim, tá? — ele pede, me dando um beijo na testa e eu concordo com a cabeça. — Eu nunca achei que você estivesse fazendo drama. Só você que passou por tudo isso que pode julgar ou não. Me desculpa. Eu imagino como deve ter sido doloroso pra você. Eu só acho que seria bom se você falasse isso com alguém, não comigo que de alguma forma estive envolvido e sim com outra pessoa de fora, talvez com uma psicóloga. Acho que isso te traumatizou um pouco.

Faço uma careta para sua sugestão.

— Eu não vou numa psicóloga! Você sabe que a única que tem aqui é a Renata, e tenho certeza que é ela que conta da vida de todo mundo daqui dessa cidade no salão. Já pensou se isso cai no ouvido dos meus pais? Eles vão querer matar o Rafael ou o jogar na cadeia. — Se bem que ele merecia, mas não sei se ele seria punido por algo que aconteceu há anos e que ainda era menor de idade.

— Você tem razão.

— Tá bom pra mim, conversar sobre isso só com você. — Eu abraço sua cintura, aconchegando minha cabeça em seu peito.

— Não tá não. — Ele entrelaça minha cintura e escora seu queixo em minha cabeça. — Eu vejo como você tá sobrecarregada com tudo isso. E se você contasse pra sua mãe? A tia Maria é da hora! Tenho certeza que ela ajudaria.

— Assim que eu contar ela vai correndo falar pro meu pai ou vai até à casa do Rafael castrar ele. — Dou uma risada curta da minha própria sugestão. — Até que não seria uma má ideia.

— Eu ainda acho que se você e o Rafael sentasse e conversassem civilizadamente, isso poderia te ajudar um pouco. — Marcos faz questão de enfatizar.

Me separo do seu abraço e volta a deitar na cama, o levando comigo.

— Não tem sobre o que a gente conversar, Marcos. Ele sempre diz as mesmas coisas. Vamo dar tempo ao tempo, essa é a melhor coisa. — Suspiro cansada, desejando que essa conversa acabe logo.

— É, e nessa já se passaram cinco anos. — Reviro os olhos por ele ter razão mais uma vez, mas não digo nada, vendo que essa pode ser a deixa pra acabar com essa conversa.

Quando me aproximo para deitar a cabeça em seu peito, vejo uma mancha roxa no seu pescoço que por conta da camisa gola polo, eu não tinha percebido antes.

— Isso é um chupão, senhor Marcos Henrique? — Aperto com um dedo o local e o chamo pelo nome todo que sei que ele odeia.

Ele passou a odiar ter Henrique em seu nome, só porque um garoto com o mesmo nome bateu nele quando eram pequenos. Marcos é uma pessoa tão rancorosa quanto eu.

— Passei a virada com a Dani ontem — ele conta, com um sorriso enorme nos lábios.

— Vocês voltaram? — Ele dá de ombros, negando com a cabeça.

Seu sorriso some.

— Ela disse que não quer titular a nossa relação.

— E você?

— Eu o quê?

— O que você acha disso? Você é o único cara que eu já conheço que preza por um relacionamento sério! — exclamo, o empurrando de leve, batendo meu ombro no seu.

— Ah, eu concordei. Fazer o quê? — Ele não parece nem um pouco contente com a decisão. — Mais sabe o que é pior? Agora tenho certeza que ela tem algo com aquele professor. Eu vi umas mensagens dos dois no celular dela.

Eu estreito meus olhos em sua direção, de boca aberta.

— Mexeu no celular dela?

— Não me olha assim, você também faria o mesmo! — Ele devolve o empurrão. — Enfim, tinha várias mensagens deles marcando encontro. E sabe o quê mais? Ela me mandou embora porque ele ia ir lá pra ser apresentado aos pais dela.

Minha boca se abre mais ainda com sua declaração. Vejo uma expressão tristonha tomar o rosto de meu amigo e sinto vontade de colar chiclete naquele cabelo perfeito da Dani.

— Ela disse tudo isso na sua cara? — Ele nega.

— Eu li nas mensagens.

— E mesmo assim concordou com ela em ter um relacionamento aberto? — Vejo seus olhos se encherem de lágrimas.

— É melhor ter ela assim do que não ter de jeito nenhum. — Marcos dá um riso fraco sem humor e me puxa para deitar a cabeça em seu peito. Sei que ele só faz isso porque não quer que eu o veja chorar.

— A Daniella não merece você — comento num sussurro. Sinto minha cabeça subir e descer a cada vez que ele respira.

— Vamo parar de falar nela. Eu só quero recordar dos bons momentos dessa noite. — Concordo com um aceno.

Ficamos um tempo perdidos no nosso silêncio, até Marcos voltar a falar de novo:

— Eu tô imaginando a cena do seu pai entrando aqui e nos vendo desse jeito. — Ele ri e acabo fazendo o mesmo.

Estou praticamente deitada em cima dele, com ele me abraçando pela cintura e suas pernas entrelaçadas nas minhas.

— Ele iria surtar e correr atrás de você com uma tesoura de jardinagem.

— Ele já fez isso, esqueceu? — Levanto a cabeça para olhar o seu rosto e quando o olho, a lembrança parece voltar para minha cabeça e começamos a rir feito dois idiotas.

Quando Marcos começou a frequentar minha casa, às vezes ele entrava escondido pela janela do meu quarto. Em uma dessas vezes, meu pai entrou no exato momento em que ele colocava as pernas para dentro, daí ele foi atrás da tesoura de jardinagem de minha mãe e correu atrás de Marcos pela casa toda.
É claro que meu pai não faria nada, ainda éramos menores de idade, mas aquilo foi como um aviso do que aconteceria se ele ousasse entrar pela minha janela de novo.

Marcos aprendeu a lição.

— Ei — ele chama, quando já estou quase pegando no sono com o cafuné que ele faz em meus cabelos. —, eu amo você.

— Eu te amo mais — respondo.

Será que rola Marisa? 🌚

Vocês se lembram que o combinado era postar todos os domingos, não é? Só que amanhã não vai dar para eu postar, por isso acabei adiantando. Até porque estou muito atrasada com a estória e tenho que acabar logo esses capítulos festivos.
Mais uma coisinha, daqui em diante os capítulos serão maiores. Sei que tem gente que não gosta, mas realmente é necessário porque não quero que este livro tenha uns cem capítulos.
Por isso, se você achar cansativo, leia um pouco e depois leia mais um pouquinho e assim tudo fica bem.

Se alguém tem ideia de como monta um capítulo ask, me dá um help aqui por favor, porque não faço a mínima ideia de como fazer um!

Por hoje é só, não se esqueçam de votar e comentar bastanteeeeeee!

Beijinhos, Kami. ❤

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