O Diário de Lizzie Bennet

By dannssantana

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"É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, possuidor de uma grande fortuna, deve estar... More

Nota da autora
Esse diário pertence a...
Os Bennets
Um solteiro em busca de uma esposa (ou talvez dois)
Dia dos namorados
BingLee VS Darcy
O aniversário de Jane
Uma reforma "inesperada"
Netherfield
O beijo
O que realmente aconteceu entre George e Darcy
Uma mulher prendada
Collins vem a Longbourn
O único herdeiro
Festa de fraternidade!
Nada para festejar
Feliz 21º aniversário
Adeus!
FELIZ NATAL!
ESPECIAL DE NATAL: Gesso, chapéu de papel e vestido vermelho
Ai, merda!
Bem-Vindos a Nova York
Sra. Collins
E eu te declaro...
Rosings Park
Lady Catherine
A Carta
Adeus e até nunca mais!
Transição...
A Formatura
O emprego novo
Pemberley
Então somos amigos
Feliz aniversário, Gigi!
Elevador, jantar, festa do pijama e aposta!
Flexão de barra, cavalos e bola de tênis
"Jantar Romântico"
O namorado - parte 1
O namorado - parte 2
Cachecol Vermelho
Reunião de família
Mais sobre a maldita bodas!
Kitty vai a Londres - parte 1
Kitty vai a Londres - parte 2
Pemberley House
Uma escolha?
Tudo o que eu queria...
A fuga de Lydia
Consequências
E para piorar...
O dia mais longo da minha vida
Uma visita inesperada
Correndo atrás
Noivo "secreto"
Epílogo
Agradecimentos

A volta de George a Longbourn

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By dannssantana

09/04


Bem, não era uma surpresa ver Caroline na entrada nos esperando - ou melhor, esperando Darcy. Era como um Dèjá vú desagradável

Darcy e eu estávamos sem graça por ter presenciado o beijo apaixonado de Bing e Jane e estávamos muito silenciosos para que Caroline começasse a desconfiar que alguma coisa estava acontecendo.

Eu suponho, pela expressão ciumenta estampada na cara dela, que na verdade Caroline imaginou que o beijo poderia ter acontecido entre Darcy e eu.

Argh!!!Não sei dizer como eu me sentiria se isso acontecesse, parecia improvável, como naquele caso da vaca roxa com bolinhas amarelas... quer saber, vou parar com esse exemplo, depois de tantas improbabilidades, tenho medo de ver a tal vaca roxa!

Em todo caso, não sei se nada na minha vida me faria ter vontade de beijar Darcy, ele era rico, alto e bonito e tinha um sotaque inglês adorável, sabia declamar Shakespeare muito bem, o que é impressionante, mas era um chato, irritante e esnobe e eu não gostava nem um pouco dele!

Eu não o odeio mais, acho que me simpatizei com algumas coisas a seu respeito, - como o fato de ele ler Romeu e Julieta todos os dias para sua irmã mais nova porque ela se sentia triste pela perda de seus pais, isso era adorável e sensível e essas são descrições que eu nunca pensei que pudessem descrever Darcy algum dia - mas será que eu poderia gostar de uma pessoa que se acha tão superior a todo mundo? Alguém tão orgulhoso e irritante e reprimido e chato e workaholic? A resposta é simples: não, nunca!

Mas a ideia de que Caroline estivesse sofrendo com isso quase me fazia considerar - bem eu consideraria se eu não achasse a ideia de ter que beijar Darcy repugnante, como se dançar com ele não tivesse sido castigo o suficiente!

- Darcy, Lizzie, vocês estavam fazendo uma caminhada sem mim?

Embora ela sorrisse e parecesse calma, eu podia ver uma veia saltada pulsando em sua têmpora como naqueles animes japoneses. Senti vontade de rir.

- Eu nunca sonharia isso, Caroline, eu sei como você gosta de se exercitar!

Darcy não conseguiu segurar um riso breve, o que deixou Caroline muito irritada, mas antes que ela dissesse alguma coisa para retrucar minha resposta sarcástica, eu adicionei:

- Eu fui visitar meus pais e encontrei Darcy no meio do caminho e essa foi toda a história.

Eu dei um olhada para Darcy, não era da minha conta o que minha irmã e Bing faziam e eu achava que era melhor não ficar espalhando isso para os outros, Darcy parecia concordar e também não delatou o casal para Caroline.

Então, para alegrar seu dia eu adicionei.

- Tenho outras notícias, Jane e eu vamos voltar para casa, a reforma está completa e não há mais muita coisa a ser feita que não posso se terminada conosco lá mesmo.

Caroline me surpreendeu com sua compostura, um olhar menos atento diria que ela não ficou maravilhada com a ideia, poderia até dizer que ela lamentou, mas eu sabia melhor. Ela ficara surpresa com a notícia e escondeu bem seu sorriso enquanto dizia que iria lamentar não ter Jane e eu para alegrar suas tardes.

- Jane ainda não sabe - disse. - Então quando ela chegar, deixe que eu lhe diga, está bem?

- Como você quiser!

Bem, Jane e Bing chegaram depois de mais de uma hora, Bertram já tinha colocado a mesa e já estávamos prontos para o jantar.

Eu não sei o que me deixava mais ansiosa: falar para Jane que a reforma estava concluída e poderíamos voltar para casa ou então interrogar minha irmã incansavelmente pelo beijo entre ela e Bing que eu tinha flagrado.

Como eu não podia falar sobre o beijo de Jane e Bing na frente de todo mundo, isso teria de esperar.

Caroline estava ansiosa para colocar na mesa logo de uma vez o fato de que nossa estadia em Netherfield estava no fim, como eu não abordei o assunto de imediato, acho que ela presumiu que eu tinha me esquecido e se incumbiu de refrescar a minha memória. A coisa toda se deu dessa forma:

Bing e Jane entraram rindo pela porta da frente, eu podia ouvir a risada de Bing lá da sala de jantar enquanto minha irmã dizia para ele rir mais baixo, ela própria tentando controlar seu riso.

Isso me fez dar um sorrisoe alegrou meu coração. Jane era uma das pessoas que eu mais amava na minhavida, trocaria minha felicidade pela dela num piscar de olhos e a ideia de que ela estava feliz me deixava igualmente feliz, acho que isso acontece quando suamelhor amiga é sua irmã! - Charlotte, que provavelmente estará lendo essediário, saiba que eu também amo muito você e uma pessoa pode sim ter duas melhores amigas!


Caroline, ao contrário de mim, não pareceu tocada com a felicidade de seu irmão, ela mal conseguiu esconder seu desagrado, visível na linha de sua boca, a vi olhando para Darcy na esperança de ver a mesma desaprovação estampado em seu rosto, mas Darcy estava silenciosamente contemplando a toalha de mesa.

Bing entrou rindo na sala de jantar, ele estava sem sapatos e tinha folhas no cabelo, minha irmã estava muito bem composta, fora por um leve rubor nas bochechas, ela tinha o cabelo imaculadamente preso em uma trança francesa, seu vestido estava limpo e usava os sapatos.

Bing tinha o sorriso tão largo no rosto que parecia o gato de Cheshire. Eu mordi os lábios para conter um sorriso de quem sabia de onde esta felicidade vinha e não consegui refrear olhar para Darcy para saber como ele estava lidando com isso, mas ele estava com seu usual rosto sério e olhava para Bing com desaprovação.

- Onde estão seus sapatos? - perguntou ele em um tom mandão que mais parecia de um pai do que de um amigo.

- Está lá na entrada, porque o interesse repentino pelos meus sapatos? - perguntou Bing com o humor inabalado.

- Porque você não está usando nenhum - disse Caroline com o mesmo tom áspero.

- Para os vigilantes de sapatos aqui presentes, - disse ele com bom humor. - saibam que eu sem querer os derrubei no lago e estão encharcados, por isso não os estou usando, mais alguma pergunta? - perguntou ele com um sorriso enquanto se sentava.

- Onde você esteve? - perguntou imperativamente Caroline.

- Jane e eu fomos dar uma volta, eu disse que iriamos chegar antes do jantar e pela sua carranca e de Darcy presumo que ainda não jantaram.

- Chegou na hora, Bing - disse, antes que Caroline desse ao irmão alguma resposta desaforada.

- Pelo menos alguém aqui ainda conserva o bom humor - disse ele sem desmanchar o sorriso. - Não ficou preocupada com o sumiço de meus sapatos ou o de sua irmã e eu?

- Não, pelo contrário, eu estava aflita imaginando o que teria acontecido aos seus sapatos, o que pensa que eu sou?

Isso fez Bing rir.

- Mas quanto a você e Jane, não estava nem um pouco preocupada, Jane é uma pessoa ajuizada e estaria pronta para te ajudar, veja, os sapatos dela ainda estão nos seus pés.

Bing riu ainda mais.

- De fato! - concordou. - Isso prova que Jane ao menos não é distraída.

- Afinal como seus sapatos foram parar no lago? - perguntou Caroline.

- Eu os derrubei - disse Bing novamente, de forma alheia enquanto enchia o prato.

- Obviamente, Charles, quero saber como?

- Qual é o seu problema com meus sapatos, eu te prometo que se houver um dano permanente neles, eu compro outro!

- Foi só um acidente, Caroline, Bing os colocou em cima de uma rocha e eles caíram dentro d'água - disse Jane de forma apaziguadora. - Ele tinha se distraído tirando self.

Caroline revirou os olhos, perdendo o interesse, eu ri e não consegui segurar o que disse a seguir:

- Foi só a self que te distraiu, Bing?

Bing olhou na minha direção, ele tinha acabado de enfiar uma garfada de comida na boca e não pode me responder de imediato, mas percebi que ele me olhou surpreso mesmo assim, Jane também me olhou surpresa e eu percebi um leve rubor se espalhar em suas bochechas.

- O que quer dizer, Bennet? - disse ele assim que terminou de mastigar.

- Nada, só perguntei - disse ainda provocando. - É que quando Darcy e eu passávamos pela trilha hoje mais cedo ouvimos um barulho que vinha perto do rio e achei que pudesse ser o que distraiu vocês.

Caroline ouvia a conversa agora atentamente, Jane ficou ainda mais vermelha, Darcy não esboçou reação, mesmo quando Bing olhou para o amigo com um sorriso no rosto.

- Quando você passava pela trilha? - perguntou minha irmã aflita.

- Um pouco antes de escurecer - expliquei vendo Jane lançar um olhar surpreso para Bing que ainda sorria e olhava para Darcy, que por sua vez o estava ignorando.

- Que tipo de barulho? - quis saber Caroline.

- Acho que foram esquilos - disse com ironia.

- Esquilos bem grandes! - disse Bing, que não conseguiu conter uma risada.

Jane também acabou rindo e eu não consegui segurar a risada por muito tempo, até Darcy concedeu um sorriso, de quem tenta segurar a risada, mas não consegue de todo. Caroline estava por fora e não estava compreendendo a piada, o que a deixava aborrecida.

- Além de ficarem espiando esquilos - disse Bing depois de alguns minutos, se recuperando do riso. - o que você e Darcy estavam fazendo na trilha, por acaso estavam perdidos? Distraídos? Hum, o que você diz, Darcy?

Foi minha fez de ficar vermelha, Darcy também ficou chocado e quase engasgou com a bebida, não sei se o vermelho no seu rosto tinha a ver com a insinuação de Bing ou o fato de que ele tinha se engasgado. Jane que estava sentada ao lado dele ficou preocupada.

- Você está bem?

Caroline, por outro lado, estava vermelha de raiva, se seu olhar pudesse matar, eu teria morrido estirada ali mesmo na mesa.

- Acho que nem eu nem Darcy temos nenhuma intenção de imitar esquilos, Bing - disse na defensiva e querendo mostrar o quanto isso era absurdo e ridículo. - Eu estava apenas pegando um atalho pelo bosque.

Jane ficou preocupada.

- Lizzie, odeio que pegue o atalho para o bosque, você sabe que tem gente que caça por lá, você lembra que Kirk Turner machucou o pé em uma armadilha?

Eu apenas rolei os olhos.

- Aff, Jane, eu sei que caminho pegar, conheço o bosque como a palma da minha mão, eu costumava acampar lá todos os verões com o time de atletismo.

- Mesmo assim, Lizzie, é perigoso.

Caroline estava sendo muito paciente até então, eu estava orgulhosa por ela não derrubar a mesa e me enfocar, mas ela não iria se segurar por muito tempo e sua única luz no fim do túnel era que Jane e eu estávamos com nossas horas contadas em Netherfield, como eu ainda não tinha abordado o assunto, que a cada momento se desviava mais para coisas que ela achava desagradável, ela então decidiu que iria tomar medidas em suas mãos:

- Lizzie, aliás, tem uma notícia para contar, não tem, Lizzie?

Percebi que Caroline queria acabar logo com aquilo, ela queria se ver livre de Jane e eu - provavelmente mais de mim do que da Jane, mas sei que também não lhe agradava muito o fato de seu irmão estar a fim da minha irmã.

- Como assim, o que você quer contar? Tem haver com esquilos? - disse Bing com humor.

- Bingley, faça-me o favor de parar de falar sobre esquilos - disse Darcy parecendo desconfortável.

- Nada a ver com esquilos - garanti igualmente desconfortável. - Tem a ver com a reforma, está pronta, a não ser por um muro no jardim, não há mais nada a ser feito, papai disse que vamos voltar para casa amanhã e ajudar a limpar a bagunça.

Bing pareceu chocado.

- Mas já?

- Mas mamãe disse que ainda havia tanto a ser feito - disse Jane confusa.

- Papai estava pressionando os trabalhadores e ele mesmo ajudou a consertar o telhado, ele odeia ficar no tio Phillip e queria voltar para casa o quanto antes, está tudo terminado. O eletricista vem pela manhã e poderemos ocupar a casa, por enquanto estamos sem luz, ou então poderíamos voltar hoje mesmo.

- Você está com tanta pressa, Lizzie - disse BingLee parecendo ofendido. - Aconteceu alguma coisa?

Sim, sua irmã é uma vaca que me quer longe daqui e seu amigo é irritante e provavelmente quer que eu me mande daqui também, mas eu não poderia dizer isso, ao invés disso eu disse:

- Claro que não, só sinto falta da minha casa e das minhas irmãs, além disso, mamãe pediu para dividir os quartos, então eu finalmente terei um quarto só para mim!

- O que quer dizer, não gosta de mim como sua colega de quarto? - disse Jane fingindo estar ofendida.

Eu sorri.

- Você é ótima, Jane, mas finalmente poderei trancar a porta do meu quarto e impedir que Kitty e Lydia saqueie minhas coisas.

Jane riu.

- Rá, boa sorte com isso! - disse ela em um raro tom irônico.

BingLee ficou inconformado com a notícia, mas não havia mais nada a ser feito. Ele tentou convencer Jane e eu a ficarmos aqui por pelo menos mais uma noite, até que todas as coisas estivessem em ordem, mas Jane, de forma doce, mas decisiva, se negou.

Eu, por minha vez, fiquei feliz quando todos desistiram do assunto - e com todos eu me refiro ao Bing, Caroline e Darcy nem abriram a boca para nos pedir para ficar, na verdade, eu achei que Darcy e Caroline estavam respirando aliviados, principalmente Caroline, mas Darcy também!

Assim que subimos para irmos dormir, eu corri para o quarto de Jane. Ela estava vestindo seu pijama quando entrei.

- Desembucha, esquilo!

Ela riu.

- Você nos viu mesmo?

- Pior, Darcy e eu vimos vocês.

Jane voltou a ficar vermelha.

- Darcy nos viu também, que vergonha!

- Acredite, ele ficou mais vermelho do que você.

- O que ele disse?

- Não disse nada e eu não perguntei, agora, desembucha, quero saber de tudo!

Jane não se negou a contar como tudo aconteceu:

Fiquei surpresa, no entanto, de que esse não tinha sido seu primeiro beijo com Bing, na verdade o primeiro beijo tinha acontecido no dia anterior ao meu flagra - na sexta, quando Jane e Bing tinham sumido de vista.

Jane me disse que ela e Bing estavam andando pelo jardim quando começou a chover e eles correram até o gazebo para se protegerem da chuva.

Estava um dia fresco, mas como estavam um pouco molhados pela chuva, Jane sentiu frio quando o vento começou a soprar. Bing estava usando uma camisa xadrez em cima da camiseta, então ele deu a camisa xadrez para Jane vestir, para protegê-la, ao menos um pouco, do frio.

Eu fico só imaginando a cena, muito típica de filme romântico, daqueles bem previsíveis. Todo mundo então já sabe como isso terminou, não é?

Bing colocou os braços em volta de Jane, para aquecê-la e então eles se olharam longamente e se beijaram.

Jane disse que não se lembra ao certo do que eles estavam falando antes de Bing a beijar, mas quem se importa, o importante é que se beijaram.

Ela tinha prometido para Bing que não contaria nada ainda, porque ele queria curtir o momento enquanto ninguém sabia e faria alarde, o que eu compreendo completamente, mas ela não disse isso nem mesmo para mim??? Eu sou completamente confiável com segredos.

Mas a desculpa de Jane é que ela não tivera oportunidade de fazê-lo e eu acabei aceitando a desculpa, porque Jane foi mesmo ao meu quarto na noite passada e ao invés de eu perguntar a ela se ela queria me dizer alguma coisa, eu fiquei falando sem parar em como eu estava cansada de Caroline e Darcy e que queria voltar para casa!

Ah, seu eu soubesse, Jane não teve chance com o meu blá, blá, blá, agora não posso culpa-la! Sou uma egoísta!

Como teremos de agora para frente um quarto separado, eu me deitei na cama de Jane e ficamos falando sobre BingLee e em como Jane estava feliz.

Falamos sobre isso durante boa parte da noite, em como minha mãe iria surtar quando soubesse, em como Caroline iria reagir assim que soubesse...

Jane achava que ela iria ficar feliz, eu não disse nada, mas sinceramente suspeitava que Caroline não iria aprovar isso tanto quanto Jane imaginava que ela fosse.

Estávamos quase dormindo quando Jane disse:

- Você também tem motivos para se alegrar, Lizzie.

- Tenho mesmo, quando você e Bing se casarem eu vou me mudar para a biblioteca de Netherfield.

Jane riu.

- Não, eu não estava falando disso - disse ela me cutucando de leve. - Eu me referia ao George, ele volta amanhã, não volta?

Com tudo o que aconteceu nestas últimas horas, eu quase tinha me esquecido, sim, George Wickham estava de volta amanhã.

Não sei ao certo, ainda, o que isso significaria, estávamos flertando por mensagem de texto por algum tempo, mas eu não o conhecia o bastante para saber como ele era. Ele era lindo e charmoso, sem dúvida, mas eu estava me apaixonando por ele?

Não, pelo menos ainda não!

Ainda assim, eu estava ansiosa para revê-lo, talvez ele fosse a pessoa certa para mim, ele certamente era muito agradável e eu me sentia bem em conversar com ele por horas e horas, me alegrava quando ele me mandava uma mensagem e as mensagens de voz divertidas que ele me mandava de vez em quando, naquele sotaque inglês ainda mais charmoso do que de Darcy, porque não tinha o tom seco e monótono.

Além disso, eu estava curiosa para saber como ele e Darcy se conheceram e em como Darcy reagiria ao ver George!

Ah, o dia de amanhã promete!


10/04

O dia amanheceu claro e fresco. Havia duas coisas que me alegravam, uma: eu tinhaduas semanas inteiras de folga da universidade por causa do Spring Break.Geralmente isso acontece em março em todo lugar, mas em Meryton sempre aconteceem abril, mais ou menos nessa data para coincidir com aniversário da fundaçãode Meryton - a cidade, não a universidade.

A segunda coisa era que eu voltaria para casa, finalmente, longe do veneno de Caroline e da presença alarmante de Darcy.

E se eu fosse honesta comigo, o fato de que George iria voltar hoje poderia ser um terceiro fator que contribuía em muito para a minha felicidade.

Darcy pareceu por em sua meta principal não falar comigo. Eu sei que isso não parecia algo raro, afinal, ele nunca falava comigo, mas após algum tempo eu comecei a suspeitar de que ele tinha decidido me ignorar de propósito.

Isso não me incomodou, não realmente, apenas me deixou intrigada pelo fato de que ele estava fazendo isso de propósito. Aconteceu assim:

Eu acordava cedo toda manhã para a corrida matinal, bem, hoje não fora diferente. Encontrei Darcy lendo o jornal na mesa já tomando seu chá - como acontece toda manhã.

Eu lhe desejei um bom dia, porque sou uma pessoa muito educada. Em todas às vezes, ele abaixa o jornal e responde o bom dia, igualmente cortês, porém mecanicamente, então não volta mais ao seu jornal, não que ele dispense muito de sua atenção ou sua saliva encontrando formas de falar comigo, por isso eu não percebi que ele estava me ignorando de propósito, mesmo quando ele não me respondeu o bom dia usual e nem mesmo abaixou o jornal.

Eu estava tão acostumada a nossa monótona rotina que eu presumi que ele tinha me respondido o bom dia de volta e segui em frente, me servindo de ovos mexidos e torrada.

Darcy tomou o café da manhã inteiro parcialmente coberto pelo jornal, foi só quando eu tinha terminado de comer que eu comecei a notar que ele sequer tinha se dignado a me dar o bom dia.

Enfim, eu não me chateei com isso, mas Darcy era uma criatura de hábitos rígidos e achei esquisito que ele não tivesse dito seu habitual "bom dia, Elizabeth", usando meu nome inteiro só para me irritar, detestava que me chamassem pelo meu nome inteiro!

Eu já tinha dito a ele, pelo menos duas vezes, que ele poderia me chamar de Lizzie, como todo mundo faz, mas Darcy, é o que eu penso, age dessa forma apenas para me irritar. É um dom, sei lá!

Eu fiquei intrigada com seu comportamento e fiquei pensando seriamente se eu tinha lhe feito alguma coisa. Em geral eu não era muito simpática com ele, eu gostava de provoca-lo para tirá-lo de seu pedestal e costumava zombar dele constantemente - ah, eu sei que eu tinha prometido a Jane que iria me comportar, mas Jane estava passando tempo demais com Bing para notar, de qualquer forma.

Mas não me lembrei de nada que eu tivesse feito que fosse mais sarcástico e provocador que o normal. Talvez ele só estivesse de mal humor, acontece. Eu tirei isso da mente e me coloquei de pé.

- Vai me acompanhar na minha última corrida pela trilha de Netherfield, Darcy, ou posso começar sem você?

Darcy apenas me olhou, sem qualquer expressão.

- Pode ir.

Ele soou seco e inexpressivo, não muito diferente do que ele normalmente age, mas em geral ele costuma ser um pouco mais cortês.

Enfim, eu dei de ombros e segui meu caminho até lá fora, onde comecei a fazer o alongamento. Eu coloquei os fones no ouvido e segui em frente. Sem Darcy ali, eu fiquei mais relaxada, talvez ele devesse começar a me ignorar de agora para frente, era uma mudança bem-vinda!

Darcy me alcançou pouco depois. Eu estava enganada, aquelas pernas enormes eram rápidas e tinha a vantagem de ter muito mais centímetros do que as minhas, o que lhe dava uma vantagem injusta. Mas não significava que ele pudesse ser mais rápido do que eu!

Darcy tinha uma cara estranha, como se estivesse se esforçando demais em uma tarefa, bem, eu diria que era correr, mas ele fazia isso com muita naturalidade então eu presumi que era outra coisa.

Eu quase perguntei: "Você está bem, está mais calado hoje do que o normal". Mas me forcei a ficar calada, se ele não estava a fim de conversar, não era eu quem iria insistir.

Darcy começou a me ultrapassar, o que era inaceitável e eu aumentei a velocidade, sentindo o músculo da minha perna fisgar um pouco.

Darcy me alcançou sem problemas, eu mal o ouvia arfar. Isso me irritou e eu aumentei a velocidade ainda mais e novamente Darcy estava em meu encalço. Seu rosto demonstrava determinação, mas fora isso, era difícil saber o que ele estava pensando, embora eu suspeite que o que ele estava pensando era que ele era mais rápido do que eu, o que é um absurdo.

Me forcei para frente, aumentando a velocidade ainda mais, sentia cada parte dos meus músculos estalarem com o esforço, o suor se acumular na minha testa e descer até meu pescoço e minhas costas. Não era apenas meus músculos que ardiam, a temperatura estava se elevando e o sol que atravessava as folhas das árvores da trilha batiam quente em minha pele.

Eu arfava, mas não desisti. Darcy seguia meu ritmo, mas com satisfação eu percebi que ele não parecia tão confortável quanto normalmente ele ficava. Embora, droga, ele não parecesse estar sofrendo tanto quanto eu, ao menos eu tinha a satisfação de ver que ele estava suado.

Darcy usava uma camisa cinza esportiva meio larga de mangas compridas e capuz e uma calça de moletom. A blusa era fina e estava colada no seu corpo por causa do suor. Eu podia ver a sombra de alguns músculos de seu braço contornado a manga e pensei que ele devia estar cozinhando naquela roupa.

Eu estava usando legging e uma blusa regata em cima do meu top (porque ficava desconfortável em correr só de top perto de Darcy) e estava queimando.

Mas, felizmente a trilha estava chegando ao fim, só faltava mais uma volta e logo veríamos Netherfield aparecer em toda a sua gloria por acima das árvores.

Eu ia tão depressa que não notei um buraco, ou melhor, eu simplesmente não consegui evita-lo e de forma épica eu fui ao chão.

Cara, aquilo doeu, mas não tanto quanto a vergonha que eu estava sentindo.

Darcy parou de correr e foi até mim, parecendo preocupado.

- Você está bem.

Eu sentia uma dor terrível no meu pé esquerdo, aquele que tinha enfiado no buraco, o que significava, com certeza, que eu tinha dado no mínimo um mal jeito nele. Mas mesmo assim, eu me endireitei e tentei levantar.

Vi a cara de espanto de Darcy e ele me fez se sentar novamente.

- Elizabeth, você está sangrando - ele disse com a voz controlada, como se quisesse me acalmar.

Eu estava totalmente calma, embora estivesse com dor, admito, eu estava tentando em vão reunir o que me restava da minha dignidade. Eu tentei me levantar, mesmo com meu pé que começava a inchar dentro do meu tênis e embora eu ainda não tivesse certeza naquela hora se eu tinha realmente quebrado mesmo o pé, já que doía demais coloca-lo no chão, eu estava pronta para dizer, "de que diabos você está falando, Darcy, eu estou ótima!", quando coloquei a mão na minha perna para me apoiar e vi que ele tinha razão quando a minha mão ficou vermelha.

Eu não tinha sentindo muita dor no meu joelho direito, apesar dele ter tomado o impacto todo da minha queda, a dor que subia em círculos no meu tornozelo esquerdo tinha tomado toda a minha atenção e eu achei sinceramente que meu joelho não tinha sofrido nada além de um ralado simples.

Eu me senti nauseada ao perceber, no entanto a quantidade de sangue que agora empapava a minha calça, senti com se eu fosse desmaiar, eu odiava ver sangue, eu até doava meu sangue, se fosse muito necessário, se eu não olhasse para ele, eu ficaria bem. Mas aquilo estava saindo de dentro de mim em bicas e eu senti o suor frio começar a acumular pela minha pele.

Darcy deve ter notado o meu pânico.

- Não consigo ver, mas acho que você deve ter cortado a pele em alguma pedra solta na trilha - disse ele ainda em tom calmo. - Vamos tentar estancar isso enquanto não chegamos ao hospital.

Eu fechei os olhos com força, eu estava tentando segurar para não desmaiar ali.

- Elizabeth você está pálida, fala comigo - a voz de Darcy demonstrava alguma emoção ao dizer, não era pânico, mas era alguma ansiedade, talvez ele também não gostasse de ver sangue.

- Darcy, se eu desmaiar, você vai ter que me carregar até Netherfield - disse com um sussurro quase inaudível.

- O quê?

Não sei ao certo o que aconteceu, acho que eu desmaiei. A última coisa que eu me recordo com certeza foi Darcy colocando os seus braços ao meu redor para impedir que eu me esborrachasse no chão, daí, nada.

Dá para ficar pior que isso?

Sim!

Bem, eu desmaiei, isso acontece quando eu vejo sangue, acho que é hereditário, minha mãe também tem isso. Mas isso não seria um problema se tivesse acontecido na minha casa, com minhas irmãs, mas aconteceu no meio de uma trilha deserta no bosque com ninguém além de Darcy.

Eu acordei, estava tonta e ainda sentia dor no meu pé e o meu joelho ardia, e a lembrança do que tinha acontecido encheu minha mente de vergonha.

Mas isso não era o pior de tudo.

Darcy estava me carregando de volta a Netherfield, eu já a via ao longe. Era domingo, então todos ainda deviam estar adormindo, ninguém é maluco, como Darcy e eu e o pobre Bertram de acordar as seis da manhã em um domingo.

Eu via tudo embaçado, grandes bolas pretas ocupavam a minha visão. A pele do braço de Darcy estava visível, e eu notei que ele tinha tirado a camisa de mangas compridas.

Sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas eu olhei para Darcy, ele devia estar usando uma regata embaixo da blusa de mangas compridas, o que me deu certo alívio.

Darcy estava olhando para mim, então ele tinha notado o exato momento em que eu tinha aberto os olhos, mas eu estava evitando olhar no seu rosto, porque ainda estava muito embaraçada. Um lado da bochecha de Darcy estava sujo, não do meu sangue, mas de terra, seu cabelo estava um pouco grudado na testa e ele ainda estava suado, ele pareceu mais um ser humano, com falhas do que o perfeito e robótico Darcy que eu estava acostumada a ver.

Ele olhou para mim, parecendo aliviado.

- Você desmaiou - disse ele apontando o óbvio. - Usei a minha camisa para estancar o sangue do seu joelho.

Eu percebi, sentia uma pressão no meu joelho, mas não ousei olhar naquela direção, meu estomago ainda dava voltar e o sacolejar que Darcy fazia ao correr pela trilha comigo nos braços deixava tudo ainda pior - não que eu seja ingrata, se ele não tivesse feito isso, eu ainda estaria estirada no chão da trilha e correr rápido com uma pessoa nos braços era um feito impressionante, mas o sacolejar estava mesmo piorando o meu estômago e depois de um desmaio eu não queria vomitar em cima de Darcy, o meu orgulho já estava jogado em pequenos pedaços espalhados em algum lugar na trilha lá trás.

Darcy me levou na direção de trás da casa onde ficava a garagem. Ele não gritou, realmente, mas sua voz saiu mais alta do que o normal dele ao chamar por Bertram quando estávamos a uns dois metros da porta.

Bertram apareceu prontamente com um avental e um pano de prato ainda nas mãos, ele estava pronto para dizer "o que posso fazer pelo senhor?", que era o que ele sempre dizia quando alguém o chamava, mas só conseguiu engasgar o começo da frase, pois urgentemente Darcy disse.

- Pegue a chave do meu carro e nos leve até o hospital, rápido, por favor.

- Eu... eu acho que estou bem - disse tentando me livrar de Darcy, mas ele era forte demais para mim, ou eu estava fraca demais e eu não consegui.

- Não, você vai acabar desmaiando outra vez.

Aquilo era tão humilhante, mas correto. Além disso, eu acho que eu não podia andar de qualquer forma.

Darcy me colocou, no entanto, em um banco que ficava ali no jardim dos fundos, se ajoelhou e tirou meu tênis, o que fez com uma certa dificuldade, porque meu pé tinha dobrado de tamanho, Darcy fez uma careta de dor ao notar o quanto ele estava roxo - porque ele fez uma careta de dor eu não sei, era o meu pé que estava doendo e não o dele.

- Não sou médico, mas acho que você quebrou o pé.

Eu tentei mover o pé, estava doendo muito, mas fui capaz disso, embora não de apoiar meu peso nele.

- Talvez não esteja quebrado - eu ainda me sentia tonta, e não olhei para o meu joelho, Darcy me entregou uma garrafa de água, era a garrafa de água dele, eu não tinha ideia de onde estava a minha, ou meu fone de ouvidos, aliás, devia estar em algum lugar da trilha.

- Beba isso - disse.

Eu, apesar da expectativa geral, obedeci sem pestanejar, pois eu me sentia mal e cansada e eu sequer tinha notado, até então, que também estava morrendo de sede.

Bertram apareceu com o carro de Darcy, sem dizer nada, Darcy voltou a me carregar e me colocou no banco de trás, sentando-se ao meu lado.

- Não precisa me levar ao hospital, só me leve até o consultório do dr. Garret mesmo - disse ainda na defensiva.

- É domingo - lembrou Darcy. - ele não está lá, vamos te levar ao hospital.

Não havia como discutir, Bertram arrancou com o carro e seguimos em frente.

Fomos para o mesmo hospital que Jane havia operado as amídalas. Eu não achei que voltaria lá tão cedo. Me lembrei que não estava com meus documentos, embora eles provavelmente se lembrariam de mim, mas Darcy parecia ter pensado nisso tudo, não sei como, mas ele estava com os dele.

Não preciso dizer que com Darcy ali, fomos atendidos de pronto. Eu observei intrigada como Darcy resolvia tudo, enquanto Bertram arrumava uma cadeira de rodas para mim.

Darcy não estava mais vermelho ou suado, Bertram tinha providenciado uma toalha molhada para nós dois e uma garrafa com água gelada, o que ajudou bastante. Mas ele ainda estava usando as mesmas roupas de antes, ou melhor, eu estava usando a blusa de mangas compridas dele como torniquete, mas...

Eu nunca tinha visto Darcy de regata antes, nada acima do antebraço dele tinha ficado a mostra antes, na verdade, e eu admito que me surpreendi com os músculos que ele tinha no braço.

Era difícil de saber que ele tinha algo assim usando roupas tão sóbrias. Darcy estava sempre tão composto que eu não imaginava que ele pudesse ter uma condição física tão boa, mesmo sabendo que ele era um bom corredor.

Eu não estava babando por ele, nem nada, foi só mais uma coisa surpreendente que eu descobri a seu respeito, Darcy podia ser bonito e talvez ter um corpo impressionante, mas eu ainda não gostava muito dele... tudo bem, ele meio que estava ajudando agora e eu devia muito a ele, Darcy poderia só ter mandado o Bertram me trazer aqui e seguir com sua manhã de treino em paz, mas ainda assim, não é como se fossemos amigos, eu não acho que Darcy gostaria de ser meu amigo, ele praticamente me ignorou essa manhã, lembra?

Quem nos atendeu foi um médico simpático de uns setenta anos chamado dr. Horton. Ele parecia feliz mesmo com a perspectiva de que era bem cedo naquele dia de domingo.

- O que temos aqui? - disse ele com um sorriso assim que entramos em sua sala, eu ainda estava na cadeira de rodas, e Darcy estava me empurrando, a humilhação não tinha fim! - O que aconteceu com você, minha jovem?

- Eu tropecei.

Primeiro ele quis ver o corte no meu joelho, eu fechei os olhou quando ele se aproximou pra tirar o torniquete emplastado de sangue que uma vez foi uma blusa, ouvi uma exclamação de surpresa do dr. Horton dizendo que aquilo estava feio, o que não me surpreendeu. Então ele, com a ajuda de uma enfermeira, começou a limpar com alguma coisa, eu acho que foi soro fisiológico, mas não estava olhando, então não sei ao certo, foi um processo dolorido, eu continuei com os olhos apertados, e com uma careta enquanto apertava o braço da cadeira. Eu senti uma mão em meu ombro, Darcy estava ao meu lado, ele tinha um rosto composto e olhava diretamente para mim.

- Já acabou? - disse quando senti que o dr. Horton parou de cutucar o recente buraco no meu joelho ao retirar os pedregulhos e impressionantemente um grande caco de vidro que ninguém soube explicar como foi parar na trilha. - Posso olhar?

- Vamos ter que dar uma anestesia no local para a sutura, está bem? - disse o dr. Horton.

Eu apenas concordei com a cabeça e voltei a fechar os olhos. Quando acabou eu vi o dr. Hortor dar uma risadinha animada.

- Pronto, pronto, sua namorada foi bastante corajosa até agora - disse o dr. Horton, obviamente para Darcy.

Eu estava chocada demais com o que estava acontecendo comigo naquele momento, entre a dor no meu pé esquerdo e a náusea que meu sangue me causa para retrucar que Darcy e eu não éramos namorados. Ficou na incumbência de Darcy ter de dizer.

- Ela não é minha namorada - disse ele secamente.

- Não é, você tem namorada, rapaz?

Darcy pareceu chocado com a pergunta direta, mas mesmo assim respondeu que não e então o dr. Horton perguntou se eu tinha namorado e eu, sem entender no que ele estava querendo chegar, respondi que também não tinha, então ele sorriu para Darcy.

- Então, jovens, se estão desimpedidos, o que é que vocês estão esperando?

Eu olhei para Darcy, chocada e sem jeito, Darcy não disse nada, mas percebi ele juntando os lábios forte em uma linha e se afastou de mim um pouco.

Felizmente, o dr. Horton não esperou por uma resposta, ele pediu o raio x do meu pé, que mostra que, aff, Darcy estava certo: meu pé estava quebrado.

Lá se vai meus planos de escalada durante o Spring Break que fiz com George.

Teria que botar gesso, o que é uma porcaria, mas o dr. Horton sugeriu que eu poderia preferir usar uma bota ortopédica imobilizadora, o que ao menos, garantiria que eu poderia me movimentar por aí, mesmo que não pudesse realmente ir fazer caminhada.

Bertram surgiu com a tal bota que parecia a bota de um cosplay do robocop, não sei onde ele achou isso, mas eu pude sair andando do hospital, quem diria e não precisava tomar banho com uma sacola no pé, o que já é muito.

Depois dessa manhã conturbada, eu só esperava que meu dia ficasse melhor.

Voltamos para Netherfield e encontramos todos a nossa espera. Bertram tinha ligado para casa para notificar a presença de Darcy e eu ao hospital e, consequentemente, a dele também.

Bing e Jane estavam preocupados comigo, mas Caroline provavelmente estava aborrecida por ainda não ter comido seu café da manhã e por Darcy ter me acompanhado.

- Lizzie, me sinto responsável - disse Bing cheio de remorso. - Você se machucou na minha propriedade.

Eu ri.

- Bing, você andou quebrando garrafas na trilha e fazendo buracos?

- Não - disse ele confuso.

- Então como a culpa é sua.

- Sua mãe vai ficar decepcionada comigo, eu prometi que vocês duas ficariam a salvo em Netherfield e agora eu devolvo a filha dela nesse estado - disse apontando para meu pé quebrado e para a minha calça ainda ensanguentada, que eu estava desesperada para tirar.

- Minha mãe já presenciou coisa pior vindo de mim, Bing, quando eu tinha três anos eu subi no telhado de casa com a fantasia de homem aranha e achei que tinha super poderes.

- Meu Deus, eu me lembro disso, por sorte Lizzie caiu em cima uns arbustos e só quebrou o braço - disse Jane aflita. - Lizzie, você deveria ter me avisado, eu teria ido com você.

Eu mordi o lábio e não olhei na direção de Darcy.

- Darcy cuidou bem da situação.

- Ainda bem que era Darcy que estava lá e não eu, eu detesto sangue, quando era criança queria ser veterinário, mas só o cheiro de sangue me deixa tonto.

Isso alarmou Jane.

- Lizzie, falando nisso, como você reagiu quando viu o sangue?

Eu senti meu rosto arder am chamas, não queria falar nada na frente da Caroline.

- Ela foi muito corajosa, teria vindo andando com o pé quebrado até aqui se eu não tivesse insistido em leva-la.

Caroline, que recentemente foi carregada por Darcy pelo caminho - por mimo e esquema e não por um motivo real - voltou a me olhar cheio de ciúmes. Ela estava tão quieta que eu sentia medo dela, decidi que talvez fosse melhor ser sincera e demonstrar minha fraqueza na frente de todo mundo.

- Darcy está sendo condescendente, eu apaguei assim que vi o meu joelho - disse ainda sem jeito, evitando olhar para Darcy.

Bing concordou com a cabeça.

- Eu só doo sangue quando sou obrigado, ou seja, nunca! Quando tenho de tirar sangue para meu exame de check-up anual eu faço por insistência de Caroline e Darcy costuma ficar ali me observando com aquele olhar severo dele que parece muito o do meu pai. Eu juro que se Darcy não fosse tão mais alto e largo do que eu, eu o enfrentaria, mas sei que ele iria detonar comigo.

Darcy ainda estava desconsertadamente usando uma regata e eu estava evitando olhar na sua direção, mas não pude deixar de rir do que Bing disse, mesmo que Caroline tenha lhe dado uma bronca pelos seus "maus modos", não que eu tenha achado que o que ele disse fora ruim.

- Antes que eu desmaie outra vez, eu vou subir para tomar banho - disse.

Eu fui andando de vagar, uma porque um dos meus joelhos estava enfaixado e a outra perna estava com a bota do robocop, e meu pé ainda doía quando eu me movimentava.

- Darcy, ajude a Lizzie a subir até o quarto - disse Bing, novamente aflito.

- Não! Não, eu estou muito bem! - garanti.

- Não seja teimosa, Lizzie, deixe o Darcy ajudar você, ele é um cavalheiro, sabe.

Darcy fez uma cara para Bing, mas se aproximou de mim me oferecendo a mão.

- Me permite te ajudar?

Foi muito a contragosto que eu aceitei. A principal razão é que eu não gostava que ninguém me ajudasse em coisa nenhuma, eu gostava de ser autossuficiente e não parecer uma mocinha indefesa de filmes antigos esperando o príncipe encantado - não que Darcy fosse um príncipe encantado!

Outra razão é que eu ainda não gostava/confiava em Darcy e me sentia constrangida pelo fato dele ter me visto tão vulnerável hoje.

Jane pareceu ler a minha mente e se ofereceu para me ajudar a tomar banho, Caroline, sem duvida, estava espumando, enquanto Bing ainda parecia aflito com o meu acidente, se culpando pelo acontecido.

Quando ele, sem expressão e silenciosamente me deixou na porta do meu quarto, sendo seguido pelos olhos vigilantes de Caroline eu decidi que era hora de agradecer por sua assistência, afinal, eu precisei dele e ele me atendeu.

- Darcy, sinto muito pelo que te obriguei a passar hoje de manhã.

- Você teve uma manhã muito pior do que a minha - disse ele, sem esboçar reação.

- Obrigada por... hum, tudo, ter me carregado inconsciente pela trilha e me levado para o hospital.

Darcy apenas meneou a cabeça, em silêncio.

- Bem... hum... então... é isso, eu vou... com licença!

Como essa situação era desconfortável! Eu só queria sair de Netherfield de cabeça erguida e calmamente, será que era pedir demais?


(AINDA HOJE, SÓ QUE MAIS TARDE!!!)

Bem, essa manhã foi... uma droga!

Minhas coisas já tinham sido guardadas e eu estava pronta para ir embora, mesmo depois do acontecido ter feito Bing dizer que era um pressagio de que nós deveríamos ficar, eu, de minha parte, acreditava que era o oposto, era um pressagio de que deveríamos já ter ido há muito tempo.

Meu pé ainda doía absurdo, eu teria que ficar de repouso, mas não tenho paciência para isso, estou acostumada a andar de um lado para o outro sem ajuda de ninguém, já quebrei o braço inúmeras vezes, mas a perna era a primeira vez e isso estava me deixando maluca.

Foi Bing quem me carregou até o carro dessa vez, ele estava apreensivo em ter que contar tudo para minha mãe, como se minha mãe já não estivesse acostumada aos meus acidentes constantes na infância.

Bing era adorável! Era fácil de amar Bing, como se ele fosse um irmão que eu tinha perdido. Novamente fiquei feliz por Jane ter a sorte de ter Bing e feliz por ele ter encontrado uma pessoa tão maravilhosa como Jane.


Caroline deve ter respirado aliviada quando me viu partir, Darcy e Caroline não foram até minha casa, Bertram se despediu de mim e eu percebi que ele gostava sinceramente de mim, me entregando uma cesta de comida que Bing tinha mandado ele preparar na véspera - já que o combinado era que todos os Bennets passariam o dia de domingo tornando a minha casa habitável novamente, Bing tinha tido a ideia de preparar um lanche e ajudar com o necessário. Só o Bing mesmo! - Bertram tinha feito sanduíches de peito de peru, que era meu favorito, ah, Bertram... vou sentir mais falta dele do que de Caroline e Darcy, com certeza!


Como eu presumi, minha mãe não ficou tão alarmada com o meu incidente quanto Bing imaginou e com certeza ninguém o culpou por isso.

Devido a dor angustiante que eu estava sentindo no meu pé, - porque eu deveria estar descansando e não andando por aí - Jane pegou uma cadeira e uma mesinha de centro e colocou no jardim, juntamente com muitas almofadas, ela me fez sentar ali e elevar o pé e descansar.

Mary teve a bondade imensa de trazer uma das caixas da biblioteca com livros para mim e Bing, que era a pessoa mais doce que eu já vi, depois de Jane, escondeu todos os sanduíches de peito de peru para que Kitty não os devorasse - Lydia estava na fase passageira de não comer carne, vamos ver quanto tempo isso dura! Assim que me livrei da maioria das almofadas que estavam me sufocando, encontrei um livro da pilha e comecei a ler.

Jane se prontificou a arrumar meu quarto, além do dela, coitada. Meu pai se ocupou com a sua biblioteca e minha mãe estava tentando ajeitar a casa da melhor forma possível para que ela fosse rapidamente habitável. Como amanhã era segunda, tínhamos a sra. Hill, que ajudaria a organizar tudo, graças a Deus!

Bing não sabia nada de trabalhos domésticos, ainda assim, ele se colocou a disposição de todo mundo, ajudando a desempacotar tudo e movendo móveis pesados. Eu perdi toda a diversão, mas Lydia ou Kitty vinham me atualizar com algum vídeo que fizeram de Bing e Jane trabalhando juntos, eles eram uma gracinha juntos!


Um bip me avisou que eu tinha uma mensagem nova, fiquei animada ao ver que era de George.


Pedipara Mary, que estava passando ali naquela hora, para tirar uma foto do meu estado e mandei para ele.

Eu voltei ao meu livro e fiquei ali, distraidamente entretida com a narrativa, dentro de um mundo paralelo e essa foi a razão pelo qual eu só vi que tinha alguém do meu lado quando a pessoa colocou a mão em meu ombro e chamou meu nome.

- Lizzie?

Ah, era George, ele estava menos bronzeado do que eu me lembrava, mas ainda estava lindo!!

George estava com a camisa um pouco amassada e tinha um ar cansado pela viagem, mas pareceu feliz em me ver tanto quanto eu a ele. Ele olhava diretamente para meu pé.

- O que aconteceu contigo? - disse ele sentando na mesinha que eu apoiava o pé.

- Eu cai em um buraco na trilha, foi um acidente infeliz.

George apenas balançou a cabeça, com um sorriso zombeteiro no rosto.

- Estava distraída pensando em mim, não é?

- Ah - disse sarcástica. - Você é tão inebriante que eu não consegui pensar em outra coisa!

George riu.

- Então não se preocupe mais, porque eu já estou aqui!

George era um encanto, eu o apresentei para a minha família que logo caiu de amores por ele, todos ficaram encantados com seu bom humor e disposição.

Todos menos, inexplicavelmente, Bing.

Bing não consegue ser mal educado ou rude com ninguém, mas percebi que quando eu disse o nome George Wickham Bing olhou surpreso para George e então ficou sério e em silêncio, o que não era o Bing que eu conheço!

Aquilo era muito estranho, principalmente porque George cumprimentou Bing com naturalidade e a mesma animação que fizera com os demais, ele sequer deu a entender que o conhecia.

Então só havia uma explicação, Bing sabia de George pelo Darcy, o que novamente me deixou curiosa para saber o que havia entre esses dois!

Minha mãe foi quem mais amou conhecer George, claro que Bing sempre seria seu preferido, mas ela ficou animada ao perceber a proximidade de George e eu.

Já tinha passado a hora do almoço, comemos tudo o que tinha na cesta de piquenique que Bertram tinha preparado e boa parte da bagunça tinha sido organizada.

George tinha ficado para ajudar, ele era muito prestativo, até meu pai, que nunca falava com ninguém, estava entretido em uma conversa com ele.

Kitty e Lydia ficaram pairando em cima de nós dois, sondando e fazendo piadas sobre a gente, o que parecia divertir George ao invés de aborrecê-lo, mas finalmente as duas tinham entrado e ficou apenas George e eu no jardim dos fundos.

Ele tinha me trazido um pouco de água para eu beber o analgésico, já que a dor no pé não tinha me dado uma folga ainda.

- Aqui está, madame! - disse ele fazendo uma pequena reverência.

- Obrigada, meu senhor! - disse rindo.

Eu tomei meu remédio e George puxou uma cadeira para o meu lado.

- É uma pena que não podemos concluir nossos planos - lamentei. - eu estava ansiosa para acampar, não faço isso faz um tempão!

- Talvez possamos acampar aqui no seu jardim - disse ele sorrindo de forma sedutora. - ou então eu te carrego pela trilha nos meus ombros, você não deve pesar muito mais do que a minha mochila.

Eu ri novamente.

- Acho que isso depende muito do que você está carregando na sua mochila.

- Eu não vou deixar você escapar só por causa de um pé quebrado - ele se aproximou de mim, bem mais perto e abaixou um pouco o tom de voz. - estava ansioso em poder passar um tempo sozinho com você.

Eu senti meu coração martelar no peito, tão perto assim eu podia perceber que seus olhos verdes tinham pontinhos dourados e ocre e sua barba estava começando a crescer, brilhando no sol em um vivo cobre dourado.

George sorria, ele tinha um sorriso de matar, fiquei pensando em quantas mulheres já se derreteram por causa desse sorriso, quantas delas fizeram tudo o que ele queria. Não devia ter sido um número pequeno.

Estava funcionando comigo? Bem, na verdade estava funcionando um pouco sim!

Estávamos próximos assim e acho que ele iria me beijar, eu fiquei nervosa e ansiosa por isso, com certeza eu não o repelaria, só que fomos interrompidos por um carro que estacionava em casa.

Devia ser meu tio Phillip, pensei, porque ele tinha dito que viria aqui trazer as coisas que minha família deixou lá, então não pensei mais nisso e ignorei. Felizmente George também.

Ele esticou sua mão, tocando de leve com a ponta dos dedos na minha bochecha, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e se aproximou ainda mais, tão perto que eu sentia sua respiração na minha pele. Sim, agora ele iria me beijar!

Quando...

Alguém vinha pela passarela até o jardim de trás. Era Bing... e Darcy!

Darcy e Bing tinham nos braços uma caixa com um monte de coisas aleatórias da cozinha dentro, com certeza eram coisas que minha mãe tinha deixado na garagem para não estragar na reforma.

Porque raios Darcy estava ajudando na nossa reforma, eu não tenho ideia, achei que ele tinha ficado feliz com a minha partida.

Mas isso não é nem um pouco relevante agora!

George estava a ponto de me beijar quando ouvimos o barulho de passos vindo da passarela, só que estávamos muito ocupados no momento para nos importar, foi quando Bing e Darcy apareceram na curva, os dois deram de cara com a gente, os lábios de George uns cinco centímetros do meu. Ouvimos um barulho estranho que fez a gente se separar e olhar para ver o que tinha acontecido.

Darcy estava parado olhando para George com uma expressão esquisita. O barulho foi de Bing, que tinha dado um encontrão em Darcy quando este parou de repente, fazendo ele trombar com as costas do amigo e quase derrubar as duas caixas empilhadas que segurava.

Bing olhava de Darcy para George, parecendo desconcertado, mas o rosto de Darcy...

Darcy olhou para George de forma dura, era como se uma sombra estivesse cobrindo seu rosto. Eu olhei para George, ele se afastou de mim, tinha o rosto composto, porém percebi que ele não parecia muito feliz em ver Darcy também.

- Darcy - cumprimentou George friamente.

Darcy nem se dignou a responder, ele simplesmente colocou a caixa no chão, deu meia volta e saiu.

Bing ficou sem saber o que fazia, então após hesitar, colocou suas caixas no chão também e foi atrás de Darcy, sem dizer nada.

Eu tinha previsto que havia alguma coisa acontecendo entre Darcy e George, mas não achei que fosse ser assim...

Eu estava curiosa e não iria deixar George sair daqui até que ele me contasse tudo!



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