Ninguém vê, ninguém sabe
Nós somos um segredo, não podemos ser expostos
É como isso é, é como isso será
Longe dos outros, perto um do outro
Zara Larsson _ Uncover
Revisado*
Acordado sentindo uma brisa fresca no meu rosto. Meus olhos se ajustam ao ambiente onde estou. Meu quarto.
Tento me levantar, mas sinto uma fisgada na barriga. O tiro que levei ontem.
— Que merda!
Com cuidado me sento na cama, meus pés tocam o chão frio.
Estou vestindo uma camisola preta.
Me lembro dos tiros. Nikolai atirando contra os homens! Um garoto de dez anos atirando! Meus Deus!
Me levanto e caminho até a janela do quarto, as cortinas balançando conforme o vento chega.
— Está pensando em pular? — Andrey pergunta.
Assusto pelo modo sorrateiro como ele apareceu. Viro rapidamente, causando uma dor horrível. Solto um grunhido.
— Acho melhor você voltar a se deitar.
— Estou bem — respondo — Não te vi aqui dentro.
— Eu estava no seu banheiro.
— Ok. Eu levei um tiro?
— Levou, mas foi de raspão.
Claro, todo dia eu levo um tiro de raspão, super normal.
— Como Nikolai está? — pergunto.
— Ele está bem. Tome um banho. Depois desça para almoçar.
Ele se vira e sai do quarto.
💎
Depois de um rápido banho, vesti uma blusa de tecido mole e um short de moletom. Nem amarrei meus cabelos. Fui para a cozinha, parecia que mil caminhões passaram por cima de mim.
— Coma um pouco — Andrey diz.
No balcão tem uma caixa de pizza, o queijo brilhante e gorduroso não me faz salivar como de costume.
— Estou sem fome.
— Coma!
Empurra a caixa na minha direção, os olhos soltando faíscas. Mandão!
Pego uma fatia da pizza de calabresa.
— Quem eram aqueles homens? — pergunto.
— Yakuza.
— Eles fugiram?
— Só um, os outros três Nikolai matou.
A pizza parece querer voltar para fora.
— Mato...
— Nós da Bratva somos treinados para não sentir nada quando matamos alguém. Nikolai viu que vocês estavam em perigo e agiu.
— Mas ele é só uma criança!
— Isso não importa — ele diz se levantando — Fez um curativo novo?
— Eu.. Não fiz.
Ainda estou incrédula pela forma como Andrey fala sobre o próprio irmão matar pessoas.
Ele sai e logo volta com uma caixa branca. Deposita a mesma no balcão e se aproxima.
— Levante a blusa — pede.
Subo a blusa na altura dos seios.
Andrey faz todo o processo com calma. Mordi o lábio contendo o gemido baixo.
— Sinto muito.
— Não foi você que atirou em mim.
— Eu sei. Pronto.
Abaixo a blusa.
No seguinte segundo nossas bocas estão uma na outra. Esqueço que levei um tiro, esqueço de tudo.
Eu estava querendo beijá-lo. Eu queria logo depois do nosso primeiro beijo. Não posso mentir para mim mesma, eu queria muito beijar Andrey.
A língua sedenta dele cria caminho entre meus lábios. Seguro o cabelo dele e me aperto mais.
Me afasto e respiro um pouco. Posso sentir o quão excitado Andrey está. O volume em sua calça entrega tudo.
— Isso foi...
— Uma safadeza sem limites. —Nikolai diz — Se querem se comer, vão para um quarto.
Olhamos para Nikolai, que se senta em uma banqueta e come um pedaço de pizza, nem olha para nós.
Rio envergonhada.
— Vocês tem que parar de se pegar aqui na cozinha. Este é um lugar sagrado.
— Recado recebido — Andrey diz.
— Como você está Nikolai?
Mudo de assunto. Muita vergonha para uma só pessoa. Andrey nem parece afetado pelo constrangimento.
— Bem. Sinto muito por não te proteger.
— Mas você me protegeu! — falo.
— Você levou um tiro!
— Estou bem, você me protegeu, e eu vou ficar eternamente grata por isso.
Abraço ele. Esse menino me protegeu. Sorrio feliz, apesar de ainda achar o cúmulo ele matar alguém.
💎
Passamos a tarde assistindo filmes. Todos com tiros, acidentes de carro, explosões. Nenhum dos dois quis assistir uma comédia, só fiquei quieta e assistindo.
Já era noite quando deixamos de assistir os filmes porque Nikolai dormiu.
Andrey levou ele para o quarto e eu fui para o meu. Tirei minhas roupas e tomei um banho. Eu prestei atenção em como Andrey fez o curativo, então eu mesma fiz em mim.
Visto uma regata e um shortinho.
Desligo a luz e deixo o abajur ligado.
Depois de algums minutos escuto minha porta se abrir e fechar. O colchão afunda ao meu lado. O perfume de Andrey é inebriante.
— Podemos conversar? —pergunta.
— Podemos sim.
Ele me puxa pra mais perto. Sinto sua respiração na minha nuca
— Eu estive pensando. Aquele dia você disse que não queria ser mais uma na minha cama. Eu te entendo, mas depois daquele nosso beijo você não sai da minha cabeça.
Escuto atentamente suas palavras.
— Eu quero tentar algo com você. Mas se você aceitar, nossa relação só poderá ficar entre nós dois. Tenho inimigos, muitos inimigos. Se descobrirem que você está comigo eles tentarão te matar para me desestruturar.
— Eu entendo.
— Entenda que sou ciumento e possessivo. Se ficarmos juntos não quero nenhum homem perto de você.
Sorrio. Ele não sabe que detesto que me imponham regras.
— Podemos tentar — respondo. — Mas não prometo nada.
Bocejo sentindo o sono chegar.
— Durma, amanhã conversamos. — diz.
Me cubro e deixo o sono me levar.
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