Carla
Senti braços me envolverem, quando me dei conta de que era Renato, desabei no mesmo instante, deixo as lágrimas, que tenho segurado desde que cheguei nesse hospital, caírem sem nenhuma cerimônia.
Ana foi atropelada quando viu uma coleguinha do outro lado da rua, Dalva não conseguiu salvar ela antes por estar conversando com a professora da Ana.
O motorista que estava dirigindo o carro que atropelou minha menina, esta no hospital, se mantém aqui, já me pediu desculpas muitas vezes e disse que quando viu, já não tinha mais como freiar.
Eu não o culpo, nem ele e nem a Dalva... sei que Ana é sapeca e por ser uma criança pequena, não tem noção do perigo.
Eu só quero que ela fique bem...
Desde que Renato chegou, estou abraçada a ele, sentindo as batidas do seu coração e tentando me acalmar. Estamos sentados no sofá da sala de espera, Lili e Alex também estão sentados nas cadeiras, aflitos. Vitor, o motorista e Dalva também estão esperando notícias dela.
Desde que chegou, ninguém vem dar notícias da Ana, apenas disseram que tiveram que levar ela para uma cirurgia, mas não me explicaram o porquê!
Liguei na livraria e pedi para dona Alice o número de Richard, que esta no sistema, ela me passou, e imediatamente liguei para ele, dando a notícia.
Ele é o pai, e já esteve bastante tempo afastado da nossa filha...
- Cadê ela?
Richard chega, me levanto e todos também levanto, quando fico de frente para ele, pego sua mão. Ele me encara, com os olhos marejados e a respiração ofegantes.
- Onde ela está, Carla? O que aconteceu com ela?
- Dalva - mostro Dalva para ele. - busca Ana na creche quando Renato e eu não podemos - ele olha para Renato, que toca meu ombro tentando me acalmar, e logo se afasta. - E fica com ela até a gente chegar... Depois que eu saí do hotel, eu fui almoçar pedi pra ela pegar a Ana, porque eu tinha que ficar até mais tarde na livraria e Renato também ia trabalhar até tarde! E ela foi buscar a Ana e enquanto Dalva conversava com a professora, Ana atravessou a rua...
- Sozinha? Como ela deixou...
- Richard! - o interrompo. - Por favor... Dalva não tem culpa de nada. Ana Clara é uma menina sapeca, as vezes teimosa, mas além de tudo, ela é uma criança!
- Senhor, - Vitor se aproxima. - Fui eu quem atropelou a sua filha. Ela surgiu do nada e eu não consegui freiar... Sinto muito! Peço perdão!
Richard ignora Vitor, e me encara deixando algumas lágrimas abandonarem seus olhos.
- E como ela esta?
- Ainda não tivemos nenhuma notícia dela. O médico está realizando uma cirurgia e ainda não sabemos o porquê. Eles não tem como informar.
- O médico vai vir assim que terminar - Dalva diz.
- A gente só precisa ficar calmos. Rezar e esperar... - digo com a voz embargada.
- Ela vai ficar bem, Richard - Renato diz. - Ana é forte!
- Obrigada... - Richard diz.
- Familiares de Ana Clara Figueira?!
- Eu sou a mãe dela!
- Eu sou o pai!
Richard e Renato dizem juntos, os dois se entreolham e todos olham para os dois, respiro fundo e me volto para o doutor novamente.
- Sou Carla Figueira. Mãe da Ana...
- Prazer em conhecer a senhorita, eu me chamo Diego Maldonado. Estou cuidando do caso da sua filha - ele diz se desligando de Richard e Renato.
- Como ela esta?
- A batida do corpinho dela no carro foi muito forte, ela bateu o abdômen com força, o que ocasionou uma hemorragia interna grave. Por isso, assim que ela chegou, corremos para a cirurgia. Graças a Deus, nós conseguimos conter a hemorragia e ela esta fora de perigo. Realizamos também uma tomografia, pra saber de não afetou o cérebro dela. E não tem nada de anormal.
- Ah! Graças a Deus - me viro procurando o abraço que eu tanto preciso e Renato esta lá, o abraço e sinto seus lábios em minha testa. - Ela esta bem...
- Esta sim, meu amor!
- E onde ela esta?
- Ela ainda esta sob efeito da anestesia. Mas provavelmente ela vai acordar logo... Quando estiver no horário de visitar, peço para virem avisar vocês!
♡
Passei a noite no hospital, Ana acabou dormindo a noite toda, fiquei ao lado dela a cada segundo da noite, monitorando a tela que diz como ela esta, monitorando cada batida do coração dela.
Renato e Richard também ficaram, mas apenas um acompanhante pode ficar no quarto com Ana, então os dois ficaram na sala de espera.
Assim que amameheceu, Renato foi o primeiro a entrar no quarto, selamos um beijo e sorrio.
- E o Richard? Não quis entrar?
- Não - ele beija a testa de Ana, ainda dormindo. - Ele disse que precisa de um tempo pra ele pensar.
- Será que ele esta bem?
- Acho que sim, meu amor e...
- Mamãe... Papai...
A voz baixinha e cansada da minha menina interrompe Renato, olhamos para ela imediatamente e sorrio sentindo meu coração se encher de alívio.
- Oi, meu amorzinho!
Falo selando meus lábios na pequena mãozinha de Ana.
- Unde eu tô?
- No hospital, querida!
Renato diz sentando ao meu lado e colocando sua mão em cima da minha que esta segurando a mão de Ana.
- Você foi atropelada, Ana...
- Deculpa, mamãe - os olhinhos dela encheu de água. - Ieu cori siem segular a mão da Valva.
- A mamãe te desculpa - falo acariciando seus cabelinhos castanhos. - O importante agora é você se recuperar pra gente ir embora daqui... tudo bem?
Ela apenas balança a cabeça assentindo.
- Você esta sentindo algo?
Ana põe a mãozinha em seu abdômen, olho para Renato.
- Ta duendo aqui...
- Logo vai passar. A mamãe promete, princesa!
Ela balança a cabeça assentindo e abre um sorriso fraco.
- Eu amo você - falo beijando sua bochecha e quando olho nos olhinhos dela, sorrimos juntas.
- Eu também amo você, Ana! Não esqueça disso, filha... - Renato diz deixando algumas lágrimas abandorem seus olhos.
- Ieu amu voceis!
Renato e eu damos uma gargalhada baixa e após selarmos nossos lábios, olhamos a pequena sapeca, agora cheia de curativos na testa, pescoço, braço, cabeça.
Escutamos duas batidas na porta e logo o Doutor surge, ele fecha a porta e abre um sorriso largo.
Renato e eu levantamos.
- E como a mocinha esta?
- Ela disse que esta sentindo dor no abdômen, doutor!
- Deixa eu ver isso...
Ele sorri colocando sua prancheta em uma mesa e anda até Ana, ficando do lado oposto que Renato e eu estamos.
Pedindo licença, ele abaixa o lençol e levanta o pijaminha azul cheio de bolinhas dela revelando sua barriguinha.
Em sua barriga tem os curativos da cirurgia, ele começa a examinar a barriga dela e conversa com Ana.
- Você dormiu bastante, mocinha! Quer me contar seus sonhos?
- Ieu taba num jaidim.
- Um jardim?! E o que tinha messe jardim que você estava?
Renato e eu nos entreolhamos, deito minha cabeça em seu ombro e sorrimos, voltando a olhar para os dois.
- Muita floris! E bubuletas. Passalos. E ieu curia atlas dos passalos.
- Que sonho bonito em... - ele abaixa o pijama e cobre Ana com o lençol. - Eu queria ter sonhos assim. Mas eu só sonho que estou na praia, comendo camarão e bebendo suco.
Ana da uma gargalhada, ela para quando põe a mãozinha na barriga e faz uma careta reclamando de dor.
- Eu vou pedir pra te darem um remédio pra dor. E logo vai passar esta bom, princesinha?
Ele olha para mim e para Renato, digo para Ana que já voltamos e ela sorri assentindo com a cabeça.
Ficamos perto da porta, entrelaço meus dedos nos de Renato e respiro fundo.
- Vou pedir para fazerem alguns exames. Uma ultrassonografia e outros exames...
- Por que? Ela esta bem?
- Só para saber o porque dessa dorzinha. Mas ela vai ficar bem!
- Esta bem... Vou fazer os pedidos e já já eles vem pegar ela para fazer os exames.
♡
- Oi...
Falo me sentando ao lado de Richard, ele esta olhando para o nada, pensando em algo que eu queria muito saber qual é.
Ele me olha, limpa suas lágrimas.
- Eles vão fazer mais exames nela.
- Por que?
- Ela esta sentindo uma dor no abdômen. Mas o doutor Diego disse que ela esta bem. Que é só para saber o porque dessa dor.
Ele assenti com a cabeça.
- Por que não entrou? No quarto?
- Não quero confundir a cabecinha dela. Então achei melhor esperar mais. Esperar até você contar a ela... Se eu entrasse lá, ela ia ficar toda confusa.
- Obrigada, Richard!
- Não precisa agradecer... Antes de eu pensar em mim, tenho que pensar nela. E ela é o mais importante!
- Sim - pego a mão dele. - Assim que tudo isso passar, eu contarei a ela e vocês irão se conhecer... Eu te prometo!
- Obrigada!
Nos abraçamos, pensei que eu nunca mais sentiria esse abraço.
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Até daqui a pouco
💕