Fazia meses que eu frequentava aquele lugar e não era capaz de entender as pessoas de lá. As patricinhas se fingindo de burras para ficar com caras que não são capazes de acreditar que uma mulher é mais inteligente que eles, grupos com pessoas fumando maconha apenas para socializar e pessoas socializando apenas para fumar maconha.
Jogadores de lacrosse lutando pelo abdômen sarado com o objetivo de impressionar outras pessoas. E cada um desses falando mal de alguém pelo canto, amizades falsas apenas por popularidade e falta de amor próprio nos excluídos. Fui observando muita coisa e escutando pelas paredes por meses até perceber que ninguém aqui age como é de verdade. Apenas como as pessoas esperam que elas sejam. Eu me sentia como um peixe fora d'agua lá. Apenas Sasha e Kevin conseguiam fazer eu me sentir bem.
Eu estava com Sasha na biblioteca fazendo a pesquisa para um trabalho de biologia quando uma garota ruiva entrou, provavelmente era uma das patricinhas, ela veio falar com a gente com seu grupo de seguidoras que a idolatravam:
– Olha só quem está aqui, o Tico e o Teco.
Não ligava para o que as pessoas falavam ou pensavam mas sabia que Sasha se incomodava, então resolvi responder:
– O que quer aqui? Se perdeu no caminho da loja de maquiagem?
– Fiquei sabendo que escreve bem Bryant.
– Tá, e daí?
– Vim te fazer uma proposta. Você faz a minha redação do dever de casa e eu te deixo virar uma de nós, sei que quer isso.
– O que te faz pensar que eu quero ser uma das patricinhas de Beverly Hills? Ou seja lá qual for seu nome. Some daqui, não estou disposta a ser seu fantoche.
– Você que sabe, continua andando com a aidética, cuidado para não ser a próxima.
Ela saiu da biblioteca com seu bando de cobras e quando olhei para Sasha ela estava com uma lágrima pesada nos olhos, fazendo de tudo para ela não cair. Assim que percebi falei:
– Não liga para o que essas pessoas pensam, você sabe da verdade. – disse abraçando ela que comentou:
– Ainda tenho vontade de matar esse cara.
– Eu mataria por você, mas insiste em não me contar quem foi que inventou isso.
– Não, é melhor não, eu prefiro assim.
– Ok, limpa esse rosto vai, vamos focar no trabalho.
– Nenhum garoto quis ficar comigo depois dessa história. – disse Sasha em um tom de voz mais baixo que o normal e colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
– Ótimo, menos pessoas para te decepcionarem. Você é Sasha Foster, é linda, inteligente e autossuficiente. Tem o mundo inteiro para conquistar e vai ficar ligando para o que essas pessoas pensam? Eu estou com você, Kevin está com você, somos o trio perfeito lembra? Três não é demais e sim tudo o que precisamos.
– Eu amo você Athena.
– Eu também amo você.
Terminamos nosso trabalho com louvor e estávamos a caminho do treino de lacrosse para ver como Kevin estava indo. Chegando lá, acenamos para ele vir até nós:
– E aí jogador? – perguntei com um sorriso no rosto
– Ainda no banco – ele respondeu passando a mão nos longos cabelos.
Perdi parte da conversa de Kevin e Sasha pois automaticamente comecei a prestar atenção em Cooper Acker jogando. Começou passar um filme na minha cabeça com fotos dele mas a minha imaginação foi interrompida com a voz de Kevin me dizendo:
– Cuidado para não babar Athena. – o comentário foi seguido pelas risadas de Sasha e eu retruquei:
– Estava prestando atenção no jogo, não no Acker.
– Mas ninguém aqui falou que você estava prestando atenção no Acker – Kevin comentou e prosseguiu – Ouvi dizer que a diretora quer falar com você.
– Comigo? O que ela quer comigo?
– Isso eu não sei. Andou fazendo algo de errado?
– Não e mesmo que tivesse feito ninguém perceberia. Sou invisível lembra?
- Acho melhor você ir ver o que é logo para me contar, estou curioso.
- Bom, se não estivesse curioso não seria você, vou ver o que há para mim, deixo vocês aqui.
- Okay – os dois responderam juntos
Fui até a sala da diretora escutando uma música qualquer no fone de ouvido. Bati na porta com cuidado esperando ser atendida. A diretora abriu a porta e me convidou pra entrar com um sorriso no rosto, e eu por minha vez, ainda era incapaz de imaginar o porquê de estar ali:
- Então... o quer falar comigo senhora Diaz?
- Sente. Quero te fazer uma proposta. – Disse ela apontando para a cadeira em frente à sua mesa.
- Ultimamente não tenho recebido umas muito boas – Disse em um tom de voz baixo que ela não escutara. Ela prosseguiu dizendo:
- Eu peguei algumas de suas redações e notas da antiga escola. Você é realmente fantástica com as palavras senhorita Bryant.
- Obrigada – disse ainda sem entender o que ela queria com isso.
- Você sabia que a nossa escola tem um blog? Uma espécie de plataforma online para deixar os alunos informados das novidades.
- Nunca vi ninguém comentando a respeito.
- É exatamente aí que eu quero chegar! Não temos acesso dos alunos. Eles não querem ler ou aprender, eu como diretora preciso mudar isso e preciso da sua ajuda pra isso.
- O que quer que eu faça? – Perguntei já tendo uma ideia da resposta.
- Não adianta eu tentar, não conheço esses jovens. Você sim conhece, você é um deles... – Tive que à interromper para falar:
- Me perdoa mas você está errada. Eu conheço eles mas não sou um deles. Sou totalmente diferente de cada um ali fora.
- Eu entendo... – ela continuou – e isso me deixa feliz. Mas a minha proposta é entregar esse blog em suas mão. Livre para você fazer as postagens e mudanças que quiser se achar viável para atrair mais leitores, senhorita Bryant eu preciso de você agora, pessoas investiram nesse site.
- Não acho que sou capaz de fazer isso. Ninguém dessa escola quer ler alguma coisa escrita por mim.
- Vai ser em anonimato e eu sei que você é capaz. Por favor Athena Bryant. - Ela disse quase implorando.
Demorei alguns segundos para pensar os motivos de eu fazer ou não aquilo, então fiz sinal de sim com a cabeça. Mas não porquê eu queria ou achasse que poderia mudar as pequenas mentes das pessoas daquele colégio. Apenas achei interessante ajudar a diretora com isso. Gostaria que fizessem o mesmo se fosse comigo.
Ela ficou animada não conseguindo esconder o sorriso. Me deu todas as informações necessárias sobre o blog e livre acesso ao laboratório de informática do colégio. Apesar de eu preferir fazer todo esse trabalho trancada no meu quarto, assim como eu faço a maioria das coisas da minha vida.
O som do sinal ecoou pelos meus ouvidos enquanto saia daquela sala e via os mais diferentes tipos de pessoas nos corredores apenas pensando onde eu tinha me metido daquela vez, vai ser um longo ano...
Avistei os velhos amigos perto do banheiro e fui em direção a eles, Kevin nem esperou para perguntar:
- E aí, o que ela queria?
- Nada, só perguntar algumas coisas sobre minha antiga escola.
Não sei porque mas algo me dizia para não contar a eles a verdade, provavelmente não ia dar em nada, então não fazia diferença. Mas tentei desviar o assunto para não perguntarem muito, sou péssima com mentiras.
- Mas e ai? Pizza lá em casa hoje, quem anima?
- Se ainda tiver vaga eu animo em- disse Cooper Acker saindo do banheiro que estávamos na porta e cumprimentando Kevin e dando um sorriso para mim.
Naquele momento parecia que eu não sabia falar a minha língua e travei totalmente até Sasha me tirar de um transe mental dizendo:
- Não vai dar para mim, prometi ajudar minha mão em casa hoje, inclusive, eu já vou indo.- Ela me deu um beijo na bochecha e saiu da panelinha. Ficamos apenas eu, Kevin e Cooper.
- Acho que somos só nós três...- disse Kevin
- Claro, por quê não?- Disse com uma leve cara de desespero e completei:
- Então... vamos?
Cooper foi na frente e Kevin abaixou para cochichar no meu ouvido:
- Eu quero muito ver o que vai acontecer.
É Kevin, eu também queria muito ver o que ia acontecer.