Boa noite, Aquiles ✓

Oleh sofianeglia

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" O olhar dava medo e eu quase perdi o sorriso o qual tentava seduzir ela do rosto. - Esquece, porque i... Lebih Banyak

intro + sinopse
0. prólogo
1. ela procura
2. ele tem que sair
3. ela se nega
4. ele cozinha e convence
5. ela estabelece as regras
6. ele quebra uma das regras
7. ela não consegue dormir
8. ele chega de madrugada
9. ela conhece o resto do grupo
10. ele não quer ela no grupo - pt.1
10. ele não quer ela no grupo - pt.2
11. ela não consegue dormir de novo
12. ele quebra mais uma regra - pt.1
12. ele quebra mais uma regra - pt.2
13. ela tenta ser simpática - pt.1
13. ela tenta ser simpática - pt.2
15. ela vira gelo
16. ele é fogo
17. ela vê o que não quer
18. ele sente o que não queria
19. ela cozinha e chora (repostado)
20. ele fica
epílogo
epílogo olímpios
nota final
OLIMPIOS REESCRITO!!

14. ele conquista algo

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Oleh sofianeglia

n o t a d a a u t o r a:

(início de janeiro quando eu voltei a escrever)

Oi. Eu estou de volta e bem feliz com isso. O capítulo na sua maior parte é o mesmo mas preferi escrever o resto aqui ao invés de colocar um novo como pt.2 . A continuação dele fica depois da nota da autora que eu fiz quando publiquei a primeira vez.

Espero que gostem.

Obs: faltam 6 capítulos pro final do livro.


i n d i c a ç õ e s p / e s t e c a p í t u l o :

west coast → imagine dragons - obrigada 

best part → daniel caesar ft. h.e.r

moonlight → ariana grande


14. ele conquista algo

Faltavam poucos minutos para eu sair da cafeteria e queria ir direto pra casa, só para ter certeza mais uma vez de que tudo estava no seu devido lugar, também aproveitar para continuar com o meu ritmo daquele dia de "entre uma bebida e um novo motivo pra ficar nervoso" depois da manhã preparando o apartamento e tendo certeza de que Lívia não fosse até lá para ver o que eu tinha feito com os mil reais que o ex dela tinha deixado.

Lívia não tinha dado um passo sequer para o que eu mais queria, só para mais longe. Nós nos beijamos e sentimos o rosto um do outro e só, até que toda vez que eu chegava perto dela, ela dizia que era muito recente. Seus olhos confusos, o sorriso longe de voltar.

O que eu tinha feito ia ajudar pra que ela não ficasse pensando no outro. Via que usar o dinheiro era uma ótima maneira de transformar o que ela sentiu em algo melhor, tinha certeza que era o jeito mais fácil de tirar aquele idiota da cena toda.

Respirando fundo, me encostei contra uma das estantes que as gurias tinham na parte dos livros. De dentro do meu bolso do avental tirei o pequeno frasco, daqueles que todos gostariam de ter de uma vodka toda pomposa, e tomei o que seria o último gole.

Sacudi minha cabeça, irritado, sentindo aos poucos a volta da ardência na minha garganta, jogando o vidro que não me servia mais de volta no bolso mesmo com um lixo perto de mim.

Eles podiam achar que eu era burro ou qualquer outra coisa, mas não era.

Tinha um motivo para eles não incomodarem com a bebida e o motivo era bem simples: eu escondia, já imaginando como todos os sermões iam aumentar. Eles não entendiam o quanto aquilo era importante pra mim.

Passando a mão no rosto, arrastei minha pele. Eu estava suando, não sabendo o que estava fazendo. Sem essas ideias de querer agradar ela, eu poderia viver todos os dias sem aquela pressão nos meus ombros. Sem, logo depois de cada coisa, pensar que eu ainda estava insistindo em algo que não consigo fazer, que não conseguiria realmente mudar.

E eu tinha dito isso pra ela, para piorar a minha situação. E ver que ela não se importava com essa minha frustração, constantemente me deixando de lado aquela semana, me incomodava.

Respirando fundo, abri os olhos, engolindo minha própria saliva e saindo da onde estava escorado. Olhando para o meu relógio eu decidi continuar com as roupas da cafeteria e ir apenas em busca da minha mochila.

Eu voltei para a visão dos outros e principalmente de Iara, os olhos dela que durante aquela semana inteira me seguiram, avisando que eu tinha me preparar para um questionamento.

Eu esquivei como todas as outras vezes. Não precisa conhecer ela para saber que ela estava preocupada com Lívia e o fato de que não tinha levado ela para conversar com o grupo no domingo, mas não era a hora e só seria mais uma coisa que eles não entendiam.

Indo para a saída, eu acreditei ter escutado ela chamando o meu nome, mas o movimento da ruas e os pedestres encaixou como a minha melhor desculpa para não ouvir.

Eu entrei no meu carro, tirando o avental da minha cintura e jogando ele no banco do carona. O frasco de tamanho essencial sendo colocado dentro do meu porta luva, acompanhado de outros que existiam.

— Vamos lá.  — Falei comigo mesmo, ativando o meu celular com o carro e saindo da minha vaga, rumo a primeira e única parada daquela noite.

Com as mãos no volante, muitas vezes acabava largando ele para sentir a textura do meu cabelo contra os meus dedos. O nervosismo não terminava, e eu só conseguia encontrar mais motivos para aumentar a velocidade no carro.

As buzinas me seguiam a cada ultrapassagem que eu fazia, mas meus ouvidos gastavam pouco tempo com elas, tentando focar na batida das músicas, a melhor parte delas quando tudo na verdade desligou e de repente eu estava na frente do apartamento, estacionado.

Em alguns segundos o trajeto inteiro que eu tinha feito se perdera na minha mente, mas eu levantei os ombros, balançando minha cabeça e repetindo palavras simples e motivacionais.

As compras que eu tinha feito no supermercado estavam na geladeira e a receita já tinha sido impressa por mim e deixada no balcão da cozinha.

Eu não tinha mudado o que tinha no apartamento, mas o jeito que tudo estava distribuído, além de acrescentar uma mesa pequena de jantar quadrada e branca, dois quadros, novas flores e plantas em todo canto que combinavam com todo o aspecto misturado que o lugar tinha. Uma lamparina que saiu um pouco mais caro mas que eu dei um jeito de pagar ficava do lado do sofá.

A cômoda com a tevê agora na parede da porta, o sofá vermelho na frente dividindo o ambiente todo, separando a parte que serviria para a gente jantar.

Não queria continuar jantando em uma mesa no chão e esperava que ela gostasse.

Olhando o relógio fui até o meu quarto para trocar de blusa, sentindo vergonha por ter as roupas dobradas em cima das caixas da mudança. Eu peguei uma de banda que sabia que ela teria também e fui até a minha cômoda para tomar o final de uma garrafa que tinha comprado naquela semana.

No meu segundo gole decidi parar, o barulho de algo caindo no chão chamando a minha atenção fazendo que naquela nova ausência de som, de repente, tudo o que eu conseguisse escutar fosse a minha maldita respiração acelerada.

Eu fui até a porta do meu quarto, abrindo devagar e sentindo a coragem que aquela bebida tinha me dado.

Saindo e parando na parede ao lado do batente do quarto da Lívia, eu me encostei, olhando para ela enquanto tocava nos copos de leite que ficavam ao lado da televisão.

— Boa noite, moça. — Disse, escolhendo não dizer o meu apelido pra ela.

— Aquiles, — começou, levantando devagar o rosto até me olhar, a voz baixa e com uma pitada de raiva, — que merda aconteceu aqui?

— Bom, pra começar eu peguei o dinheiro do teu querido ex e comprei algumas coisas pra casa. — Disse, saindo da parede e caminhando.

Conforme os meus passos, Lívia tirou os dedos da flor e se afastou antes mesmo de eu chegar perto. Eu sabia que tinha a possibilidade de ela ficar irritada comigo, mas sabia também que aquilo ia passar, porque de algum jeito ela entendia o que eu fazia.

— E então eu arrumei as coisas. — Dando de ombros, fui até o balcão e peguei a receita impressa de Camarão na Moranga e voltei até a sua frente, entregando a folha para ela. — Pensei que a gente podia cozinhar juntos e estrear a mesa de jantar.

— Aquiles... Porra, é a mesma função de quanto tu veio pra cá! — Ela gritou, pegando a folha da minha mão e amassando-a, jogando no chão.

Minha primeira reação foi ficar confuso e com raiva. Não tive certeza se eu tinha mesmo cerrado as minhas sobrancelhas, ou se eu tinha dado o passo para frente que fez a coragem desaparecer do rosto dela, mas sabia o que eu queria falar e ela gritar comigo foi o que eu precisei.

— Lívia, — comecei, calmo, com a voz grossa e um sorriso no rosto, — hoje a gente comemora o segundo mês que eu to aqui, não seria eu se não fizesse algo pra manter o nosso esquema, né?

— Aquiles... — Ela disse de novo o meu nome, a raiva diminuída e os olhos de cores diferentes. O seu rosto caiu nas suas mãos, a respiração acelerada.

Com os seus olhos longe de mim, deixei o arrependimento acontecer por todo o meu corpo. Que merda eu tava fazendo eu não sabia, mas foi fácil fingir que sim quando ela voltou com um sorriso fechado no rosto.

— Tu me deixa louca.

— Então eu to tranquilo. — Respondi, soltando uma pequena risada, fingindo ser sexual, percebendo que na fala dela não era essa a intenção.

Ela balançou a cabeça, de repente ficando tranquila também, não querendo brigar comigo mesmo que o seu rosto mostrasse que não estava nada confortável com o fato de eu ter mexido na nossa casa. Caminhando e dando a volta em mim, foi até a mesa branca, passando a mão nas cadeiras novas e parando, olhando para os quadros. Eram até grandes, devia admitir, mas eram um ótimo toque para aquela parede.

Sorri ao ver que ela acabou sorrindo. — A cena que ele sente a chuva fora da prisão,* — apontou para o primeiro quadro e a primeira foto e seguiu para a outra, — e aqui é o Forrest indo naquela função de corrida, eu conheço, mas tu nunca deixou pra eu ver?

A pergunta veio já esperando uma resposta, e eu caminhei para perto dela.

— É o filme de hoje. Por isso a receita também, — voltei para perto da mesinha da sala, pegando do chão o papel amassado. — Camarão na receita, conversas incansáveis com o Bubba sobre os jeitos que camarões podem ser feitos... achei que combinava.

Estava lendo o papel na minha mão, e então voltei a olhar para ela. Ela acenou para mim, sorrindo pequeno, e eu ignorei aquela sensação de que eu não devia parar.

— Pode ser? — Perguntei.

— Pode. — Falou como um suspiro e eu fui para a cozinha, o barulho dos calcanhares dela contra o chão avisando que ela me seguiu, e então ela sentando no banquinho avisando que eu ia cozinhar sozinho. E estava tudo bem, ela não ficar irritada já era uma conquista. Mesmo que eu quisesse mais daquela noite.


n o t a d a a u t o r a:

(antes de eu parar de escrever, no início de dezembro)

Oi gente. Eu não estou muito bem essa semana, então decidi postar pelo menos até a parte que eu consegui escrever.

Se tiver uma parte 2 vocês vão ser notificados.

Eu vou tirar algumas semanas longe da escrita, pra ver se eu consigo por as coisas no seu devido lugar, mas não vou deixar de responder aqui, ok?

Obrigada por tudo, até depois.

*a cena que ela fala é do filme "um sonho de liberdade".


CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO:


— Tu gosta de camarão, falando nisso? — perguntei. Não me lembro de um dia ela ter comentado comigo se comia.

Arrumando as panelas que eu ia usar, sentia meus braços moles a cada movimento, os poucos goles que tinha tomado antes dela chegar fazendo efeito e eu adorando. Uma parte dentro de mim regozijava com a ideia de que ela não percebia, me sentia maior e melhor por conseguir esconder alguns poucos momentos o quanto eu ainda bebia. Outra parte se sentia envergonhada por eu se quer querer fazer isso pelas costas de todos.

Lívia deve ter respondido durante o meu momento vagante, pois quando eu não falei nada, depois de ter certeza de não ter escutado nada, ela chamou minha atenção.

— Ei, tá tudo certo contigo? — Perguntou, soltando uma risada recheada de ar e ironia, e eu percebi que fazia um tempo que aquela personalidade implicante dela aparecia. — Não vai me dizer que tu realmente ficou nervoso sobre a minha resposta que nem me escutou.

Conseguia sentir a sua cabeça balançando em desaprovação, mas não de verdade e tinha de novo a leve impressão que estava assim pois suas costas estavam viradas para toda a mudança que eu tinha feito, assim ela não lembrava dos meus traços que mais odiava, os que eu mais amava ter.

— Eu vou repetir já que tu não deve ter escutado mesmo: Sim, eu gosto de camarão.

Eu ri. A sua voz aumentou quando respondeu de novo, me tratando como se eu tivesse problema no ouvido.

— Olha, eu não sou velho ainda, mas se tu ficar gritando assim com certeza vou ficar com o tímpano danificado. — Acabei sorrindo e deixando os ingredientes que eu estava picando de lado para virar e olhar o seu rosto.

Fiz rápido o suficiente para perceber o leve sorriso de lado que ela tinha antes de ela retirar ele dos seus lábios, a visão dela ganhando mais brilho. Meus olhos enxergavam a sua volta uma intensidade de cores vindas de todos os lados, e eu não sei da onde que aquilo vinha, mas meu cérebro doeu um pouco com toda claridade, mesmo se eu não soubesse realmente o porquê de ela existir.

Pisquei algumas vezes, limpando o olhar e disfarçando como se estivesse fazendo um charme na sua direção, um sorriso pequeno imitando o dela.

— Claro, — Pisquei mais algumas vezes, indo na direção dela e deixando o balcão nos separar, minha voz começando mais fina e engraçada. — sempre tem a chance de tu gritar de outras formas, e nessas eu não me importaria de ficar surdo.

Quando percebi estava com as palmas ao longo no balcão, e na realidade minha voz nem estava fina e engraçada como eu tinha planejado. Tinha tomado passos a mais, envolto naquele olhar bicolor dela, e a minha brincadeira e charme viraram tão reais quanto eu imaginava.

Minha garganta estava fechando com a vontade que eu tinha. Estava com o rosto tão perto, os narizes quase se tocando. Enxergava pelo meio das minhas pálpebras meio caídas de cansaço o seu corpo respondendo, a respiração acelerada e a boca partida.

Ela falava que não estava pronta, mas eu via que ela me queria.

Queria tocar as nossas testas, passar os dedos pelos seus lábios e ver a sua língua querendo vir e me atiçar, fazendo eu ter tantas outras cenas dela no dia a dia.

Mas então aconteceu de novo, e quando eu pisquei estava dando passos a mais de distância que eu queria dar, e me virando para a área da pia, cortando devagar o que tinha na tábua, sem certeza de que estava no controle dos meus movimentos e muito menos o que eu estava sentindo dentro de mim.

— Tu te importa se eu colocar uma música? — Questionei já pegando o meu celular do bolso e conectando ele com a caixinha que tinha colocado na sala.

O barulho que veio depois de eu pressionar o aleatório foi de guitarras e então passando para algumas brasileiras que estavam no rádio de quase todo mundo e que eu não necessariamente tinha salvo.

Algumas daquelas músicas eu passava quando tinha a oportunidade, tinham sido enviadas para mim por alguma menina que eu tinha ficado ou que eu ainda conversavam mas não recebiam muitas respostas minhas.

Não queria admitir que quando eu percebi as nossas noites se encontrando e que eu podia passar mais tempo com ela, não tinha saído e transado com ninguém, por mais que ainda quisesse esse sentimento carnal. Ainda queria aquela atenção, sedento em saber que ainda tinha outras mulheres me querendo, mas a verdade era que minha caixa de mensagens abria automaticamente na conversa da Lívia e eu não saía dela ao mexer no celular.

Com o passar do tempo, eu escutei Lívia cantando as músicas que tocavam, o que era facilmente um dos meus passa tempos favoritos e aquela fraqueza saiu da minha cabeça. E então ela continuou cantando enquanto abria as portas dos gabinetes da cozinha e vendo que eu tinha comprado alguns novos pratos para colocar na mesa.

O meu novo passa tempo favorito se transformou em ver os seus olhos recheados de surpresa.

Enxergava toda a felicidade de ver que não tinham outras coisas que prendiam ela ao ex e sim novas coisas. Objetos que eram dela, sem nenhuma dúvida, mesmo que eu tivesse os ajustado ali. Enxergava aquela cena se repetindo várias vezes dentro da minha mente em um tempo onde a incansável possibilidade de eu irritá-la tanto ao ponto de ser expulso não existia.

Imaginava seu corpo caminhando lentamente pelo apartamento enquanto eu cozinhava, a sua voz repetindo o que saía da caixinha, sua língua mais rápida do que antes para responder alguma cantada.

Ela estaria livre do cansaço e eu não contive a afirmação de que talvez pudesse estar diferente também.

Finalizando a apresentação na travessa com a comida, levei para a mesa nova e analisei tudo o que a gente tinha feito.

— Okay, — Comecei, colocando as mãos no meu quadril, — estou orgulhoso deste prato.

Lívia riu e me olhou com os cílios se tocando, as bochechas pra cima e a implicância permanente. — Isso não deve acontecer com frequência.

— Com mais frequência do que tu imagina, sonho. — Falei, não sentando e cruzando os meus braços.

— Eu duvido. E eu sei muito bem o que tu mantêm frequente na tua agenda e só disso acho que tu pode sentir orgulho. — Disse, rindo, e então percebeu o que tinha dito. Limpando a garganta continuou. — E não que eu saiba...

Seus olhos estava tímidos, percebendo que tinha se deixado levar por um instante.

Cerrando os meus olhos na sua direção, caminhei até atrás da sua cadeira, onde ela tinha acabado de sentar, não aguentando manter minhas mãos afastadas por mais tempo. Ignorando qualquer alerta vermelho que acontecia dentro da minha cabeça sobre o meu hálito cheio de bebida, minha mão passou do encosto da cadeira para a sua nuca, meus lábios caindo próximo ao seu ouvido.

Queria dizer sacanagens, algo sobre como poderia tornar nossos beijos mais frequentes se ela quisesse e desejasse saber mais, mas não consegui. Ao encostar meu nariz no seu cabelo, sentindo a sua cabeça ajeitando automaticamente para que eu tivesse mais acesso, as palavras que saíam da minha boca eram longe das que eu estava acostumado a falar.

— Como é possível eu sentir saudade do teu cheiro? — Perguntei, tendo a noção de que eu sentia falta dela durante meus dias, insatisfeito de tê-la somente à noite.

— Aquiles — Começou, insegura e confusa, mas não finalizou, apenas se arrepiou no instante que uma música com o início de violão começou a tocar, a voz abafada e calma de uma mulher cantando enchendo nossos ouvidos. As suas palavras ressonando com o que eu queria fazer.

Meus dedos estavam massageando seu cabelo com as mechas que eu tanto adorava, e nem se eu tentasse conseguiria explicar o que estava acontecendo. Mudando minha posição, escolhi me afastar, meus olhos nublados devido a vontade repentina de beber e meu peito apertado devido o que aquela pequena janta estava fazendo comigo.

Com aquele espaço entre nós, Lívia agiu como se não fosse falar algo e eu agi como se não estivesse igualmente louco, do mesmo jeito que ela tinha dito que eu a deixava.

Esticando a mão para pegar o seu prato, esperei ela me entregar a porcelana e comecei a servir a minha versão de camarão com batata e molho. Eu assistia de primeira mão o olhar confuso se tornando relaxado, ela animada por estar prestes a comer, o humor bem diferente do início da noite.

E eu sorri, de novo e de novo conforme os barulhos de satisfação vinham da sua garganta, os pequenos risos ao mastigar e as mãos alisando sem perceber a mesa, apreciando estar sentada e jantando em um local apropriado e que agora pertencia àquele espaço que era nosso.

Acompanhei todas aquelas caretas com igual satisfação, finalmente construindo algumas cantadas que fossem ridículas o suficiente para deixar ela rindo e aumentar aquele lado irônico que ela tinha e que me deixava tranquilo.

Quando terminamos, ela não falou nada mais, apenas me encarou, subitamente sem conseguir expressar algo. Nem um sorriso, nem as sobrancelhas em alguma posição de questionamento. Ela apenas me encarou, abaixando a cabeça e escondendo o rosto da minha examinação para pegar os pratos e ir lavar a louça.

Eu ajudei, pegando a travessa e levando ela até a cozinha. Ajeitei a flor que adornava a mesa no centro e fui até a parte da sala para preparar o filme. Eu escutava ela lavando a louça mais devagar que o normal, e eu não voltava a olhar para o seu corpo, me ocupando ao arrumar de novo as almofadas no mesmo lugar e em ajeitar o que já estava direito.

Dentro do meu quarto não tinha nenhuma garrafa me esperando, dentro do meu carro as minhas escondidas estavam vazias e eu não sabia como agir, precisando de algo que me ajudasse a pensar, dividido entre whisky ou vodka, dividido entre a bebida e o toque de Lívia.

O meu celular começou então a pesar no meu bolso, Vênus indo e voltando do meu pensamento, o que eu tinha dito em momentos como aquele mesmo, onde eu não sabia direito o que eu estava pensando, me assombrando.

Nesse momento eu acabei olhando pra Lívia, o medo maior que minha restrição. Queria só decorar como que era estar em um lugar onde eu finalmente me sentia pertencente, independente das discussões e os meus modos que eram desde o início proibidos.

Virando, Lívia percebeu meu olhar e caminhou até o sofá, onde eu continuei olhando e onde o filme já estava esperando a sua presença.

— Que foi, vai me dizer que tá nervoso? — Ela perguntou, achando engraçado e não acreditando que na realidade eu estava. Sentando longe de mim, ajeitou parte do seu cabelo atrás de uma orelha, as sobrancelhas se juntando. — É só um filme.

Falando aquilo parecia reafirmar para si mesma que era só um filme. Mas não era.

Era ela perto de mim, seu corpo e o perfume que eu tinha alguns momentos antes percebido que sentia em toda parte que eu caminhava dentro daquela casa. As suas pernas adornadas por uma calça jeans de cintura alta que eu estava louco para tirar mas só para que ela ficasse mais confortável.

Não era só o filme, pensei.

— É, só um filme. — Falei.

Pegando o controle eu comecei o filme e deixei a primeira cena da pena voando pelo vento correr pela televisão e conforme ela voava, eu deixava de prestar atenção.

Tinha escolhido aceitar a proposta dela de quando me convidou para assistir um filme, aceitado dias depois, aceitado sem ter dito sim. Mas estava lá e não conseguia parar de olhar como os ombros dela relaxavam, as pernas que uma vez estavam presas contra o seu corpo iam soltando aos poucos, os calcanhares deslizando na minha direção, só para ela se esconder de novo quando chegava muito perto de mim. Ela ainda usava uma meia diferente em cada pé, feito uma tradição, e eu fitei eles, o seu rosto, o sorriso e como ela sabia algumas falas clássicas.

Como ela continuou se escondendo, lutando uma batalha que eu desconhecia, até que eu peguei o controle de novo e parei o filme.

— Ei, que que foi agora?! — Ela perguntou, raivosa.

— Tu precisa ficar tão longe?

Começando a rir, Lívia me ignorou. — Só deixa o filme rodar, não começa a me irritar.

— Eu continuo o filme se tu vir pra mais perto. — Disse, como uma condição.

— Não.

— É só chegar mais perto, eu não mordo. — Levantei uma sobrancelha. — Mas é aquilo: só se tu pedir.

Não.

— Okay então. — Dei de ombros, fingindo que ela tinha vencido. No momento em que seus ombros relaxaram de novo, esperando o filme começar, peguei o controle e me levantei indo em direção a cozinha, o objeto agora no bolso de trás das minhas calças.

— Aquiles! — Ela gritou, como todas as vezes que eu a irritava e eu sorri.

— É só relaxar... — Me virei, apoiado na madeira do balcão, os braços cruzados em desafio. — Ou tu vem e pega o controle com a possibilidade de ficar bem mais perto do que eu quero no sofá, e aí eu vou acabar tocando em várias partes do teu corpo.

Ela pensou por um instante, e eu continuava não calculando exatamente o que eu estava fazendo. Como no automático, meu humor mudava assim com o dela, abruptamente e sem pensar muito nas consequências. Depois de alguns segundos Lívia acenou, o seu queixo mexendo apenas alguns milímetros mas o suficiente para eu ver que ela tinha aceitado, por pura pressão ou não.

Voltei para o meu lugar, ela em uma ponta do sofá e eu na outra. Eu coloquei o filme para seguir, e me virei, apreensivo, só para assistir ela me olhando enquanto realmente pensava como que ia fazer aquilo.

— Eu não vou te machucar. — Falei assim como a primeira vez que eu beijei seus lábios.

Acenando de novo, ela me ignorou, desconfortável no início, mas deixou seus pés escorregarem na minha direção, ajeitando mais de uma almofada contra as suas costas.

Com aquela proximidade, ela tocando em mim quando acabava rindo demais e esticava seu corpo ao ponto de eu sentir suas pernas em cima das minhas, eu conquistei algo além de só não ter ela irritada comigo. Era a memória e então mais uma imaginação que era muito mais importante do que qualquer coisa que eu podia imaginar dentro de um quarto.

Massageava sua panturrilha, e ela me olhava sorrindo a cada cena, esquecendo por um instante que eu era Aquiles, talvez. Me tendo como um amigo, me querendo mais que isso.

Eu queria mais que aquilo.

No momento em que o filme acabou e ela voltou a si, Lívia puxou vagarosamente as suas pernas da onde estavam no meu colo, e aquela sensação de não saber o que realmente estava acontecendo me perseguiu de novo. Onde ela estava, um segundo se passou, e eu a puxei sem nem conseguir controlar. Não queria suas pernas longe de mim.

Tão surpresa quando antes, Lívia fechou seu rosto, e eu segurei ela do meu lado, uma mão ainda nas suas panturrilhas. Era o perfume, a intoxicação dela com a da minha bebida que tanto sentia falta, o quão bom era segurar seu corpo daquele jeito.

Meu peito ficou apertado, os meus dedos arrumando os fios de cabelo que estavam bagunçado contra o rosto dela. Eu sorri de lábios fechados quando escutei ela soltar uma risada pequena e irônica sobre a situação. Toquei as nossas testas como eu queria ter feito, beijei as suas bochechas, os seus olhos que todos os dias eu sabia que choravam.

— Tu gostou? — Perguntei, não tirando meu rosto de perto dela, escutando o pequeno "sim" que saiu da sua boca, o questionamento dela antes de deixar uma das suas mãos irem até o meu cabelo e fazer carinho. — Okay...

Ao falar, não sabia o que fazer. Se ela quisesse que eu continuasse eu continuaria, com beijos, puxões e tudo mais, mas eu parei, nem sabendo o porque.

Lívia me encarou quando eu me afastei, a hipocrisia de ter pedido que ela ficasse perto me corroendo. Eu beijei os seus lábios, sem dar tempo de eu lembrar como eram macios, e antes de perceber estava caminhando até o meu quarto. Não aguentando mais a vontade que eu tinha de beber e indo atrás de alguma coisa no meio das minhas malas e mochilas, não sabendo se tudo o que eu tinha feito realmente tinha acontecido.



p e r g u n t a d o d i a : o que vocês acham que está acontecendo com Aquiles e o que será que ele vai fazer?

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