Delitos (Romance Gay)

By d_sell

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De um lado, Tyler, seus problemas em casa e sua falta de aceitação pessoal o fazem cometer o ilícito para aju... More

Considerações Iniciais
Capítulo I - Ao Chão
Capítulo II - Traços
Capítulo III - Consequências
Capítulo IV - Cores
Capítulo V - Permita-se
Capítulo VI - Desabafos
Capítulo VII - Complicações
Capítulo VIII- Cerco Fechado
Capítulo IX - Deriva
Capítulo X - Aproximação
Capítulo XI - Sob o Gotejar
Capítulo XII - Decorrência
Capítulo XIII - Tentativas
Capítulo XIV - Perspectivas
Capítulo XV - Ao Acaso
Capítulo XVI - Solidão Ilusória
Capítulo XVII - Amenidades
Capítulo XVIII - Sentimentos Desapercebidos

Capítulo XIX - Alma Liberta

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By d_sell


CHEGAY, depois de muito tempo. Demorei muito e gostaria de pedir, do fundo do meu coração, que vocês comentassem o máximo que puderem, pois preciso de um denguinho :c haha, e votassem também :c Delitos não tá saindo do lugar e isso tem me deixado bem desmotivado, confesso. Então, por favorzinho, façam esse agradinho para este autor que vos fala.

Peço para vocês, também, meus amores, lerem as notas finais <3

Acabei literalmente agora o capítulo, dei uma revisada por cima, perdoem qualquer erro e: Boa leitura!

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[Em Pinoa - Yan Selly e Greicy Hemily]

— O Tyler... é gay? — Yan questionou confuso, quase unindo as sobrancelhas cobreadas, dúvida esta que sempre quis obter a resposta.

Greicy sorriu divertida, suspirando em seguida.

Lá se vinha uma longa história...

Ela tinha a resposta na ponta da língua mas, por alguns — senão vários — momentos cogitou, realmente, expor o amigo, não por mal, só para acabar com aquela discussão recorrente de uma vez por todas. Entretanto, em um devaneio, lembrou-se do dia em que Tyler chegou até ela, estranho e ansioso, com a respiração acelerada; mantendo os olhos inquietos, trêmulos, como se pedisse ajuda. E, diante daquele garoto amedrontado, tentando cuspir as palavras que embolavam em sua garganta, ela finalmente o entendeu. Ele pensava ser muito diferente dos demais, não estava sabendo lidar consigo mesmo e, além de ter Greicy como sua namorada, a tinha como amiga — a melhor, na época, talvez —, foi quando a garota, o abraçando e afagando seus cabelos negros finalmente conceituou essa diferença, após uma confissão sussurrada dele: sim, Tyler era sim, gay. Mas, em verdade, não era aquele monstro que ele achava ser, ele simplesmente se interessava por garotos e não garotas e, no fim, envolvia amor também. Seu crime seria amar? Não! Com todos esses pensamentos na mente da garota ela apertou o abraço, em seu quarto, há três anos atrás, em um voto mudo e secreto de confiabilidade.

Ela, jamais, iria arrancar Tyler do armário!

Então, após lembrar-se disso, voltando à realidade, Greicy sabia que seria injusta e cruel demais com ele, caso o expusesse.

Aquele momento de reflexão, embora parecesse longo, havia durado um punhado de segundos em sua mente. Suspirou, por fim, ajeitando-se no banco. Levou uma mão ao volumoso cabelo cacheado, definitivamente não sentia falta das tranças nagô, o melhor que fez foi ter assumido seu cabelo do jeito que era: volumoso sim, com frizz, sim, mas belíssimo, sim!

— Não posso... não sei responder, mas isso importa, afinal? — inclinou a cabeça para encarar o garoto ruivo, que mantinha suas sobrancelhas cobreadas franzidas há um bom tempo já.

Houve silêncio.

A brisa perpassava pelo cabelo de ambos, desgrenhando-os. Como se afagasse o ruivo, em um pedido de compreensão e calma. Afinal, o que a sexualidade do amigo interferiria em sua vida? A resposta estava ali, no silêncio e na brisa: nada. A sexualidade de alguém não interfere em absolutamente nada na vida de terceiros, a não ser que os mesmos não estejam bem consigo mesmos. Afinal, felicidade e auto aceitação incomodam, não?

— Eu só queria entender... — umedeceu os lábios finos com a língua — não entendo, não me importa se a resposta é sim ou não, só queria que... sei lá, ele visse que tô aqui pra ele, ué — coçou uma sobrancelha, incerto.

— Moleque... — Greicy sorriu, verdadeiramente, embora sutil — Tyler tem sorte por te ter como amigo, então, quando ele voltar, mostre que tá lá pra ele, aí ele vai ver — piscou para o garoto, apoiando uma mão em seu ombro.

Também, no fim, a história nem foi tão longa assim, mas foi capaz de satisfazer várias dúvidas e anseios de ambas as partes.

E, após mais um longo período de silêncio, mútuo, Yan finalmente entendeu que Tyler era Tyler, continuaria o mesmo, independente de tudo, pois, eram melhores amigos, verdadeiramente. Porém, ainda assim, o ruivo gostaria de entender melhor do assunto, e sabia exatamente a quem recorrer...

[CRS - Gabriel White]

Agosto havia chegado. Um semestre desde que chegou ao centro de reeducação social havia passado. Seis longos, porém corriqueiros, meses.

O tempo estava passando super rápido ultimamente, o que indicava que logo estaria voltando para casa, mas não para sua vida antiga, tampouco para um lar. Era um pensamento complexo e contraditório, mas que logo foi encerrado, focando-se no que fazia.

Seus olhos azuis brilhavam de emoção a cada pincelada que o garoto deslizava pela tela à sua frente. Estava tão feliz. Uma das novas atividades disponibilizadas era aquela: oficina de desenho e pintura. De arte, afinal.

Depois de ter passado um semestre todo sem pintar nada, quando o fez, o sentimento era outro... não era apenas uma tela em branco ali, disposta a ser preenchida. Não. Era algo único, seu primeiro desenho depois de tanto tempo, e aquela tela poderia ser pintada apenas uma vez! Ele queria dar um significado maior aquilo tudo. Assim como sempre fazia com suas pinturas e pichações.

No início, estava incerto do que pintar. Mas após lembrar-se de algo que escutou durante o almoço, soube o que fazer. E era o que fazia agora. Encontrava-se com as sobrancelhas acastanhadas, quase louras, franzidas, analisando, em uma expressão séria, com o pincel preso entre os dentes e o godê com as misturas de tintas posto na mão direita. Toda essa cena era destacada por um foco de luz que vinha diretamente de cima de si, no intuito de manter o local bem iluminado. Sorriu, por fim. Estava satisfeito com o que estava criando, ainda não havia acabado, longe disso, mas a paisagem ao fundo, junto à uma silhueta mais a frente já eram vistos. Estava tão compenetrado que sequer sabia o que as outras cinco ou seis pessoas a sua volta, na mesma atividade, criavam, tampouco importava, também. Era seu momento, apenas.

E aquele momento durou até o sino soar, indicando o horário de almoço.

[Tyler Devon]

— Tsc, para com isso... — respondeu risonho, já estavam minutos a fio naquilo, sem parar.

— Marginal, toma essa — Gabriel lançou-lhe o travesseiro, Tyler abaixou-se rapidamente, fazendo com que pegasse de raspão em sua cabeça — sorte sua que tá careca agora — parou para gargalhar, o amigo havia ficado muito engraçado com aquele corte de cabelo.

Após muito reclamar de estar cabeludo demais, Tyler seguiu Gabriel, que levou-o até a coordenação, e de lá, ele saiu com o cabelo raspado, sem saber se estava melhor antes ou depois de ter seguido seu colega de quarto. Mas cabelo crescia, então ele não se preocupava muito.

— Sai daí, Cachinhos Dourados — sorriu de lado, em deboche, pois enquanto ele estava quase careca, Gabriel tinha o cabelo maior, desgrenhado, algumas mechas ondulavam, outras formavam cachinhos, revoltos. Pegou então o travesseiro, jogando-o no loiro.

Gabriel segurou o travesseiro, murmurando "Marginal" para o outro, que sorriu mais ainda, com o comportamento infantil do garoto à sua frente. Tyler aproximou-se, apertando uma bochecha do garoto, falando com voz de criança:

— Oh, coisinha mais fofa — caçoou. Usando de humor para ter um momento mais descontraído e íntimo com o garoto, Tyler já reconhecia seus ínfimos, porém consideráveis, sentimentos, afinal.

Gabriel afastou a mão de seu rosto, colocando um pé atrás de Tyler, empurrando-o. Pelo ato inesperado, o garoto não conseguiu segurar-se, acabou por cair de bunda no chão. Murmurando, dolorido.

O loiro riu, maldoso.

— Cachinhos dourados: um, Marginal: zero — deu as costas, indo colocar os travesseiros em sua cama.

— Tsc — levantou-se, espalmando a parte de trás da bermuda, fazendo uma expressão de coitado, olhando para Gabriel, que agora o encarava — tu é mau, Ga... — sua fala foi cortada pelo alto som que a sirene fez. Desta vez não era o costumeiro sino soando, era a sirene, estridente e inconstante.

Ambos pararam, estagnados, encarando-se. O que estava acontecendo, afinal?

Gabriel foi o primeiro a se mexer, Tyler o encarava pelas costas, vendo-o ir até a porta, abrindo uma greta. Ao colocar a cabeça para fora, o garoto notou que muitos internos estavam no corredor, alguns meio perdidos, outros indo em direção ao pátio principal, então abriu toda a porta.

— Vamos? — olhou por sobre o ombro.

— Vamos? Pra onde? — questionou Tyler, confuso.

...

O amontoado de internos mantinha-se quieto, os olhos miravam-se para o diretor, alternando para outro aglomerado de jovens: eram os novos internos.

Tyler e Gabriel entreolharam-se, confusos, logo volvendo os olhos para os recém-chegados. Em um ato instintivo, o garoto quase careca aproximou-se um pouco mais do outro, deixando seus braços se encostando, sentindo-se acalentado pelo calor emanado, Gabriel o olhou de soslaio, aparentando não se importar, talvez até gostasse, quem saberia?.

E foi quando aconteceu: dentre todos os novos internos, um encarava Tyler quase sem piscar e, quando os olhares um do outro se encontraram, o garoto não pode deixar de arregalar os olhos: era Dylan. Inacreditável. Um punhado de más lembranças rodeou a mente de Tyler, trazendo à memória o dia em que o diretor saiu da cabine daquele banheiro pouco utilizado, pegando-o no flagra. Dylan. Aquele nome o remetia a muitas emoções voláteis; mal podia acreditar que ele havia sido pego e agora estava alí, no mesmo lugar, consigo. Tyler desviou os olhos, queria ignorar momentaneamente a existência do garoto no outro grupinho. Focou-se então em Gabriel, olhando-o de soslaio, sabe-se lá o motivo.

— Que foi? — questionou o loiro, ainda olhando para frente, estático.

— Nada... — franziu o cenho, confuso, achava que Gabriel não tinha noção de seu olhar direcionado à si. Contraiu-se, estranho, quebrando o contato com o calor do braço do loiro.

— Tudo certo? — Gabriel direcionou o olhar à Tyler, mirando-o nos olhos — hein? — voltou a questionar, aproximando-se minimamente, fazendo seus braços tocarem-se de novo.

Tyler notou, e sorriu com isso, sutil demais para ser percebido. Embora parecesse estranho, para ele, poderia ser um sinal, ou não. Mas queria acreditar que sim, que queria dizer alguma coisa, então, aos poucos, voltando a tranquilizar-se, relaxou os ombros, fazendo com o contato parecesse ainda mais próximo e, simples e momentaneamente, ignorou os olhares persistentes de Dylan.

...

Duas semanas haviam passado depois dos recém-chegados terem atracado ao CRS, os internos de mais tempo mal tinham contato com eles, visto que as atividades, bem como local das mesmas, eram totalmente opostas. Não só isso, também parecia haver uma bolha que isolava um grupo do outro, haviam exceções, obviamente, mas de modo geral, um não se misturava com o outro.

E, daquela maneira, apenas com internos de longa data, assim dizendo, a roda era composta. Mais um vez, Sabrina e Lola haviam reunido um grupinho de pessoas para jogarem o jogo da garrafa — sem garrafa, no caso —: para uns, tudo certo, já os mais viciados em passar vergonha, apenas aceitavam os desafios que lhes eram incumbidos, pouco importavam-se.

— Vai lá, Lucas, pergunta... — apressou Lola. A ponta do graveto que indicava quem respondia a pergunta ou desafio estava direcionada para Sabrina.

— Tá, tá, tá, não enche — replicou o garoto, fazendo uma careta para Lola, após isso, depois de uns segundos de silêncio, ele iniciou: — é verdade que você e ela — apontou de Sabrina para Lola e vice-versa — são machorras? — deu uma risadinha sacana no final.

O clima de descontração e riso fácil se dissipou, tornando-se uma situação hostil e um tanto quanto desagradável. Gabriel, que estava sentado ao lado da garota de cabelos róseos, se intrometeu:

— Argh, oh o termo que você usa, garoto — franziu o cenho, após encarar o garoto à sua frente, emissor da pergunta.

— Que tem? — fez-se de desentendido — é o mesmo que eu perguntar se você e o Tyler são bichas, não? — voltou com sua risadinha sacana.

Tyler, que estava mais ao lado, encolheu os ombros, desconfortável demais para reagir, ter aquilo exposto assim, sem que ninguém, outrora, o tivesse feito, lhe dava uma sensação ruim no peito: o jeito como Lucas desferia suas palavras parecia um juiz acusando o réu, embora, neste caso, não houvesse réu, tampouco um juiz. Enquanto isso, Gabriel, que era loiro, tinha sua face transfigurada, rubra como sangue. Irado.

Devon pensou em levantar-se e ir até o amigo, tentando tranquilizá-lo pois, como o conhecia, sabia que Lucas já havia sido brutalmente assassinado em trinta e cinco formas diferentes em sua mente. Após um longo e mortífero inspirar do loiro, ele cuspiu as palavras:

— Eu não sou uma bicha, garoto — fez cara de nojo — eu sou a bicha, viado mesmo, viadíssimo e isso, jamais, vai me fazer menos que ninguém e também — pausou para respirar — não te dei, em momento algum, intimidade pra me elogiar desse jeito — levantou-se, sacudindo areia da bermuda — Tyler, vem cá — o moreno sentiu-se levemente acuado com a intensidade que aqueles olhos o miravam, mas, meio incerto, levantou-se e parou ao lado de Gabriel — vamos pro quarto, e você aí — apontou para Lucas, alternando da areia para ele — ajunta sua cara do chão, seu tombado — deram as costas, caminhando vagarosamente.

Tyler olhava para toda a situação, assim como os demais que compunham a roda, com um olhar de espanto, o gatinho dócil que Gabriel aparentava ser havia se transformado em um leão imponente e voraz por justiça. Tyler, mais uma vez, se viu invejando tamanha força.

Quando a situação já parecia alterada o suficiente, Tyler sentiu sua mão ser tocada e, não só isso, seus dedos entrelaçarem-se à outros. Arregalou os olhos, então. Quis parar, pois, de maneira alguma, sabia como agir. Seu coração acelerou e, olhando de soslaio, viu Gabriel aproximar-se de seu rosto, então sussurrando:

— Segura minha mão — sorriu por fim, com o intuito de fazer os demais acreditarem naquele teatrinho barato.

Teatro este que não durou muito pois, assim que viraram no corredor, Gabriel desfez o toque, sorrindo levemente para o garoto em agradecimento. Sem ouvir mais nada, Tyler o viu andar em direção ao dormitório e, sem saber exatamente o que fazer, simplesmente o seguiu.

Ao chegar, momentos depois do outro, o notou sentado em sua cama, com as mãos postas sobre as coxas, encarando o nada. Tyler não sabia que um simples comentário fosse o afetar tanto, então, sem nada dizer, apenas sentou ao seu lado, pondo uma mão em seu ombro, apertando levemente o toque. "Eu estou aqui", pensou em dizer, mas ao sentir a mão de Gabriel apertar a sua, em compreensão, entendeu que o garoto já sabia isso, já entendia que sim, estava ali para ele. Por ele.

— Só minha mãe sabia de mim... — iniciou Gabriel, rompendo o silêncio — e depois que ela... morreu, eu prometi a mim mesmo que seria eu mesmo sempre, porque não me perdoaria caso tivesse morrido naquele acidente escondendo quem eu era, quem eu sou...

Fez uma pausa, ajeitando-se na cama, para encarar Tyler.

— Algumas coisas eu não te contei ainda — quebrou a sequência de sua fala, desfocando o que dizia — como... eu ter nascido de uma traição, por exemplo. Meu pai é casado com uma mulher chamada Becca há muito tempo, mas ela é estéril, meu pai sempre quis ter filhos e bem, o resto você já consegue imaginar — outra pausa veio, Tyler olhava atentamente para o garoto, tentando lê-lo, embora falhando — acabou acontecendo que essa traição não gerou apenas um filho, mas gêmeos, minha madrasta acabou descobrindo e pelo que me contaram, ficaram separados por alguns meses, mas meu pai foi muito insistente...

Mais uma vez, Tyler via-se sem saber o que fazer, quando Gabriel pausava sua fala, sentia que deveria dizer algo, complementar com algo, mas tudo o que fazia era calar-se. As mãos ainda permaneciam juntas, num toque frouxo, despreocupado.

— Então eles voltaram. E depois de mais uns meses, Becca queria nos conhecer, eu e a Isa, mas como éramos pequenos demais, com o tempo, passamos a chamar ela de mãe também, então a gente tinha duas mães e um pai — sorriu, nostálgico ao lembrar-se — e Becca tinha um brilho nos olhos quando nos via, mas não sei o que houve, com o tempo passando, a gente crescendo, esse brilho foi... morrendo. Só sei que tudo piorou depois que minha mãe morreu e eu me assumi, meu pai ficou muito arrasado com a perda da filha e até hoje se enfia em trabalho e mais trabalho pra ocupar a mente. Tudo isso acabou desestruturando demais nossa família, os conflitos entre mim e Becca começaram a aparecer e... não a chamo mais de mãe, talvez, há muito tempo atrás ela tenha sido, mas hoje, não mais...

Outra pausa, desta vez, Tyler viu Gabriel desviar o olhar, focando-se em um ponto aleatório e fixo, inspirando e expirando várias vezes. Seu peito subia e descia.

— Por muito tempo eu escondi quem era, como já falei, e isso, de alguma forma, me afeta até hoje, mesmo não me escondendo mais — Tyler voltou a ser encarado pelos grandes olhos azuis do garoto — o que quero dizer é que...o que me afetou não foi ele, o Lucas... ter tirado comigo, mas sim contigo e com as meninas — referiu-se a Lola e Sabrina — é muito fácil ele, todo padrãozinho apontar as coisas com o tom que ele fez, sem saber de nada. Argh, ele sequer sabe se você e as meninas são realmente, como pode dizer algo assim?

Aquela pergunta pairou no ar, sem uma resposta imediata. Mais uma vez, Gabriel pausou sua fala, enquanto Tyler, cada vez mais, com uma vontade crescente dentro de si, cogitava resolver de uma vez por todas o que lhe importunava. Então, por mais um punhado de segundos em reflexão, ele expôs:

— Mas eu sou assim também... — falou baixo, meio para dentro. Quebrou o toque das mãos, levando-a ao seu colo, juntando as duas.

— Assim como? — questionou, arqueando uma sobrancelha — diga... — sussurrou essa parte, visando não parecer uma imposição, mas sim um pedido.

E foi quando Tyler levantou-se, indo até o meio do quarto, nervoso, com as mãos suando, embora passasse-as de momento em momento no lado da bermuda, no intuito de secá-las, disse:

— Eu sou... como tu — pigarreou, tentando achar coragem na força que inspirava o ar para dentro de seus pulmões — gay — confessou, finalmente — eu sou gay, Gabriel! — desviou o olhar, meio envergonhado ou desconfortável.

Gabriel marchou até Tyler, a passos pesados. Seus olhos azuis brilhavam tão intensamente que era ainda mais desconfortante toda a situação. Parando em frente à si, Tyler sentiu a mão do outro tocar seu rosto, mais precisamente seu maxilar, endireitando-o , obrigando-o a olhá-lo.

— Preste bem atenção — sacudiu sutilmente o maxilar do garoto, frisando que queria a noite negra estrelada focada no mar, não tão, manso azulado — nunca. Nunca, jamais se envergonhe de quem você é, entendeu bem? — a cada palavra dita, parecia aumentar a intensidade e segurança que seus olhos transmitiam — orgulhe-se de você, pois só você mesmo — tirou a mão do rosto do garoto e levou-a até seu peito, cutucando-o seguidas vezes com o indicador — só você, Tyler, sabe o peso de ser quem é. É um fardo diário dar a cara a tapa e, por isso, orgulhe-se.

Tyler até tentou balbuciar algumas palavras, mas nada que quisesse dizer saía, as palavras de Gabriel ricocheteavam em sua mente sem parar, várias e várias vezes. Soprando para se orgulhar:

"Orgulhe-se, orgulhe-se, ORGULHE-SE."

E, sem perceber, naquele silêncio novo, porém estranhamente estranho, uma lágrima silenciosa escorreu, afastando-se do céu negro estrelado.

— Você — continuou Gabriel, ele sentia que precisava dizer mais pois, quando o mesmo aconteceu consigo, ele não teve ninguém para confortá-lo — e eu... somos iguais, a todo mundo. Somos pessoas, Tyler — Gabriel disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, como bem era, levando ambas as mãos ao rosto do garoto, secando as lágrimas subsequentes a primeira — temos qualidades e defeitos, comemos, dormimos, pagamos impostos... temos direitos e deveres — pausou sua fala, suspirando pesadamente, como se sentisse toda a represa de sentimentos e dúvidas que impedia Tyler de final e plenamente se aceitar — choramos também... — sorriu docemente, compreensivo — mas infelizmente não é todo mundo que nos vêem como iguais, como somos, e é por isso que cabe a nós mesmos nos vermos assim, precisamos nos orgulhar de quem somos... de quem nos tornamos.

E mais lágrimas desceram, bem como mais palavras começaram a ricochetear em sua mente. Palavras tantas, de tantas direções, intensidades e significados. Mas, diferente de tantas outras vezes, essas palavras não confundiam, não doíam, tampouco atormentavam. Essas palavras, elas libertavam.

Libertavam seu espírito cativo, para ser quem fosse, legitimado a isso. Para amar quem quisesse, pois, amor é livre e, assim como as palavras desferidas por Gabriel, amor liberta também. E, por uma breve reflexão em sua mente, perguntou-se quantos Tyler haviam por ai, presos em um armário, cativos de serem verdadeiros consigo mesmos. E Tyler chorou mais, não só por si, mas como se sentisse o peso de todos os outros como ele por ai, presos. E, não aguentando mais a situação, em um ato inesperado, abraçou Gabriel. Forte e necessitado. O garoto nada disse, apenas permitiu-se envolver pelos braços do outro, enquanto afagava os cabelos curtos e negros, que espetavam em sua cabeça.

Bem como, após um longo tempo daquele jeito, abraçados, num desabafo mudo. Aconteceu, a luz de fim de tarde perpassou pela janela basculante do dormitório deles, iluminando-os: os cabelos loiros de Gabriel reluziam quase dourados, enquanto a pele pálida de Tyler era destacada.

Foi naquela alegoria que ele finalmente viu luz, liberto das trevas que assolavam sua mente. Mas ele sabia que não seriam flores, a luta seria diária, cotidianamente dando a cara a tapa, mas orgulhando-se de ser quem era. De quem estava se tornando.

No fim, Tyler Devon, era humano. Nenhum outro rótulo o representava mais do que isso. 


__________________________________

Demorei muito, mas chegay.

As novidades (razões da demora) são: final de curso, tcc, sou bolsista então tenho pesquisa e extensão, preciso arrumar trabalho, fiz vestibulares, aprovado fui e dentre tudo isso, passei por um grande e incapacitante bloqueio criativo (ainda não me resolvi com essa parte mas farei o meu melhor).

Agora, o mais importante: ESTAMOS NA RETA FINAL DE DELITOS! Recomendo a vocês lerem novamente  a sinopse para melhor entender o real intuito e até onde vai o desenvolvimento dessa história. Sendo assim: provavelmente, ainda terão mais uns sete capítulos, contando ou não com epílogo e considerações finais. E, vai ter livro novo sim, com temática LGBT+ também, só não sei se será fantasia, psicológico ou o mesmo tema de Delitos (FA).

Eu gostaria também de pedir, para quem realmente gosta de Delitos, compartilhe ele com os friends e aqui no wattpad mesmo. Esse livro é muito importante para mim pois, além de ser o primeiro e um projeto antigo, tenho o sonho de torná-lo livro físico futuramente, então seria maravilhoso se vocês pudessem fazer isso por mim.

Por fim, agradeço a quem esperou meu retorno e continua acompanhando o enredo, vocês são maravilhosos! Espero que continuem comigo até o fim.  <3

Fuis.

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