silhouettes ✧ tododeku

By conterstellar

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Shouto não consegue dormir. Ele não tem certeza se a situação tinha relações com seus pesadelos, ou talvez co... More

capítulo único

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By conterstellar

Aquele dia não estava particularmente quente, mas Shouto nunca havia se sentido tão aquecido.

Havia começado com pesadelos e a sensação que a falta de familiaridade trazia rasgando seu peito e arranhando sua garganta. Tudo sempre parecia ser assim quando Shouto parava para pensar; apenas era menos frequente quando ele tinha seu foco em questões menos urgentes. Pensar em manter suas notas estáveis na escola era algo confortável, pois ele não precisava lidar com seus próprios pensamentos dolorosos enquanto mantinha o foco em algo menos fatal.

Desde que eles haviam se mudado para os dormitórios, Shouto não esteve tendo suas melhores noites de sono. Seu andar era normal, seus vizinhos de quarto mantinham um silêncio suficiente para que ele desconsidere a ideia de que talvez sua falta de sono tenha uma culpa externa. O máximo de barulho que ele já ouviu fora de seu quarto após o toque de recolher havia sido Kaminari e Kirishima convencendo Sero a passar a noite no quarto de Bakugou com eles naquela noite.

Naquele dia, Shouto agradeceu por não ter Bakugou como seu vizinho, pois ele conseguia imaginar como ele deveria ter reagido com os três aparecendo em seu quarto daquele modo.

Não havia levado muito para Shouto perceber que talvez tenha sido a mudança repentina de ambiente. Ele havia dormido em sua própria casa desde que se entendia por gente, nunca passando a noite na casa de um amigo porque ele não tinha nenhum, e nem com familiares porque seu pai jamais o deixaria sair de sua vista. Talvez, por ser a primeira vez que Shouto dormia em um lugar estranho, seu corpo inevitavelmente sentia certa estranheza também.

Não havia nada naquela noite que a diferenciava das outras, de início. Shouto rolou em sua cama após acordar de um pesadelo que envolvia sombras e chamas até decidir que não iria conseguir adormecer tão fácil mais uma vez. Ele se levantou e desceu para a sala, pronto para ficar sentado encarando o nada enquanto tentava se esvaziar de pensamentos.

Havia sido diferente dessa vez porque quando Shouto chegou a seu destino, já havia alguém sentado ali.

Aquela havia sido a história resumida de como Shouto havia acabado no quarto de Midoriya, deitado entre a parede e o corpo do garoto enquanto ele tentava identificar seus olhos verdes no escuro.

Na história completa, Shouto diria que não tinha intenções de acabar naquela situação. O que ele queria ter feito; o que realmente passou por sua cabeça quando ele chegou à sala e viu aquele cabelo verde enrolado havia sido virar em seu calcanhar e voltar para seu quarto. Mas ele não fez isso, porque se Midoriya estava ali, então algo também deveria estar em sua cabeça.

Shouto estava tentando ser um amigo melhor, então ele ficou e perguntou para Midoriya se ele estava bem.

Quando as histórias foram contadas e Shouto se encontrou encarando a figura escura de Midoriya debaixo da luz fraca que a lua refletia pela janela, ele se perguntou se aquilo significava que ele estava sendo um bom amigo ou se era apenas parte de mais um dos seus desejos egoístas.

Era difícil discernir as coisas mais óbvias às vezes.

"Todoroki-kun? Você está dormindo...?" Midoriya havia sussurrado em algum momento. Shouto tinha quase certeza que havia caído no sono de olhos abertos, pois ele não conseguia se lembrar de um momento em que não tentava processar todos os detalhes do rosto de Midoriya desde que eles haviam se deitado ali.

"Não." sua voz soava estranha no silêncio do quarto, e Shouto ficou agradecido por não ter saído em um tom mais alto do que o necessário. Midoriya ainda estava próximo demais, mas Shouto estava desconfiando de que ainda havia espaço atrás dele no colchão. "Não sei se vou conseguir, na verdade."

"Ah... Eu também." comentou. O silêncio se fez presente mais uma vez. Não era necessariamente desconfortável, mas Shouto preferia não ouvi-lo quando Midoriya estava deitado com ele em um espaço apertado como aquele no escuro que o quarto oferecia. Pensar em sombras e em infinidades de desesperança era o exato oposto do que Shouto precisava naquele momento. "Fico me perguntando se essa foi mesmo uma boa ideia."

Shouto sentiu uma sensação de decepção em sua garganta, mas ele tentou a engolir com uma falsa indiferença.

"Eu posso ir embora."

"Não!" Midoriya se adiantou, levando a mão para o braço de Shouto antes mesmo que este fizesse qualquer movimento que indicasse sua saída. "Uh- Quero dizer... Você pode ficar. Eu gosto da sua companhia. Prefiro isso a ficar sozinho."

"Tem certeza? Estou ocupando seu espaço. E... Seu cobertor também, acho." disse Shouto, chegando á uma conclusão ao perceber suas pernas enroscadas no cobertor que enfatizava as cores do grande All Might. Shouto chutou o cobertor até este deixar seu corpo e cobrir Midoriya, ao invés. "Não sei por que isso aconteceu."

Midoriya riu levemente. Era um som confortante. Shouto achou que poderia encontrar novos modos de adormecer com facilidade se aquilo significava que poderia ouvir aquela risada mais vezes.

"As pessoas sentem frio, Todoroki-kun. É natural." explicou Midoriya em um tom divertido, ajeitando o cobertor de um modo que pudesse cobrir seu corpo e o do Shouto. Aquilo parecia mais íntimo do que ele provavelmente tinha intenções, mas Shouto ainda sentiu borboletas em seu estômago.

"Eu posso regular a temperatura do meu corpo." disse Shouto em um tom informativo. Ele ficou encarando o cobertor cobrindo ambos seus corpos por mais tempo do que ele deveria. "Eu não deveria sentir frio."

"Bom, mas você sente. Então você se cobre, é assim que o resto de nós sobrevive." concluiu. O olhar de Shouto voltou para sua silhueta. Midoriya agora levava seu lado do cobertor até o nariz, deixando apenas os olhos expostos se Shouto pudesse enxerga-los com todo seu brilho. "E que graça tem dormir com um frio desses e não se enrolar que nem um burrito?"

"Estou convencido." disse, então puxando o cobertor até cobrir seu pescoço. Agora eles estavam quase espelhando um ao outro. Shouto engoliu em seco. O cobertor obviamente tinha o mesmo cheiro que Midoriya. "É só isso que vocês fazem quando está muito frio?"

Ele esperava que Midoriya notasse apenas o tom de brincadeira – ou, pelo menos, a tentativa – e não o tremor para a nova descoberta de Shouto. Talvez deitar na cama de Midoriya e passar a noite com ele não tenha sido a melhor ideia para os pensamentos e sentimentos esquisitos que Shouto esteve sentindo em relação ao rapaz ultimamente.

Midoriya demorou em responder, e Shouto logo entrou em pânico. Ele imaginava que Midoriya teria ouvido o tom implícito que ele esperava que ele não ouvisse, mas então Midoriya se ajeitou e riu mais uma vez.

Shouto tinha quase certeza que ele estava mais próximo agora.

"Bom, muito frio é igual á muitas camadas. Muitas roupas, muitos cobertores." explicou. Então, o tom de sua voz diminuiu. "O-Ou... Se você tem alguém com você... A-Abraços também estão nas opções."

Havia sido naquele exato momento em que Shouto começou á culpar sua mente meio adormecida para suas próximas ações e pensamentos que deveriam ficar apenas dentro de sua cabeça.

"Está nas nossas opções agora?"

O ambiente ainda estava escuro o suficiente para que Shouto mal consiga enxergar o rosto de Midoriya, mas ele ainda conseguia perceber quando seus olhos se arregalaram e seu corpo congelou de surpresa.

Shouto também quase conseguia sentir o modo como Midoriya havia ficado vermelho com a pergunta.

"U-Uh, e-eu não s-sei! E-Está? P-Pode... P-Pode... T-Talvez!"

Ele era tão adorável que fazia Shouto querer gritar.

Ao invés, ele continuou tocando no assunto que ele jamais mencionaria se estivesse acordado totalmente.

"Midoriya." chamou, tentando encontrar seus olhos por trás do cobertor. Midoriya fez um som de reconhecimento. "Você quer que nos abracemos para compartilhar calor?"

Midoriya produziu um som irreconhecível, mas Shouto imaginou que fosse pela surpresa. Em sua opinião, aquela oferta não parecia muito ousada, mas ele também não podia julgar muito por trás do sono ocupando sua mente de pouco em pouco. Talvez aceitar o convite de Midoriya de dormir com ele havia sido uma boa ideia, afinal.

"I-Isso s-seria l-legal!"

Shouto não estava muito acostumado com contato físico, mas ele havia apreciado aquele momento em que havia entrelaçado as pernas com as de Midoriya enquanto sentia seu corpo pressionado contra o próprio. Ele costumava sentir seu lado esquerdo mais aquecido do que o direito, naturalmente. Mas naquele momento, com Midoriya abraçando seu torso de um modo tímido, ele havia sentido certa igualdade nos dois lados em aspectos ambos físicos quanto emocionais.

Midoriya estava olhando para ele, mesmo após certo tempo. Shouto conseguia sentir seu olhar. Talvez tenha sido aquilo que o manteve acordado por tanto tempo.

"Ainda não consegue dorm-"

"Posso te beijar?"

Shouto parou imediatamente, arregalando os olhos e sentindo um puxão em sua respiração. Ele queria se sentar para processar aquelas palavras com mais atenção, mas Shouto sentia que se fizesse algum esforço que, de alguma forma, afastasse Midoriya de seu corpo, ele não voltaria mais.

Mas de uma coisa ele tinha certeza depois de tal pergunta, e aquilo havia sido que Midoriya era capaz tanto de fazê-lo adormecer com mais facilidade quanto de acordá-lo com efetividade.

"O que..."

Midoriya parecia finalmente perceber o que havia dito durante seu impulso. Talvez ele também estivesse pensando com apenas metade do cérebro acordado.

Ele arregalou os olhos e tentou afastar-se de Shouto.

"Oh meu- Desculpe! Eu não quis dizer isso! E-Eu..." começou, nervoso. "A-Acho que e-estou m-mesmo com sono..."

"Midoriya."

"Sinto muito, Todoroki-kun, e-eu não queria t-te deixar desconfortável..."

"Você pode me beijar."

Midoriya se interrompeu. Naquele momento, Shouto tentou imaginar que ele já estivesse adormecido e aquilo tudo fosse um sonho, afinal. Faria mais sentido do que uma realidade em que Midoriya realmente tivesse interesse em beijá-lo.

"O-Oh! U-Uh, e-eu não sei..." Midoriya começou, tentando enterrar o próprio rosto em uma das mãos. Shouto continuou olhando em sua direção, esperando pelo pior. Ele esperava que não fosse apenas um sonho, mas Shouto sabia muito bem o tipo de pessoa que ele era e o tipo de pessoa que Midoriya era. Midoriya era o sol. Sempre radiante e um alguém que merecia o mundo. Shouto não merecia Midoriya. Ele era bom demais. "Você... Você t-tem certeza?"

Certo de que tudo seria parte de um sonho pela manhã, Shouto assentiu.

Midoriya não o beijou nos lábios, e, de alguma forma, Shouto estava grato por isso. Era mais pelo fato de que ele não saberia como iria acordar no dia seguinte e pensar em como beijar Midoriya havia sido em seu sonho e como aquilo nunca se tornaria realidade.

Mas então ele percebeu que ele jamais poderia imaginar algo como aquilo, por mais breve e simples que havia sido.

Midoriya inclinou-se na velocidade de uma piscada e beijou a bochecha direita de Shouto. Então ele voltou á sua posição inicial e o abraçou como se nada tivesse acontecido. Shouto sentia-se paralisado com a sensação boa em seu estômago e no canto que os lábios de Midoriya haviam tocado.

Eles continuaram abraçados, e o silêncio de repente não o incomodava mais. Ele tinha certeza que não estava sozinho dentro de um pesadelo com sombras que gritavam ordens sobre quem ele deveria se tornar.

Shouto dormiu bem como nunca havia antes, com Midoriya o abraçando e ele o abraçando de volta de um modo que nem o melhor de seus sonhos poderia prever.

Aquele dia não estava particularmente quente, mas Shouto nunca havia se sentido tão aquecido.

-x-

aaaah é a primeira fic de tododeku que eu tenho coragem de postar! 

já peço desculpas pela caracterização e o negócio meio corrido. eu escrevi sem pensar muito no que estava fazendo e depois achei que eu deveria parar de me criticar tanto e começar assim; postando uma história curta e meio sem sentido

enfim, espero que tenham gostado, de qualquer forma!

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