Como não se apaixonar

By Kamisbsantos

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"Se persistirem os sintomas o livro deverá ser consultado." Luisa Lemez se apaixonou perdidamente aos quinze... More

Epígrafe
1° capítulo
2° capítulo
3° capítulo
4° capítulo
5° capítulo
6° capítulo
7° capítulo
8° Capítulo
9° capítulo
10° capítulo
11° Capítulo
12° Capítulo
13° Capítulo
14° Capítulo
15° Capítulo
17° Capítulo
18° Capítulo
19° Capítulo
20° capítulo
21° Capítulo
22° Capítulo
23° Capítulo
24° capítulo
25° capítulo
26° capítulo
27° capítulo
28° capítulo
29° capítulo
30° capítulo
31° capítulo
32° capítulo
33° capítulo
Bônus 25k
KAMIS: A FLOPADA

16° Capítulo

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By Kamisbsantos

"E eu só quero te dizer
É muito difícil para mim não te ligar
E eu queria poder correr para você
E eu espero que você saiba que toda vez que eu não ligo
Eu quase ligo, eu quase ligo"
Taylor Swift - I Almost Do


A noite passada foi um pouco estranha, pois, quem acabou sendo consolada foi eu. Era tão estranho ver Mag fazendo meu papel, mas confesso que ela atuou com maestria. Passei a noite chorando, deitada em seu colo, enquanto a mesma acariciava meus cabelos e dizia que ficaria tudo bem, sem ao menos saber o motivo.

Fiquei feliz quando ela respeitou o meu momento e não me forçou a dizer o que eu não queria. Diferente de minha mãe, que só saiu do meu quarto quando meu pai praticamente a carregou para fora.

No começo, ela até se mostrou preocupada, me encheu de perguntas, mas quando viu que eu não iria dizer nada, começou a brigar comigo e a dizer que eu estava fazendo drama, que isso era de tanto meu pai me mimar.

E não adianta, quando não quero falar, não tem ninguém que consiga me obrigar e eu realmente não estava preparada para falar tão abertamente sobre o assunto a não ser com o Marcos. Ele era o único que entendia minha situação. Mas no momento, estava me ignorando sem nenhum motivo aparente.

Só levantei da cama quando tive certeza que minha mãe já tinha ido para o trabalho, porque eu realmente não queria ter uma discussão com ela logo pela manhã.

Já passava de meio-dia quando tomei coragem e sai do quarto. Meu avô, Mag e Jasmim estavam na sala assistindo televisão, enquanto minha avó preparava o almoço. Igor não estava. E eu já sabia o porquê.

Ele deve estar me achando uma maluca que chora na frente das pessoas sem nenhum motivo aparente.

Já fazia tanto tempo que eu não chorava desse jeito, de chegar até soluçar. Mas também não tinha aparecido nem um garoto que despertasse o que estava adormecido dentro de mim. Eu só queria poder esquecer tudo isso e deixar claro para Igor que não era culpa dele, pois, pelo pouco que o conheço, sei que o mesmo deve estar pensando exatamente isso. Como todos da minha família.

Quando perguntei minha avó sobre ele, a mesma disse que ele não quis vir porque estava envergonhado, e que não sabia o que o mesmo tinha feito, mas que se eu quisesse, ela o faria ir embora no mesmo instante.

— Isa — Mag chamou, se curvando sobre a bancada da cozinha ficando de frente para mim. — Você quer conversar sobre aquilo? — ela perguntou baixo, para que minha vó que mexia algo dentro da panela não escutasse.

Terminei de beber meu café e suspirei fundo, negando com a cabeça. Sei que  deveria contar pra ela, e que eu estava sendo uma péssima amiga ocultando coisas assim, mas eu realmente não estava preparada. Toda vez que tentava contar, um nó se formava em minha garganta e eu sentia vontade de chorar.

— Mag, eu ainda não estou pronta pra falar sobre isso — falei, mordendo o lábio inferior, vendo a mesma concordar de cabeça baixa. — Não fica chateada comigo, por favor.

— Eu não vou. Só quero que você saiba que estou aqui pra você e que se você precisar, pode desabafar comigo. — Mag sorriu, dando aperto reconfortante em minha mão.

— Eu sei que sim. Obrigada!

— Tenho que ir em casa, se não daqui a pouco minha mãe me deserda. — Ela brincou, me fazendo rir. — Não que eu ache que ela tenha sentido minha falta ou que reparou que eu não estou em casa.

Pude perceber seu olhar triste, mesmo quando ela falou em tom de brincadeira. Mag não tem uma relação familiar muito boa, por isso que praticamente mora aqui e meus pais por saberem das condições da família dela, sempre a tratou como se ela fizesse parte da nossa.
O pai dela é caminhoneiro, vive sempre na estrada e é uma raridade quando ele liga ou vem visitar a família. A mãe é enfermeira no hospital municipal da cidade e sempre que pode faz plantão. E apesar de eu achar essa atitude muito nobre da parte dela, de ajudar as pessoas, acho que ela acaba deixando a desejar no quesito de cuidar da própria família.

— Eu vou indo então. — Mag contornou o balcão, vindo dar um beijo no topo da minha cabeça. — A gente se vê.

— Até mais — despedi, seguindo ela até a porta e esperando até que a mesma sumisse do meu campo de visão.

Fui direto pro meu quarto em busca do meu celular e como estava sem nada pra fazer, comecei a checar as redes sociais, mas nada me interessou. Entrei no aplicativo de mensagens e vi que a minha última conversa era com o Marcos e ele estava online. Digitei uma mensagem perguntando se estava tudo bem e se podíamos conversar, ele visualizou no mesmo segundo, mas não respondeu.

Esperei passar um tempo para ver se ele a respondia, mas a resposta não veio. Suspirei frustrada, pensando mais uma vez no que eu poderia ter feito de errado pra ele estar me dando um gelo, mas até no dia do meu aniversário tudo estava normal entre nós e aí depois disso nada aconteceu.

Olhei para a tela do celular mais uma vez e nada de sua resposta. Foi quando decidi ir até à casa dele. Tomei um banho na velocidade da luz, prendi o cabelo e eu já estava pronta.

— Vó, passa o olho na Jasmim enquanto resolvo um problema? — pedi, quando cheguei na cozinha e vi a mesma pondo a mesa. O cheiro da comida estava tão bom, que por um segundo, pensei em trocar o Marcos por ela.

— Mas agora? — questionou, despejando o molho branco em uma bandeja. Só pra mexer com meu psicológico e com meu estômago. — Tá na hora do almoço, não vai sair sem comer não! Vai que você dá um piripaque na rua e cai dura no chão?

— Vozinha, eu acabei de tomar café da manhã. Não vou dar um piripaque e eu não vou demorar muito.

— Come primeiro, Luisa — ela insistiu. Mais um pouquinho e ela conseguiria me convencer.

— Eu realmente tenho que ir agora, mas quando eu chegar, quero comer muito, porque eu estava com muita saudade da sua comida. — A papariquei e ela deu um sorriso convencido. — Volto logo. — Dei um beijo em sua bochecha e sai da cozinha.

Me despedi de meu avô e de Jasmim no caminho e saí de casa.

A sorte de se morar em cidade pequena, é que tudo é muito perto. Duas ruas depois da minha e eu já estava próxima a casa de Marcos.

Subi a Rua das Flores, onde já era considerado um bairro nobre da cidade. Onde existe só casas grandes e lindas. Até os paralelepípedos da rua já eram diferenciados, as árvores, o cheiro, tudo era melhor aqui.

Toquei a campainha da casa de Marcos e fiquei admirando a grande porta de madeira que devia custar um rim meu.

Enquanto eu estava distraída, comecei a ouvir uma gritaria, quando olhei para o outro lado da rua, vi Rafael e Diego brigando na porta da casa deles. Logo uma mulher de cabelos negros, a mãe deles, na qual eu não lembrava o nome, saiu tentando acalma-los.

Eu já sabia que Marcos e Rafael eram vizinhos desde sempre e que por esse motivo, eles se tornaram melhores amigos, inseparáveis. Até eu aparecer na vida deles.

— O que é? Perdeu alguma coisa aqui? — Rafael gritou para mim, quando viu que eu prestava atenção na conversa deles. Sua mãe o segurava, tentando o puxar para dentro de casa e o Diego eu já tinha perdido de vista.

Continuei o olhando sem dizer nada, quando a mãe dele conseguiu finalmente o colocar para dentro. Antes de fechar a porta, ela me pediu desculpas com um sorriso tímido nos lábios. Ela estava tão abatida e parecia estar se recuperando de um choro, assim como Rafael e Diego que também estavam com os olhos avermelhados.

— Luisa! — A mãe do Marcos, dona Clara, abriu a porta e deu um sorriso ao me ver. — Que bom te ver menina, sumiu daqui de casa. — Ela me puxou para um meio abraço, porque segurava uma vassoura com a outra mão.

— Ei dona Clara, tudo bem? — perguntei, tentando ser simpatia.

— Tudo bem, minha filha. Como é que tá seus pais? — Ela quis saber, se escorando no cabo da vassoura. — E sua irmãzinha?

— Tá todo mundo bem, graças a Deus. — Dei um sorriso sem jeito. Eu definitivamente não sabia conversar com as pessoas. Porque eu sempre ficava muito sem graça em situações assim.

— Entra, pode entrar — falou, me puxando pelo braço e fechando a porta.

— O Marcos tá aí? Tô precisando muito falar com ele.

— Ah, ele tá enfiado dentro daquele quarto nojento lá em cima. Desde ontem que não sai daquela cama — reclamou, passando o espanador pela mesinha de centro. — Daqui a pouco faz buraco naquele colchão!

Ela falou de um jeito engraçado, arrancando-me uma risada. Minha mãe e ela sempre se deram bem por conta desse lado de não ter papas na língua. Quando se juntam, falam mal de Deus e o mundo.

— MARCOOOOOOOS — gritou, quase me deixando surda. — Vai lá em cima, porque ele não vai querer descer. — Dona Clara concluiu, depois que viu que Marcos não a responderia.

Concordei com a cabeça e comecei a subir as escadas que provavelmente não custava só meu rim e sim meu corpo inteiro. O corrimão reluzia tanto, que eu até conseguia ver meu reflexo e o piso de porcelanato era tão branquinho, que eu quase tirei minhas sandálias para não o sujar.

Dei duas batidas na porta de Marcos, mas não vi nenhum sinal que ele viria abrir, por isso eu mesma fiz isto.

— Posso entrar? — perguntei apreensiva, mordendo a parte de dentro da minha bochecha.

Marcos tirou os fones e concordou com a cabeça, sem esboçar expressão.

Andei até a cama onde ele estava sentado com as costas escorada na cabeceira e tirei minhas sandálias, sentando mais perto que pude dele.

— Marcos, se eu fiz algo que te chateou, me diz pra eu poder consertar as coisas — eu pedi, segurando sua mão, mas ele nem sequer me olhou.

— Me desculpa por eu ter descontado em você ontem. Você não tem nada a ver com isso — falou depois de um tempo encarando nossas mãos.

— O que tá acontecendo?

— A Dani terminou comigo — explicou com os olhos marejados, me deixando desconcertada. — Eu fui um babaca de descontar isso em você.

— O quê? Porquê? — quase gritei, após ser pega de surpresa com a notícia.

Sabia que eles estavam mal desde do dia que o Marcos foi embora do meu aniversário com aquela carinha de cachorro que caiu da mudança, mas nunca passou pela minha cabeça que isso poderia acarretar o fim deles.

— Fui buscar ela na faculdade um dia antes do seu aniversário, quando cheguei lá, ela claramente estava flertando com um cara no estacionamento — explicou, suspirando fundo, sem deixar as lágrimas caírem. — Daí a gente discutiu lá mesmo, o cara entrou no meio e dei um soco no nariz dele... — Marcos deu uma pausa, antes de continuar: — Depois ela me contou que ele era o professor dela.

Tapei minha boca, para não dar uma de minha mãe e soltar uma risada em um momento desses.

— Mas eu juro, não é coisa da minha cabeça. Alguma coisa tá rolando ali — ele tentou se justificar. — O que mais me chateia, é que na primeira briga... Na primeira briga ela desiste da gente.

— Você acha que não tem volta? — perguntei franzindo o cenho. — Tipo, todo casal briga por ciúmes, isso é normal.

— Não sei não. Ela disse que sou muito infantil, que ainda não sei nada sobre a vida, que sou imaturo e que ela iria procurar um homem de verdade — contou, revirando os olhos.

Se Marcos não era o "Homem de verdade", eu não sabia quem poderia ser. 

— Sinto muito, Marcos — murmurei, acariciando seu braço e ele deu um fraco sorriso em resposta. — Não fica triste, a Dani é uma boboca! — exclamei, o fazendo sorrir. — Quem sai perdendo nessa situação é ela. Qualquer garota do mundo iria querer namorar contigo.

— Até você? — ele brincou, franzindo a sobrancelha incessantemente.

Ugh! Menos eu. Sei muito sobre seus poderes. Não seria capaz de lidar.

Marcos sorriu de novo, passando seu braço pelos meus ombros.

— Me fala sobre você e aquele cara lá — ele pediu, mudando de assunto. — Você ficou mordida quando ele e a Magda se beijaram, porque percebi. Não adianta nem tentar negar! — Bateu seu ombro no meu, me fazendo revirar os olhos.

— Eu não fiquei com ciúmes, que saco isso!

— É claro que ficou, Luisa.

— Ai, que seja! Ele provavelmente nem vai falar mais comigo mesmo, depois de ontem a noite.

— O que aconteceu? — Quis saber, se ajeitando na cama.

Soltei todo ar dos meus pulmões, sentindo aquela pontada de dor tomar conta de mim novamente. Mas eu sabia que podia contar com ele, que poderia me abrir sem medo.

— Eu comecei a chorar na frente dele. Porque lembrei do Rafael — contei, me sentindo a pessoa mais idiota do mundo.

— Ei, Luisa, não acha que já está na hora de esquecer essa história? — Marcos questionou fazendo uma careta, acariciando meu cabelo por trás da orelha.

— Você fala como se fosse fácil. — Soltei uma risada sem humor, já cansada de escutar sempre a mesma coisa dele.

— Fácil eu sei que não é, mas o que não pode acontecer é você desistir de tentar — falou, levantando meu rosto pelo queixo, para que eu o olhasse. — Já passou da hora de seguir em frente, Luisa. De tirar essa mágoa e rancor daí de dentro — ele dizia, apontando para meu peito.

— E você acha que não quero, Marcos? O que eu mais quero é seguir em frente, mas é muito mais fácil falar do que fazer!

— Acho que você deveria o perdoar — ele comentou, e eu o encarei tentando saber se ele realmente estava falando sério. — É sério. Eu acho que só assim você vai conseguir tocar sua vida. E outra, éramos tão crianças na época, não tem porque levar isso tão a sério assim.

— Eu me apaixonei de verdade por ele, Marcos. Pra mim foi muito sério, e eu não estou acreditando que você está sugerindo que eu o perdoe.

— Ele também se apaixonou por você. — O defendeu mais uma vez. — Pode não parecer por tudo o que ele fez depois, mas ele também sofreu com tudo isso.

Soltei uma risada anasalada, negando com a cabeça sem acreditar que o Marcos estava mesmo fazendo isso. comparando a "dor" de Rafael com a minha.

— Todo mundo comete erros, Luisa. E ele era praticamente uma criança.

— Por que tá defendendo ele, Marcos? — questionei, já irritada. — Você sabe o que ele fez, o quanto sofri com isso, então para de tentar defender ele.

— Eu não estou defendendo ele! Eu só estou cansado de toda essa história. Tô cansado de ver você se auto-sabotar toda vez que alguém se interessa por você. Não é porque o Rafael fez isso, que outro vai vir e vai a mesma coisa — retrucou. — Pessoas que vão te decepcionar, é o que mais vão aparecer em sua vida, o que você não pode fazer, é deixar elas te controlarem.

— Eu sei, você tem razão. Só que, é tão difícil — choraminguei, sentindo o nó se apertar cada vez mais em minha garganta. — Ele destruiu tudo de bom que eu imaginava sobre o amor. Tudo de melhor que eu sabia sobre esse sentimento, e agora... Eu tenho muito medo.

Sem dizer mais nada, Marcos me puxou para seu colo, me dando mais um abraço apertado.

O abraço dele sempre foi tão bom.

Me faz sentir segura.

— Eu só quero que você seja feliz, Luisa. E acho que isso só vai acontecer quando você tiver uma conversa séria sobre isso com o Rafael. — Marcos continuou com seu discurso, fazendo um cafuné gostoso em meu couro cabeludo. — Não tô dizendo que vocês precisam voltar a ter alguma coisa, o que precisam é colocar um ponto final nessa história — concluiu.

Eu sabia que Marcos estava coberto de razão em tudo que tinha me dito, mas eu ainda ficava receosa.

E seu eu tentasse conversar com Rafael sobre isso e ele debochasse de mim como gostava de fazer?

E se eu tivesse criando ilusões em minha cabeça sobre ele ter se importado comigo nem que seja um pouquinho e a realidade for completamente diferente disso? Eu me sentiria a pessoa mais tola do mundo!

— Sei que você tem razão, mas eu ainda não me sinto preparada para conversar com ele sobre isso.

— Tudo bem, só não demora para colocar esse assunto em dia — Marcos concluiu e concordei com um aceno, sentindo um pouco de alívio em meu peito por eu ter desabafado.

Ficamos conversando por mais um tempo e ele até me fez o ajudar a juntar as coisas da Dani – que não eram poucas – que estava em seu quarto.

Quando acabamos, eu decidi ir embora, pois eu ainda queria passar no hotel onde o Igor estava e deixar as coisas claras para ele.

— Luisa — Marcos me chamou, quando eu já estava na calçada de sua casa. — Acha que devo deixar a barba crescer?

Tombei a cabeça para o lado, arqueando as sobrancelhas.

— Por favor, não faça isso. Vai estragar sua carinha de bebê perfeita — opinei. Eu não gostava de homens com barba e também não conseguia imaginar Marcos com uma.

— Ah, tá vendo! A Daniella estava certa, eu pareço mesmo um bebezão! — ele ralhou, dando um soco na porta e logo após fez cara de dor. — O proferzinho lá tem barba. Mais um motivo pra eu deixar a minha crescer.

Andei até ele, rindo da cara do mesmo e o segurei pelos ombros.

— Marcos, não seja um homem das cavernas. Eu adoro sua cara de bebezão. — Eu ri e ele revirou os olhos, tirando minhas mãos de cima dos seus ombros. — Olha só essa pele de Barbie, qualquer pessoa iria querer ter uma dessas!

— Cala a boca, Luisa. Já pode ir embora, vai — ele disse irritado, me empurrando pela calçada.

Me despedi dele mais uma vez e segui meu caminho.

Ao chegar na recepção do hotel, logo reconheci a mulher que estava lá, pois a mesma trabalhava aqui muito antes de eu ainda nascer.

— Oi, Suzana — cumprimentei, chamando sua atenção.

— Ei Luisa, tudo bem? — ela perguntou simpática, enquanto juntava alguns papéis.

— Tá tudo bem sim e com você?

— Estou ótima! — Ela sorriu ao mesmo tempo, em que o telefone fixo tocou. Suzana apertou um botão e o mesmo desligou. — Veio visitar sua avó? Ela não está.

— É, ela está lá em casa. Mas esqueceu uma caixa de remédios aqui e pediu para eu buscar — menti, sorrindo. — Posso subir lá para pegar?

— Ah, se ela liberou tudo bem. O quarto é o 12°, no segundo andar — Ela disse, me entregando um cartão magnético.

— Muito obrigada. E será que você pode me dizer em qual quarto está o menino que veio com ela? — perguntei como quem não quer nada.

— É do ladinho, no 11°!

Agradeci a ela e subi de escadas. O elevador estava demorando muito e eu já estava quase tendo um ataque cardíaco de tanta ansiedade.

Bati na porta três vezes quando parei de frente para ela. Dei uma boa olhada pelo corredor que não havia mudado nadinha, quando ouvir Igor gritar lá de dentro que já estava vindo.

Igor colocou só a cabeça para o lado de fora e quando viu que se tratava de mim, pude ver o quão ele ficou sem graça.

Seus cabelos ainda pingavam água, dando a entender que o mesmo acabara de sair do banho. Ele estava sem camisa e vestia uma bermuda Tactel. Igor deu um meio sorriso, saiu de dentro do quarto e fechou um pouco a porta atrás de si.

— Oi.

— Oi — ele repetiu. — Você errou de quarto? O dos seus avós, é esse aqui do lado. — Igor apontou em direção a porta. — Mas acho que eles não voltaram ainda. Eles saíram para ir pra sua casa, não?

— É, eles estão lá ainda. Mas é que eu queria conversar com você.

— Ah — falou, apenas. — Pode falar então.

— Podemos conversar lá dentro?

Igor tratou logo de fechar mais ainda a porta e negou com a cabeça. O que foi muito estranho, por sinal.

— Acho melhor não. Seu pai proibiu que eu chegasse perto do seu quarto, então acho que isso vale pro meu também.

— O quê? — perguntei confusa. E ele começou a bater na própria testa, me deixando mais confusa ainda.

— Eu não deveria ter dito isso, desculpa. Não deixa ele saber que você sabe — Igor pediu, parecendo desesperado.

— Quando ele te disse isso, Igor?

— Ontem, quando tentei ir falar com você. Depois do que aconteceu — ele contou, receoso. — Daí ele me chamou para conversar lá fora, e pegou uma tesoura de jardinagem e fez uns gestos com ela que já me fez entender o que aconteceria se eu fizesse isso. — Igor levou sua mão até suas partes íntimas e fechou os olhos, como se pudesse sentir a dor.

Eu não sabia se ria o se ficava constrangida por estar olhando para os movimentos dele.

Sacudi minha cabeça de um lado para o outro, tentando eliminar aqueles pensamentos impuros.

— Não acredito que meu pai disse isso.

— Por favor, não vai dizer nada a ele — ele pediu mais uma vez e eu revirei os olhos tentando passar por ele e entrar no quarto, mas não deu muito certo.

— Me deixa entrar, Igor!

— Eu não posso! Eu quero poder ter filhos. — O encarei com um olhar mortífero e ele logo arredou pro lado. — Tá bem, mas se depois eu não poder ter filhos a culpa é sua.

Igor abriu a porta e deu espaço para que eu passasse.

— Não repara a bagunça.

Antes mesmo dele dizer eu já estava reparando. Suas roupas estavam espalhadas pela cama e algumas em cima da mala no chão, sendo que ele tinha um guarda-roupa ao seu dispor.

— Tarde demais. — Parei ao lado da cômoda, o vendo embolar as roupas e enfiar de qualquer jeito dentro da mala, tentando abrir um espaço para que sentássemos.

— Quer sentar? — perguntou apontando para a cama e concordei, sentando na beirada. — Então, quer falar sobre o quê?

— Eu... Queria te pedir desculpas por agir daquele jeito ontem. Sei que agora você deve estar me achando uma louca, mas eu só queria deixar claro que você não teve culpa do que aconteceu.

— O que aconteceu? Do nada você começou a chorar. Fiquei preocupado.

— Você me fez lembrar de alguém que só quero esquecer. — Ele abriu a boca, mas não disse nada. Apenas ficou balançando a cabeça, olhando para o nada. — Então é isso — falei me levantando e indo em direção a porta. — Só quero que você não se sinta culpado.

Girei a maçaneta ao ver que o mesmo não iria dizer mais nada, mas quando eu já estava no corredor, Igor voltou a me chamar:

— Luisa, espera. — Ele virou meu corpo para ele e passou os braços pela minha cintura.

— Igor, o que você tá fazendo? — perguntei, sem entender nada.

— Te dando um abraço, ué.

— Isso eu sei, mas porquê?

— Às vezes as pessoas só precisam de um abraço apertado. — E ele me apertou mais em seus braços, me fazendo sorrir e retribuir ao seu gesto.

Ficamos nessa posição por um tempo, enquanto ela balançava nossos corpos de um lado para o outro.

— Me convida pra almoçar na sua casa? — Igor perguntou, depois de um tempo.

— Hãm? — Me afastei de seu abraço.

— A comida desse hotel é muito cara!

— Ah, agora tá explicado o motivo de minha avó comer lá em casa todos os dias.

— Ela disse que prefere comer a comida salgada de sua mãe, do que pagar quarenta e cinco reais em um prato de macarrão — contou sorrindo.

— Essa implicância delas nunca vai acabar — falei, frustrada. — Vamos indo. É ela que fez o almoço hoje.

— Hmm, o estômago chega a roncar! — Igor disse, lambendo os lábios.

Tive que esperar ele trocar de roupa e logo seguimos para minha casa em seu carro.

O resto do dia até que foi bom. Minha mãe não encheu o saco e ela e minha avó, discutiram só uma vez por causa de um programa de Tv, mas a mesma não durou muito. Vi que Igor ainda estava meio receoso por conta de meu pai, mas ele estava bem mais relaxado que nos outros dias.

Quando todos foram embora, ao chegar a noite, tomei um banho e vesti meu pijama, me jogando na cama quentinha.

Eu conversava com a Mag sobre ela não ter voltado para cá, quando uma chamada se iniciou com um número não salvo.

Na hora eu soube de quem se tratava, porque mesmo que o número não estivesse salvo, eu o sabia de cor. Sentei na cama com meu peito já doendo, devido ao meu coração que batia acelerado dentro dele.

Minha boca ficou seca e eu tive que respirar fundo por alguns segundos. Desejei que a chamada se encerrasse ou fosse para a caixa postal, mas o aparelho continuou a vibrar em minhas mãos e tive que lutar muito contra meu subconsciente para não atender.

Mas como sempre acabei perdendo a luta.

Afinal, era sempre assim, não importava o quão forte eu fosse, pois era só ele dar um sinal para que toda muralha que construir se desmoronar e no final de tudo, novamente estaria eu tentando juntar os cacos.


Ei genteeee!

Sei que esse capítulo não foi muito bom e que foi grande demais, mas prometo que os outros que vierem serão melhores, pois a história do passado de Luisa e Rafael começará a se desenrolar.

E chegou a hora de decidir qual seu shipper favorito!

Comenta aqui em baixo seu preferido:

Luisa + Rafael= Luel

Igor + Luisa= Igorisa

Marcos + Luisa= Marisa

Igor + Magda= Magor

Alguém shippa Magda e Diego?

A gente se vê no próximo capítulo

Beijos, Kami. ❤

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