REVISADO*
Afasto a cortina um pouco. James é quem bate na minha porta. Penso em uma desculpa para dar a ele. Droga! A casa é dele, não posso simplesmente dar uma de Seu Madruga e ficar me escondendo. O pior é que são quatro meses de aluguel atrasado e infindáveis desculpas. Respirei fundo e abri a porta. Ele me olha firme, não consigo disfarçar meu constrangimento.
– Já são quatro meses atrasados Diana, não posso mais adiantar – diz.
– Eu sei James, mas eu te peço mais um tempo. Tenho um pouco de dinheiro. Fui demitida ontem, consegui um emprego que vai pagar bem.
Ele coça a cabeça, parece pensar em algo. James aparenta ter mais idade do que realmente tem.
– Te dou duas semanas, para pagar os atrasados. Mas eu tenho algo para te dizer – fala.
– O que foi? – Pergunto.
– Minha irmã e a família dela estão voltando, e eu preciso da casa para eles poderem morar.
Minha nossa senhora! Cada hora uma desgraça diferente na minha vida. Isso só pode ser maldição daquela bruxa da Rose.
– Entendo.
Mentira, eu não consigo entender.
– Até mais Diana.
Fechei a porta e fui até o quarto de Peter. Ele dorme serenamente. Eu queria poder voltar a ser criança, não ter que me preocupar com nada. As vezes imagino se minha vida fosse totalmente diferente, se talvez minha mãe tivesse sobrevivido minha vida poderia ter sido melhor. A realidade é diferente, muito diferente.
Passei o resto da tarde limpando a casa. Eram seis cômodos e o quintal, todos os ambientes são pequenos, o que facilitou a limpeza. No fim eu estava suada e cansada, vai entender. Tirei minhas roupas e fui tomar um banho rápido. Assim que sai do quarto ouvi meu celular tocar na cozinha. Era Lauren.
– Oi irmã querida – ela diz.
– Oi Lauren.
– Tenho novidades
– Pode falar. – Respondo. Deixei o celular no viva voz e comecei a lavar algumas frutas, eu faria uma salada de frutas para Peter, ele ama.
– Amanhã vou buscar o Peter.
Senti meu mundo girar. Fiquei parada por alguns segundos, sem saber o que dizer. Não imaginei que esse dia chegaria, me separar de Peter seria doloroso. Ele era minha única companhia. Tentei disfarçar o choro na minha voz.
– Que bom. Como vai as coisas com Jacob? – Pergunto.
– Estamos bem. Contei sobre Peter, ele ficou muito feliz. Como vão as coisas por aí?
– Estão como sempre.
– Amanhã chegaremos aí. Fique bem irmã.
– Até mais Lauren.
Desliguei o celular e suspirei fundo. Merda! Senti as lagrimas caírem pelo meu rosto.
As oito e meia da noite, Suzie veio buscar Peter. Eu conversei com ela e combinamos que ela cuidaria de Peter hoje de noite. A mulher é um anjo, não se importou de cuidar dele.
– Temos que ir Diana, a boate abre logo. – Rachel me apressa.
– Já vou!
Rachel buzinou outra vez. Desci os degraus da varandinha de Suzie e corri na direção do carro antes que a ruiva maluca acordasse toda a vizinhança. Ela me cumprimentou com dois beijinhos e seguimos para a boate. Estou nervosa. Não queria ir, mas a condições estavam ruins para o meu lado. Rachel sempre me ajudava com as despesas, mas eu só aceitava quando necessitava. E agora seria mais uma realidade diferente.
– Mas essa não é a boate que fui aquela vez. – Digo quando estacionamos no estacionamento do lugar.
– Eu mudei de boate. Essa aqui paga fixo, e ficamos com o que os clientes nos dão.
– Tudo bem.
Entramos na Lux 300. Nunca ouvi falar, mas a ruiva garantiu que a boate era a sensação do momento e tudo legalizado.
Rachel me guia até onde fica os camarins. Várias mulheres estão ali, algumas nuas e outras seminuas. Há vários aromas bons pelo local, perucas, fantasias e muita mulher bonita. Homens também, esses ajudam na maquiagem e outras coisas. Rachel bate palmas e todas olham para nós.
– Garotas, essa é a nossa nova companheira. – Rachel diz.
Recebi uma enxurrada de beijos e abraços, uma delas até apertou minha bunda. As dicas de como rebolar melhor e sensualizar para os convidados foram muitas, e fiquei feliz pela hospitalidade.
Depois Rachel me levou até a parte administrativa. Vários corredores extensos, homens enormes ao lado de cada porta. Estranho.
– Tem que conhecer o Yuri. Ele comanda o lugar, mas não é o dono. Ele quer te ver.
– Ok, vamos lá.
Paramos em frente a uma porta escura. Rachel bateu duas vezes e a porta abriu. Dois homens saíram, Rachel e eu entramos. Um local limpo e organizado, algumas estantes com pastas e mais pastas.
O homem sentado atrás da mesa enorme é bem bonito. Cabelo escuro penteado para trás, lábios bem desenhados, e um charmoso furinho no queixo. Um ar sombrio e frio parece pairar sobre ele.
Ele me avalia de cima a baixo. Fico desconfortável com seu olhar. Homens costumam me olhar com desejo, mas esse não, é como se ele despisse minha alma, descobrisse os meus segredos mais obscuros.
Porém o mais incrível é como ele olha para a ruiva ao meu lado. Rachel é linda, isso não tem como negar. Existe química entre eles, uma química que incendeia.
– Essa aqui é Diana, a garota que eu te falei.
– Bela, como você disse. – sua voz é forte, intimidadora.
– É sim. Ela começa hoje. – Rachel diz.
Eu fico calada, observando a troca de olhares ardentes entre os dois. Seria mais fácil eles me expulsarem e se atacarem como dois selvagem.
– Sabe dançar? – ele pergunta, agora voltando sua atenção a mim.
– Um pouco. Mas posso me esforçar.
– Ótimo, Rachel já me explicou as coisas. Agora você só precisa assinar um contrato.
Yuri empurra alguns papéis para frente. A caneta gelada na minha mão.
– É o seu contrato, e o outro é de sigilo. Não poderá dizer para ninguém nada do que acontecer aqui.
Sem reclamar assino os papéis e saímos da sala.
– Que olhares foram aqueles? – pergunto sorrindo.
Minha amiga fica com as bochechas coradas. Isso é raro. Ela sempre foi a primeira a falar sobre sexo e similares, agora está como uma garotinha tímida.
– Não foi nada. Agora vamos, temos que nos arrumar.
£
Dancei várias músicas ao longo da noite e da madrugada. Ganhei um bom dinheiro, só dançando para todos aqueles homens. Até que tinham alguns homens bonitos, mas a maioria eram velhos.
As regras da boate eram rígidas, as dançarinas que usassem lenço rosa na coxa não poderiam ser tocadas, e foi o meu caso, usei o lenço rosa durante todo o tempo que dancei. E mesmo assim ganhei um bom dinheiro.
Eu fiquei observando algumas mulheres indo acompanhadas por homens em direção aos quartos. Rachel me explicou que na Lux 300 havia quartos onde os clientes podiam satisfazer o seu prazer. Recebi vários convites, mas não aceitei nenhum.
Já era três da manhã quando eu deixei o palco e fui até o camarim. Eu precisava de um banho para tirar o cheiro de perfume forte e todo o glitter que Rachel passou no meu corpo.
Quatro mulheres se arrumavam em frente aos inúmeros espelhos para a próxima apresentação. Um espetáculo de seda e algemas.
Tomei banho e vesti minhas roupas. Mandei uma mensagem para Rachel avisando e que eu já queria ir embora. Sentei em uma poltrona divã e aguardei, alguns minutos depois recebi uma resposta dela.
¨Me espere no carro. Daqui a pouco te encontro. ¨
Despedi de algumas garotas e fui esperar no estacionamento.
Tive que esperar do lado de fora do carro. Acho que Rachel se esqueceu que era ela que estava com a chave. Encostei no carro e esperei. O silencio era assustador.
Eu só queria ir embora e ver Peter. A melancolia por ele ter que ir embora veio. Seria difícil vê-lo ir.
Lauren me chamou para ir com ela para Melbourne, na Austrália. Mas Chicago é o meu lar.
Escuto uma risada de homem. Todos os pelos dos meus braços eriçam;
– Ei, sua vadia loira. – Grita, embolando as palavras.
Virei e vi um homem gordo e completamente bêbado se aproximando de mim. Havia uma mancha escura na camisa dele, e eu podia jurar que era vomito.
– Quanto cobra por uma rapidinha?
– Não faço isso. – Respondo temendo pelo que ele possa fazer.
Ele cambaleia na minha direção, os olhos vermelhos e um lábio cortado.
– Uma gostosa como você deve ser cara.
Tentei me afastar, porem ele me pegou forte pelo braço. O fedor era pior ainda.
– Acho melhor você me soltar.
– Vocês se acham poderosas, são todas umas putas.
Ele me pressiona contra o carro e tenta me beijar. Senti ânsia com aquele cheiro azedo que vinha dele.
– Sai de perto de mim!! – Grito.
Recebi um tapa forte no rosto. Cai no chão sentindo um gosto metálico na boca. Minha respiração aumentou, assim como as batidas do meu coração. Escutamos um barulho. Aproveitei o momento de descuido dele e dei um belo chute em seu saco.
O porco nojento caiu no chão se contorcendo. Subi em cima dele.
– Quando uma mulher diz não, é não.
Comecei a socar o rosto dele. A fúria dominou meu corpo. Homem algum tem direito de tocar em uma mulher sem a permissão dela.
Somente quando senti minha mão latejar de dor e mãos fortes me tirarem de cima do estupido e que minha respiração se acalma.
– Diana! – Escuto Rachel me chamar.
Empurrei as mãos do homem que me segurava e corri até Rachel. A adrenalina corria por minhas veias.
– Você está bem? – Me pergunta aflita.
– Estou sim, só foi um susto.
Vi que Yuri passar por nós duas e ir falar com o homem que me tirou de cima do porco nojento. Pego minha bolsa e caminho até o canalha que ainda choramingava no chão. Chuto a barriga dele duas vezes.
– Nunca mais me toque. – Grito.
Limpo o sangue no canto da minha boca. Meu lábio doía.
– O que aconteceu aqui? – Yuri pergunta.
Quando me viro para responder eu paro. O homem ao lado dele é de parar o trânsito. Olhos azuis ou verdes, não sei direito, uma barba bem definida, e um corpo que parece ser bem quente. Sem contar a pele morena.
– Pelo o que vi, ele bateu nela e ela revidou. – O homem responde. Seu olhar quente acendendo partes que há muito tempo estavam adormecidas.
Sua voz é um som divino. Um pouco rouca, mas sensual.
– É isso mesmo Diana? – Rachel pergunta.
– É sim. Podemos ir, eu só quero chegar em casa. – Digo sentindo uma dor enorme na mão.
– Podemos sim.
O porco ainda está no chão. Quando tenta levantar, seu olhar vai diretamente para o homem que não sei o nome, seu rosto fica pálido apesar do sangue que escorre do nariz.
– Vamos Diana. – Rachel chama.
Entramos no carro e saímos do estacionamento. Me viro e vejo pelo vidro alguns homens levantando o canalha do chão e o levando, enquanto Yuri e o homem conversam.
– Quem é aquele? – pergunto.
– Não faço a mínima ideia.
Rachel me deixou em casa. Me despedi dela e fui à casa de Suzie buscar Peter. Ela deixou uma chave comigo, assim que eu chegasse era só entrar e pegar Peter. Meu pequeno príncipe dormia com um semblante calmo. Levei ele para nossa casa e o deitei em sua cama.
No meu quarto tirei minhas roupas e procurei um gel no guarda roupas. Passei um pouco nas juntas inchadas e vermelhas. Dormi logo em seguida.
Comente e deixe seu voto. Sua opinião é muito importante.