angelic ・ jikook

By babysunchild

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Tímido, solitário e infeliz. Era assim que Jeon Jungkook se definia. Vivendo em uma pequena casa em um bairr... More

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3 ・ novelty
4 ・ alliance
6 ・ desirable
7 ・ sensitivity

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By babysunchild

👼

— E eu lá sei quem é Park Jimin? — Taehyung falou o óbvio.

— Ele é.. é... — Para falar a verdade eu não tinha a menor ideia de como explicar o que exatamente Jimin era pra mim. Eu não podia simplesmente falar que ele era meu anjo da guarda e que tinha descido do céu para me proteger. Taehyung provavelmente me acharia um maluco lunático. — É um amigo.

Isso não deixava de ser verdade. Apesar do meu raciocínio lento e não entender muito sobre como todo esse aspecto da parte angelical do Jimin funcionava eu entendi que ele, tecnicamente, sempre esteve comigo. Me viu nascer e crescer. Sabia de todas as minhas falhas e cada um dos meus defeitos. Isso era um pouco embaraçoso? Sim, mas eu não ligava. Jimin não ia usar isso contra mim.

Então, de um jeito ou de outro ele era meu amigo.

— Pensava que você não tinha amigos. — Tae falou com desconfiança. — Você não tá mentindo pra mim esse tempo todo, não, né? Olha aqui, Jeon Jungkook, se eu descobrir que você é um desses popularzinhos metidos eu-

— Não, não! — O interrompi em desespero. — O Jimin é diferente... ele é meio que... meu amigo de... infância.

Eu posso ter passado um pouco dos limites, mas não havia mais o que falar. Eu não sabia praticamente nada sobre como era a vida do Jimin do céu e eu estava entrando em uma encrenca quando eu pressupus que nós nos conhecíamos desde quando erámos quando, na realidade, eu só tinha descoberto que ele exista havia dois dias.

— Ele é meu único amigo além de você. — Continuei, tentando controlar minha respiração em ansiedade. — Eu não estou mentindo.

Observei Taehyung ponderar por uns momentos enquanto dava mais uma mordida na maçã.

— Ele não é nenhum velho tarado, não, né? — Considerou, se virando para olhar diretamente para mim.

— Não! — Falei rápido demais, fazendo com que Tae se assustasse. — E-Ele tem a nossa idade.

Alguém tinha que urgentemente me impedir de falar as coisas. Sempre que eu abria a boca parecia que eu só piorava a situação.

Eu não tinha como saber a idade do meu anjo da guarda, mas se ele me viu nascer ele era mais velho que eu, certo?

Mas Jimin não tinha cara de que tinha 50 anos. Será que Jimin tinha 50 anos, mas não envelhecia? Será que anjos envelhecem? E se.... Jimin tivesse, na verdade... 90 anos??

Essa seria a primeira coisa que eu iria lhe perguntar quando nos encontrássemos de novo.

— E ele é solteiro? — Taehyung disparou e eu arregalei os olhos em surpresa. — É atraente?

— E-Er- — Eu não tive nem reação. Por qual motivo ele estava me perguntando aquilo? Ele tinha interesse? Não fazia sentido nenhum. Além dos boatos de que Taehyung era esquisito, algumas pessoas comentavam que ele tinha vários casos fora da escola e que até se relacionava com mulheres mais velhas, mas eu nunca acreditei muito em fofocas, principalmente as que vivam das meninas da minha sala.

— Algum problema, Jungkook? — Posicionou os cotovelos nos degraus acima dos que nós estávamos sentado. Com o corpo relaxado e a maçã em uma das mãos ele falou chamando minha atenção, que antes estava presa nos meus próprios pensamentos. — Algum problema com o fato de eu ser gay?

Oh.

— Agora você não vai querer ser mais meu amigo porque eu gosto de meninos, é isso? — Percebeu o meu nervosismo enquanto eu esfregava as minhas mãos freneticamente.

Nas histórias que eu ouvia, nenhuma mencionava que Taehuyng se relacionava com homens. Acho que nem mesmo as pessoas da escola sabiam. Não posso dizer que não fiquei surpreso, porque eu fiquei, mas esse detalhe não ia influenciar a nossa amizade.

— Não! — Me posicionei com certeza. — Eu não faria uma coisa dessas. Você é meu único amigo aqui, nem que você fosse azul eu ia deixar de gostar de você.

Taehyung relaxou os ombros e caiu na risada revelando, novamente, seu sorriso quadrado.

— Eu já disse que você é engraçado? — Depois de se recompor e sentar confortavelmente no degrau, voltou a falar. — Eu jurava que você ia me dar um pé na bunda e me abandonar no meio desse inferno.

— Você não vai me abandonar e eu não vou abandonar você, estamos de acordo? — Após alguns momentos estendi a mão e logo que entendeu o que eu queria fazer, Tae levantou a sua própria e apertou a minha em concordância.

Ele, agora, levava a maçã mais uma vez a boca enquanto mexia distraído no zíper do casaco.

— Então... — falei levado pela curiosidade. — As pessoas da escola sabem? De você ser... gay?

— Eu nunca escondi de ninguém, mas ele sabendo ou não eu realmente não me importo. — falou despreocupado ainda entretido com o acessório metálico.

— Eu ouvi histórias... — comecei sem muito bem saber o que falar. — Umas pessoas falaram que você se envolvia com mulheres mais velhas.

Taehyung me olhou sério por um instante antes de se jogar pra frente e começar a rir novamente.

— Eu? — meu amigo disse em meio a risada. — A única mulher que eu beijei em toda minha vida foi a minha mãe e ainda foi na bochecha.

— Oh! — Falei contagiado pela sua risada e já começando a rir também.

— Nada contra as garotas, mas eu prefiro beijar meninos. — Declarou despreocupado. — Você devia tentar, Jungkook.

Engoli seco e senti meu rosto esquentar. Taehyung agora brincava distraído com os próprios dedos e não percebeu quando eu me ajeitei desconfortavelmente sobre o degrau.

— E-Eu gosto de meninas. — Balbucie olhando para um ponto fixo no meu pé.

Taehyung parou o que estava fazendo para olha para mim e me analisar.

— Se você tá dizendo... — declarou e, por algum motivo, ele deixou escapar uma risada abafada. — Mas é sempre bom estar aberto para novas possibilidades.

Oh, não. Eu não tinha tempo para possibilidades. A última vez que eu gostei de alguém, eu saí magoado. E mesmo se alguém se interessasse por mim, o que era impossível, eu não tinha tempo para pensar em um relacionamento. Eu não podia ter distrações nesse momento da minha vida. Não podia.

— Eu estou bem como eu estou. — Falei tentando manter a calma.

Taehyung me encarou mais uma vez enquanto o sorriso travesso não saia dos seus lábios.

— Você não respondeu. — Mudou de assunto e eu o olhei confuso sentindo a minha testar franzir. — O seu amigo... ele é solteiro?

Ah não.

— E-Er... — Eu não tinha resposta para isso. Isso Jimin não tinha me explicado. Ele era parte humano e parte anjo, mas eu não sabia até que ponto ele podia se relacionar com as outras pessoas. E se Taehyung se interessasse por ele? Não era impossível de acontecer. — É complicado.

— Como assim complicado, Jungkook? — Taehyung falou com um falso deboche. — É sim ou não? Por um acaso.... Você gosta dele?

— Não! — Falei rápido demais sentindo meu coração acelerar e as gotículas de suor se formarem na minha testa.

— Não que ele não está solteiro ou não que você não gosta dele? — Declarou com desconfiança. — Você é confuso demais.

A primeira gota de suor escorreu pelo lado direito do meu rosto e eu senti minha garganta fechar.

— Eu não gosto dele, Tae. — Falei arregalando os olhos em nervosismo. — Quer dizer... eu gosto dele, mas como... amigo. — A cada palavra a minha voz se tornava mais falha.

— Eu preciso conhecer o cara que vai morar comigo, Jungkook, mas se você não falar nada fica difícil. — Disse e meus olhos e sorriso se abriram em animação.

— Você vai deixar mesmo ele morar com você? — Uma onda de alívio percorreu meu corpo. Só de pensar que Jimin tinha um lugar para ficar eu já me sentia mais leve. A imagem do meu anjo da guarda deitado sozinho e no frio debaixo da ponte me causava um desespero incomum.

— Claro. Se não for ele eu vou morrer de solidão. Já que meus outros amigos me abandonaram sozinho no meu apartamento. — Mais uma vez Taehyung estava sendo dramático demais, mas eu não reclamava porque era até engraçado. — Avisa pra ele que se ele for um maníaco ou algo do tipo eu sei lutar taekwondo. — Agora ele tinha os dois punhos fechados em posição de ataque e tentava levantar uma das pernas, sem sucesso.

Ri de toda a situação e do ato falho do meu amigo de mostrar que praticava a arte marcial.

— Você realmente luta? — Falei provocativo no mesmo tom debochado que Taehyung sempre fazia.

— Eu parei quando eu tinha oito anos. — Ele se aproximou e falou quase em um sussurro, apesar de sermos os únicos na área da escada de emergência —, mas ele não precisa saber disso. Então, pode ir avisando que qualquer coisa suspeita que ele fizer eu ataco.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa o som agudo indicava que o horário do almoço tinha acabado e que deveríamos voltar a nossa sala de aula.

— Desculpa pela maçã. Você deve estar faminto, não é? — Falou já se levantando dos degraus e se direcionando à porta que levava até o corredor principal. — O que você acha da gente sair daqui e comer alguma coisa? Eu ouvi dizer que abriu um café ótimo aqui perto.

Ponderei por uns instantes antes de tomar a minha decisão.

— Eu não posso faltar aula. A minha mãe vai me matar. Além disso, eu não tenho dinheiro. — A última parte saiu quase em um sussurro. A dificuldade financeira não era algo que eu me orgulhava

— Não se preocupa. — Taehyung deu dois tapinhas nas minhas costas. — Eu pago. Só vem comigo, por favor.

— Eu não posso. — Comecei a andar em direção ao corredor. — Eu preciso estudar.

— Eu não acredito que você vai negar um pedido meu. — Declarou com um falso incomodo. — Mesmo depois de eu aceitar abrigar seu amigo.

— Mas foi você que disse que ia morrer de solidão. — Brinquei. — Eu só achei uma solução.

E, assim, meu novo amigo cedeu e seguimos juntos pelos corredores até a sala de aula. No meio do caminho recebemos os mais diversos tipos de olhares. Surpresa, aversão, nojo e até a mistura desses três. Isso não era novidade para mim, mas pelo menos agora eu tinha alguém ao meu lado.

Agradeci aos céus mentalmente, enquanto observava Taehyung andar despreocupado e jogar o resto da maçã no primeiro cesto de lixo orgânico que encontrou no caminho.

— T-Taehyung... — Chamei antes de entrarmos na sala. — Sobre o Jimin... — Agora o garoto de cabelos acinzentados me olhava. — É complicado te explicar, mas ele chegou em Seul agora e.... — tentei buscar as palavras e explicar a situação sem revelar a identidade do meu anjo da guarda. — Ele está tentando conseguir um emprego... e não tem muita coisa além da roupa do corpo. O meu salário atrasou, mas quando eu receber eu... pago pelas despesas dele.

— Jungkook? — Falou inconformado. — Eu sou seu amigo. Amigos fazem favores para amigos. Então, não precisa pagar por nada, ok? Além do mais, eu ganhei um companheiro de apartamento.

— Senhores, a aula vai começar. Entrem, por favor. — O professor de física falou e Taehyung revirou os olhos em tédio e eu ri baixo para que o homem mais velho não ouvisse.

Física não era o meu forte. Na verdade, nenhuma matéria era o meu forte. Eu me esforçava para tirar notas boas, mas na melhor das hipóteses eu era um aluno mediano. Agora, sentado em uma das cadeiras perto da janela eu tentava anotar todos os conteúdos dispostos no quadro.

— Alguém tem alguma pergunta? — O professor parou no meio da sala e questionou.

Eu tinha e não eram poucas.

Por que eu devo usar essa fórmula e não aquela? Como o número oito tinha se transformado misteriosamente em três na segunda questão? Por que a resposta da quarta questão tinha sido dada em quilômetros e não em metros? Em que momento eu ia usar tudo isso na minha vida? Quando esse inferno ia acabar?

Algumas pessoas levantaram suas mãos e fizeram suas perguntas, mas eu não o fiz.

Permaneci quieto. Eu não tinha coragem. Algo dentro de mim me impedia.

O medo de ter a atenção sobre a mim e ser motivo de piadinhas na sala era maior do que a minha vontade de aprender a matéria. Por isso, eu preferia, sempre que possível, ser invisível e me esconder de todos.

Meus dedos tintilaram rapidamente sobre a mesa e minhas mãos começaram a suar ao mesmo tempo em que diversas cargas elétricas eram enviadas para o restante do meu corpo fazendo com que eu tremesse em ansiedade. Eu tinha que conviver com isso o tempo todo.

Medo, agitação e inquietude. Tudo ao mesmo tempo e o tempo todo.

"Sempre que você sentir medo ou raiva conte até dez que o sentimento vai desaparecer. " a voz da minha mãe pairou em minha mente.

Fechei os olhos e comecei a contagem.

Um, dois, três, quatro...

Respirei fundo para normalizar a minha respiração acelerada.

Cinco, seis, sete...

O tremor das minhas mãos havia diminuído.

Oito, nove, de-

A minha contagem foi interrompida por um celular tocando.

Abri os olhos rapidamente só para perceber que o som vinha do aparelho da pessoa sentada atrás de mim, ou seja, Taehyung.

Com todos os olhares fixos em si, o mais velho levantou da sua cadeira e caminhou tranquilamente até o professor com o objeto entre as mãos.

— Eu vou atender. — Kim falou sem preocupação alguma. — É urgente.

E assim, ele saiu pela porta deixando todo o restante da sala de boca aberta, inclusive eu.

Todos nós sabíamos que o uso de celular era proibido na escola e que se algum aluno fosse encontrado os usando durante as aulas seria gravemente punido. Mas, pelo visto, Taehyung era uma exceção.

Depois que o meu amigo saiu, o professor mal esboçou alguma reação, apenas voltou a atenção a aula e agiu como se nada tivesse acontecido.

Demorou alguns instantes até que a sala voltasse a ficar em silêncio de novo já que todos queriam comentar com seus colegas de classe sobre o que tinha ocorrido.

A aula prosseguiu seu rumo, mas algo ainda me intrigava.

Era notável a diferença de comportamento de Taehyung quando estava na frente dos outros estudantes e quando estava longe deles. Toda a escola sabia que ele tinha repetido o último ano, mas ninguém sabia o motivo.

Durante toda a sua vida acadêmica sempre foi considerado um bom aluno, vinha de uma boa família e não tinha problema com dinheiro. Não tinha motivos para uma reprovação.

Isso era o que eu pensava.

Prometi a mim mesmo que em um dos meus surtos de curiosidade iria perguntar dele, mas não agora. Ainda era cedo demais.

Todos tem seus demônios internos. Eu não iria gostar que as pessoas conhecessem os meus e eu tenho certeza que Taehyung também compartilha do mesmo pensamento, por isso se esconde atrás da máscara de superioridade e deboche quando está dentro da sala de aula, mas, na realidade, ele não passa de um jovem qualquer tentando ser aceito, assim como eu.

Mesmo com tudo isso, eu estava feliz por ter o conhecido e por ele ter mostrado, mesmo nos poucos momentos que passamos juntos, o seu verdadeiro "eu": O Taehyung que muito se assemelhava a Jungkook quando o assunto era "ser estranho".

O fim da primeira aula se deu assim que o som estridente da campainha pôde ser ouvido. O professor recolheu seus materiais e os alunos já começavam a se movimentar.

Já com o mestre fora da sala, Taehyung apareceu na porta com uma feição tranquila. Enquanto caminhava até o lugar que estava sentado ele recebeu diversos olhares de reprovação, os mesmos olhares que eu já conhecia a muito tempo.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei assim que ele voltou a sentar na cadeira atrás de mim. — Você disse que era urgente...

— Oh, não... — Taehyung riu da minha cara de preocupação. — Foi o meu amigo que me ligou. Ele estava me convidando pra ir no apartamento novo dele. Se você quiser você pode ir, eu só preciso avisar antes.

— Eu tenho trabalho. — Falei fazendo com que ele colocasse o celular, que anteriormente estava em uma de suas mãos, no bolso

— Quando é seu dia de folga? Você prometeu que a gente ia jogar videogame na minha casa. — Disse, já relaxado em seu assento.

— Eu não tenho folga, se eu não trabalhar todos os dias da semana eu sou demitido. —Minha garganta secou no momento em que eu lembrei das condições da minha contratação.

— Isso é desumano. — Taehyung agora me encarava com certa aflição.

As duas aulas seguintes se passaram.

Na mesma rotina de sempre, eu anotava os conteúdos do quadro e não entendia nem a metade. Nada de novo.

Por alguns momentos eu olhei através da janela. O dia não estava tão frio quanto o anterior, mas mesmo assim eu ainda estava preocupado. Onde será que Jimin estava?

Durante o restante das aulas o meu anjo da guarda foi a única coisa que apareceu em meus pensamentos. Eu, com certeza, teria prejuízo nas matérias, mas eu não conseguia evitar.

Na minha cabeça só tinha Jimin, Jimin e Jimin.

Com o final do último tempo, saí juntamente com Taehyung e caminhamos até o portão principal.

Estava tudo correndo bem, até que uma preocupação surgiu na minha cabeça: eu não tinha marcado um ponto de encontro com Jimin e não tinha nenhum meio com o qual eu podia entrar em contato com ele.

Passei a correr em direção a área externa da escola com a esperança que ele estivesse lá. Ouvi Taehyung me chamando para que eu andasse mais devagar, mas eu não me importava, eu só queria encontrar Park Jimin e me certificar que ele estava bem.

Assim que eu cheguei no portão metálico uma onda de alivio percorreu meu corpo.

Lá estava ele.

Sentado no mesmo banquinho do dia anterior. As pernas balançando pra frente e pra trás já que seus pés não encostavam no chão de concreto. Com o moletom cobrindo até as mãos, ele olhava distraído para os carros que passavam na rua.

Por algum motivo eu quis só ficar ali parado o observando, mas a voz de Taehyung tirou a minha atenção.

— Por que você começou a correr que nem um doido, Jungkook? — Declarou com a voz pesada e levando uma mão ao peito para demonstrar o cansaço. — Eu não tenho disposição pra ficar correndo, não, eu sou sedentário.

— E o taekwondo? — Lembrei, imitando o sorriso debochado do meu amigo.

— Isso não vem ao caso... — Taehyung ajeitou a postura e voltou a me olhar. — Então, por que todo esse desespero pra chegar logo aqui?

Minha atenção voltou ao meu anjo da guarda, ainda sentado do outro lado da rua. Tae percebeu que eu não lhe respondia propriamente e direcionou a visão para o mesmo lugar que eu estava olhando.

— Pra o que tanto você olha, hein? — Vi o exato momento em que os olhos dele alcançaram Jimin. Sua boca se abriu formando um "o". — Quem é ele?

— Park Jimin. — Falei observando novamente o loiro.

— Uau. — Foi a única coisa que ele conseguiu dizer durante um bom tempo.

Nesse meio tempo o meu olhar se encontrou com o de Jimin, que assim que me viu abriu um sorriso que fez com que seus olhos ficassem pequenos. Ele acenou para que eu me aproximasse e então eu comecei a caminhar, sendo seguido por Taehyung.

— Você não vai me responder se ele está solteiro, não? — Enquanto passávamos pelo meio da rua, Tae sussurrou em antecipação.

Assim que chegamos ao outro lado, antes de chegar ao encontro de Jimin, lancei um olhar de desaprovação para Taehyung.

— Oi, Jungkook. — Ouvi a voz do meu anjo da guarda— Como foi seu dia?

— Foi bom e... — Taehyung apareceu ao meu lado cutucando a minha costela direita impedindo que eu continuasse falando até eu o apresentar. — Esse é o Taehyung.

— Oh! — O vento soprou seus cabelos loiros para o lado e o seu sorriso aumentou quando ele visualizou Tae ao meu lado. — É um prazer conhecê-lo. Eu me chamo...

— Park Jimin, certo? — Taehyung completou e Jimin assentiu rindo. — Jungkook me falou de você.

Não posso negar que eu senti um pouquinho de ciúmes. Só um pouquinho.

— Jimin. — Chamei com o objetivo de atrair a atenção de novo para mim. — Você vai morar com o Taehyung por enquanto.

Os olhinhos de Jimin se arregalaram em meio dúvida.

— Eu preciso de um companheiro de apartamento e eu soube que você precisa de um lugar para ficar. — O amigo ao meu lado comentou. — Então nós dois saímos ganhando.

— Eu... — meu anjo ainda permanecia em dúvida e buscava uma confirmação. — Eu não tenho como pagar.

— Eu já resolvi tudo. Eu e o Taehyung temos um acordo. — olhei para o mais velho, que balançou a cabeça em afirmação.

— O meu carro está estacionado logo ali. Eu estou indo pra casa agora, você pode vir comigo agora e se acomodar logo. — Tae deu uma piscadinha para Jimin, que ponderou por uns instantes.

— Eu vou acompanhar o Jungkook até o trabalho. — O loiro disse me olhando. — Eu posso ir pra lá quando ele terminar o expediente?

— Claro. — Taehyung respondeu. — Não tem problema algum. Eu te dou o endereço e quando você terminar você pode ir direto pra lá.

— Obrigado, Taehyung. — Jimin deu mais um de seus sorrisos que derretia qualquer um.

— O nosso ônibus chegou. — Falei. — Nós temos que ir.

— Eu vou anotar o endereço em um pedaço de papel, só espera um pouco. — O mais velho estava todo atrapalhado tirando uma folha de caderno e uma caneta da mochila e Jimin riu baixinho. — Aqui, é esse lugar.

Com o pedaço de papel já dentro do bolso, nos despedimos de Taehyung enquanto ele andava em direção ao estacionamento.

— Ele é engraçado. — Jimin disse sentado ao meu lado no ônibus. — Parece ser um bom amigo.

— Desculpa não ter avisado que você ia morar com ele. — Ponderei depois de um tempo. — Mas foi a único jeito, já que você não queria dormir na minha casa.

Jimin, que sempre passava os percursos que fazíamos de ônibus olhando atentamente pela janela, agora me olha com a expressão séria.

— Nós já conversamos sobre isso, Jungkook. Eu não quero causar problemas.

Pude observar melhor sua feição devido a proximidade. Suas bochechas tinham um corado natural, os cabelos loiros estavam partidos no meio da cabeça enquanto a franja cobria toda a testa e, agora, pequenas bolsas escuras estavam aparecendo abaixo dos seus olhos.

— Você conseguiu? Hum.. Quero dizer... — me atrapalhei com as palavras. — O emprego.

— Não... — ele desviou o olhar do meu para direcioná-lo para as próprias mãos. — Acho que o meu charme não foi o suficiente.

E foi quando ele levantou o rosto novamente e deu um sorriso fraco que eu percebi o motivo das bolsinhas roxas em seus olhos: Ele estava cansado e triste.

— Tem certeza que não quer ir logo para o apartamento do Tae? — Perguntei preocupado e considerando sua exaustão.

— Eu vou ficar com você, Jungkook. Eu te disse que ia ficar com você o máximo de tempo que eu pudesse e é isso que eu vou fazer.

Apesar do cansaço, ele continuava ali por mim.

— Jimin... — chamei-o, sendo levado, novamente, pelo meu lado curioso. — Quantos anos você tem? — Então, ele me olhou confuso e logo soltou uma risada engraçada.

— Essa é uma pergunta inusitada. — Falou.

— Taehyung me perguntou a sua idade e eu não soube responder, mas você não tem tipo noventa anos não, né?

Jimin gargalhou jogando o corpo contra o meu e dando leves tapinhas.

— Não, Jungkook, eu não tenho noventa anos. — Declarou finalmente. — Vejamos... você tem dezessete anos, quase dezoito, e pelo o que eu me lembro, eu fui enviado para cuidar de você desde quando você estava na barriga da sua mãe, na verdade, um pouco antes disso. Então eu tenho...

— Dezenove anos. — Falamos ao mesmo tempo.

— Agora que você vai começar a se passar por humano, nós temos que criar uma identidade pra você. — Disse antecipação. — E eu meio que falei que... você era meu amigo de infância para o Taehyung.

— Isso não deixa de ser verdade. — afirmou. — Afinal, eu te conheço desde que você era pequeno. Aquele dia que você que você tentou jogar o colchão pela janela para tentar esconder que você tinha feito xixi nele foi hilário.

E, assim, ele começou a gargalhar enquanto eu ficava vermelho como um pimentão.

— Eu tinha dez anos, Jimin. — Tentei me justificar.

— Não, Jungkook, você tinha doze. — Revelou a verdade e eu só queria sumir de tanta vergonha que eu estava.

— Às vezes eu esqueço que você sabe tudo sobre mim.

E foi assim o restante da viagem até a loja de conveniência. Jimin rindo enquanto falava alguma história do meu passado enquanto eu fingia que estava tudo bem, mas por dentro eu estava morrendo de vergonha.

Ao abrir as portas do estabelecimento juntamente com Jimin, senti meus músculos arderem. O efeito da anestesia da pomada havia passado completamente e, para a minha infelicidade, aquele era o último tubo e eu não tinha dinheiro suficiente para comprar outro.

— Eu posso dizer que eu sou de Busan. — O meu anjo da guarda falou enquanto passeava pela loja. — Assim faria sentido nos sermos amigos de infância.

Concordei enquanto contava as notas na máquina registradora.

— E.. Eu posso ter vindo para Seul para conseguir um emprego. — A animação de Jimin em montar a sua história era visível. — E foi aí que eu te encontrei.

Seu olhar se voltou a mim e eu me distraí por alguns segundos, tendo que recontar o dinheiro.

Nas quatro horas de trabalho que se seguiram não aconteceu muita coisa. Não tinha sido um dia muito movimentado, o que fez com que eu e Jimin tivéssemos bastante tempo para planejar a sua história de vida. Estava sendo divertido. A cada pedaço de seu passado que montávamos Jimin ficava mais animado.

No final do turno ficou acertado que ele tinha 19 anos, como nós tínhamos dito no ônibus, era meu amigo de Busan e nós havíamos nos reencontrado depois de anos em Seul quando eu esbarrei nele em um ônibus e descobri que ele estava sem dinheiro, sozinho, procurando por emprego e um lugar para morar.

Assim estava bom e boa parte era verdade.

Mais um dia tinha se passado e, felizmente, nenhum cliente inconveniente tinha aparecido. O turno terminou às dez horas. Limpei a loja, organizei os produtos do dia seguinte e joguei no lixo o saco de salgadinho que eu tinha compartilhado com Jimin.

Com o papel que continha o endereço de Taehyung nas mãos, saímos da loja em direção a parada de ônibus. O apartamento ficava em uma área nobre da cidade e estava a vinte minutos do ponto em que nós nos encontrávamos.

O coletivo começou a se movimentar e eu senti a mesma sensação que eu havia experimentado mais cedo. As mãos suadas, respiração descompassada e pequenos espasmos pelo corpo.

Ter que me afastar de Jimin por uma noite inteira não ia ser fácil.

— Vai ficar tudo bem. — As mãos quentes dele seguraram as minhas e permaneceram assim até que chegarmos ao ponto em que iríamos descer.

Ao sair e encarar o frio da noite nos deparamos com o bairro em que Taehyung morava. Pessoas em seus carros de marca andavam pelas ruas, um casal trocava carícias em um restaurante chique e uma senhora que trajava roupas caras andava com seu cachorrinho. Isso era totalmente diferente do que eu estava acostumado a ver todo dia, parecia até que estávamos dentro de um filme.

Alguns passos depois chegamos a entrada do apartamento do Tae. Era um prédio de três andares que se diferenciava de todos os outros por ter um conceito mais rústico.

Toquei a campainha e não demorou para que ele aparecesse sorridente na porta da frente.

— Vocês chegaram, finalmente. — Ele se distanciou da porta. — Podem entrar.

— Oi, Taehyung. — Jimin se curvou em meio a um sorriso.

— Eu não posso ficar por muito tempo. — Revelei. — Eu tenho que ver como estão as coisas na minha casa. Você vai ficar bem, Jimin?

Meu anjo da guarda, que já tinha dado um passo para dentro do prédio voltou para me encarar.

— Vou. — Disse calmamente. — Você vai ficar bem, Jungkook?

— Sim. — Respondi e notei que o olhar curioso de Taehyung recaiu sobre nós.

— Pode entrar, Jimin, eu já arrumei o seu quarto. — Ele falou e antes de entrar, Jimin deu um último sorriso a mim.

— Eu vou te dar o meu número pra você me ligar caso aconteça alguma coisa. — Me direcionei a ele assim que eu percebi que Jimin tinha saído do meu campo de visão.

Taehyung ainda me olhava com uma mistura de confusão e desconfiança e eu não entendi muito bem o que isso significava.

— Eu ligo sim. — Falou ajeitando a postura e sorrindo. — Cuidado quando você for voltar pra casa. Essa hora não é seguro andar sozinho.

— Obrigado, Taehyung.

E, assim, eu segui o meu caminho de volta para o meu "lar doce lar". Demorou cerca de uma hora para que eu chegasse ao meu bairro. As ruas já não estavam tão movimentadas e um ar sinistro pairava pela cidade.

Com as lembranças da noite anterior marcadas em meu corpo eu pedi aos céus para que meu pai não estivesse em casa.

Como de costume, entrei vagarosamente e busquei qualquer ruído que denunciava que ele estava lá.

Nada.

Caminhei pelos cômodos e só encontrei Junghyun dormindo em sua cama e se movimentando de um lado para o outro.

Sentindo o meu corpo doer, me direcionei ao banheiro com objetivo de tomar um banho gelado. Ao me olhar no espelho pude ver o meu abdômen marcado pelos hematomas. As marcas no meu rosto eram quase imperceptíveis. Graças ao bom trabalho de Jimin com o gelo e a pomada ninguém tinha perguntado sobre elas.

Com a roupa trocada e o cabelo úmido, saí do banheiro e fui até a cozinha em busca de algo para comer, afinal, no almoço eu só tinha comprado uma maçã e ela foi totalmente devorada pelo meu amigo.

Esquentei a água e comi rapidamente o macarrão instantâneo. Quando terminei acabei por deixar a louça suja na pia. Eu ia me preocupar em lavar só no dia seguinte.

Já se passava da meia-noite quando eu entrei no quarto do meu irmão para depositar um beijinho em sua testa e depois seguir para o meu próprio quarto.

Os meus músculos latejavam e eu tentava encontrar uma posição para dormir. Me virava de um lado para o outro, sem sucesso algum.

Quando eu estava finalmente quase caindo no sono eu ouço o toque do meu celular e olho para o visor: "número desconhecido".

Levantei assustado e atendi rapidamente.

Alô.

Jungkook, você pode me explicar por que Park Jimin nunca comeu um hambúrguer? E por que ele acha Kimchi a melhor comida do mundo? — ouvi a voz e a risada de Taehyung do outro lado da linha e ao fundo eu pude escutar Jimin gritando: "KIMCHI É A MELHOR COMIDA DO MUNDO, SIM, KIM TAEHYUNG!

Oi, genteeee!

Att saiu mais cedo hoje porque eu tenho aula na autoescola na hora da postagem, mas eu não queria deixar vocês sem um capítulo novo então eu adiantei, ok?

Já quero pedir desculpa pelos errinho de revisão. Eu revisei, mas sempre passa alguma coisa.

E ai? Gostaram do capitulo?? Comentem o que vocês estão achando e se gostaram não esqueçam de votar.

Geeeeente!! Vocês não sabem o quanto eu to feliz. Angelic com 5 caps já tem 1,7k de views e mais de 350 votos. Vocês são incriveis demais!! Muito obrigadaa.

O capítulo de hoje ficou meio grandinho. Eu pensei até em separar, mas ai ia ficar sem sentido. Se vocês não gostarem de caps desse tamanho podem me avisar porque eu sei que pode ser cansativo.

Hoje não tem muitos avisinhos não, então é só isso.

Aliás, já escutaram a música do Taehyung?? se vocês ainda não escutaram VÃO LÁ AGORA PORQUE É PERFEITAAAAA.

Qualquer perguntinha, curiosidade pode me mandar mensagem aqui ou lá no twitter ( @babysunchild ) eu sempre respondo.

Então é isto. Fiquem bem, anjinhos. Até quinta-feira que vem!

─ Hera ❥

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