O sexto mês foi um totalmente diferente e difícil, tanto para Melissa quanto para Christopher. Tudo o que ela não tinha sentido nos meses anteriores, estava começando a sentir em um único mês.
Os enjoos vieram com toda a força e a garota mal conseguia comer uma uva sem se sentir enjoada ou como se tivesse comido um boi por inteiro. Além do mais, o incomodo por conta da barriga era grande e isso a deixava muito estressada, a ponto de culpar Deus e o mundo por tudo. Se o clima estava quente demais, era culpa de alguém, e no caso esse alguém era Christopher. E ele entendia, realmente entendia, e não se importava.
CHRIS ON
Mel estava em um período complicado e era difícil de entender, mas eu estava tentando. Nos primeiros dias foi mais complicado, mas agora eu já estava me acostumando com a ideia de que isso era uma fase e que de todos, o sexto mês estava sendo um mês árduo.
Entre os meus compromissos, eu tentava me fazer o mais presente possível mas existiram dias em que Mel passou, pelo menos, quatro dias seguidos sozinha no nosso apartamento. Sim, nosso. Ele deixou de ser meu no momento em que percebi que eu estava realmente gostando dela. Eu já amava nossa princesinha, mas agora estava aprendendo a amar a mãe dela.
A gestão que trabalha com a gente tem me ajudado bastante, me livrando de alguns compromissos com a banda, os mínimos, como por exemplo algumas reuniões em que eu participava por vídeo chamada. Nunca imaginei a força que eles me dariam, mas fico feliz em saber que após três anos juntos, nós nos tornamos uma grande família.
Hoje era um dia em que eu teria que fazer Mel sair de casa, custe o que custar. E eu não vou medir esforços pra isso, afinal, nós vamos comprar apenas uma vez o enxoval da neném.
CHRIS OFF
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MELISSA ON
Eu estava um porre, é isso. Nem eu conseguia me aguentar de tão chata e estressada que eu estava e estávamos ainda na segunda semana do mês. Chris, minha irmã e até minhas sobrinhas sofreram com a minha irritação e mal reclamaram. Eu não acreditava quando diziam que os hormônios te mudam, mexem com sua personalidade, mas eu descobri do pior jeito, é como se você deixasse de ser você por um curto (amém por isso) período e se tornasse alguém que você não consegue controlar.
Nunca imaginei que Christopher conseguiria me aguentar e ter a paciência que ele tem comigo. Antes eu o via como um garoto de vinte e três anos irresponsável que só queria viver em baladas e não queria ter nenhum compromisso, mas eu estava totalmente enganada. Ele se mostrou um grande homem e claro, estava se tornando um grande pai. Me ajudou todas as vezes em que eu nem pedi sua ajuda, acordava junto comigo todas as vezes de madrugada quando eu acordava enjoada e até chegou a desistir de alguns compromissos com a banda por eu estar passando mal ou por ele simplesmente não querer me deixar sozinha.
MELISSA OFF
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Melissa estava deitada na cama de casal que ocupava boa parte do quarto de Chris, o que por um acaso ela estava dormindo todas as noites e finalmente havia achado uma posição confortável para assistir TV.
- Mel, está pronta? – Chris adentrou o quarto, ainda com o cabelo molhado por ter acabado de sair do banho – Você viu meu boné preto e amarelo?
- Pronta pra irmos onde? – Ela respondeu, prestando atenção em cada movimento dele – Você deixou na cozinha, em cima da geladeira.
- Geladeira? – Nem ele mesmo entendeu porque tinha deixado o acessório ali.
- Nem me pergunte o motivo dele estar ali... Reparei nele hoje quando fui fazer um suco.
- Eu devo ter chegado com pressa e ter ido direto pegar alguma coisa pra comer, e acabei deixando por ali. – Explicou – Quer que eu ajude você com alguma coisa? – Ela olhou para ele com cara de confusa – Vamos sair, Mel. Falei disso pra você ontem, a gente precisa comprar esse enxoval logo.
- Ah não, Chris. Hoje não. – Ela fez cara de pidonha, só queria ficar a tarde toda deitada e com sorte, sem sentir enjoo. – Você pode por favor aumentar o ar condicionado? To suando de calor.
- Ah sim, Melissa. Essa é uma das coisas em que você não tem o poder da escolha, nós precisamos ir, por favor. – Ele pegou o controle do ar e o aumentou, sentindo um arrepio – Você sabe que aqui está congelando? Não sei como você ainda está com calor. A noite, enquanto você dorme sem coberta, eu estou enrolado em duas. Tudo isso por conta do seu calor gigantesco.
- Do meu calor, Christopher? – Ela rebateu, com um tom mais bravo. Nesse momento ele soube que falou mais do que devia – Sua filha está com calor, não eu. Enquanto você dorme, eu fico acordada a noite toda, ora com calor, ora com frio. Mas a garotinha que habita aqui – ela apontou para sua barriga – Não entende isso, e eu descobri que não posso competir com ela. E nós não vamos sair hoje.
Chris respirou fundo três vezes, apenas olhando para a garota deitada na cama com os olhos profundos e que exalavam irritação. "Ah, minha filha, o que o papai não passa por você...", ele pensou. Não iria discutir, mesmo que alguma coisa dentro dele gritasse para que ele a respondesse. Ele nunca foi do tipo de se calar para evitar briga, mas ele precisava ser assim. Em uma coisa ela tinha razão, ele não sabia pelo que ela estava passando. Ele virou de costas e enquanto olhava no espelho para arrumar o cabelo, ouviu Mel se levantando, olhou de canto de olho e a enxergou indo em direção ao closet. Ok, ele estava confuso.
- Fico pronta em dez minutos. Você pode fazer aquela salada de frutas que só você sabe fazer? – Mel respondeu e ouviu a risada de Chris, logo seguida por um "para a viagem?", e ela concordou. Sabia que precisava comprar o enxoval da sua filha e ela realmente estava adiando isso durante o mês inteiro e agora que ela estava razoavelmente melhor, tinha que fazer isso. Ela precisava agradecer por toda a paciência que ele estava tendo com ela e ela precisava arrumar um jeito de pedir desculpas a ele. A era de irritação teria que acabar, por bem ou mal.
Chegaram a Buy Buy Baby, uma loja de departamento, mas especializada em montar o enxoval inteiro, desde a berços até roupinhas. Melissa parou em frente à loja, como se estivesse criando coragem para entrar, fazendo com que Chris parasse a frente dela e a olhasse nos olhos.
- O que você tem? – Ele questionou, enquanto tirava uma mecha de cabelo do rosto da garota – Outro enjoo? Quer sentar?
- Não – Melissa sorriu, quando Christopher tinha se tornado assim? – Tudo vai se tornar ainda mais a nossa realidade agora.
- Eu sei. Nunca me imaginei fazendo esse tipo de programa em pleno sábado à tarde, mas quer saber? É muito melhor do que qualquer outra coisa. – Eles sorriram e deram um selinho rápido.
Já dentro da loja, muitos casais estavam no mesmo dilema do deles, mas alguns funcionários estavam auxiliando os outros casais, inclusive eles. Uma moça loira, mais alta que Mel, mas mais baixa que Chris estava os ajudando e Melissa achou que a ajuda ainda estava sendo muita. Algumas coisas estavam sendo exageradas, por que ela precisava tocar em Chris toda vez?, ela pensava. Era como se somente ele estivesse ali. Cheia de sorrisos e risadas, de lá pra cá.
- Mel? – Ele chamou – Você quer começar por onde?
- Normalmente, nós auxiliamos para que você comece pelos móveis do quarto do bebê, posso te mostrar. – A loira, que se chamava Megan, se intrometeu – É naquele corretor a direita, podemos?
Os olhos de Mel foram parar nos de Chris, que agora estava perdido. Ele sabia quando alguém dava mole para ele, e Megan certamente estava fazendo isso.
- O que você acha? – Ele perguntou para Mel e se colocou na frente dela – Pode onde você quer começar? – Ele fez questão de frisar dessa vez. Megan permaneceu quieta, apenas observando a cena.
- Pelos móveis, então. – Respondeu – Você pode pegar uma garrafa de água para mim?
Chris assentiu na mesma hora, indo em direção a uma máquina de venda automática, inseriu uma nota de cinco dólares e esperou a garrafa de água cair. Caminhou, tentando encontrar Mel em algum corredor e a avistou no último, junto da vendedora. Ela estava parada, com uma das mãos na barriga e a outra apoiada em um berço rose. Linda era apelido para Mel. Ele sentiu seu coração acelerar e isso era uma reação diária que ele estava tendo desde que conhecera ela.
- Encontrou algum? – Ele entregou a água para a garota e se posicionou ao lado dela – Esse é bem bonito.
- É, sim. – Ela suspirou – Todos são, na verdade. Como decidir alguma coisa para outra pessoa?
- Nós somos os pais dessa garotinha linda que vai nascer. – A mão de Chris agora estava pousada na barriga dela – Tudo o que ela precisa é nosso amor. E já que isso ela já tem, o resto é o resto.
Ele estava certo e Mel sorriu, logo em seguida abraçando o equatoriano, que envolveu seus dois braços pela cintura dela. Melissa olhou de canto de olho e pode ver Megan parada, apenas esperando com que eles decidissem. Se pudesse, pediria para trocar de vendedor, mas não queria criar caso. Estava ali para comprar o enxoval da sua filha e era isso que faria.
Depois de algumas horas, eles estavam acabando. Já haviam comprado todos os móveis, os itens de toalete, os itens para higiene, as roupinhas, carrinho de passeio, enfim, todas as coisas para se montar um enxoval por completo. Deixaram por último os edredons e mantas pois eles ficavam no último corredor. Megan, a vendedora atrevida, ainda não havia parado com os sorrisos e a mania de tocar em Christopher o tempo todo. Ele, que já tinha percebido, tentava se esquivar, mas na maioria das vezes ela o pegava de surpresa. Mel já estava de saco cheio da situação e queria ir embora o quanto antes.
- Estão me chamando na administração, eu volto em um minuto, ok? – Megan disse, direcionando sua total atenção a Chris, como sempre.
- Tudo bem – Mel respondeu – Sem pressa, flor. Nos viramos sozinhos.
Chris riu baixinho e Megan desapareceu entre os corredores, fazendo com que Mel suspirasse aliviada, realmente estava ficando ainda mais estressada com a situação toda.
- Você também, Christopher?! – Ele a olhou com espanto – Você mesmo.
- Eu? O que eu fiz?
- Você é você. – Ela rolou os olhos – Precisa chamar a atenção em todos os lugares?
- Eu poderia dizer a mesma coisa pra você, Mel. Você não percebe, mas já vi pelo menos dez caras te olhando aqui.
Ela rolou os olhos fazendo com que Christopher risse, aquela típica risada que só ele tem, que é contagiante. Ela colou seus lábios ao dele com um selinho, que sorriu de novo em resposta.
- Edredom? – Mel perguntou – Pronto? – Ele concordou com a cabeça.
Enquanto escolhiam sobre as cores e quantidades, o celular de Chris tocou. Ele ignorou na primeira, na segunda e na terceira, mas, na quarta vez Melissa interferiu.
- Quem é? É a quarta vez, deve ser urgente.
- É a Clara. – Ele respondeu – Eu retorno quando chegarmos em casa.
- Retorna agora, enquanto eu escolho mais algum edredom para ela. Megan – ela mudou o tom de voz na hora de dizer o nome – já vai voltar.
- Um minuto, já volto. – Deu um selinho nela e se afastou, caminhando para um lugar mais silencioso enquanto discava o número de Clara.
O segundo carrinho já estava lotado de itens e Mel agradecia por apenas faltar um último edredom e então eles poderiam ir embora. Ela estava cansada e seu pé já começava a doer.
Passando os olhos pelos diversos pacotes de edredons nas prateleiras, ela avistou um dos mais altos e seu olho brilhou. Ele era azul – eles haviam decidido que não ligariam para cor especifica - e tinha borboletas bordadas nele. Megan ainda não tinha voltado e não havia nenhum vendedor por perto, então ela caminhou decidida até uma escada pequena que estava encostada em um vão entre as prateleiras. Ajustou ela na frente da coluna em que o edredom estava e começou a subir, um pé de cada vez. Se Christopher a visse fazendo isso a mataria. Mas era só um edredom, e seria rapidinho. Mas, não foi isso que aconteceu. Quando Melissa foi subir o último degrau, enroscou seu pé no vão da escada e se desequilibrou. Caiu para trás, com as costas no chão, e sentiu o impacto do tombo. Colocou a mão na sua barriga e sentia muita dor. Tentou levantar e não conseguiu, começou a chorar involuntariamente, ela só queria que Christopher pudesse a ajudar. Sua visão estava ficando turva e tudo estava ficando escuro.
Christopher estava terminando a vídeo chamada com Clara sobre sua agenda, se ele estaria livre para participar na segunda feira de uma entrevista. Com livre, ela quis dizer se Mel não tinha nenhuma consulta médica. Porém, ele foi surpreendido por um funcionário correndo em sua direção, ele não tinha entendido o motivo mas pediu para que Clara aguardasse um minuto.
- Christopher? – Ele assentiu – A sua mulher... Ela... Ela caiu... A vendedora do senhor, Megan, me pediu para te chamar. – Ele estava nervoso e não sabia como dar a notícia a Chris.
No momento em que Chris ouviu a palavra "caiu", ele saiu correndo em direção ao corredor em que Mel estava. Chegou e encontrou algumas pessoas em volta dela, não pediu licença para chegar perto de Melissa e quando a viu desacordada, seu mundo desabou. Suas mãos continuavam pousadas em sua barriga e vê-la assim fez com que ele pensasse no pior.
- Alguém já chamou a ambulância? – Ele gritava.
Foi informado que sim, já haviam chamado e eles já estavam chegando. Permaneceu sentado, ao lado dela, o tempo todo. Segurou na mão de Mel e rezou baixinho para que tudo ficasse bem.