Flamingos - DISPONÍVEL NA AMA...

By ClaraAvelino

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Solzão Churrascão Cervejão Verão Pintão... Ah, acho que isso nem tava naquela propaganda de cerveja, né? Ma... More

01 • Camisa suada estampada de flamingos
03 • Ela me chama de sol
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02 • Flower Boy tipo Tyler, gracinha

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By ClaraAvelino

Minha cabeça doía feito o inferno.

Às pessoas podiam achar que eu estava exagerando, mas não, a ressaca era real. Me escondi debaixo dos lençóis na medida que aquele calor infernal permitia.

Três de janeiro, estou há quatro dias sem internet boa e água escassa, esqueci minha chapinha em casa. A selva tá cada dia mais difícil.

Dramas a parte, não queria voltar pra casa tão cedo. Eu gostava da paz que às pessoas transmitiam umas com às outras quando elas não queriam fazer nada além de comer, foder e cagar.

Se bem que, quando se está de férias no calor do Nordeste, você incluiria tomar banho várias vezes ao dia nessa lista. Mas isso não era uma opção de minha lista atual. Bem, isso e foder à vontade. Porque em primeiro lugar, eu não tinha um namorado, pau amigo e muito menos alguém interessado em me comer. Meu vibrador tinha ficado na minha casa, porque eu tinha certeza que meus pais iam mexer na minha bolsa e iriam achar. Foi dito e certo, assim que eu dei às costas, minha mãe arrumou tudo que estava na minha mala. Já pensou, a véia tá lá mexendo nas roupinhas da filha que ela chora só de pensar que mora sozinha e acha um vibrador em formato de pinto?

Falando em pinto...

O vizinho ainda atormentava meus sonhos. Claro que, eu acordava suada únicamente por causa do clima. O ventilador não pegava muito e por eu ser um pouco mais gorda que minhas irmãs, eu tinha que dormir sozinha na cama.

Olhei uma única vez na tarde do dia primeiro para tentar ver se ele estava lá mais uma vez, mas acho que minha invasão de privacidade o afetou. Também não vi mais movimento algum em sua casa, não tinha carro nem moto na frente. Às cortinas blackouts tiravam totalmente a oportunidade de espiar.

Isso mesmo. Além de pervertida, eu tinha virado stalker.

— Alê, vamo almoçar! — Minha avó gritou e se eu respirasse com mais força, conseguia sentir o cheiro da carne assada. Ah, eu queria muito ser vegana. Juro de verdade. Mas caramba, porque não tem um brócolis com gosto de calabresa? Uma cenoura com gosto daquele franguinho assado? Peço desculpa para os bichinhos toda vez que coloco um animal na minha boca.

Gargalhei com meu próprio pensamento e Nic me olhou como se eu fosse uma doida rindo sozinha, soltei um beijo e fingi que não estava sendo julgada.

Eu morava em Salvador tinha três anos, me mudei com 17 e alguns pontinhos faltando para completar 18 anos. Meus pais moravam no interior e eu fazia faculdade na UFBA, então eu tive que me mudar para longe deles. O primeiro ano foi terrível, ser dona de casa era uma merda. Morar sozinha não era aquilo que você vê nos filmes e sonha.

Você bagunça tudo e quando chega, ainda tá lá. Se você fica doente, foda-se, você vai continuar doente. A louça não se lava sozinha e a comida não vai ficar pronta se você encará-la durante duas horas. Mas tem seu lado bom. Você dorme até a hora que quiser no sábado. Também pode andar de calcinha pela casa e tomar café deitada no chão como veio ao mundo: pelada, chorando e sem saber o que tava acontecendo com sua vida.

Era meu hobby favorito.

Claro que, também tem a melhor parte: levar quem você quiser e não ter que dar satisfação.

No primeiro ano, eu tinha acabado de sair de um relacionamento de dois anos. Não me julgue ao começar a namorar com 15 anos e perder a melhor parte de minha adolescência, eu queria transar dentro de casa sem ter que explicar para meus pais que eu não sentia absolutamente nada além de tesão pelo meu namorado. Foi um período difícil, o fim não foi exatamente agradável.

Mas havia uma coisa que era tão ruim quanto um ex abusivo: conhecer novas pessoas.

Minha psicóloga sempre me dizia que a burocracia de estar num novo relacionamento após um momento traumático era que você nunca espera coisas boas. A pessoa vai tentar te dar o mundo, mas se ela mexer no seu cabelo do jeito que o outro mexia, tudo vai parecer igual.

Porque o medo sempre vem antes de qualquer coisa.

Então, podemos ver claramente que um pau fixo estava longe de minha lista de opções, por mais fácil e conveniente que seja. Relacionamentos eram complicados demais e eu precisava terminar minha faculdade.

— Tô indo! — Gritei de volta, pulando de vez só pra jogar um pouco de água na cara e descer de pijama mesmo. Meu biquíni tava secando na varanda, quando chegasse na cozinha, eu trocava.

Liguei a torneira e não caiu nem uma gota pra contar história. Abri o chuveiro e aconteceu a mesma coisa.

Agora pronto, é o acopalipse.

— Mãe, tá sem água — Gritei da escada, descendo os degraus na pressa do calor — Não tá caindo nada no chuveiro.

Bom dia pra você também — Minha mãe me repreendeu — Tá sem água no condomínio.

Gemi de raiva. Parecia mais uma birra infantil.

Que morte — Resmunguei, olhando pra a torre de prato que tinha na pia — Eu não lavo aquilo nem a pau. Me deixa enxugando e guardando.

Dona Gabriela negou com a cabeça.

— Você lava, Alexandria. Tu nem alcança os armários.

Espremi os olhos em sua direção, segurando os possíveis xingamentos que eu poderia oferecer para qualquer pessoa que não fosse minha mãe. Porém, a coitada passava o mesmo BO que minhas irmãs e eu e olha só que eu sou a mais alta das quatro. Minha mãe era um pouquinho menor que eu, mas Jasmine e Malu eram 1,50 pra baixo.

— Tá pegando água onde?

— Lá na área de recreação, mas vai na fé porque tem uma fila do tamanho do mundo todo.

Fui resmungando, porque eu não tinha dignidade nenhuma que me impedisse de agir como uma criança de dez anos. Pelo menos não que eu ligasse.

Claro que, meu churrasquinho amado ficou pra depois e eu só fiz perder meu lugar na fila porque nem tinha percebido que tava de pijama quando cheguei no meio do caminho. Minha avó que fez essa anotação pra mim. Gritando pra todo mundo que aquele era o pijama que ela tinha me dado de presente quando eu tinha 15 anos e que meus peitos não haviam crescido nada.

Nicole surgiu ao meu lado e começamos a falar quem parecia fascista e quem parecia de boa. Claro que, como ela era a viciada em macho, seus olhos enxergaram um homem lá na portaria. Alto, não pude ver seu corpo muito bem porque ele estava com uma daquelas roupas de mergulho. Uma prancha enorme estava presa debaixo de seu braço e ele tinha mãos enormes. Santa bicicletinha, queria aqueles dedos em mim.

Cinco dedos, o que custa enfiar dois em mim?

Claro que, alegria de pobre dura pouco e minha vez de encher os baldes tinha chegado. Quando consegui dois cheios d'água, meu caminho de volta para casa foi turbulento e horrível.

— Deixa eu te ajudar — Hugo, namorado de minha irmã do meio, Jasmine, surgiu do nada e carregou os dois baldes até a área de serviço. Pedi que ele deixasse um ao lado da pia e o outro perto do tanquinho para que eu usasse para banho mais tarde.

O resto do dia foi terminantemente monótono. A antena não funcionava, então não tinha como assistir televisão. Não tinha água para lavar o cabelo se eu fosse para a piscina ou para a praia. Eu não queria gastar dinheiro indo pra pracinha comer algo, muito menos gastar gasolina porque a estradinha até lá era esquisita demais para que eu fosse andando. Acabou que eu me tranquei no quarto com dois livros de romance e assisti três episódios de The Good Place que tinha deixado baixado para situações de emergência.

Eu acho que esqueci de mencionar: não tem internet aqui. É como meu sonho mais profundo. Um sinal horrível de telefone e um 3G pior ainda. Claro que, às vezes era bom fofocar com minhas amigas, mas eu não sentia falta alguma de redes sociais e aquela necessidade exacerbada de se provar para o mundo.

Xanda — Soube que era Malu no momento que meu nome ecoou pela janela. Ela era a única que usava esse apelido comigo. Coloquei a cabeça na janela, evitando olhar para o lado com medo de ver outras coisas — Fica aqui embaixo pra eu poder tomar banho?

A verdade era que já estava bem escuro quando fui fazer companhia a ela. Malu, por mais que nossa mãe tivesse implorado, acabou cedendo ao calor e foi pra piscina. Seu cabelo era cloro puro e ainda por cima, era enorme. Os complexos de Rapunzel, como meu pai gostava de nos chamar, já que às três tinham cabelos enormes. Malu tinha o maior de todos, batia na sua bunda. Jasmine tinha cortado às pontas, só que acabou ficando torto e ela teve seu cabelo picotado até metade das costas. O meu estava um pouco acima da bunda, mas eu negava o corte que sabia ser necessário.

Uma hora depois, Malu tinha a cabeça lavada e eu não tinha coragem de fazer mais nada. Fui jantar antes que o cuscuz acabasse e depois de mais uma sessão de escravidão ao guardar a louça — chupa essa, mãe! —, finalmente fui tomar meu precioso banho.

A egoísta da Malu não ficou comigo. Muito menos Nicole, que ficou com dor de barriga quando eu precisava. Jasmine tinha saído com Hugo pra comprar sorvete. Era isso, eu tinha que tomar banho sozinha naquele pedaço de breu.

Liguei a lanterna do celular e deixei encostada no varal. O balde ficou na tampa da máquina e minha dignidade, mais uma vez, sumiu. Tirei a roupa me fazendo de doida e percebendo que todo mundo nas casas ao lado estavam dormindo, tudo tava escuro.

Lavei meus países baixos e depois meus peitos, dando aquela atenção básica à larissinha e a minhas axilas, porque ninguém merece cheiro ruim. Aproveitando que finalmente tinha água para lavar a poça de óleo que eu carregava na cara, passei um pouco do meu sabonete esfoliante no rosto e comecei a massagear como se fosse o tesouro mais precioso da Terra.

Quando enxagüei meus olhos, uma sensação estranha tomou conta de mim. Sabe quando você assiste a um filme de terror e fica achando que o tinhoso tá te seguindo pra todos os lugares? Era exatamente aquilo.

Limpei meus olhos com a toalha e olhei para a entrada da área de serviço, ninguém estava ali.

Foi quando eu olhei para a janela dos quartos.

A janela do quarto de meus avós estava vazia e fechada. A do meu quarto também.

A única janela aberta era a do vizinho.

Aquele mesmo, da blusa de flamingo... e outras coisas.

E quem estava me olhando?

Ele mesmo.

Me assistindo como se eu fosse a última temporada de Game Of Thrones.

Quando juntei todas as forças do mundo para xingá-lo de alguma coisa bem perversa, o pintudo acenou para mim antes de sair da janela e fechá-la.

Vesti minha roupa na base do ódio, não fazendo confusão porque eu tinha visto coisa pior da parte dele. Quando finalmente deitei na minha cama, comecei a rir sozinha e neguei com a cabeça.

Talvez não fosse tão ruim estar ali.


(13.01.19)

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