The four elements

By fwelements

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Quatro adolescentes, uma cidade e um mistério. A feliz e inocente cidade de Stowe parece agradar todos os seu... More

01 - Novo habitante
02 - Lar doce lar
04 - Perfeita sempre
05 - Edelweiss
06 - Bem-vindo a Stowe High School
07 - Primeiro suicídio
08 - A lenda
09 - Perícia
10 - Famílias
11 - Griffim & Rennes
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03 - "Típico de Stowe"

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By fwelements

Pietro Liberato

Naquele dia eu havia tido um sonho. Um sonho, um conto, uma utopia. Eu estava deitado, próximo a um portão enorme: ele era preto, e havia uma planta cheia de espinhos o envolvendo. Uma planta cinza. Seria falta de água? Estaria a casa atrás dela abandonada? Isso foi o que menos chamara minha atenção. Havia tantas flores aglomeradas, uma inflorescência que era luminosa a esse ponto. Todas laranjas. Os céus vibravam grãos de pólen, e tudo que eu conseguia pensar era o quão maravilhado e grato eu estava.

Subitamente, um enorme estrondo ecoou pelos cantos. As árvores chacoalhavam, e em pouco tempo, toda a cor era tingida de cinza. Por mais que eu olhasse, tudo se tornava desabitável ao meu redor. Estava tudo morto; as flores, árvores, toda a vegetação morreu. É apenas pó. O chão começou a se abrir conforme eu encarava todo o local; eu não fugi, e com isso sou engolido até as profundezas. Tudo se vai, o laranja se esvai, e o branco tudo atrai.

Saltei na cama.

— Não é comum você ter pesadelos — era minha mãe. Reconheci por suas roupas quase sempre floridas. — Sobre o que foi?

Ainda meio tonto, olho ao redor do meu quarto. Uma visão familiar, e entediante. Nada mudou, então porque estou feliz e triste com isso? Minha mãe, Fiorella Lawford Liberato sempre acreditou que sonhos fossem o espelho interior de cada um. Sonhos traziam predições; enquanto pesadelos, um aviso.

— Flores, primavera, e então um outono. Um outono triste — disse apenas usando palavras-chave. Eu amava contar para ela todos os meus sonhos quando era criança, mas conforme cresci passei a não ter tanta paciência para isso.

— Brigou com algum de seus amigos algum dia desses? — minha mãe sorriu sentando-se na cama junto de mim.

— Não, mãe, mas bem que eu queria. Há sido tudo tão pacato e desanimador que não sei se quero continuar. Há algum botão de pause? — resmunguei em um tom desanimador.

Minha mãe riu.

— Quando conheci seu pai eu estava exatamente pensando assim!

— Espero ter essa sua felicidade quando tiver meus filhos — disse me levantando da cama, arrumando a mesma. — Onde está o pai?

— Na garagem da última vez que o vi.

Desci as escadas do andar superior e segui até a garagem. Meu pai usava uma chave de fenda no motor de um carro preto; eu reconhecia aquele carro.

— É do pai da Susie, não é? — me aproximei de meu pai lentamente para não impedir que a luz do sol sumisse e o fizesse atrapalhar em seu trabalho.

— O tanque está furado — disse meu pai, indiferente.

— Band-aid — sugeri sorrindo.

Meu pai notou minha presença, finalmente, e se surpreendeu.

— É você! Bom dia, Pietro — meu pai me deu um beijo na bochecha.

— Bom dia, pai. Quando eles vieram deixar o carro aqui?

— Susie e o senhor Patrick vieram de umas cinco e meia.

— Ela já estava acordada a essa hora?!

— Sim — meu pai pegou um alicate. — É o segundo carro que conserto nesse fim de semana.

— Deixe-me adivinhar, o outro foi da Caeli?

— Incrivelmente não. Foi do Richard.

— E... eu com certeza sei quem é o Richard!

— Não lembra que andávamos juntos na caminhonete?

— Não lembro nem o que comi ontem, pai.

— Espere, acho que você nem era nascido ainda. De toda forma, ele veio deixar o sobrinho dele na cidade. Aí está uma novidade para você que só vive entediado.

Memória ruim era de família.

— Sobrinho?

— Sim e parece ter a sua idade.

— Se você diz — declarei olhando o sol na janela. — Como ele é?

— Quando você vê-lo saberá. Só direi que é ruivo.

— Você fala como se fosse uma garota com quem eu namoraria.

— Mesmo? Não notei.

— Mesmo — repeti. — Tenho que me arrumar agora. Vou me encontrar com o Frankie e os outros.

— Você? Sair? O que vão fazer hoje?

— Não me olhe como se eu fosse um drogadinho ou alcoólatra, aqui nem sequer tem algo assim — disse dando de ombros. — Vamos apenas assistir uns filmes e gastar conversa. Como sempre.

Meu pai assentiu com a cabeça e voltou ao trabalho enquanto voltei pela cozinha. A minha mãe havia feito panquecas.

— Não estão doces — confessou ela provando.

— Não se preocupe, senhora Liberato. Eu não gosto de coisas doces demais.

— Temos que fazer dieta. Estou gorda? Pareço?

— Você se preocupa com a saúde ou com o peso?

— Os dois — minha mãe riu.

Ela tinha o sorriso mais doce que eu conhecia.

— Você não é magra, mãe. Mas! Eu acho seu corpo perfeito para você.

— Tem muito problema de autoestima na sua escola?

— Em todo lugar tem. Aqui tem porque demorei demais para quebrar a televisão — resmungou meu pai aparecendo para o café da manhã.

Sim, ele quebrou a TV.

— Sem graxa na mesa — disse minha mãe sorrindo.

— A mesa disse que está tudo bem. Não se preocupe, senhora — meu pai relatou.

— Engraçadinho!

— Mas é verdade, a televisão é uma droga — disse provando a panqueca.

— Isso aí, Pietro. Quando eu e sua mãe éramos jovens, sempre saíamos para caminhar pela floresta, foi em meio a um espetáculo de flores que nos conhecemos. Foi tão romântico! Nos concentramos tanto no colorido que aquelas pequenas emitiam, que esbarramos um no outro! Nunca precisamos de televisão para isso.

— O fenômeno da mudança de cor nas flores, em?

— Isso tem algo a ver com o seu sonho? — indagou minha mãe.

— Mais ou menos, mas no sonho tudo ficava do laranja, cinza ao branco.

— Está tudo bem, foi apenas um sonho — disse meu pai tomando um gole de café.

Eu terminei de tomar meu café e comer minha panqueca e corri para me arrumar. Subo as escadas observando a data no calendário. Era o último dia das minhas amadas e chatas férias. Pego a primeira camisa social que vejo e uma calça jeans. Me perguntei se deveria passar um protetor, mas decido que não. Era agosto, afinal. Por último, pego meu casaco e corro para a saída, me despedindo de meus pais.

Já chegavam às sete quando alcancei o ponto de encontro de mim, Frankie e Michelle. Dou um salto para trás quando vejo que Susie está lá também. Frankie vestia uma camisa polo vermelha e um short jeans; enquanto Michelle uma saia curta com uma blusa estampada. Susie usava um moletom preto e uma calça branca. Se você visse nós quatro juntos teria certeza de que participamos de alguma gangue ou vendemos drogas na capital; tráfico clandestino.

Frankie Evans era praticamente o meu único amigo homem. Moreno, corpo atlético, olhos castanhos. Ele gostava sempre de praticar exercícios e esse tipo de atividade. Como nos conhecemos? Ele se aproximou de mim e disse que meu corpo era atlético igual ao dele e então ele me chamou para o ver treinando. Virou rotina agora. Às vezes corro junto dele depois da escola. Ele tinha um metro e oitenta e um, alto o bastante para alcançar qualquer bola que ficasse presa entre os galhos de árvores.

Michelle Berville era a típica loira branca que sempre morre em filmes de terror. Já disse a ela várias vezes. Ela uma vez perdeu uma prova procurando um sapato de chuva. Ela e Frankie já se beijaram, e as vezes eu sinto um clima ao redor deles. Seus um metro e sessenta e nove falam mais alto ou mais baixo? Deve ter usado uma cadeirinha para beijá-lo.

Um ano atrás, o time de Frankie: os Hardwood's foram desmanchados após uma derrota para o time adversário. Apesar disso, quando todas as pessoas desanimaram, eu e Michelle continuamos torcendo por eles. Isso provavelmente adicionou um ponto extra na nossa proximidade.

E por último, Susie Rennes. Tão introvertida quanto eu, e pelo que lembro, nunca nos falamos mais do que o necessário. É disso que gosto nela, e, foi ela quem desenvolveu minha paixão por livros. "Você não odeia livros, você não gosta dos entediantes e estúpidos". 

Como eu amo essa personalidade forte dela.

— Bom dia! — sorri para todos; Frankie e Michelle sorriam de volta, mas Susie não. E eu não esperava que em um dia aleatório ela sorrisse à toa.

— Tem mancha de creme dental na sua camisa, patricinho — declarou Michelle pondo o dedo na mancha.

— Aqui — Frankie tirou água de sua garrafa e jogou um pouco, a mancha sumiu.

— E então, como foi o sábado de vocês?

— Joguei "vôlei" e me arrependi — Frankie cobriu seu rosto com suas mãos em sinal de depravação.

— Tem time de vôlei na cidade agora? — indaguei confuso.

— Não era nada em especial, só pegamos uma bola e uma rede e fingimos ser vôlei profissional.

— Tinha que ter algo atlético — Michelle revirou os olhos e se virou para mim fazendo pose. — Meu sábado foi compras e mais compras. Comprei dois pares de botas novas!

— Nojento — Frankie resmungou entediado. — Falando assim você parece a Caeli.

— Pelo menos ela é fina.

— Fina, chata e patricinha — Frankie resmungou.

Caeli era minha amiga de infância. Exatamente, era. Nesses últimos anos deixamos de nos falar e ela se tornou a popular da escola, o total oposto de mim. Ela esbanja atenção, e eu odeio ter as pessoas nos meus pés. De que adianta ter tanta gente cabeça-oca?

Frankie e Michelle continuaram a conversar, enquanto observo Susie que ainda não pronunciou uma palavra. Ela estava lá, sentada com suas mãos em um livro. Um olhar profundo de quem não pertencia mais a essa realidade. Isso sim era algo atraente.

— Problema? — Susie olhava para mim de forma indiferente.

Quase me engasgo, mas respondo um "não".

Começamos a nos dirigir até a casa de Susie. Fiquei ansioso já que fazia um ano que não entrava lá. Maldito nervosismo precoce. O sol começou a esquentar, e quando era por volta das sete e meia, já chegava aos vinte e cinco graus. Ao viramos a esquina, lá estava: o velho portão vermelho. Lembro de brincar junto de Caeli e passarmos de bicicleta por aqui. Susie sempre me trazia torta de limão, minha favorita.

Fiquei parado por um minuto, quando Frankie pôs sua mão na minha cabeça.

— Perdido nos pensamentos? — disse ele enquanto observamos Michelle e Susie entrarem pelo portão.

— Sempre.

— Vai dar tudo certo. Quando jogava, eu meditava uma hora para poder me acalmar.

— Impossível eu conseguir tudo isso, fico impaciente com dez minutos.

— Será impossível se não tentar — Frankie deu uma piscadinha para mim e foi de encontro com as meninas.

É. Ele tem razão.

A casa estava tão diferente quanto podia lembrar. Provavelmente o senhor Patrick não suportaria ter as mesmas decorações. Se me lembro bem, Susie me disse uma vez: — Meu pai tem a estranha mania de gostar de redecorar a casa totalmente todo ano.

— Tirem os sapatos — declarou Susie abrindo a porta com sua chave.

Na porta, havia um lindo tapete com o nome da cidade e uma abóbora. Quando Susie abriu a porta, a música clássica invadiu meus ouvidos. Um piano tocava no fundo, mas vinha de um som. O piso era de madeira, um típico clássico também.

Pela sala já podia se julgar o resto da casa. Michelle tinha condições, mas Susie não fica muito atrás de Caeli de forma alguma. Se encontravam plantas decorativas, uma enorme mesa de jantar, dois sofás brancos e um enorme aparelho televisor. Deveria ter por volta de cinquenta polegadas.

— Chá? — Susie ofereceu enquanto pegava o bule.

— Não gosto — disse Frankie. — Posso me sentar no sofá?

— Vou querer — disse Michelle.

— Sem problemas — Susie retomou ao foco. — Qual filme assistiremos?

— Susie, onde você guarda os seus DVDs? — perguntou Michelle olhando a gaveta perto da TV.

— Minha mãe pôs no porão, vou pegar.

— Quem guarda isso em um porão?

— Desista de entender a família dela — eu disse suspirando.

Michelle me empurrou para perto de Susie.

— Minha asma nem permite que eu me aproxime, vocês dois vão! — exclamou Michelle sorrindo de forma falsa.

— Frankie? — pedi ajuda.

— Fora de cogitação, mas não se preocupe — Frankie usou seu polegar de forma positiva para mim.

Olhei os dois de forma mortal, mas segui Susie. Isso ao menos serviu para conhecer a casa dela melhor. Demos uns dez passos até adentrar em um corredor mais afundo.

— Fica aqui — Susie pressionou um botão na parede e o chão tremeu.

A entrada estava emperrada; me ofereço para ajudar, mas era duro demais.

Susie chuta a porta, e a mesma abre.

— Ok, você sabe se virar — disse indo para trás da mesma. 

Susie sorriu para mim. 

Descemos para o porão, um armário cheio de DVDs estava ali; branco. Tão branco como tudo o que vi no meu sonho. A luz de fora alcançava apenas ele, mas no porão deveria ter muitas outras coisas.

— Problema? — repetiu novamente Susie enquanto pegava alguns discos.

— Nada demais, estava apenas incomodado com um pesadelo que tive.

Susie se aproximou e ficou em minha frente. Ela era tão alta quanto eu, e isso era estranho. Fora isso, ela também tinha um corpo atlético sem praticar nada.

— Quer contar? — a mesma disse para mim de forma indiferente.

— Sim.

Explico apenas partes para ela, a mesma me olha e solta um sorriso.

— Talvez seja minha culpa por te viciar em livros reflexivos demais?

— Não acho que seja, foi apenas um pesadelo.

— Isso foi poesia pura, Pietro.

— Apenas pega os filmes e vamos sair daqui.

Susie assentiu e nos dirigimos novamente para a sala após Susie pressionar o botão e o porão se fechar.

— Escolham qualquer um — disse Susie entregando os DVDs para Frankie e Michelle. — Pietro, pode me seguir por um minuto?

Assenti com a cabeça. O que ela iria querer se acabamos de nos falarmos? Segui Susie pelas escadas, até chegarmos ao seu quarto: havia uma estante cheia de livros de todos os tamanhos.

— Acho que você está pronto — Susie me entregou um especial livro. 

Eu reconheci no exato momento. Se chama "A metamorfose", eu nunca li algo com uma linguagem mais difícil. Havia uma foto assustadora de uma borboleta na capa. Seguindo o raciocínio dela, eu li esse livro há uns meses atrás, e não entendi nem acompanhei a estória. Se ela me entregou de novo significa que li livros suficientes para entender agora.

— Obrigado — sorri generosamente voltando para a sala.

O dia foi assim, aproveitamos nosso último dia de férias juntos. Era a segunda vez que fazíamos isso, então ainda não me acostumei. Assistimos e comemos sanduíche das oito às onze. Já era hora do almoço quando a mãe de Susie apareceu nos convidando.

Todos nos dirigimos até o ar livre; havia uma mesa onde dava-se para se contemplar a floresta. A mesma mesa estava cheia de comida. Havia peru e comida parecida com clima de natal. Não entendi bem o porquê. A família de Susie era mesmo estranha, inclusive ela não era uma exceção dessa estranheza.

Comemos, conversamos, brincamos, andamos, cantamos, lemos e esse foi o nosso dia. Michelle foi embora de duas da tarde após receber uma chamada de sua tia, restando só Frankie e Susie juntos de mim.

Frankie falou o quanto gostava de treinar e corria todos os dias, e após isso fizemos milk-shake com um sorvete de creme que havia na geladeira de Susie. Frankie reclamou do quão gelado que estava, enquanto eu ria e Susie mexia em seu celular. Sentamos os três na varanda, observando o tempo; ninguém falou nada, apenas apreciando a paisagem. Fazíamos isso as vezes, era como algo terapêutico.

Era como algo típico, típico de Stowe.

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