Minhas mãos estão trêmulas enquanto observo o céu se tornar uma mistura de tons de laranja mesclado em amarelo. A escuridão toma seu posto e o dia se transforma em noite. Colocando uma capa sobre meus ombros, saio sorrateiramente do quarto.
O castelo ainda está praticamente uma anarquia como Suzi me dissera pelo manhã. Com isso, ninguém me dispensa mais do que um olhar. Saindo pela ala dos empregados, caminho até o ponto de encontro marcado com um capuz escondendo meu rosto. Sem dúvidas, aquele é o mais bonito jardim no palácio.
Árvores frutíferas enfeitam uma pequena trilha pedregosa. Um córrego corta o terreno e uma linda ponte serve de passagem sobre ele. Do outro lado do caminho, encontra-se uma pequena capela contornada por hortênsias multicoloridas. Em frente à construção, John me aguarda vestido com um terno preto e um largo sorriso.
-Eu estava ansioso pela sua chegada. –Ele fala e segura em uma das minhas mãos.
Sorrio para ele e o sigo para dentro do templo. Pequenos vitrais projetam luzes coloridas em todo o local. No altar, um homem mais velho com uma túnica branca nos cumprimenta enquanto nos aproximamos. Ao lado dele está o capitão Félix.
-O que viemos fazer aqui? –Questiono a John.
-Bem, você aceitou meu pedido de casamento e eu não podia esperar mais tempo para que você fosse oficialmente só minha. Félix aceitou ser nossa testemunha. –Ele responde simplesmente.
-Nós vamos nos casar? –Exclamo surpresa.
-Sim, a menos que você diga não. –Ele diz fazendo graça.
Dou-lhe uma leve cotovelada nas costelas em resposta. Isso, sem dúvidas, é muito mais do que eu podia imaginar. Ainda assim, parece o certo a ser feito. Entre os muitos traços do destino para mim, John fora o melhor desvio ocorrido em meu caminho.
Félix me cumprimenta com um aceno de cabeça. Sabia que John confiava nele, mas não conhecia a profundidade desse sentimento até esse momento.
-Podemos dar início a cerimônia? –O sacerdote pergunta.
-É claro. –John responde.
-Como vossa Alteza solicitou, não farei o costumeiro sermão matrimonial. Quero somente lhes dizer que o casamento é um laço eterno. Vocês se unirão não apenas através da carne, mas também, por meio do espírito. Amar alguém não se resume a um encontro de corpos, vai além de palavras e demonstração de afeto. Amar significa doar-se inteiramente, sofrer a dor do outro e, se necessário, entregar sua vida em favor do objeto do seu amor. Além disso, amar implica compreender e aceitar defeitos e qualidades. Estejam preparados para as tribulações que virão. Saibam que nenhum matrimônio está livre de dias ruins. –Ele pausa e pega um pequeno pedaço de papel. –John Arthur Benjamin Galiano Beryllos Pharus, aceita Scarlett como sua legítima esposa com a missão de amá-la e zelar pelo seu bem-estar? –Ele pergunta.
-Sim. –John responde sorrindo.
-Scarlett, aceita John como seu legítimo esposo com a missão de amá-lo e zelar pelo seu bem-estar? –O sacerdote pergunta a mim.
-Sim, eu aceito. –Digo com lágrimas escorrendo em minhas bochechas.
-As alianças, por favor. –Pede o sacerdote.
Félix retira do bolso um estojo de veludo e a estende a John. Nela, há duas alianças douradas. O príncipe retira meu anel de noivado do dedo anular esquerdo e o substitui pela aliança. Logo depois, ele coloca o anel na minha mão direita.
Meus dedos tremem enquanto seguro a aliança destinada a ele e a deslizo em seu dedo. Esse ritual simples representa muito mais do que nós dois podemos imaginar. A partir de agora, nossos destinos estão completamente entrelaçados.
-Nesse momento, vocês se tornam marido e mulher. Ligados não apenas pelo símbolo de uma aliança, como também no amor. Além disso, você passará a ser chamada de Scarlett Galiano, como solicitado pelo príncipe. –O sacerdote diz para mim. –Podem selar esse pacto com um beijo. –Ele termina sorrindo.
Lanço-me nos braços de John e o beijo. A felicidade desse momento se infiltra em minhas veias e explode em meu coração. Nunca senti uma sensação de completude tão grande. Ao nos afastarmos, assinamos uma certidão e Félix e o sacerdote nos cumprimentam.
-Espero que saiba o que está fazendo –Félix diz a John.
-Nada jamais foi tão certo em minha vida quando isso. –Ele responde olhando para mim.
Nós passeamos pelo jardim sozinhos por um tempo. Entre beijos e abraços, imaginamos nossa vida juntos fora daqueles muros imensos a nossa volta. Os olhos de John reluzem na pouca luz e percebo que meus sentimentos por ele aumentam a cada minuto.
-Amanhã, durante o aniversário de Cecília, não poderemos usar nossas alianças. Porém, assim que estivermos longe daqui, não precisaremos mais escondê-las. –John fala enquanto retornamos ao meu quarto.
-Eu sei. Ainda precisamos manter as aparências. –Respondo resignada.
-Será por pouco tempo. –John jura e segura meu queixo delicadamente.
-Espero que sim. –Digo acariciando seu rosto.
-Katrina provavelmente permanecerá ao meu lado ao longo da cerimônia. Irei me manter o mais longe dela que poder. –Ele fala apreensivo.
-É melhor, para o seu próprio bem, que você se esforce bastante. –Respondo com um falso tom de ameaça.
Eu o beijo em frente à minha porta ignorando os riscos. Sinto que quanto mais o tenho, mais o necessito. Quase como uma ânsia recém descoberta.
-Você quer ficar esta noite? –Pergunto em expectativa.
-Entrar nesse quarto com você é tudo que mais desejo nesse momento, mas preciso estar em meus aposentos caso alguém me procure. Geralmente, quando há algum evento importante próximo, meu pai me envia para analisar listas de possíveis acordos que poderemos travar durante a solenidade. –Ele responde infeliz.
Tento esconder meu desapontamento e compreender a situação. Afinal, ainda precisamos esperar para ficarmos juntos definitivamente. Com um último beijo, John se despede de mim. Somente quando sua silhueta some em meio a escuridão do corredor, retorno ao meu quarto.
Cuidadosamente, retiro minha aliança. Um caleidoscópio de sensações percorre meu corpo ao fitar o pequeno elo de ouro que carrega em si promessas tão significativas para mim. Em um instante, meu coração estava partido e em agonia. No átimo seguinte, John havia reparado suas rachaduras e trazido bonança em meio a uma tempestade sem fim.
Para não correr o risco de perdê-la, coloco a aliança no cordão do meu colar. O anel de noivado continua em meu dedo como uma forma de resistência. Ele seria a prova de que tudo aquilo é real enquanto John não estiver em meus braços.
Alguns fatos não poderiam mais ser negados: estou irreversivelmente apaixonada pelo herdeiro de Pélagus. Indo contra a todos os valores que regem minha vida, entregara meu coração e minha alma ao filho do homem que me aprisionou em seu castelo. O rei, definitivamente, não desistiria de nos encontrar. Algo me dizia que seus planos para mim são muito mais profundos do que apenas uma verificação dos meus dons.
Contudo, minha libertação está próxima. Preciso a acreditar que nossa fuga será bem sucedida. John jamais iria me trair, pelo menos essa é a minha esperança.
Oiee!!! Capítulo novinho! Esse ficou mais curtinho, mas cheio de amor!
Espero que gostem!
Não esqueça de deixar sua estrelinha e colocar o livro na sua biblioteca para não perder nenhuma atualização! E se preparem, fortes emoções à vista!
Um grande beijo e um excelente final de semana a todos.