PDV - Pai
Eu não queria ver Michael daquele jeito. A partida de futebol havia sido bem ruim, mas eu já havia pensado em uma forma de deixá-lo feliz. O mesmo truque que meu pai usara comigo e que sempre funcionava pelo menos era o que eu achava.
[...]
Deixei a pequena caixa contendo os guarda chuvas de chocolate sobre a mesa e pude notar a feição de Michael sendo tomada pela curiosidade, mas isso durou pouco pois no momento que ele provou o pequeno doce, sua expressão mudou novamente.
— Que porcaria é essa?! — exclamou ele, cuspindo o que havia na boca e jogando no lixo junto com o restante do doce, me deixando sem palavras por alguns segundos.
— Eu só queria fazer você se sentir melhor... Por conta do jogo de ontem. — Respondi depois de pensar por alguns momentos e tentar escolher as palavras corretas. Estava me sentindo culpado e nem sabia direito o porquê.
— E por que achou me isso me ajudaria? — Com um revirar de olhos, Michael mostrou os doces sobre a mesa.
Naquele momento, milhares de memórias inundaram minha mente: as tardes depois dos jogos de futebol, as reuniões com os amigos, as boas notas dos boletins, as recompensas por ter ficado quietinho durante a missa. Tudo isso banhado a muitos guarda chuvas e bolinhas de chocolate, sorvete seco, entre outras coisas. E foi isso que contei a ele. Que aqueles doces podiam não ser as melhores coisas do mundo mas não se tratava disso mas sim das lembranças, os momentos compartilhados com aqueles que amamos que tornara o gosto daquelas coisas dez vezes melhores.
E no final de tudo acho que minha história o comoveu porque daquele dia em diante, uma vez ou outra no final dos jogos de futebol e até mesmo por vontade própria, Michael comprava alguns doces e mesmo não gostando deles tanto quanto eu, acho que ele começou a sentir o gosto das memórias sendo criadas e o sabor de uma vida bem mais simples.