Querido Diário (Camren)

By pikesaturns

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Elas não tem nada em comum além da etnia latina, aparentemente. Lauren Jauregui é a garota popular e que todo... More

Maegaki
1°Cap. - Hon
2°Cap. - Mitarashi Dango
3°Cap. - Kanjou
4°Cap. - Miwaku
5°Cap. - Jounetsu
6°Cap. - Yuuki
7°Cap. - Kettei
8°Cap. - Utsukushii
9°Cap. - Itami
10°Cap. - Za & Riron
11°Cap. - 快感
12°Cap. - 遠い
13°Cap. - 欲望
14°Cap. - 嫉妬
16°Cap. - 好奇心
17°Cap. - 愛
18°Cap. - 時間
19°Cap. - 大学
20°Cap. - 成長
21°Cap. - Kyoka
22°Cap. - Yuinou
23°Cap. - 妊娠
24°Cap. - 写真
25°Cap. - Owari
Epílogo: Anata

15°Cap. - 崇拝

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By pikesaturns


Yooo! A playlist do Spotify já foi atualizada.

Boa leitura!

*AVISO: Gatilhos de ataques de fofura e overdose de amor podem ocorrer e serem ativados com esse capítulo.

15°Cap. – 崇拝 (Adoração)

Lauren sentia braços delicados a apertando durante o sono pela noite inteira, não era um incômodo… Pelo contrário, apesar do peso mínimo da metade do corpo de Camila acima do seu, sentia-se completamente confortável ao ser envolvida e envolver a menina em seus braços. Acordou algumas vezes no modo automático apenas para cobrir ambas quando a menina menor chutava o edredom para longe de seus corpos, vendo-a se encolher de frio após algum tempo. Tinha o sono pesado, então não foi fácil para Camila estando tão confortável se incomodar com qualquer coisa durante a noite.

A garota de olhos chocolates foi a primeira a acordar pela manhã, com os braços firmes de Lauren em torno de sua cintura. Moveu-se lenta e ainda sonolenta para olhar a face serena da morena de olhos verdes, esbarrando sem querer o ventre na cintura de Lauren ao tentar sair dos seus braços, brevemente o corpo de Camila enrijeceu na estranheza do quanto o momento parecia o mais íntimo que experimentou em sua vida. Tirou a mão da morena de sua cintura, o que a prendia na posição e sentou no espaço vazio da cama, passando a mão pelo rosto, naquela altura desperta o suficiente.

Ao contrário de fazer de seus pensamentos que saltavam em sua mente grandes coisas, Camila se curvou ao olhar novamente para Lauren dormindo e não resistindo em pressionar seus lábios a boca carnuda e rosada de Lauren que se mexeu levemente em resposta, fazendo a menina se afastar e levantar da cama. Entrou no banheiro ligeira e silenciosa, pegando a escova de dentes que havia deixado no banheiro de Lauren e limpando seus dentes para então pentear seus cabelos. Em pouco tempo saiu do banheiro e viu a garota sentada em sua cama, esfregando os olhos verdes com lentidão, tentando expulsar o sono.

— Dormiu mal? – Questionou Camila, entrando no quarto e prendendo seus longos cabelos em um rabo de cavalo, a voz foi o suficiente para fazer Lauren a olhar um tanto desnorteada, então olhando para a leoa de pelúcia, Nala ao lado de sua cabeceira.

— Hm… Não. – Viu Lauren limpar a garganta, tentando tirar a rouquidão excessiva que estava presente como Camila se lembrava que era ao ver Lauren acordar.

— Tem certeza? São dez horas da manhã e você ainda parece com sono. Eu não te atrapalhei? – Os olhos verdes bem clarinhos ao franzir a testa para a insistência de Camila sobre seu sono. Estava meio perdida, mas tinha certeza que Camila não atrapalhou em absolutamente nada, muito pelo contrário, gostou de a envolver a noite inteirinha.

— Sim, você atrapalhou quando levantou, estava perfeitamente bem te abraçando antes. – Soou quase como um resmungo que fez Camila sorrir ao ver Lauren andar na direção do banheiro, onde estava parada na porta. Brevemente os olhos castanhos foi para a calça de moletom da garota, mas era larga e não marcava nada, foi tão imperceptível que Lauren nem sequer notou quando Camila deu espaço para ela entrar no banheiro.

Foi só no ato de se despir para tomar o banho frio que quase sempre tomava ao acordar por puro hábito que Lauren percebeu o volume apertado pelo shorts de compressão. Estava tão alheia e acostumada sobre isso que mal lembrou que coisas assim poderia ocorrer com ela pela manhã. Seu rosto tomou tons rosados quando lembrou que Camila dormiu em cima de seu corpo a maior parte da noite e torceu para que a menina não tenha notado. Tomou banho rapidamente e se trocou igualmente.

Se aproximou lentamente da cama ao ver Camila deitada de barriga para baixo, de olhos fechados enquanto a esperava. Percorreu os olhos verdes pela nuca e pelos ombros expostos da regata que Camila usava. Se curvou e beijou a nuca e os ombros antes de depositar um beijo longo na bochecha de Camila que abriu os olhos e se ajeitou para ficar de frente a Lauren.

— E você? Dormiu bem? – A rouquidão já voltou ao normal para o tom de Lauren, fazendo Camila assentiu brevemente e levar sua mão para a nuca dela, trazendo-a para, próxima o suficiente de sua boca, suspirando com a aproximação que parecia que não iria se acostumar nunca.

— Bem. – A resposta curta deixou Lauren ligeiramente nervosa e especulativa, porém seu surto interno foi interrompido.

Os lábios carnudos tocaram os seus levemente, se entreabrindo, úmidos ao ter a língua passando pelos próprios lábios com vontade, esperando que fosse Lauren a romper seus pensamentos e lhe dar um beijo permissivo. A garota dos olhos verdes entendia o que Camila pedia com gestos, seu beijo de bom dia. Lauren pressionou os lábios de Camila, movimentando-os preguiçosamente ao percorrer caminhos já conhecido pela boca da outra, acariciando com sua língua antes de romper e sorrir contra os lábios dela.

— Oi, bom dia. – Lauren murmurou irônica, colocando o rosto na curva do pescoço de Camila e jogando seu corpo em cima dela de brincadeira, sem realmente jogar todo o seu peso para não machucá-la.

— Bom dia, preguiçosa. – Cumprimentou Camila, abraçando o corpo de Lauren com um dos braços e apoiando sua mão na coxa de Lauren, ajeitando-se para evitar uma má posição.

— Eu não sou preguiçosa. Quer ir tomar café da manhã? – Perguntou com a voz abafada contra a pele de Camila que rejeitou.

— Não, está tudo bem. Mais algum tempo e podemos almoçar direto. – Explicou Camila, sentindo Lauren se mover sob seu corpo, uma das mãos retribuindo o toque em sua coxa desnuda pela saia recém trocada, acariciando levemente.

Aos poucos ambas se adaptaram ao toque recíproco, e de alguma forma, Camila queria que Lauren soubesse que gostava quando era tocada em algum lugar que não fosse apenas a cintura e que ela não iria mesmo correr se a sentisse um pouquinho mais perto. A curiosidade falava mais alto pelos corpos de ambas, queriam descobrir coisas melhores que o conforto nos arrepios que sentiam na pele com beijos e tímidas carícias na pele, tentando romper justamente com aquele aspecto, a timidez que fazia os rostos ficarem quentes.

— Continue. Só um pouco… – Pediu em voz baixa, apertando Lauren contra si quando a sentiu querer se afastar para dar espaço quando nem mesmo era necessário. Era penoso para Lauren que nunca tivesse coragem de seguir adiante com coisas simples temendo que Camila não gostasse, continha muito de seus impulsos sobre como iria tocá-la e não conseguia nem mesmo comedir sobre o quão longe poderia ir com aquela permissão.

Lauren a beijou novamente, ousando colocar a perna presa em sua cintura, apertando e subindo a carícia por debaixo da saia perigosamente, fazendo Camila ofegar de ansiedade quando a mão tocou sua bunda avantajada em um aperto que fez com que Camila voltasse a beijar seus lábios com mais ferocidade que antes, os dedos arranhando a nuca e apertando os cabelos de Lauren. Os dedos eram tão firmes em sua pele que colocava Camila em um ponto que ela nem mesmo se importava com o que acontecia.

— Você gosta disso? – Lauren questiona contra os lábios de Camila que tinha os olhos apertados e respirando fundo. Lentamente abriu os olhos quando sentiu as mãos recuarem lentamente, Lauren sentia-se latejar estupidamente, a proximidade dos corpos era muito tentadora, como Camila arqueava o corpo na  direção ao seu sem restrições durante o beijo, os hormônios praticamente fazendo ambas explodirem, o que automaticamente fazia Lauren evitar tocar seu corpo totalmente ao de Camila que não parecia colaborar, sentindo as mãos de Camila a prender perto, o volume contra sua barriga pela posição elevada de Lauren.

Camila sentiu Lauren congelar que mal piscava olhando para o rosto dela, esperando qualquer tipo de reação negativa que nunca veio, a garota dos olhos intensamente verdes se dando conta do quanto aquilo podia não ser natural para Camila ou para qualquer pessoa e também que estava quase próxima a algo que sequer imaginou antes, e não era uma preocupação. Os dedos de Camila afrouxaram na cintura de Lauren, depositando um selinho nela. Gostava. Mas Camila lentamente reconheceu que apesar do tom escuro dos verdes de Lauren, estava insegura sobre o próprio corpo.

— Eu gosto do seu corpo… E também gosto quando me toca daquele jeito. Não me importo, é bom… – Assumiu em voz baixa, desviando o olhar ao admitir aquilo em voz alta.

— Não se importa em sentir isso? – Lauren mal conseguia falar sobre estar excitada, engolia seco. Camila entendeu a insegurança de Lauren, ela também estava quente, mas suas reações jamais seriam tão visíveis quanto as de Lauren.

— Nenhum pouco. – Camila tocou lentamente as curvas femininas de Lauren, os ombros, a barriga, os quadris… Deu outro selinho em seus lábios, deixando-a ir de cima de seu corpo, sentindo que era um calor agradável a se ter totalmente para si.

— Preciso de outro banho. – Lauren negou com a cabeça, levantando-se e correndo rapidamente para o banheiro.

Lauren nunca teve problemas tão íntimos com seu corpo até que tivesse alguém que quisesse realmente tocá-lo ou senti-lo, e antes de Camila  ninguém havia sequer cogitado. Gostaria de dizer que reagia em base do nervosismo por ser virgem, mas a realidade era que finalmente se via completamente insegura sobre uma beleza que se via incontestável para quem superficialmente conhecia Lauren e não sabia que era uma garota intersexo. Dessa vez deixou a água fria cair em seus cabelos, querendo limpar sua mente de todo o tipo de insegurança sexual que ia além de uma insegurança normal. Apesar do que Camila falava, aquilo poderia ser diferente.

De três em três meses ia ao médico fazer exames habituais para ter certeza que nada estava errado com seu corpo. Todas as vezes havia uma certa insistência do médico sobre cirurgias de reconstruções quando nem mesmo era necessário para que Lauren se adequasse ao corpo binário. Aquilo realmente a fazia pensar que deveria retornar ao médico um pouco mais cedo, não para alguma cirurgia, ela não queria isso, mas para tirar dúvidas.

Lauren não estava sendo ingênua em pensar que fazer nova consulta apenas por isso iria resolver todos os seus problemas, sabia que poderia não adiantar de absolutamente nada com a cabeça dos médicos focada em problemas sociais que isso traria para ela cedo ou tarde com a pessoa errada sabendo de sua intersexualidade.

Terminou seu banho e então tornou a se vestir e secar o cabelo. Camila se levantou quando a viu sair do banheiro e foi até ela, segurando-a pela cintura, ficando na ponta dos pés para beijar o rosto de Lauren.

— Quer me falar algo? – Questionou Camila em voz baixa, vendo Lauren a olhar como se estivesse alheia ao que acontecia.

— Hm… Sim. Estou ansiosa para Quarta-Feira, é Tanabata! – Lauren segurou no rosto de Camila de forma firme e a beijou por alguns segundos, fazendo a menina menor negar com a cabeça e separar os lábios dos dela.

— Não sobre isso. Também estou ansiosa, mas não sobre isso… Te incomoda? Eu preciso saber. – Camila não ia perguntar algo mais claramente do que aquilo, não via a menor possibilidade de ser mais clara.

— Não… Não da forma que está pensando, é só que… Eu ainda não sei lidar com isso totalmente. – Explicou Lauren, a menina então assentiu com a cabeça uma vez, aceitando aquela resposta, mesmo que Lauren parecesse extremamente agoniada naquele momento. Estava confusa demais para tentar explicar algo com mais detalhes para Camila.

Descobria que inseguranças, cedo ou tarde, sempre apareciam.

Após o almoço, Camila foi para casa, se despedindo de forma polida de Lauren na frente de seus pais e irmãos. O clima entre elas se sucedeu leve apesar de tudo. Então os dias passaram-se suavemente lento, se viam apenas em sala de aula, selinhos rápidos quando ninguém via trocados e estavam, uma vez mais, focadas nas aulas e no ensino. Lauren tinha um pouco mais de dificuldade do que Camila, o que a fazia quase sempre perguntar baixo para a menina explicar uma segunda vez ao invés de interromper a professora em sua aula.

Na Terça-Feira após a aula, Lauren deu uma pequena escapada sobre os estudos marcados para aquele final de tarde, mas prometeu que pela manhã a buscaria para que pudessem desfrutar do Festival das Estrelas juntas como já haviam combinado com meses de antecedência. Clara Jauregui relutou em deixar Lauren visitar o médico naquela tarde, não queria que dissessem nada que a colocasse para baixo e sabia que isso acabaria sendo inevitável cedo ou tarde, pois Lauren tinha dúvidas que não poderia responder.

— Não parece que a senhorita tem algum problema sexual por conta do Distúrbio de Desenvolvimento Sexual. – Ah, e ali estava o termo médico que Lauren secretamente odiava… Como se fosse portadora de alguma doença. Sempre assim, nada de “intersexo”. Só aquele nome que remetia à doença.

E o que, por muitas vezes, doía em Clara, era que esse era o médico que mais se disponibilizou a tentar entender o quadro de Lauren, uma vez que o caso de crianças intersexos eram raras e mal compreendidas, não haviam muitos estudos aprofundados sobre a rara condição biológica. Era sempre um grande conflito quando se tratava da saúde física de Lauren, a maioria estava sempre duvidando sobre o quanto Lauren era realmente saudável quanto aparentava, mas até o momento, nenhum problema de saúde foi diagnosticado, além de doenças que qualquer outra pessoa poderia pegar por acasos.

— Talvez se a sua filha tivesse tomado bombas hormonais masculinas e ter feito a cirurgia para remover os seios… – O doutor, apenas pela expressão cortante e cansada de Clara, calou-se.

Clara protegia sua menina, mesmo que seu remotamente fosse um tanto delicado e instável, naquele momento não poderia ser diferente. A realidade é que odiava quando aquele japonês tão claramente expunha o que achava, como um médico formado e com doutorado, daquela situação toda. Sempre foi recomendado que Clara tivesse feito a cirurgia de Lauren quando era bebê ainda, que tivesse feito dela um menino, porém quando Clara viu todo o procedimento apresentado para sua primogênita, ficou simplesmente horrorizada de imaginar o sofrimento que ela faria Lauren, inicialmente batizada de Lorenzo, passar.

Claro que por algum tempo Clara quase cogitou ceder a pressão dos médicos sobre a condição de Lauren e que isso poderia gerar problemas em sua saúde se não fizesse a cirurgia porque sim, com o tempo percebeu que os médicos colocavam pressão para que Lauren se adequasse ao corpo binário e aquela pressão de que seria um peso imenso deixar Lauren escolher por si só, ainda mais quando passou a crescer e cada vez ficar mais feminina e por si só decidir tão nova, que era uma garota e não um garoto, apesar de sua genitália.

A única coisa que impediu Clara de seguir em frente por medo de algo afetar sua criança, foi Michael que bateu o pé e convenceu Clara que era o correto esperar Lauren crescer e decidir por si se gostaria de fazer a cirurgia e se adequar a um sexo. Para isso, mesmo ela e Michael frequentaram terapeutas para aprenderem a lidar.

Lauren era uma garota extremamente sensível, mesmo que lidasse com ofensas com um sorriso imenso no rosto e uma bondade imensa que só a fazia se calar e não rebater. Ela não merecia um médico falando que a escolha dela de ser uma menina era errada.

— Eu sou uma garota! E não quero essa droga de cirurgia. – Lauren contestou o assunto, frustrada e mostrando pela primeira vez em todos aqueles anos que ela estava grande o bastante para falar por si só, o que chamou a atenção tanto do doutor, quanto de sua mãe que sorriu orgulhosa.

— Olha o vocabulário, Lauren! – Clara apenas chamou atenção de Lauren por educação, não porque queria, o que fez Lauren corar com o que disse para o doutor.

— Desculpe! Vocês só podem não fingir que eu não estou escutando nada? Eu não quero cirurgia, não quero o mais fácil, eu só tenho algumas dúvidas que não vão ser respondidas aqui pelo visto. – Apesar do pedido de desculpas, Lauren não demonstrou estar arrependida por ter proferido um “droga” na frente de seu médico e isso estava bem claro pela forma que ela semicerrou seus olhos verdes escuros levemente manchados pelo castanho.

— A senhorita realmente não parece ter perdido nenhum tipo de sensibilidade sexual pelos exames, exceto uma alteração na formação de espermatozóides, o que pode ser que você seja infértil como a maioria dos casos de DDS, salvo raríssimas exceções, mas essa parte precisaríamos de exames mais profundos e cuidadosos. – O doutor tornou a falar em um japonês polido e irritante aos ouvidos de Lauren, o que a deixava emburrada.

Teria pedido para sua mãe ficar do lado de fora, não queria que ela soubesse que tinha dúvidas sobre seu próprio corpo e na parte sexual. Aquilo era constrangedor, mas entendia que sua mãe não confiava nos médicos 100% para tratar de seu caso. Sabia também que Clara, apesar de ficar óbvio que o interesse de Lauren era real por uma possível primeira experiência, respeitaria o espaço de Lauren e não falaria absolutamente nada do assunto com ela. Entendia que se a filha quisesse, ela a procuraria.

— Certo… Infertilidade, depois vemos isso. Acho que é só o que quero saber. – Lauren era muito nova também e não parecia dar importância ao fato de ser potencialmente infértil. Não pensava em filhos, tinha 17 anos.

O doutor fez algumas recomendações para Lauren que foram completamente ignoradas, recomendações do tipo “tente masturbação!”, “Não esqueça o uso de preservativos, é importantíssimo se proteger de doenças sexualmente transmissíveis mesmo que você seja infértil e tenha pouquíssimas chances de engravidar alguma menina.”. Na realidade, ela revirou os olhos, sabia o básico de biologia para ter certeza que a garota que estava se envolvendo não tinha absolutamente nenhuma DST.

— Sim, talvez também a Camila seja a Virgem Maria e engravide do Espírito Santo. – Lauren resmungou em voz baixíssima apenas para si enquanto saía do consultório.

— O que você resmungou, garota? – Clara estreitou os olhos para filha, não escutando o que ela quis dizer, mas imaginava ter sido alguma insolência apenas pelo murmúrio evitando que ela ouvisse.

— Eu disse que aprender sobre usar preservativos para evitar doenças é algo muito educativo. – Lauren reluziu em um sorriso brilhante e inocente, fazendo Clara desacreditar totalmente que a filha disse mesmo aquilo, mas decidiu deixar passar.

Na volta para casa, Clara ficou em silêncio e pensativa, tentando entender o quanto a cabeça de sua filha estava confusa sobre si mesma e decidiu que passaria a marcar consultas terapêuticas, não queria que Lauren passasse por toda a confusão sozinha, não era saudável. Se algo fosse ajudar Lauren, mesmo que não fosse ela, então o faria sem pensar duas vezes.

Conversou com Michael depois do jantar e chamaram Lauren que escrevia em seu diário para poder ir dormir, questionando-a se era do desejo dela visitar um terapeuta. Lauren naturalmente não viu problema algum nisso, era uma menina aberta a receber ajuda acima de qualquer coisa.

(Play) Prisioner of love, Quiet Version – Utada Hikaru

Camila usava uma saia rodada cinza e uma blusa regata branca com listras pretas. Estava nervosa ao olhar no espelho e se deparar com uma nova versão de si onde suas pernas estavam um pouco expostas, as sapatilhas pretas discretas. Nunca esteve com seus braços tão expostos antes para qualquer um ver, os longos cabelos ondulados caindo abaixo da cintura, tocando sua lombar. Sofi garantiu que ela estava linda, tal como sua mãe, mas algo estava a incomodando naquele momento.

Avaliou alguns segundos seu reflexo de olhos arregalados e quase assustados por se imaginar saindo daquele jeito, mas por fim, ela tirou a fita que formava um laço de sua cabeça e ajeitou a franja, suspirando. O brilho labial rosado e os olhos contornados por lápis de olho preto deixava seu rosto mais maduro, não costumava usar maquiagem, mas estava usando só nesse dia por julgar ser importante o suficiente… Saiu da frente do espelho antes que desistisse de usar aquela roupa e foi para a sala no mesmo momento que escutou três batidas na porta e foi  abri-la

A reação de Camila sempre seria suspirar ao ver a estrela do time da colégio a sua frente, era inevitável e inacreditável que estava mesmo saindo com seu primeiro amor. Lauren usava um vestido florido de tecido leve e os cabelos puxados em um rabo de cavalo com sandálias rasteirinhas de tiras delicadas, ela também usava uma maquiagem leve, mas o mais impressionante era o batom rubro de seus lábios que se destacava em sua pele porcelana.

— Oi! – Lauren se curvou na direção de Camila automaticamente, tocando os lábios dela aos seus gentilmente e rapidamente, a garota menor acariciou a bochecha de Lauren demoradamente em seu cumprimento, porém foram interrompidas pelo pigarro atrás, sobressaltando ambas.

— Bem, vocês estão saindo mais cedo… Tenham juízo e voltem antes das 20h. – Alejandro simplesmente avisou, assim mesmo, sem cumprimento, fazendo a pele pálida de Lauren ganhar um tom rubro por ter sido pega absolutamente no pulo beijando a filha dele na porta de casa.

Como as duas, suas famílias também iriam aproveitar do festival das estrelas que era sempre muito animado e colorido, mas as famílias de ambas entendiam a necessidade das duas de terem aquele momento em específico a sós. Para muitos, o Tanabata Matsuri também era um festival romântico, e apenas por isso, Camila e Lauren não iriam encontrar seus amigos durante o evento, Lauren pretendia levar Camila para outro logo após e já previamente avisou Sinuhe e Alejandro, apenas a própria não sabia.

Apressaram-se para andar na rua principal onde era conduzido o Tanabata, a rua bem decorada e colorida dizia-se muito do festival, elas sorriam com alegria e andavam lado a lado, tão próximas que as mãos se tocavam sutilmente.

— Eu simplesmente amo esse festival com fortes influências chinesas! – Comentou Lauren como uma criança maravilhada com tudo ao seu redor.

— Também amo esse festival e o que ele representa. É a época do ano que Orihime e Hikoboshi se encontram… Desde que não tenha chuva, é claro! – Camila comentou, fazendo referência ao conto antigo chinês de mais de dois mil anos atrás sobre a jovem Princesa Tecelã e o Príncipe Pastor.

— Me conta a história? – O pedido de Lauren fez a mais baixa olhar para ela de cenho franzido.

— Mas você a conhece. – Seu reflexo natural foi argumentar em meio a confusão. Lauren balançou a cabeça negativamente e sorriu, claramente conhecia.

— Sim, mas quero ouvir você me contar. Eu gosto quando você fala muito e despeja informações sobre algo que gosta, mesmo que dessa vez eu saiba… O que é um milagre, geralmente não sei um terço das informações que me conta. – Explicou a menina de forma simples e em voz baixa, mesmo com a música e as pessoas falantes da rua que desfrutavam do festival.

— Oh… Bem… Mais tarde, quando estivermos em um lugar mais calmo? Podemos pendurar nossos Tanzaku* na árvore de bambu? – Questionou Camila, protelando em contar a história como Lauren queria, por saber que não seria o local ideal.

— Oh, okay! Está com o seu?

— Sim! Podemos fazer algo diferente? Não vamos olhar a cor do Tanzaku* uma da outra, apenas vamos pendurar no bambu sem olhar. – Pediu Camila, fazendo Lauren anuir de pronto, não vendo o menor problema em se permitir aquilo.

Se posicionaram entre duas árvores de bambus próximas e diferentes. As cores dos pequenos papéis tinham significados diferentes, o rosa era amor; o amarelo significava o dinheiro; vermelho, paixão; o azul, a proteção e a saúde; verde, a esperança e por fim, o branco que significava a paz.

Sem olhar, ambas pegaram o pedaço de papel Rosa, e os penduraram.

“Que eu seja para Lauren, o que ela é para mim e a nossa jornada juntas seja longa e resplandeça a esperança mesmo em momentos ruins.”

“Que eu tenha o coração de Camila comigo, tal como ela tem o meu sem saber. Que dure e seja bonito, que possamos ser boas uma para a outra.”

Pediam jornadas longas e duradouras uma com a outra por saberem se tratar de um futuro incerto, mas pensavam que se queriam um amor que marcasse e durasse, que fosse uma com a outra e com ninguém mais. Eram desejos quase precoce em suas mentes de adolescentes, mas também eram sinceros e vinham do fundo de seus corações que não viam maldade irretratável no mundo.

Quando se viraram e se entreolharam de forma cúmplice, havia um pequeno acordo mútuo de que não ficariam curiosas sobre o que desejaram ou mesmo a cor dos Tanzaku pendurados nesse Tabanata Matsuri. Elas nunca souberam o que, de fato, foram os desejos uma da outra, a única certeza absoluta era que seus desejos seriam queimados após o festival.

*(Tanzaku são papéis coloridos usados para pendurar os desejos em bambus, como manda a tradição japonesa durante o festival.)

A bolha foi rompida quando escutaram crianças dançando e cantando a tradicional música japonesa do festival. Surpresas quando uma das crianças, totalmente animada, puxou ambas pelas mãos para uma pequena rodinha. Conheciam a música, então passaram a acompanhar os pequenos de forma divertida durante a antiga canção.

Sasa no ha sara-sara (笹の葉 さらさら) (As folhas do bambu, murmuram, murmuram,)

Nokiba ni yureru (軒端にゆれる) (balançam as pontas.)

Ohoshi-sama kira-kira (お星様キラキラ) (As estrelas brilham, brilham,)

Kin Gin sunago (金銀砂ご) (grãos de areia de ouro e prata.)

Quando a canção rápida acabou, Lauren e Camila passaram ainda mais alguns minutos com as crianças sendo vigiadas pelos pais de longe, conversando com elas animadamente sobre como queriam que os desejos fossem realizados ingenuamente e como tagarelavam sobre o mito chinês que orgulhosamente eles queriam demonstrar saber para as garotas mais velhas, em inocência sendo exalada.

Uma das pequenas crianças japonesas tinha seus puxados olhos escuros focados em Lauren, a boquinha rosada entreaberta como se estivesse muito impressionada como de fato estava. Apenas Camila, que estava sentada em um dos bancos rodeada das crianças conversando animadamente com ela e Lauren, notou o olhar da menininha para a estrela do time de softbol que sorria largamente e fez questão de cutucar Lauren discretamente para que olhasse na direção da menininha que estava do lado oposto ao banco, onde Lauren se sentava.

A cubana-americana com descendência japonesa por parte da família de seu pai, levantou-se e deu a volta, sentando no lado vazio da menina que não tinha mais que seus cinco aninhos. Parecia tão compenetrada em olhar Lauren com admiração que acabou seguindo os movimentos com seu olhar.

— Oi! Você é mais quietinha de todas, está tudo bem? – Questionou Lauren para a menininha que se esforçava para não apertar as bochechas rosadas da menininha que balançou a cabeça de afirmativa várias vezes.

Crianças eram espontâneas e não tinham tanta noção do que era contato físico para japoneses adultos, então Lauren não se surpreendeu quando a menininha segurou o rosto de Lauren com suas mãos pequenas, já Camila se dividia em dar atenção às outras crianças e prestar atenção na interação de Lauren com uma em específico, curiosamente.

— São tão bonitos! São muito verdinhos e brilhantes… Parece uma praia. – Lauren sorriu ao ouvir a voz infantil e baixa da menina, entendendo por fim, que todo o culpado pela fixação da criança eram seus olhos.

— Uma praia?

— É! Às vezes o mar é verde! E tem um pouquinho de marrom, me lembra areia. – Explicou a menina, fazendo Lauren rir porque tinha certeza que talvez aquilo era o mais próximo do que a menina conseguia chegar em sua explicação.

— Tudo bem, como é seu nome? – Questionou Lauren, esperando obter resposta.

— Yumi, qual o seu?

— Bom te conhecer, Yumi, eu sou Lauren! Posso te contar um segredo? – Perguntou novamente, imaginando o quão gracinha a menina que agora tinha um nome estava tirando a mão do rosto para brincar com umas mecha de seu cabelo longo.

— Lauren é diferente, é engraçado e bonito! – Elogiou a menina perdida em como enrolava os cabelos de Lauren, mas a parte do segredo a chamou atenção. — Qual segredo?

Lauren se debruçou e cochichou no ouvido da pequena Yumi como se fosse o segredo mais importante que poderia contar para alguém.

— Olhos castanhos como os seus e os de Camila são mais bonitos. – Ao dizer isso, Lauren ergueu os olhos verdes para Camila que ainda olhava para as duas com a expressão de curiosidade aguda.

— Ah, você acha mesmo? – Yumi perguntou mais contente com o elogio, tornando a atenção de Lauren para ela que riu.

— Com toda certeza! – Afirmou convicta.

— Obrigada, Lauren. – A menina teve tempo de agradecer antes dos pais de todas as crianças chamarem elas para perto deles para que pudessem ir comer algo.

Camila se aproximou de Lauren no banco que se virou para ela sorrindo. A garota dos olhos chocolates sorriu de volta e com o cotovelo esquerdo apoiado nas costas do banco da praça, usou a mão esquerda para acariciar a lateral do rosto de Lauren e varrer os fios rebeldes que atrapalhavam para trás de sua orelha.

— O que conversavam? – Lauren não podia culpar Camila por estar curiosa.

— Yumi achou meus olhos bonitos e eu só disse uma verdade a ela… Que olhos castanhos são mais bonitos. – Lauren deu de ombros, piscando para Camila que corou e sorriu tímida. Lauren levantou do banco e chamou Camila para irem comprar coisas para comerem.

Camila estranhou que Lauren dispensou comer na lanchonete, apenas pegando lanches prontos que pareciam ter sido por encomenda e como ela passou no mercado e comprou pequenas coisas variadas, tal como uma toalha de piquenique e uma cesta em uma loja própria. Não comentou, apenas continuou a conversar coisas triviais.

— Para onde vamos? – Perguntou Camila por fim, quando viu Lauren chamar um Táxi.

— Ao Rikugi-en. – Contou simplesmente.

Camila assentiu, então as duas voltaram a conversar coisas variadas sobre Tanabata e os amigos delas na escola que não ousaram se queixar da ausência delas durante o festival que duraria três dias. O caminho foi rápido e sem paradas, deixando elas na frente de um dos parques/jardim favoritos de Lauren em Tóquio.

(Play) It's Gotta Be You – Isaiah

Era um lugar bonito, bem verde e florido com um lago chamativo. Camila também amava aquele lugar e foi algumas poucas vezes em outras oportunidades. Passaram pela ponte que de início não parecia nada segura aos olhos nus, mas era bem forte e curta. Pararam em uma pequena cobertura com vista para o lago. O Jardim tinha poucas pessoas devido ao Tanabata Matsuri, então estavam quase sozinhas.

— Por que essa escolha? – Perguntou Camila curiosa, ajudando Lauren a forrar o chão verde com a toalha e a arrumar a comida de piquenique no chão.

— Eu queria um piquenique com você, agora tenho um! Gosta? – Perguntou Lauren, posicionando as latas de chá gelado na toalha e olhando Camila se sentar de forma comportada, puxando a saia cuidadosamente para baixo.

— Eu gosto de qualquer coisa que venha de você. – Camila sorriu, pegando um espeto de dango e dando uma mordida enquanto olhava para Lauren, então se curvou e ofereceu de seu espeto para Lauren morder um dango, que foi aceito de pronto.

Ambas olhavam para as poucas pessoas do parque passando, não parecendo ligar para elas, mas isso não importava. Poderiam ser invisíveis para o mundo, desde que elas estivessem vivendo aquele momento que Lauren se aproximou e seus dedos se tocaram como tiveram vontade pela tarde inteira, satisfazendo seus corações com o calor dos seus dedos entrelaçados uns aos outros.

— Qual o seu sonho? – Questionou Lauren após alguns minutos confortáveis de silêncio que elas apenas desfrutaram dos toques de suas mãos sem a necessidade de qualquer assunto.

— Me formar na universidade de Tóquio, exercer minha profissão… Crescer, sabe? Poder dar todo o amor que tenho em mim para a família que vou formar futuramente com uma mulher que eu ame muito. Não quero a vida perfeita, apenas quero amar. – Camila disse baixinho, observando Lauren abrir as latinhas de chá gelado e seus lanches, entregando o que pertencia a Camila que aceitou de bom grado.

— Bem… Isso é… Uau! É um sonho bem maduro para uma garota de dezessete anos, é intimidador. – Elogiou Lauren, com os olhos presos em seu lanche que mordiscou por alguns instantes.

— Quais os seus? – Ao invés de tecer qualquer comentário, Camila preferiu questionar enquanto comia seu lanche.

— Por alguns anos, secretamente, eu sempre desejei ter o corpo normal para evitar todas as idas ao médico dizendo que eu poderia ter a saúde prejudicada por isso. Com o tempo, eu decidi também que estava okay que não tivesse um corpo binário, principalmente ao descobrir que não precisava me preocupar com dar trabalho para minha mãe ao participar de algumas comunidades intersexuais pela internet porque eu estaria perfeitamente saudável se não fizesse nenhuma cirurgia. Agora… Eu só quero amor. Não acho que isso seja tão diferente do seu sonho, só quero ser feliz e conseguir fazer alguém feliz. – Lauren contou em voz igualmente baixa, confidenciando seus pensamentos que nunca contou a ninguém, a parte tortuosa que escondia em si.

Confiavam seus pensamentos, seus desejos mais profundos uma para a outra e quando se entreolharam, com os sorrisos cúmplices, transbordaram sentimentos ainda não ditos que poderia escapar a todo momento.

— Sabe, antes de eu ser a total desastrada que sou e derrubar meus livros, achei que jamais falaria comigo. Nunca pensei que algum dia eu teria meu primeiro beijo, minhas primeiras sensações com a garota que eu me apaixonei observando de longe. Eu só via você pelos corredores, pela sala de aula, em seus treinos… Nunca consegui evitar todos os sentimentos platônicos que me rodeavam sobre você, sempre foi luz e isso sempre tomou meu coração.

Lauren olhava para Camila, seus olhos verdes arregalados em choque, seus lábios entreabertos e ela se manteve congelada enquanto Camila esperava nervosamente por alguma reação que parecia demorar milhares de vezes mais do que deveria.

— Diga algo! – Pediu Camila, impaciente.

— Desculpe, eu… – Lauren tentava procurar palavras certas para uma impaciente Camila. Sentia uma pontada em seu coração de puro desespero quando viu a menina se levantar, o que a fez reagir de imediato.

— Está tudo bem não sentir o… – Lauren puxou Camila pela cintura, colando os lábios delas com um selinho longo e forte na mais pura intenção de calar a garota antes que falasse alguma insanidade, qualquer coisa que saísse seria pura tolice, ela sabia.

Lauren se afastou alguns passos. Tudo bem, ela estava travando com palavras, faria do jeito tradicional e de poucas palavras. Seu coração estava acelerado e a insegurança e o medo mesmo após a declaração de Camila assolando sua mente. Gostaria de conseguir derramar seu coração e toda sua alma em ações se não conseguia dizer as palavras corretas, tudo o que ela tinha, era sua atitude.

Então quando Lauren se curvou e estendeu a mão direita, esperando que ela fosse o suficiente para Camila além de palavras que agora estava no lugar de choque que Lauren estava minutos atrás. Não conseguia acreditar, até que a voz trêmula de Lauren preencheu o espaço entre elas.

Sukidesu, tsukiattekudasai*.

Camila demorou um pouco para cair em si que aquilo era mesmo um Kokuhaku**, que ela confessava seu amor por si e que a queria como namorada segundo a tradição japonesa. Lauren não ousou levantar a cabeça para Camila, permanecendo curvada e com os olhos verdes presos no chão enquanto esperava.

Lauren sentiu seu estômago se revirar de alegria quando, por fim, sentiu a palma quente e igualmente trêmula se pressionar contra a sua, então ela pode, energeticamente se erguer e puxou Camila para um abraço, sem jamais soltar sua mão, escondendo o rosto na curva do pescoço ao ser envolvida no abraço, o sorriso terno no rosto de ambas. Desvencilhou as mãos e a envolveu pela cintura, erguendo Camila do chão e não se contendo em a girar em seus braços, fazendo-a rir ao não ter seus pés no chão e os braços apertando firme sua cintura para que não escapasse.

— Eu sou tão apaixonada por você desde o primeiro momento… Nunca pense algo diferente disso. – Pediu Lauren em voz baixa ao ouvido de Camila que puxou o rosto da garota de olhos verdes.

Lauren viu a suavidade nos olhos de Camila, a alegria em sua cor chocolate, derretidos e apaixonados na forma que eles estavam sufocados por lágrimas que ameaçavam cair. Segurou seu rosto e selou os lábios delas em um beijo que transbordava qualquer limite imaginável para sentimentos, como as garotas intensas, cheias de vida e sentimentos como eram. Toda a essência da pureza do amor que sentiam uma pela outra estava ali silenciosamente.

*(“Sukidesu, tsukiattekudasai” é uma frase em japonês com significado ambíguo. “Sukidesu” pode significar tanto um “eu te amo” quanto um “eu gosto de você”. Já “Tsukiattekudasai” pode significar um “por favor, podemos começar a  sair?” quanto um “por favor, podemos começar a namorar?”. No contexto de Querido Diário, a frase significa “Eu gosto de você, por favor, podemos começar a namorar?”)

**(Kokuhaku significa, literalmente, “Confissão”. É uma tradição japonesa que fazem quando querem começar a sair com alguém ou a namorar, o ato de se curvar e esticar a mão esperando que a pessoa pegue na sua mão é algo relacionado ao respeito, a aceitação por parte da outra pessoa é justamente aceitar a mão do futuro parceirx.)

(Play) Over the Rainbow – Luiza Possi

Em algum momento elas se soltaram lentamente e sentaram no chão, Camila puxou Lauren para deitar a cabeça no seu colo enquanto acariciava seus cabelos, os dedos da mão livre se entrelaçando suavemente. A menina dos olhos chocolate se curvou para mais perto do rosto de Lauren para que ela pudesse escutar cada palavra sua em voz baixa para que as pessoas que passavam não escutassem.

Era uma vez, uma Princesa Tecelã chamada Orihime, filha do Rei Celestial, Tenkou e o Príncipe Pastor chamado Hikoboshi. Eles viviam na Via Láctea e certo dia se encontraram e se apaixonaram perdidamente e intensamente um pelo outro. Ambos sempre foram muito trabalhadores e responsáveis com seus trabalhos, porém após começarem a viver um tórrido romance, o casal deixou de cumprir com suas obrigações e trabalhos como de costume o fazia. Provocado em sua ira, o Rei Tenkou resolveu separá-los em lados opostos do rio Amanogawa *(Via Láctea). Devastada sem o seu amor, Orihime chorou e rogou ao seu pai por seu príncipe...

Lauren prestava atenção na história que Camila contava, com seus dedos ainda entrelaçados e observando o rosto concentrado da menina.

“Comovido, o Rei permitiu que Orihime e Hikoboshi vissem um ao outro uma vez por ano no sétimo dia do mês sete do calendário Lunar. Ao olhar para o céu durante a noite, podemos ver as estrelas Vega e Altair brilhando em lados opostos, esperando para ultrapassar a ponto que se criava com suas lágrimas para que pudessem se ver novamente. Quando chove nessa data, significa que eles não cumpriram com suas obrigações e não foram permitidos se verem.”

— Bem, o dia está lindo e ensolarado como seu sorriso e seu olhar. Pelo menos temos a total certeza de que eles se encontraram. – Comentou Lauren, soltando a mão de Camila para acariciar seu rosto, erguendo o corpo para beijar seus lábios com suavidade.

Lauren se levantou do colo de Camila e abriu o pacote de amendoim, oferecendo para sua, agora, namorada que aceitou e colocou um na boca.

— Abre a boca! – Pediu Camila, vendo Lauren entreabrir os lábios para que Camila tentasse acertar o amendoim dentro de sua boca.

O riso divertido foi instantâneo quando Camila errou em uma mira realmente muito ruim, e foi ouvindo os protestos de Camila que Lauren passou a buscar pelo amendoim no ar, errando algumas vezes e acertando outras. Lauren gargalhava quando insistiu para Camila tentar também e não conseguiu pegar nenhum amendoim.

— Okay, chega de desperdício de amendoim, não quero mais brincar disso. – Camila reclamou completamente emburrada, o que fez Lauren continuar sorrindo e bicar os lábios nos dela em um selinho rápido.

— Como quiser, Hime-Chan. – Lauren ergueu as palmas no ar, rendida com o olhar severo de Camila que logo suavizou a expressão.

O resto da tarde após terminarem a comida do piquenique passou tranquilamente, elas caminharam pelo Rikugi-en Garden, conversaram e Lauren ria de todas as piadas sem graça de Camila. Chegaram ambas, cada uma em sua casa exatamente às 20h da noite, cumprimentando suas famílias e então subiram para seus quartos, tomar banho e colocar seus pijamas.

“Querido Diário,

Hoje é o melhor dia da minha vida e me pergunto se eu vou ter outro dia como esse porque me parece impossível nesse exato momento. Agora eu tenho uma namorada. Isso mesmo, Lauren se confessou. Parece um sonho que eu esteja namorando a menina mais bonita e popular da escola! Parece um sonho porque a Lauren parece um sonho de menina. Eu estou tão apaixonada e nem acredito que eu consegui dizer isso para ela sem pausas e sem gaguejar.

É um dos momentos mais incríveis que já vivi. Eu só consigo desejar dividir cada segundo com Lauren em plenitude porque eu não falhei na minha intuição e em todas as vezes que fantasiei chamar aquela garota de namorada. Minha namorada. Eu quero dar tudo o que puder dar a ela, fazer ela feliz como me faz com simples coisas. Será que sou jovem demais para amar tanto alguém? Não tenho medo de me ferir, eu quero também qualquer coisa que ela me ofereça.

Minha Lua, em todo o pacote, é linda e tem uma alma linda e brilhante. Nem mesmo tenho palavras para descrever o que senti quando a vi curvada, esperando que eu aceitasse a mão dela. Juro que vi tudo em câmera lenta. Eu só tenho a agradecer aos deuses pelo dia maravilhoso que eu tive, deve ser a mágica do Tanabata.

Agora me resta fazer Lauren entender algo crucial: ela não precisa sentir vergonha do próprio corpo comigo, não me importo de sentir ela e nem que tenha vontades tanto quanto eu. Ela não precisa estar pronta para relações sexuais, nem mesmo eu estou, mas precisa entender que eu amo e sou apaixonada pelo corpo dela exatamente do jeito que é porque ela é linda independente do que médicos idiotas tenham a dizer. Fico brava de imaginar que os médicos não são gentis com ela por causa de seu corpo e também já até imagino como deve ser, aquele preconceito velado mascarado de profissionalismo e preocupação com a saúde de alguém totalmente saudável. Me deixa aborrecida.

Preciso ir. Obrigada por guardar todos os meus sentimentos e pensamentos até aqui.

Com amor e muito carinho, Cabello Camila!”

A menina fechou seu diário e trancou, abraçando seu diário e sorrindo como uma boba para o nada.

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Algumas vezes coloco fotos dos lugares no final porque sei como pode ser difícil imaginar com exatidão, fica mais fácil.

Decoração do Tabanata Matsuri

Rikugi-en Garden

O parque em si é realmente existente e localizado em Tóquio, no Japão e ele é bem grande.

Até mais, espero que tenham gostado desse capítulo porque particularmente amei escrever ele.

Twitter: laursangria

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