I can't see the stars (kth +...

By gucciqeen

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Eu tenho medo. Medo de que com o tempo eu esqueça o seu rosto. É angustiante saber que eu jamais vou enxergar... More

Capítulo único.

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Oh, as estrelas. Algo tão complexamente científico, porém extremamente poético. Corpos celestes que têm luz própria. Esferas gigantes compostas de gases que produzem reações nucleares, mas, graças à gravidade, podem se manter vivas por bilhões e trilhões de anos. Isso mesmo! Vivas. Estrelas também possuem um ciclo. Elas nascem, crescem e acabam por morrer.

Você já olhou para o céu e se perdeu contando as estrelas? É frustrante, mas, devo lhe informar que já fizeram isso. Parece ser inacreditável saber que alguém conseguiu concluir quantas estrelas existem. Um número estimado de quantas delas há lá em cima, tanto as que enxergamos quanto as que não podemos ver. É impossível afirmar com precisão um número de estrelas. Na verdade, é impossível sequer afirmar se há, de fato, um número, afinal, se a tese de que o universo é infinito estiver correta, necessariamente há a possibilidade de infinitos corpos celestes.

Contudo, há entre os cientistas um consenso em relação à quantidade de estrelas potencialmente observáveis: seriam dez sextilhões delas - ou, se preferir, 10.000.000.000.000.000.000.000 estrelas. São muitas, eu sei. Mas dessa vez, iremos falar sobre a história de em especial, duas estrelas, que tiveram seus caminhos cruzados em um único lugar.

Sejam todos muito mais do que bem-vindos à Busan, a famosa cidade das mais graciosas cerejeiras.

Observando o céu, e sentado no parapeito da janela do oitavo andar está nossa primeira estrela. Kim Taehyung.

Kim quer dizer "ouro" e Taehyung significa "todos os desejos que se realizam". Isso te lembra de algo? Não? Deixe-me refrescar a sua memória. Sabe daquela tradição, um tanto boba, porém marcante, que nossos pais nos ensinam de que 'se você fizer um pedido a uma estrela cadente, tal será realizado'? Agora a conexão entre o nome e essas estrelas, fazem sentido, certo? Na verdade chega a ser ironicamente coincidente como seu nome pôde combinar tanto assim com o seu ser.

Taehyung é uma estrela cadente e isso não pode ser negado.

- Eu sei o que deve estar pensando. - O moreno disse cortando o silêncio, sem tirar seus olhos atentos do céu.

- Sabe? - O amigo perguntou com receio, vendo o outro assentir com a cabeça. - E o que é, espertinho?

- Como eu devo parecer patético agora. - Abaixou o olhar.

- Está sentado no parapeito da janela do oitavo andar observando o céu, enquanto bebe um copo de uísque barato. - Ironizou após analisar a situação do amigo. - Isso não é patético, Taehyung. É no mínimo melancólico e extremamente clichê. - Falou descruzando os braços arrancando uma risada sem humor de Kim.

- O que seria de mim sem você, hyung? - Perguntou debochado, olhando para o Min de soslaio.

- Provavelmente já teria pulado dessa janela... - O loiro falou, puxando o braço do Kim com força o obrigando a ficar em pé. -... Ou entrado em um coma alcoólico. - Completou, roubando o copo de sua mão e jogando o líquido nas plantas do apartamento do amigo.

- Você vai matar as minhas plantas. - Comentou, por mais que não se importasse nem um pouco com isso no momento.

- Antes elas, do que você. - Respondeu rígido, segurando os ombros do mais novo, obrigando que o mesmo ficasse com a postura ereta. - Uau, você está horrível! - Exclamou sincero, observando melhor o rosto do garoto parado a sua frente.

Assim como as estrelas e seu brilho exclusivo, Taehyung sempre foi conhecido por ter uma beleza excepcional. Traços únicos e bonitos - pelo menos, é isso que seus amigos lhe dizem. Alto, magro, pele clara, porém bronzeada, rosto pequeno e queixo fino, nariz e lábios perfeitamente desenhados e olhos marcantes. Aparência que combinava perfeitamente com seu ótimo bom humor. Era praticamente impossível vê-lo abalado, sempre matinha no rosto um belo sorriso - que era mais um de seus charmes por ser de um formato adoravelmente quadrangular.

Mas recentemente seu rosto parecia ter perdido grande parte da sua "luz". Ele estava pálido, mais magro, feições e um olhar cansado como os de alguém que não dormia por dias, o que "combinava" com as olheiras escuras embaixo de seus olhos e para terminar, seus cabelos acastanhados artificialmente que costumavam estar sempre alinhados, estavam despenteados. Usava uma calça jeans surrada e blusa vermelha velha, o que era algo incomum, já que o garoto sempre usava roupas de marcas caras e bonitas.

Taehyung é uma estrela que a cada dia perde um pouco de seu brilho.

- Obrigado. - Agradeceu com ironia, ajeitando a roupa amarrotada no corpo. - O que faz aqui?

- Eu vim ver como está. - Disse passando os dedos entre os cabelos bagunçados do mais novo, na tentativa de botá-los em ordem, porém o mesmo se afastou por estar sem paciência para aquilo. - E te trazer uma coisa. - Abriu a mochila, tirando de lá com muito custo uma caixa azul de tamanho médio de lá.

- O que é? - Perguntou desconfiado e um tanto curioso, pegando o objeto em suas mãos.

- Vai ter que abrir para descobrir. - Sorriu sugestivo, sabendo o quanto o outro detestava suspenses. - Eu fiz compras também. Algumas verduras e macarrão, já que você não está nem se dando o trabalho de sair para comprar comida pra si mesmo. - Pegou as sacolas que estavam na mesa e as levou para a cozinha do estilo americana do pequeno apartamento de Kim, começando a guardar as compras.

- Obrigado. - Agradeceu impaciente pela curiosidade e começou a balançar a caixa perto de sua orelha ainda receoso em abri-la, percebendo que o que tinha lá dentro era algo do tamanho médio. - Sabe o que tem aqui dentro?

- Não, abre isso logo, Taehyung. - Gritou da cozinha, estressado com todo o drama.

O menino bufou e sentou-se no sofá. Começou a tirar o durex que lacrava a caixa até que ela estivesse livre deles. Abriu lentamente as abas, uma por uma, vendo lá dentro um MP3 azul claro, com fones de ouvido conectado nele e um envelope de ofício.

Para Kim Taehyung.

Ao simplesmente ler essas poucas palavras naquela tão familiar caligrafia, Taehyung sentiu seu coração acelerar e sequer conseguiu não esbugalhar os olhos pela surpresa.

- I-Isso... Isso é do Jimin? - Balbuciou baixo para si, pegando também o pequeno aparelho de dentro da caixa.

- Falou alguma coisa? - O loiro perguntou alto da cozinha e Taehyung apenas murmurou algo que soasse com um "não".

Abriu o envelope rapidamente sem temer que o mesmo rasgasse e tirou a carta de lá, desdobrando-a. A folha de caderno com linhas azuis tinham suas margens enfeitadas por pequenos desenhos de estrelas pintadas na cor amarela, e com apenas esses detalhes - e a caligrafia inconfundível -, o Kim teve ainda mais certeza de quem realmente era o remetente daquela carta.

Busan, Coreia do Sul - 14 de setembro de 2017.

Antes de começar a escutar o áudio, tenho algumas exigências. Será que pode não ser um teimoso apenas essa vez e atender meus pedidos? Vamos não se preocupe, são pedidos simples!

A primeira coisa que eu quero é sigilo. Você nem sempre foi bom em guardar segredos, Taehyung. Ainda me lembro da vez em que éramos criança e acidentalmente eu arranhei o carro do meu pai, e mesmo depois que eu lhe implorei para que ficasse de boca fechada, você contou a minha mãe, me resultando duas semanas de castigo. Você é um linguarudo nato, não adianta negar e eu gravei o áudio e escrevi essa carta unicamente e exclusivamente para você. Ninguém mais precisa saber o que tem aqui.

A segunda, em minha opinião, é a mais simples de todas. Apenas quero que ao anoitecer vá para aquela pequena colina com um gramado tão verde quanto qualquer coisa dessa cor que se possa imaginar. Onde bem próximo dali, no meio do bosque de cerejeiras, passa um pequeno riacho, com águas tão limpas e transparentes, que soaria até mesmo clichê descreve-las como "cristalinas". Lugar, também nomeado como "nosso paraíso secreto". Longe do ar poluído e longe de todos os barulhos do centro de Busan. Quero que esteja concentrado e relaxado quando escutar, por isso acho que lá seria o local perfeito.

A pessoa com quem deixei a caixa é alguém em que eu depositei toda a minha confiança e que me prometeu sigilo completo, por tanto, não perca seu tempo fazendo perguntas a ele. Apenas escute o áudio e cumpra o que lhe pedi.

E não se esqueça, Taehyung: Eu te amo.

Seu Jimin.

Ainda com as mãos e todo o corpo trêmulo, Kim levantou-se do sofá quase perdendo o equilíbrio e começou a passar os olhos por todos os móveis do local, desesperado.

- Ei, ei o que está procurando? - O amigo perguntou curioso.

- Eu vou sair. - Taehyung respondeu afobado, e assim que encontrou as chaves de seu carro sob o balcão da cozinha tentou pegá-la, porém as mãos de Min as agarraram primeiro, já que ele estava mais próximo. - Me dê essas chaves Yoongi. - Disse rígido, fazendo o mais velho franzir o senho.

- Não vai dirigir a lugar algum nesse estado. - O respondeu sério. - Está pálido, tremendo e soando frio. - Falou sínico. - Eu te levo para onde quiser, mas não vou deixar você dirigir nesse estado. - Comentou colocando as chaves no bolso e o outro nada respondeu, apenas bufou frustrado, pegando a caixa e guardando a carta em seu interior novamente.

✰✰✰

Já estavam afastados da cidade. Yoongi dirigia sem muita pressa pela estrada de terra vazia, causando certa agonia no mais novo. Queria chegar o mais rápido possível. Estava alterado, mas não tanto quanto antes. Apertava a caixa em suas mãos, descontando boa parte de sua tensão ali, concentrando-se na escuridão por detrás de suas pálpebras. Ainda com a mente embaralhada, encostou a cabeça no vidro da janela. Não sabia o que fazer ou simplesmente, o que pensar. Jimin, com apenas uma carta, conseguiu tirar Taehyung de orbita.

Quer saber motivo? Park é o "porque" desta história estar sendo escrita agora e mais especificamente, ele é o núcleo de tudo que já aconteceu e do que está prestes a acontecer aqui.

Park Jimin é a nossa segunda estrela.

Park significa "simples" e Jimin basicamente é "maior do que o céu". Outra coincidência? Talvez sim, talvez não. Você pode não encontrar nenhuma conexão entre o garoto e seu nome. Não é tão fácil assim, afinal, como eu disse, estes corpos celestes são complexamente científico, porém extremamente poéticos. E onde está à poesia entre nossa segunda estrela e o seu nome? Bem, as estrelas parecem estar ali, dentro de nossa atmosfera ou bem ao lado das nuvens, mas sinto lhe informar que elas não estão tão perto como aparentam estar. Para ter uma ideia, a mais próxima está a 41,5 trilhões de quilômetros de nós. A distância entre ela é muito mais longa e bem 'maior do que o céu' do que conseguimos imaginar.

- É aqui? - O loiro perguntou curioso acordando o amigo de seus mais profundos pensamentos.

- Não. É lá em cima. - Apontou para a colina próxima dali.

- Bem, acho que o carro não chega lá, certo? - O mais novo negou, tirando o cinto de segurança. - Então eu vou te esperar aqui. - Apenas concordou com a cabeça e saiu do carro.

Taehyung subiu a colina, lembrando-se de todas as vezes que fez o mesmo percurso junto de Jimin. Sorriu bobo, pela lembrança, mas logo sua expressão de felicidade morreu, quando o sentimento foi substituído pela saudade.

Quando chegou ao topo, sentou-se na grama e colocou os fones de ouvido que estavam conectados ao MP3. Contou até cinco, preparando-se para escutar o que Jimin queria, e apertou no play.

[Olá Taehyung. Aqui é o Jimin.]

Pausou o áudio automaticamente, sentindo toda sua derme arrepiar. Se o garoto já estava nervoso antes, em apenas ler a carta, ao ouvir aquela voz, um turbilhão de emoções domou a sua mente. Espantando, apreensão, agonia, melancolia, mas principalmente, saudades. E todos estes sentimentos estavam explícitos em seu rosto ao mesmo tempo, que ao escutar apenas três segundos do longo áudio, ficou tão pálido quanto à tintura branca de seu carro.

Depois de alguns segundos com os olhos fechados, sentindo as batidas de seu coração normalizar aos poucos e si perguntando se realmente deveria escutar ou não, Taehyung suspirou fundo e contou até três mentalmente, e por fim, decidiu que não seria covarde mais uma vez com Park e ouviria aquele áudio, mesmo sabendo que as chances de que aquilo ferrasse ainda mais com seu psicológico fossem altas.

[Hoje são dia quatro de agosto de dois mil de dezessete. Eu estou falando baixo, pois são onze e vinte e seis da noite; eu estou no hospital agora e não quero que nenhuma enfermeira me escute. Acho que já dei motivos o suficiente para que elas pensem que eu sou maluco, então prefiro não fazer com que elas pensem que eu estou conversando com as paredes.]

E após encerrar aquela frase, Jimin soltou uma leve risada, que conseguiu amolecer todos os membros tensos do Kim. Ele até mesmo deu um leve sorriso, encantado com aquele som.

[Mas eu não estou sozinho, certo? Estou falando com você. Pelo menos é isso que eu penso, pois imagino você aqui completamente atento no que falo. Espero que faça o mesmo. Não pense que está apenas escutando minha voz por um MP3... Pense que eu estou aí, sentado ao seu lado no gramado do nosso paraíso secreto, falando pessoalmente cada palavra que está escutando agora.]

Sim, Jimin. Ele te imagina a todos os momentos.

[Bem, você deve estar se perguntando o porquê de todo esse suspense que estou fazendo e se você realmente tiver recebido esse MP3 no dia correto, já é dia dezoito de setembro de dois mil e dezessete. Sei que você nunca foi muito bom em guardar datas, mas hoje é um dia especial! Sabe por quê? Faz exatos 730 dias, 17.520 horas, 1.051.200 minutos e 63.072.000 segundos; Não, como você já deve estar suspeitando eu obviamente não fiz todas essas contas; eu pesquisei, afinal sou uma negação para cálculos e números, diferente de você que é estranhamente um amante da matemática. Parece que foi ontem que a gente começou a namorar, mas quando paro pra pensar em quantas coisas já vivemos juntos, percebo que já faz muito tempo que nossa história vem acontecendo. E em homenagem a esses dois anos, queria relembrar com você nossos momentos juntos. Por tanto, incialmente, quero que volte ao dia quatorze de fevereiro de dois mil e treze...]

- Jimin? - Perguntou receoso, fazendo o garoto erguer a cabeça imediatamente e colocando no rosto o melhor sorriso que tinha. Porém durou pouco, pois quando seus olhos se chocaram com os de seu antigo vizinho, sua expressão de felicidade foi substituída por uma de tristeza.

- Ah... Oi Taehyung.

- Está esperando alguém? - Deduziu, já que era noite do dia dos namorados e, como de costume, todos os casais saiam para comemorar tal data romântica.

- Sim... Quero dizer, não mais... - Tentou dizer, porém tudo que conseguiu foi causar confusões na cabeça e no rosto de Kim. - Na verdade, eu ganhei um bolo. - Explicou, forçando uma risada, tentando soas o menos patético possível e não querendo demonstrar o quão desapontado estava, mesmo estando estampado na sua testa a frase "meu namorado idiota não apareceu no nosso encontro". - Mas acho que todos aqui perceberam. Já estou sentado aqui a mais de uma hora e meia esperando por ele... - Abaixou o olhar e voltou a brincar com o canudinho de seu milk-shake - Eu sou mesmo um idiota por pensar que ele realmente viria. - Murmurou quase inaudível, porém Kim conseguiu escutar.

- Posso me sentar aqui com você? - Perguntou sorrindo timidamente, apontando para a cadeira vaga em frente donde Park estava sentado, vendo o menor arregalar os olhos.

- Não precisa fazer isso porque sentiu pena de mim, Taehyung.

- Não estou com pena. - Falou rindo, sentando-se, mesmo sem a permissão concreta do outro. - A verdade é que eu também ganhei um bolo essa noite.

[Nós fomos vizinhos por quase três anos e mesmo assim, nunca fomos amigos e isso apenas piorou depois que eu me mudei para outro bairro. Você sempre foi introvertido demais e eu tímido com pessoas que não conhecia. Mas nesta noite em especial, foi à primeira vez que nossa relação passou a ser mais do que alguns curtos olhares e poucos cumprimentos quando nos víamos na rua. Não, você não me consolou pelo fato do meu ex-namorado não ter aparecido ao nosso encontro de "reconciliação". Fez melhor. Você me escutou. Deixou que eu desabafasse todas as minhas mágoas do momento por ter sido "abandonado" por quem eu gostava em plena noite do dia dos namorados. Depois disso, ficamos conversando durante horas e horas sobre assuntos aleatórios. Você conseguiu me entreter e me fez rir como eu não ria há dias. Foi nessa noite que eu descobri que gostávamos das mesmas séries e que tínhamos o mesmo gosto musical. Descobri que um de seus olhos tem pálpebra dupla, enquanto que o outro, não e que isso dá a impressão de que um de seus olhos é maior que o outro e, sinceramente, isso é muito adorável. Infelizmente o tempo foi passando e sem que nenhum de nós dois percebêssemos, já era quase hora da sorveteria fechar. Eu te levei pra casa no meu carro, já que você ainda não tinha conseguido tirar sua carteira de motorista, por ter falhado quatro vezes consecutivas na autoescola - uma das coisas que também descobri sobre você no nosso "encontro".].

[Os dias foram se passando e eram raros às vezes em que não conversávamos, seja por mensagens, ligações ou pessoalmente naquela mesma sorveteria. Virámos bons amigos, em menos de dois meses]

- Eu não vou te ensinar a dirigir, Taehyung! - Jimin exclamou encabulado com a ideia. - Muito menos no meu carro!

- Porque não? - Indagou, arqueando a sobrancelha direita, afinal, na sua cabeça, não havia motivo algum para que o amigo recusasse.

- Porque acha que eu conseguiria te ensinar algo, se você nem mesmo conseguiu aprender na autoescola?

- Eu estava nervoso. - Justificou.

- Todas às quatro vezes? - Perguntou um tanto irônico cruzando os braços.

- Qual é Jimin... - Só preciso que me empreste o seu carro e fique ao meu lado, enquanto eu dirijo, dizendo o que eu preciso fazer. Não é tão difícil, é? - Ele estava a um passo de convencer Park daquela ideia irresponsável. - Por favor... - Juntou as duas mãos num símbolo de súplica. - Eu vou repetir o exame daqui três semanas e não quero falhar pela quinta vez. - Choramingou falsamente, enquanto balançava o braço do menor como uma criança insistente.

Jimin bufou, revirando os olhos e levantou os braços para cima em forma de rendimento, entregando as chaves de seu carro para o amigo, que deu um sorriso de orelha a orelha por finalmente ter conseguido convencer o Park.

- Vai ser só dessa vez, Kim. - Alertou alto o bastante para que ele ouvisse, enquanto entrava no carro no banco de passageiro. - Não me faça me arrepender sobre a minha decisão.

- Ah, pare de ser mesquinho, Jimin. - Resmungou rindo, enfiando a chave na ignição.

- Olhe só! - Falou indignado, impedindo que o amigo ligasse o carro. - Não seja apressadinho, Taehyung, você não pode simplesmente entrar num carro, dar partida e sair por aí dirigindo!

- Não posso?

- Claro que não! - Exclamou. - Primeiro de tudo, ajuste o banco. Você precisa ficar com a postura reta, seus braços e pernas devem alcançar o volante sem estarem totalmente esticados, tudo bem? - Ele assentiu, fazendo o que o seu "instrutor" mandava. - Segundo, ajustes os retrovisores. Você precisa enxergar por toda a janela traseira do carro e uma boa parte da pista. Terceiro, coloque o cinto de segurança. - Ditou, e o garoto mais uma vez o obedeceu todas as suas ordens.

[Naquela tarde eu pensei que, te ensinar a dirigir, seria simples, já que inicialmente tudo estava indo bem. Eu ditava as regras e você me escutava e me obedecia, era assim que funcionava. Mas dez minutos depois eu já não sabia se eu saltava para fora do carro ou se continuava lá dentro, gritando com você.].

- Ficou maluco? Porque não parou no último sinal? Não viu que estava no vermelho? - Praticamente gritou, e seu tom de voz só elevou quando mais uma vez, Kim foi imprudente.

- Não tinha nenhum carro passando lá! - Disse frustrado.

- Idai? É a sua obrigação parar lá! Droga Taehyung, você precisa tirar o pé do acelerador para passar a marcha!

- Para de gritar comigo! - O outro rebateu estressado.

- Eu não estaria gritando se você me escutasse! Veja, você está dirigindo a 60 km/h sendo que só é permitido dirigir a 40 km/h aqui!

- Meu Deus, você é insuportável, sabia disso? - Exclamou alterado, desviando o olhar do asfalto a sua frente, olhando para o Park, que não pensou duas vezes antes de colocar uma das mãos no volante e o virar, quando o carro estava prestes a se chocar contra um homem numa bicicleta.

- Estaciona a porcaria do carro, Taehyung! - Mandou ainda mais irritado pela irresponsabilidade do garoto em não ter prestado atenção, quase causando um acidente.

O Kim bufou, e estacionou bruscamente na vaga mais próxima e desligou o veículo, sentindo seu rosto queimar pelo stress. Jimin também não estava diferente, na verdade, ele estava pior.

Ficaram incontáveis minutos em silêncio. Park de olhos fechados, com a respiração um pouco desregulada, e com a cabeça encostada no banco, tentando acalmar todos os seus nervos e Taehyung ao seu lado, já bem mais calmo que antes, porém com a consciência pesada por ter conseguido tirar o amigo do sério.

- Ei, Jimin... - Chamou-o, tentando se aproximar, mas tudo que conseguiu fora silencio. - Jimin? - Tentou mais uma vez, e o outro apenas murmurou um "uhm", dando permissão para que o Kim continuasse a falar. - Me desculpe, a culpa foi minha...

- É claro que a culpa foi sua. - Interrompeu-o dizendo como se fosse óbvio, sem olhá-lo. - Você é um cabeça-dura... - Completou, fazendo o amigo acanhar-se e voltar para ponto inicial.

- Eu realmente sinto muito. - Murmurou. Park o olhou pelo canto dos olhos, vendo que Kim estava realmente arrependido e então suspirou fundo, soltando uma leve risada nasal.

- Tudo bem. Você quase matou um ciclista, mas pelo menos não explodiu o meu carro, então isso é um ponto positivo. - Brincou. Não era como se seu bom humor tivesse voltado completamente, ele estava apenas tentando descontrair o clima tenso.

- É... - Taehyung concordou, forçando um sorriso.

- Saia daí. - Mandou, referindo-se ao banco de motoristas. - Vamos pra sorveteria. Você vai me pagar um milk-shake em compensação, por quase ter me causado um infarto. - Encerrou, arrancando uma risada do amigo.

- Então é tão simples assim? É só te levar para se lambuzar com milk-shakes, e então você acalma? - Alfinetou.

- Prefere que eu desconte meu estresse batendo em você? - Perguntou na mesma entonação de provocação. - Anda logo, saia daí!

- Não posso ir dirigindo? - Ironizou.

- Tá brincando com a minha cara? - Perguntou fingindo indignação.

- Vai Jiminie... - Disse um tanto manhoso, apertando as bochechas rechonchudas do garoto. - Deixa!

- Não no meu carro! - Bradou, dando um tapa leve não mão de Kim, impedindo que ele continuasse a apertar a pele corada de seu rosto. - Anda, saí logo daí!

- Por quê? - Rendeu-se, por fim, tirando o cinto de segurança.

- Porque eu prezo pelo bem da humanidade e é melhor que você nunca mais coloque as mãos no volante sem uma carteira de motorista!

- Olha, não é só por que eu quase atropelei um ciclista, que eu sou um desastre total no trânsito. - Confessou, arrancando uma risada do Park, que até então tentava manter uma postura irritada.

- Você é um idiota, Taehyung. - Falou rindo.

[Você é do tipo que consegue me tirar do sério sem fazer muito esforço. Mas é esse seu jeito de me estressar e essa chatice extremamente irritante, que faz você ser assim, do jeitinho que eu gosto. E você sabe exatamente como me irritar. Sabe meus pontos fracos e os fortes. Sabe que eu sou um palhaço e estourado ao mesmo tempo. E por mais irritado que eu esteja, você sempre, mas, sempre arranja uma maneira de me tirar um sorriso e de fazer eu te chamar de idiota. E toda a raiva que eu sinto no momento, passa num piscar de olhos. Você me tira do sério na mesma proporção que me acalma, e eu realmente não sei dizer se eu amo ou se eu odeio isso, pois as vezes é um defeito, e outras, é uma grande qualidade. Mas eu não posso ser hipócrita, e dizer que jamais te tirei do sério, pois estaria mentindo na cara dura. Foram tantas vezes, algumas por querer e outras inconscientemente...].

Os dois estavam sentados no sofá da casa de Jimin, assistindo a um filme. Bem, pelo menos era isso que o maior esperava: Uma tarde tranquila com o amigo, dividindo um balde de pipoca doce, enquanto assistiam uma ficção cientifica - filme favorito de Taehyung. Mas o Park não cooperava com aquilo, pois além de ele não estar prestando atenção, seu celular não parava de apitar e ele também não parava de trocas mensagens de textos.

- Com quem tanto conversa, uh? - Perguntou já incomodado com aquela situação.

- Com ninguém. - Falou sem prestar a atenção no garoto a seu lado.

O Kim tentou voltar a assistir ao filme, porém sua concentração não durou muito, já que os barulhos de notificações chegavam sem parar. Sem perder tempo, ele agarrou o celular das mãos do menor.

- Ei! Quem te deu o direito de fazer isso? - Questionou irritado, tentando recuperar o celular novamente. - Pare de ser infantil Taehyung, me devolva! É importante, estou conversando com Jongin...

- Ah, então é isso?! - O interrompeu. - É mais importante conversar com seu namorado bobão, ao invés de assistir "Uma Odisseia no Espaço" comigo?

- Ex-namorado. - Consertou. - Eu tenho alguns pertences dele aqui em casa e ele tem alguns meus com ele. Jongin quer se encontrar comigo para que possamos devolver um para o outro nossas coisas.

- Você pode conversar com o babaca do Jongin mais tarde, quando o filme acabar... Ou melhor, quando eu não estiver aqui.

- Por quê? - Provocou, aproximando-se de Kim lentamente. - Tá com ciúmes, Taehyung?

- Ciúmes? - Perguntou irônico, olhando para o garoto de soslaio.

- É. - Passou a mão pelo peitoral do garoto, sorrindo travesso, descendo as mãos pelo braço do mesmo, aproximando seus rostos. - Sei que você tem uma quedinha por mim... - Sussurrou.

- J-Jimin... - Balbuciou nervoso, com a aproximação repentina, lambendo os lábios. - O que você...

Mas antes de ele conseguir terminar de falar, Jimin agarrou de repente seu celular que até então estava na mão do outro.

- Peguei! - Praticamente gritou, voltando ao seu lugar no sofá rapidamente, fazendo Taehyung revirar os olhos. Mas isso não impediu o sorriso vitorioso no rosto de Jimin, por ter conseguido recuperar seu aparelho apenas "enganando" o amigo.

[Por mais que aquilo fosse apenas uma brincadeira, vi como ficou sem graça... Ou melhor, emburrado por eu ter conseguido te enganar. Parou de me olhar, nem mesmo tentava puxar assunto, apenas respondia com frases secas e curtas todas as minhas tentativas de iniciar uma conversa. E esse, é um de seus defeitos mais irritante: Você nunca aceitou perder. E isso é mais uma das coisas que temos em comum, pois eu também não aceito ficar em segundo lugar. Com o tempo descobri o quanto éramos diferentes, na verdade, muito diferentes. E não me refiro apenas ao fato de que eu gosto de vermelho, você de roxo. Eu gosto de dias chuvoso, você de dias ensolarados. Eu gosto de literatura, você de física. Não é sobre isso. Nós somos completamente diferentes em tudo: na maneira de pensar, agir, falar, sentir, ser.].

Taehyung dirigia pela rua pouco movimentada do bairro de Busan. Finalmente havia conseguido tirar sua carteira de motorista recentemente, mas mesmo assim estava nervoso, pois temia que qualquer movimento errado que fizesse ali poderia estragar carro branco seminovo que seu pai acabara de lhe presentear e o fato de Jimin ter lhe ligado ás dez horas da noite de uma quinta feira, pedindo com voz chorosa que o mesmo fosse urgentemente a um endereço específico, não ajudava em nada. E seu nervosismo só piorou quando parou em frente à casa do endereço passado por Jimin, vendo-o do lado de fora, inquieto. Assim que viu Taehyung, ele não perdeu tempo e entrou no carro e então o Kim pode ver olhos inchados e lacrimejantes do garoto. Suas mãos, assim como grande parte de seu corpo, tremiam.

- Jimin?- Kim perguntou preocupado. - O que aconteceu? Por que está chorando?

- Só me leva pra casa... - Falou num sussurro virando a cabeça para a janela, evitando olhar para o garoto ao seu lado.

Taehyung nada respondeu, por mais que estivesse sem entender absolutamente nada, respeitou o silêncio do amigo, e obedeceu a sua ordem, começando a dirigir novamente.

O clima estava tenso. A cada dez segundos, o Kim olhava de soslaio para o Park, que fungava no meio de algumas lágrimas, deixando o amigo ainda mais preocupado.

- Ele me pediu para que eu fosse a casa dele para conversarmos. - Falou pela primeira vez, quando se sentiu confortável para contar. E com isso, Taehyung conseguiu conectar alguns pontos, já sabendo exatamente de quem ele se referia. - Ele me pediu para que eu fosse a casa dele para conversarmos. Não foi tão ruim no início... Mas depois, nós começamos a discutir e ele me disse coisas horríveis. - Desabafou. - Não acredito que eu pensei que... Eu e ele pudéssemos ser ao menos amigos. Na verdade, não acredito que eu já o amei... Ah, eu sou tão idiota.

- Você não é idiota. Ele que é. - Respondeu, apertando o volante com certa força.

Ver Jimin magoado deixava Taehyung completamente irado. Ele sinceramente tinha vontade de voltar até a casa de Jongin, e socar a cara dele até que ele pedisse desculpas para o Park por todas as merdas que já tinha feito, e só pararia até que Jimin resolvesse o perdoar. Mas imediatamente ignorou a ideia, quando lembrou que ele era apenas um garoto magrelo de 20 anos, enquanto Kim Jongin já tinha 24 e era consideravelmente mais alto e mais forte que o Kim mais novo.

- Eu queria nunca ter me apaixonado por ele. - Confessou baixo, limpando algumas lágrimas que insistiam em caírem por atrevimento.

- Jimin, você não escolhe de quem vai gostar, ou de quem vai ser amigo, ou para quem vai entregar seu coração e seu amor... - Balbuciou. - Mesmo que a pessoa não mereça você não escolhe. Não é como panfleto que você entrega para qualquer um, mas também não é algo que você aponte a dedo e diga "é você e pronto". As coisas não são assim, e estão longe de ser. Amor é uma coisa complexa, que ninguém consegue compreender.

Park concordou com a cabeça e murmurou um "Você tem razão".

- Taehyung, o caminho da minha casa é para o outro lado... - Jimin alertou, quebrando o silêncio, quando percebeu que o amigo estava entrando na rodovia da saída da cidade.

- Não vou te levar pra casa, para que você possa chorar pelo resto da noite. - Disse sincero. - Vou te levar ao meu paraíso secreto, Jimin. Então, sinta-se honrado, pois você é a primeira pessoa que eu levo até lá.

O Park não questionou. De qualquer forma não queria voltar para casa, pois ele iria fazer exatamente o que o Kim descreveu: Deitar em sua cama, enfiar a cara no travesseiro e chorar até que amanhecesse.

✰✰✰

Foram exatas uma hora e meia de viagem até que Taehyung estacionou o carro ao pé da colina. Estavam longe da cidade, à área parecia ser rural e, além deles, não tinha mais ninguém ali. O Kim desceu do carro e abriu a porta para que o Park saísse, quando percebeu que o menor estava tão preso em seus próprios pensamentos que nem percebeu que já haviam chegado. Ele desceu ainda um pouco perdido, e Taehyung o guiou pelo caminho até o topo do pequeno morro.

Quando chegaram lá em cima, Jimin sentiu uma leve corrente de vento bater contra seu rosto e junto dela, ele pode senti um cheiro adocicado. Não, não era o cheiro das diversas flores que estavam plantadas ali no topo da colina, era outro aroma. Olhou para baixo, vendo que o perfume vinha de poucos metros dali, num enorme bosque de cerejeiras. A imagem da lua refletia nas águas de um pequeno riacho que cortava aquele "bosque" de árvores cor rosa claro. Ficou encantado com tamanha beleza e respirou fundo, tentando apreciar ainda mais o cheiro que tanto lhe agradava. Mas dessa vez, não sentiu apenas as cerejeiras... Era um cheiro familiar. Olhou para o lado, reconhecendo que o perfume que tanto lhe agradou, era de Taehyung, que agora estava próximo de si.

- Olhe para o céu, Jimin. - Sussurrou, e o menor ergueu sua cabeça, dando de cara com o um céu negro, completamente lotado por estrelas brilhantes. Não conseguiu conter a expressão de surpresa, afinal, era praticamente impossível ver o céu repleto de estrelas assim em Busan, a segunda maior cidade do país, por conta das iluminações das ruas e das casas, e também da poluição que tapava o céu.

- Uau! - Disse meio abobado, sem tirar seus olhos dos astros brilhosos, que domaram a sua atenção de um jeito indecifrável. - Isso... Isso é maravilhoso, Taehyung!

- Sabia que ia gostar. - Disse modesto, e quando foi se sentar no gramado, puxou o braço de Jimin, obrigando-o a sentar-se a seu lado. - A fazendo dos meus avós é bem próxima daqui. Na minha infância, quando eu vinha passar os finais de semana com eles, minha avó sempre me trazia aqui assim que anoitecia, para contar as estrelas. - Disse, conseguindo prender a atenção de Jimin em si. - Vovó costumava a dizer que quando olhamos para o céu, é possível enxergar novos caminhos, oportunidades, objetivos e sentir vontade de realizar nossos sonhos e desejos pendentes. E que num simples gesto de observar as estrelas, é possível sentir vontade de continuar a viver e de brilhar tão forte quanto elas.

- Uau... - Park falou deslumbrado. - Sua avó... Sabe dizer palavras bonitas. É realmente impressionante. Ela deve ser muito inteligente.

- É. Ela era. - Kim disse pacífico, mas falar sobre sua avó, principalmente o fato de ela ter partido, machucava-o demais. - Ela faleceu quando eu tinha dezesseis anos...

- Hm... E-Eu sinto muito, Taehyung... - O outro lamentou, sem graça, ainda um pouco surpreso com a notícia, percebendo o quanto o amigo tinha ficado abalado em falar sobre o assunto. Não é fácil perder alguém que amamos e só de pensar em que algum dia sua avó também morreria, Jimin ficava angustiado. Deveria estar sendo ainda pior para o Kim, que já tinha perdido a sua. Não podia ao menos imaginar o quão dolorido era para ele e por isso, num ato súbito e sigiloso, Jimin colocou sua pequena mão sobre a do maior, dando um leve aperto, numa tentativa de confortá-lo, fazendo Taehyung dar um meio sorriso para o menor.

- Ela era astrônoma. Foi ela quem me ensinou a amar tudo que há no céu, especialmente as estrelas... - Disse com um sorriso bobo nos lábios.

- Sabe... Acho que assim como, quando as estrelas morrem e ainda continuam brilhando por milhões de anos, as pessoas que se vão também continuam brilhando pra vida inteira. - Disse procurando as palavras certas. - Mesmo que não possamos mais vê-las ou presencia-las, podemos ainda sim lembrá-las e guardá-las pra sempre em algum lugar especial nas nossas memórias e em nosso coração.

[Nós somos completamente diferentes em tudo: na maneira de pensar, agir, falar, sentir, ser.Mas, inacreditavelmente, a minha complexidade sabe como lidar com a sua, por mais que seja difícil e complicado na maioria dos momentos. E o que ajuda nisso, é o fato de que nós nos amamos e nos preocupamos um com o outro, e a primeira vez que eu senti que você se importava comigo, foi um momento tão... Aconchegante. Algo que eu não sentia há muito tempo. Foi a primeira vez que eu conseguia enxergar que o amor que sentíamos um pelo outro, não era apenas de amizade... Era mais que isso. Bem mais.].

[Depois daquela noite, voltamos com frequência naquela colina. Eu nunca te contei isso, mas sempre que nós estávamos no nosso paraíso secreto, longe tudo, eu era realmente capaz de esquecer tudo. Eu sentia uma paz tão grande em apenas ficar lá, com você, durante horas e horas, deitados naquele gramado, observando as estrelas, e conversando...].

- Ah, droga! - O menor exclamou frustrado.

- O que foi? Perdeu a conta de novo? - Taehyung perguntou debochado, mas ao mesmo tempo admirado com o pequeno bico de irritação formado nos lábios de Jimin.

- Sim.

- Eu já disse que é impossível contar todas as estrelas e que está perdendo seu tempo. Porque simplesmente não desiste disso, uh? - Questionou, sentando-se, já que até então estava deitado, ficando lado a lado do outro.

- Me deixa, seu pateta. - Disse soltando uma risada. - Gosto de tentar contar quantos desses pontinhos cintilantes que decoram o céu existem.

- Esses "pontinhos cintilantes que decoram o céu", são na verdade magníficas usinas termonucleares espalhadas pela malha espaço-tempo do Universo... - Taehyung o consertou, inconscientemente, mas parou de dizer automaticamente, não querendo deixar o amigo perdido ou entediado com as palavras difíceis e complicadas que dizia. - Me desculpe. Eu preciso parar com isso...

- Não! Não pare!- Jimin falou animado. - Do que elas são feitas?- Tentou incentiva-lo a continuar.

- Bem... Elas são corpos compostos de plasma luminoso superaquecido, estabilizadas pela gravidade e pressão. - Disse timidamente. - Possuem uma variedade de tipos, tamanhos, massas e temperaturas.

- E quantas estrelas existem? Você sabe? - Se aproximou ainda mais do maior, com seus olhos brilhando, Park estava de fato maravilhado em ver como o Kim sabia tanto sobre o assunto.

- À noite, quando atmosfera da terra deixa de refletir os raios solares... - Engoliu seco, já tímido demais pelo olhar de Jimin cravado em si enquanto falava. -... Vemos 8.500 estrelas.

- São poucas...

- Essa é a quantidade que se pode ver a olho nu. Estima-se que o número total de estrelas no universo seja de 100 quinquilhões!

- Uau... - O mais baixo falou abobado, completamente impressionado, piscando várias vezes. Taehyung não conseguia parar de fitar os olhos castanhos de Jimin. - Eu nem sabia que era possível existir esse número...

- Há coisas impossíveis que o nosso universo é capaz de provar o contrário. - Disse nervoso demais, pois agora, o rosto de Jimin estava ainda mais perto do seu.

- Mas eu acho que... Ele não conseguiria provar algumas coisas. - Jimin comentou com a voz mansa e calma.

- Tipo o que? - Taehyung perguntou curioso, e ficou ainda mais perdido, quando a mão de Jimin foi para seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar.

- O porquê de seus olhos brilharem mais do que qualquer estrela, pra mim... Ou o porquê de eu sentir borboletas no estômago e meu coração tão acelerado, por eu estar tão próximo de você agora. - Segredou com um sorriso sútil, e o Kim precisou de tempo para conseguir raciocinar verdadeiramente o que Jimin acabara de dizer.

- Eu te amo, Jimin. - Desabafou, como se estivesse revelando o maior segredo do mundo, e sem pensar muito, juntou seus lábios nos do Park. Apenas um selinho. Um simples toque delicado, que logo se transformou num beijo cheio de desejo e acumulado por paixão, como se ambos tivessem esperado por esse momento por anos. Era curiosa a simetria apresentada e vinda dos dois. O beijo entre eles representava mais que amor. Um amor acumulado há tempos, mas nem um pouco frio. A paixão continha um tipo de conservante que não os deixava livres. Park estava com um joelho de cada lado das pernas do maior, sentado em seu colo, e as mãos do Kim queriam segurá-lo, inteiramente, como se tivesse medo que o outro escapasse ou sumisse de repente. E apesar de Jimin estar nos braços dele, ele ainda não acreditava nisso, e temia que aquele sonho acabasse de novo, de modo não resolvido, como tinha acontecido tantas vezes no passado e lhe causara tanta dor e agonia. O sentimento era recíproco. Era extremamente clichê como o encaixe das bocas era perfeito; ou como ambos os corações estavam acelerados ou como as duas mãos se entrelaçavam. Um beijo, onde a malícia não existia e tudo que transbordava ali, era a paixão, que vinha sendo reprimida desde que se reencontraram naquela sorveteria pela primeira vez.

Quando os lábios se separaram pela falta de ar, automaticamente abriram os olhos e encostaram as testas e ficaram olhando-se, um com um olhar mais apaixonado que o outro.

- Eu também te amo, Taehyung.

[O nosso primeiro beijo, o nosso primeiro 'eu te amo' de tantos outros... Tudo ao mesmo tempo. Uma única cena que eu revivo todos os dias em minha memória. Algo que estará eternamente gravado em meu coração. Aquele momento foi sem sombras de dúvidas, o melhor da minha vida. O momento em que eu descobri que eu realmente te amava, com todas as minhas forças. O tempo passa, e eu te amo cada vez mais. Eu queria poder te dizer o quanto eu realmente te amo. Na verdade, eu poderia escrever um livro, qualquer coisa falando de você, Taehyung, do meu amor, do nosso amor, contaria as nossas histórias, falaria sobre nossas risadas, sobre os momentos mais lindos, e ainda assim ninguém vai conseguir saber o quanto eu te amo, não, através de palavras! Não há como falar sobre esse sentimento tão lindo, sincero, e enorme através de palavras apenas, elas nunca vão conseguir expressar tudo que eu sinto. Nada era melhor do que beijar você, enquanto assistíamos as nossas estrelas numa noite gélida ou acordar ao teu lado numa manhã de domingo, e tomar sorvete no café da manhã. A partir do momento que me encosto no seu ombro e me embalo no seu perfume, a minha vontade era que o tempo parasse. Por que não? Tudo congelaria ao nosso redor, só eu e você, só os meus olhos olhando pros seus, sua mão segurando a minha, te beijando sem pensar em nada... Foram dois anos de muito carinho, dedicação, companheirismo, paixão, amizade. Dois anos apaixonantes! Anos que vivi intensamente um amor que toma conta de todo o meu ser. Mas infelizmente, a vida e os segundos passam muito rápido, eles correm demais, e ninguém consegue impedi-los; e eu acho que a primeira coisa que devo dizer é que me desculpe, porque se você está escutando isso, significa que já se passaram quatro semanas que eu parti e isso significa que não estaremos nos vendo de novo. Eu realmente sinto muito por toda a dor que estou prestes causa, ou melhor dizendo, a dor que eu já lhe causei... Sei que a decisão que eu tomei foi totalmente desqualificada e imoral. "Como pode ser tão fraco ao ponto de tirar a própria vida?", muitos que viviam ao meu redor devem pensar. A vida é minha, a essência é minha. Ninguém precisa opinar no que fiz, afinal, só eu mesmo sabia o que se passava dentro de mim quando decidi tomar todos aqueles remédios e acabar logo com isso. Já imaginou um oceano no meio da tempestade? O céu escuro, sem o brilho artificial da lua ou sem o brilho das nossas estrelas? Era assim dentro de mim, mas tudo silencioso. Tudo destruído e silencioso demais. Tudo muito angustiante e doloroso... E eu fico tão... Furioso e injustiçado em saber que muitas pessoas vão dizer que fui um grande "covarde" em ter desistido, pois nenhuma delas sabe como eu fui forte. Nenhuma delas sabe como é lutar para viver, quando você se sente morrer todos os trezentos e sessenta dias do ano, por quase uma década, desde que fui diagnosticado com Lúpus aos meus treze anos. Foram nove anos, vendo minha morte, sem poder fazer nada a respeito. Ninguém sabe o que é passar a vida inteira sendo refém de uma doença sem cura.]

[E tudo se tornou ainda mais insuportável, quando neste ano, o Lúpus começou a tirar, pouco a pouco, a coisa mais importante para mim: A minha visão.].

Taehyung segurava com cuidado o braço, agora extremamente fino, do loiro, guiando-o pela colina, até chegarem ao topo. Kim auxiliou o menor a sentar-se no gramado, e logo se sentou atrás do menor, abraçando-o, obrigando que o loiro apoiasse as costas em seu peitoral e a cabeça em seu ombro.

- Eu te amo muito. - Taehyung sussurrou beijando o topo da cabeça de Jimin e segurando as mãos pequenas dele. Jimin estava destruído. Sua pele estava pálida, seus olhos fundos. Sentia-se fraco, não por apenas ter perdido exatos vinte quilos em apenas dois meses, mas também fraco emocionalmente. Sempre que o namorado dizia algo, sentia vontade de desabar-se em lágrimas... Escutar só a voz do moreno não era a mesma coisa que escutá-lo e vê-lo ao mesmo tempo. Começou gradualmente. No inicio, sua visão começou a ficar embaçada, e com o passar do tempo, fora diminuindo e piorando, até que ele não conseguiu enxergar mais nada.

- Taehyung?

- Diga, Jimin. - O moreno respondeu apreensivo com o tom do menor.

- Eu não consigo enxergar as estrelas. - Balbuciou, com o choro preso na garganta. - Eu não consigo mais enxergar as nossas estrelas.

[A cegueira foi a pior de todas as coisas que o lúpus já me deu... É angustiante abrir os olhos pela manhã e enxergar apenas a escuridão, nada mais, além disso. É angustiante você escutar a voz da pessoa que você ama e não conseguir enxergar o rosto dela. Eu tive medo, Taehyung. Medo de que com o tempo eu pudesse esquecer o seu rosto, por isso, todos os dias eu me obrigava a passar os dedos pela sua face, apenas para sentir sua pele e suas feições, seu desenho e curvas, mas não era a mesma coisa... Nunca seria. Eu jamais enxergaria outra vez seus olhos, seu sorriso quadrangular, ou o céu estrelado... E isso doía tanto, Taehyung. Você não faz ideia do quanto doía.].

[Eu peço que respeite a minha escolha, por favor. Afinal, eu morreria de qualquer forma. O tratamento já não funcionava e não tinha mais nenhum outro recurso a não ser ficar deitado numa cama de hospital, tomando remédios fortes, esperando que a qualquer momento meu pulmão ou meu coração parassem de funcionar. É claro, onde a vida existe, a morte é inevitável, mas se você realmente me conhece Taehyung, vai saber que eu nunca tive muita paciência para esperar por nada, ainda mais esperar por algo tão permanente e frio quanto à morte é. Eu jamais desejaria morrer dessa forma tão... Gradual. Morrer pouco a pouco. Morrer lentamente. Sentir que cada dia que se passava eu estava mais próximo de fechar meus olhos pra sempre, mas mesmo assim, sem saber qual o momento exato de que isso aconteceria. E por isso, eu decidi que, pelo menos uma vez, não deixaria que o lúpus definisse algo sobre mim novamente. E então tirei minha própria vida antes que ele fizesse.].

[E tudo que me resta agora é agradecer. Agradecer por você ter sido, muito mais do que meu amigo, mas também o grande amor da minha vida. A pessoa com quem, eu tive as melhores memórias. A pessoa que, quando estava por perto, fazia com que eu me esquecesse das dores e da minha prepotência perante o lúpus e que fazia com que eu me sentisse forte, incentivando-me a lutar, até o último minuto... Eu sinceramente espero que algum dia possa me perdoar. Também espero que não se esqueça da nossa história e de nossas lembranças juntos, mas também espero que não fique preso a elas, pois, a minha vida acabou definitivamente, mas a sua não. Viva. Aproveite a vida. Cuide de si mesmo, corra, viaje, sorria, gargalhe... Faça tudo que a vida lhe permitir fazer. Mas, acima de tudo, eu desejo que você encontre alguém que possa te amar na mesma intensidade que eu te amei. Eu te amo Kim Taehyung. Eu te amo muito... Adeus. De seu amor: Park Jimin.].

Taehyung tirou os fones de ouvido, trêmulo. As lágrimas pareciam não querer parar de descer nunca mais. Todas as lágrimas que ele não derramou, desde o enterro de Jimin, até hoje, ele derramava agora, e completa abundância. Os sentimentos surgiam e transbordavam de seu ser, e ele queria gritar; gritar até que sua garganta não aguentasse mais e sua voz começasse a falhar. Berrar e junto, expulsar todas as suas dores para fora. Toda a saudade, todo o sofrimento, toda a angustia. Queria descontar toda a tensão e o ódio que sentia apertar ou esmurrar algo. Ele amaldiçoava lúpus, amaldiçoava a vida por ser tão injusta, e amaldiçoava ainda mais a si mesmo por não ter conseguido impedir que Jimin suicidasse.

Sentiu uma mão apertar seu ombro, e levantou o rosto inchado pelas lágrimas, vendo Yoongi ajoelhado ao seu lado, mas a presença do mesmo não impediu que ele continuasse a afogar-se em lágrimas. Min não aguentou e agarrou o mais novo pelos ombros, juntando seus peitos, num abraço forte e consolante.

- A-A culpa f-foi toda minha, hyung... - Disse engasgando com choro. - Eu m-me odeio t-tanto...

- Ei, por que está dizendo isso? - Disse arregalando os olhos, o interrompendo. Taehyung respirou fundo, tentando se acalmar ao menos um pouco para conseguir contar. Por um segundo pareceu impossível, pois os soluços o impediam de dizer.

- E-Eu deveria ter dormido no hospital junto de Jimin... - Disse ainda com dificuldades. - Na noite em que ele suicidou... Eu deveria estar lá com ele. A culpa é minha, toda minha...

- Pare de dizer essas coisas. - Ordenou firme. - A culpa não é sua. E eu não estou dizendo isso apenas para te consolar, a culpa realmente não é sua Taehyung. Se não fosse naquela noite, Jimin faria o mesmo na noite seguinte, ou em qualquer outra que tivesse oportunidade. E mesmo se você tivesse conseguido impedi-lo, deveria pensar o quanto Jimin estava sofrendo. Ele morreria de qualquer forma, seja por suicídio ou não... Ele estava se definhando, dia após dia... Você não podia impedir o inevitável. No máximo, você conseguiria apenas adiar o seu sofrimento e aumentar os dias se dor dele. - Encerrou, apertando ainda mais o garoto contra seus braços.

Ficaram naquela posição por mais incontáveis minutos. O rosto de Taehyung esmagado contra o peitoral do Min, seus olhos molhando a blusa branca do mesmo com suas lágrimas salgadas e o mais velho acariciando as costas do outro. As palavras de Yoongi conseguiram acalmar o emocional do Kim. Ele já não estava tão abalado como antes... Não sentia mais culpa. Porém, obviamente, a saudade ainda era imensa. Ele se soltou do amigo e fungou, suspirando fundo, sentindo o cheiro do perfume do bosque de cerejeiras. Não soube por que, mas aquilo o acalmou ainda mais.

Pelo canto dos olhos, teve a visão da caixa azul, que antes abrigava a carta e o MP3, no gramado, vendo que havia algo a mais lá dentro. Pegou-a, vendo uma fotografia dele e de Jimin juntos, provavelmente, a última que haviam tirados juntos antes do Park ter sido internado no hospital. Eles estavam na mesma sorveteria que tinham se encontrado na noite do dia dos namorados. É. A saudade não estava nem mesmo perto de diminuir.

Por instinto, ele virou a foto vendo algo escrito ali de caneta preta na caligrafia tão familiar de Jimin.

"Olhe para as nossas estrelas, Taehyung."

O Kim levantou seu rosto, olhando para o céu, vendo que ele estava tão estrelado e tão luminoso quanto nunca esteve antes. A cor negra da noite estava praticamente toda coberta pelas luzes das estrelas. E então, foi nesse momento, que Taehyung teve a certeza de que Jimin estava mais perto de si do que ele imaginava.

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