Um Natal Angelical

Oleh Babi_Barreto

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Uma criança procurando uma família. Um anjo com uma missão no Natal. Um amor que surge com o badalar dos sino... Lebih Banyak

Um natal Angelical

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Oleh Babi_Barreto


UM NATAL ANGELICAL

BABI BARRETO


Copyright © 2014 Babi Barreto

Capa: xxx

Revisão e Copidesque: Carla Santos

Diagramação Digital: Carla Santos

Todos os direitos reservados.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


"Um amor mais forte que tudo, mais obstinado que tudo, mais duradouro que tudo, é somente o amor de mãe."

(Paul Rayna)

Cada vez que chega essa época do ano, prevejo muito trabalho. Aí você vai afirmar que sou vendedor, um dono de loja de roupas, brinquedos e afins. E, claro, não vai chegar nem perto da verdade.

Meu nome é Gabriel, e sou um arcanjo poderoso de Deus. Tenho milhões de atribuições, mas nada é mais importante do que celebrar o nascimento do menino Jesus.

Mas hoje não vim aqui discutir as minhas crenças ou as minhas funções no Céu. Vim te contar algo que vivi e me marcou, e que pretendo sempre vivenciar. Essa história me ensinou sobre o amor, a dedicação e a perseverança. Porém, também sobre o quanto as crianças podem ser birrentas e terríveis. Não fofinhas como nos outros contos de Natal. Então, vamos lá...

Alice era uma menina que perdeu seus pais quando tinha três anos de idade, e viveu no orfanato "Lar dona Dorotéia", até os sete.

Além de ser uma criança encantadora, gentil e linda, ela possuía olhos azuis, cabelos ruivos, e sua pele era branca como a neve. Apesar do seu rosto angelical, sua alma estava machucada pela dor da perda.

Quando pequena era a primeira a ser apresentada aos futuros pais que iam visitar o orfanato, mas nunca aceitou nenhum deles.

Certo dia, ela foi surpreendida por Carolina e Henrique, um casal de jovens que não podiam ter filhos, mas que tinham o sonho de ser pais.

Aos 28 anos, Carolina parecia ser a verdadeira mãe de Alice, de tão parecidas que eram. Já Henrique era moreno claro, de olhos azuis e cabelo castanho liso. Um casal que, se fossem realmente os pais da criança, não seriam tão parecidos com ela.

Quando recebi a missão de ajudar esse casal a conquistar a pequena Alice, não tinha entendido, já que amar uma mulher tão doce e meiga como Carolina seria muito fácil. Mas, em poucos minutos, descobri por que eu tinha que ajudar.

O orfanato tinha dois andares, sendo que os pais aguardavam as crianças no hall, que tinham bancos de camurça e ficavam de frente para a escadaria. Assim que viram Alice descer as escadas, acredito que o amor pela criança floresceu.

— Olhe, Henrique. Ela é perfeita — Carolina dizia tentando controlar a emoção, mas cutucava seu marido insistentemente.

— Amor, ela parece ser nossa filha. Veja? Ela tem o seu cabelo. — Achei que a emoção seria restrita à esposa, mas imaginava que o instinto paternal desse jovem seja dos raros. Daqueles completamente apaixonados pelos filhos, que ensinam a andar de bicicleta, e os paparicam bastante no parque.

— Sim, meu amor. E tem também os seus olhos — cochichou, pois Alice já estava a poucos passos de distância.

— Vocês devem ser Carolina e Henrique Aragão. Correto? — O casal assentiu com a cabeça, sem parar de olhar a garotinha. — Essa é a Alice. Podemos nos sentar na sala ao lado para que possam se conhecer melhor.

A senhora sinalizou o caminho, e todos entraram em uma sala ampla, com quatro cadeiras, diversos brinquedos simples espalhados no chão, e várias pinturas nas paredes. Parecia uma sala de aula, que devia ser improvisada para os pais que desejavam adotar uma criança deste orfanato.

Carolina se aproximou da criança que, assim que entrou na sala, foi brincar com uma boneca.

— Você gosta de brincar de boneca, Alice? — Carolina fez um carinho na cabeça da criança, que bateu em sua mão e respondeu:

— Sim. Mas sozinha. Não bagunça o meu cabelo.

Que gênio terrível o dessa criança! Imagino que ela deve sofrer muito, mas acredito que toda dose de amor deve ser recebida de bom grado. Certo?!

— Tudo bem, princesa. Não vou mais mexer no seu cabelo. Posso, pelo menos, me sentar com você? — Como era possível que essa mulher ainda quisesse se aproximar, mesmo depois de ser repelida de tal forma? Sei que sou um anjo, mas não sou bobo!

— Longe, pode — respondeu Alice, olhando de soslaio para a desconhecida.

— Meu nome é Carolina, Alice. Quantos anos você tem?

— Sete. Você tem o cabelo da minha mãe. — A menina olhava desconfiada para Carolina, que imediatamente sorriu para seu marido, e sinalizou para que ele se sentasse ao seu lado.

— Quero te apresentar meu marido, Alice. Ele se chama Henrique, e é piloto de avião. Você gosta de aviões? — Carolina sorria genuinamente para Alice, que continuava temerosa diante daquele casal.

— Você tem o olho igual do meu papai. Vocês são parentes deles, e vieram me visitar? Ninguém nunca veio me procurar. — Alice se virou de costas, e parecia estar tentando conter e esconder as lágrimas.

— Não somos, Alice. Mas podemos ser seus amigos, se quiser. O que acha? — Henrique foi quem respondeu, e a gentileza da esposa era vista também no marido. Era um casal que se multiplicava. Uma coisa boa de ser um anjo é conseguir ver a bondade nos outros.

— Não quero amigos. Quero meus pais de volta. — A menina cruzou os braços na frente do corpo, e fez birra novamente.

— Infelizmente, não podemos trazer seus pais de volta. Mas podemos te dar uma nova família. Não é, Henrique? — Carolina acotovelou Henrique, esperando que o marido apoiasse sua decisão.

— Claro, querida. — Henrique ainda alisava o lugar, onde provavelmente mais tarde apareceria um belo hematoma.

— Eu não quero uma nova. Quero a MINHA família! — Alice gritou e tentou correr para fora da sala. Completamente desesperada, Carolina ficou paralisada no lugar. Mas Henrique foi rápido, e interceptou a passagem da menina.

— E que tal somente passar o Natal com a gente? — A ideia me pareceu genial, pois poderia ajudar a menina a deixar seus temores de lado, e viver um verdadeiro Natal em família.

— Mas, senhores... a ficha de vocês ainda não foi aprovada. E o Natal é na próxima semana — a senhora que estava silenciosamente sentada em sua cadeira se manifestou, fazendo até a criança olhá-la.

— Não é possível organizar tudo a tempo? — perguntou Carolina.

— Não podemos passar a solicitação de vocês na frente das outras. Há uma ordem e procedimentos legais — retrucou a senhora.

— É possível que eles peçam o direito de passar o Natal com você, Alice. Pede para ir com eles — sussurrei no ouvido da criança, que ficou atordoada ao ouvir a minha voz.

— E se eu quiser passar o Natal com eles? — a menina falou, e trouxe um imenso sorriso ao rosto do casal.

— Então, eles teriam que solicitar uma visita de Natal, e se comprometer a trazer você no outro dia. Mas isso não garante a adoção — a resposta da senhora abriu uma brecha essencial para mim: ensinar a essa criança o significado da palavra "confiança"!

— Como que a senhora se chama mesmo? — Henrique perguntou.

— Lúcia — respondeu.

— Pois, então, dona Lúcia, podemos passar o Natal com a Alice; e se ela quiser, depois daremos entrada no pedido de adoção. Nossos papéis iniciais foram aprovados. Faltam só uns últimos detalhes.

— Eu já disse: não quero ser adotada. Quero ver o Natal fora do orfanato. E quero presentes, viu? — ordenou a menina, e todos caíram na gargalhada.

— Claro. O que você gosta? — perguntou Carolina.

— Quero uma Barbie. Nunca vi uma dessas, e as minhas colegas vão morrer de inveja. — O seu pedido era tão puro e demonstrava o quanto ela estava abandonada.

Os dias se passaram e toda a documentação para a visita de Natal tinha sido organizada. Dei uma ajudinha para que fosse dada tal autorização, e hoje seria o dia de buscar Alice. Para garantir que este era o casal ideal para a felicidade da criança, convivi com eles durante essa última semana.

Eles estavam eufóricos e ansiosos. Compraram a Barbie que Alice pediu, além de roupas e outros brinquedos. Montaram uma grande árvore, de deixar qualquer criança impressionada, mas deixaram a estrela para que Alice a colocasse. Organizaram um lindo quarto para a menina, mesmo tendo a noção de que ela poderia ficar somente um dia.

Fizeram absolutamente tudo para agradar. Eu só precisava saber se eles tinham amor e perseverança suficientes para quebrar as barreiras de uma menina com medo de amar e perder novamente.

O combinado seria: uma das responsáveis pelo orfanato deixaria a Alice na casa do casal, e ela passaria dois dias. Coincidentemente o Natal foi em um final de semana, logo a criança ficaria de sexta a domingo na companhia de Carolina e Henrique.

Meu plano era: mostrar para essa criança que era possível confiar novamente. Certifiquei-me de que a vontade de Deus era realmente que Alice ficasse com esses jovens, então teria liberdade para agir.

Alice chegou exatamente às 18 horas, na sexta-feira, vestindo um lindo vestido branco, com renda rosa, e com o cabelo solto, revelando seus cachinhos vermelhos.

Sua beleza era inquestionável. Mas seu rosto de anjo não conseguia enganar por muito tempo sua mente de criança difícil. Mas nada era impossível para o amor... ainda mais com um empurrãozinho de um anjo experiente como eu.

— Olá, Alice. Seja bem-vinda à nossa casa — Carolina falou após se abaixar e fazer um carinho no rosto da menina. Alice olhava ao redor, e se impressionava com a imponência da casa.

Parecia um palácio imperial, toda branca, com lustres dourados pendendo do teto, uma sala ampla na entrada, com uma escadaria oval de cada lado, que daria acesso ao andar superior, onde estariam os quartos.

— Uau... você mora em uma mansão — Alice dizia ainda com a boca aberta.

— Alice, você gostaria de ver tudo? Temos várias surpresas para você! — Henrique disse animado.

— Surpresas? Pra mim? — a menina respondeu desconfiada.

— Sim. Vem ver. — Carolina pegou na mãozinha delicada da criança, que olhava para os lados absorvendo todos os detalhes. Quando foi levada até o quarto, havia várias caixas de presente no chão, e o quarto estava totalmente decorado, nos tons do vestido de Alice: branco e rosa.

— Vocês têm uma filha? — Alice oscilava entre olhar o quarto afora e observar o casal. Via-se que ela queria mexer em tudo, mas estava contida e amedrontada.

— Não, Alice. Tudo aqui foi feito especialmente para você. Os presentes só podem ser abertos na noite de Natal. Porém, você pode brincar à vontade com os brinquedos que estão espalhados. Tem boneca, bola, massinha de modelar — a fala de Henrique foi interrompida pela euforia da criança.

— Posso abrir todas as massinhas? — Alice tinha um lindo brilho no olhar, que estava apagado pelo seu medo de se divertir e de se envolver. Vi que ela poderia amar, mas tinha decidido não fazer isso.

— Só se me deixar brincar com você! — Carolina tinha esperança de que pudesse se aproximar. Admirei essa humana, mesmo tendo me decepcionado várias vezes com eles.

— Você não vê que é velha? Massinha é coisa de criança, e gosto de brincar sozinha. — Sabia que cedo ou tarde essa menina aprontaria uma. Foi mais cedo do que eu imaginava.

— Posso te contar uma história? — Alice continuou em silêncio, então, Carolina começou a falar, sob o olhar atento de seu marido. — O Natal é o nascimento de Cristo. E a gente nasce como criança. Certo? — A criança fez que sim com a cabeça. — E se você me ensinar a ser criança de novo? Eu acho que todo mundo tem um pouco de criança dentro de si mesmo.

— Então, eu te deixo me olhar brincando — Alice respondeu ainda petulante. Teria que esperar o casal sair para conversar com essa pessoinha.

— Já é um começo...

Alice brincava calmamente, mas em momento algum dava atenção para aqueles que poderiam ser seus pais adotivos. Ela criou uma barreira completa entre o mundo e seu coração, não permitindo que ninguém se aproximasse. Mas, quando Deus diz que há uma beleza no livre-arbítrio, algumas atitudes demonstram isso.

— Alice, você está tentando fazer um castelinho? E se a gente buscar forminhas de empadinha para fazer o telhado? Acho que pode ficar do jeito que está tentando fazer — Carolina falou, após os longos minutos em que Alice tentava fazer o telhado sem sucesso. A menina olhou para ela, pensativa, e fez que sim com a cabeça, ainda relutante.

Carolina não perdeu essa oportunidade e correu até a cozinha, pegando tudo que a menina pudesse precisar, deixando-a sozinha com Henrique, que estava paralisado, sem saber como agir.

Quando retornou, ela entregou a forma para que Alice construísse o telhado e, mesmo assim, ela não conseguia terminar o castelo. Vendo a dificuldade da garotinha, Henrique intercedeu.

— Sabia que tive que aprender a desenhar algumas coisas para ser piloto de avião, Alice? — Ela sinalizou que não. — Então, posso te ajudar a fazer esse telhado? — Ela entregou a massinha e a forma para que ele tentasse.

Assim que estava pronto, Henrique se aproximou, sentou-se ao lado de Alice e colocou o telhado na torre do castelo. Ele fez a torre com massinha azul-claro, e ficou parecendo aqueles castelos dos filmes infantis. Opa... não olhem assim pra mim. Já vi crianças assistindo, e claro que conheço. Sou anjo, mas não sou alienado.

Alice olhava para o castelo com tanto encantamento, que era de emocionar. Ela poderia não querer esse casal como pais, mas se abrisse um pouco a mente e o coração veria que seriam ótimos para ela.

— É a coisa mais linda que já vi. Será que cabe a minha Barbie lá?— Apontou para o castelo.

— Pode não caber aí, querida. Mas caberá em um dos seus presentes! — Carolina respondeu animadamente.

— Do que você me CHAMOU? — Alice gritava de forma estridente.

— Não sei do que está falando, Alice. Mas fique calma, e me desculpe. Não quis te chatear. — Carolina sinalizava com as mãos um pedido de desculpa, e tentava de toda forma acalmar a garota.

— Somente meu pai pode me chamar de querida. Você está entendendo? Você não é e nem vai ser nada minha. Eu quero ir embora — continuou berrando e indo em direção à porta. Carolina e Henrique se entreolharam, em puro desespero. Sem saber o que fazer, desceram as escadas atrás da menina.

— Nós podemos te levar mais tarde, caso ainda queira. Mas que tal jantar primeiro. Depois deixaremos que abra um presente. Que tal? — Henrique intercedeu e fez com que Alice olhasse para trás.

— Tem lasanha? — Que menina geniosa, Senhor. Não dava pra mandar uma missão mais fácil, não?

— Temos outras coisas gostosas e uma sobremesa maravilhosa. Posso pedir para servir o jantar? — Henrique perguntou.

— Posso comer na cozinha? — Ora, que pergunta era essa agora? Até eu fiquei surpreso, então imaginem a cara que o casal fez.

— É... — gaguejou Carolina. — Pode. Mas poderia nos contar por quê?

— Quando a mamãe estava preparando o jantar, eu ficava ao redor dela na cozinha. Hoje estou com muita saudade. E você se parece muito com ela — a emoção transpareceu na voz da criança, que oscilava entre a dureza e a sensibilidade em frações de segundos.

— Seu desejo é uma ordem. Vamos? — falou a moça, dirigindo-se ao marido e Alice. Eles seguiram em direção à cozinha, e ela colocou os pratos sobre a bancada.

— O que você quer beber, Alice? — Henrique perguntou.

— Tem suco de uva?

— Esperava que pedisse refrigerante. Mas, para sua alegria, esse também é o meu suco favorito. Então, tem sim — falou, indo até a geladeira, e servindo a garotinha.

— Conte pra gente um pouco mais sobre os seus pais? — perguntou Carolina, de costas para eles, terminando de preparar o jantar. Eu podia não sentir cheiro, mas a cara estava ótima.

— Vocês não tem que conhecer meus papais. Eles são meus — embirrou novamente a criança.

— Alice... permitir que as pessoas conheçam seus pais, ou se aproximem de você, não vai fazer com que os esqueça, ou que eles deixem de ser importantes para você. O amor que vocês sentiam vai viver para sempre dentro do seu coração. — Realmente, Henrique era um bom homem. Sábio e sensível.

— Mas não quero falar deles. Estou ficando com sono. Posso comer e ir dormir? A dona Dorotéia falou que eu teria que dormir aqui hoje. — Alice tentava se controlar, mas era palpável sua emoção ao lembrar-se de seus pais.

— Claro, Alice. Quer vir aqui e ver o que gosta de comer? — Carolina tentava de todas as formas agradar a criança. Alice se aproximou do fogão e tentou ficar nas pontas dos pés para ver as panelas. Mas se ela se aproximasse, se queimaria.

— Posso te levantar para ver o que temos?

— Pode. Mas sem fazer carinho — alertou Alice, trazendo um esboço de sorriso aos lábios do casal.

— Tudo bem. Temos carne, arroz, salada e batata frita. Você gosta?

— Sim. Mas por que a carne tá esquisita? — O casal não aguentou e caiu na gargalhada, o que trouxe uma carranca ao rosto da criança.

— Parem de rir! — gritou.

— É um bife à milanesa — falou Carolina, ainda tentando engolir o riso.

— Nunca comi essa coisa. Não quero isso — respondeu Alice, ainda brava.

— Experimenta! — Henrique ofereceu, tirando um pedacinho de carne da panela e entregando-o para Alice. Ela olhou várias vezes, ainda desconfiada, e colocou na boca. De repente, a criança abriu um sorriso e respondeu:

— Adorei isso. Que delícia! Quem fez? Posso comer mais? — Alice estava estridente, e agora parecia uma criança de verdade.

— Claro que pode. Fui eu mesma que fiz. Vou colocar no seu prato. Pode se sentar — Carolina respondeu admirada e feliz.

Todos se serviram e comeram em silêncio. O casal demonstrava muita insegurança, mas tinham um desejo incontrolável de cuidar dessa menina. Já Alice demonstrava ser arisca e indomável, mas extremamente carente. Eles precisavam uns dos outros. E sabiam disso. Só precisavam de um empurrãozinho para começar.

Assim que terminaram de jantar, Carolina levou Alice até o quarto, ajudou-a a colocar um pijama e escovar os dentes, e colocou a menina na cama. Não tentou ser intrusiva e beijá-la, mas vi em seu olhar que a criança sentia falta de algo, no momento em que Carolina saiu do quarto.

Alice, então, tomou a única decisão que não podia prever: ela fugiu. Acendeu a luz do quarto, pegou um agasalho no guarda-roupa que poderia ser seu, calçou seu sapato, e correu para a rua. Ela falava o endereço do orfanato para as pessoas que passavam na rua, mas eles desconheciam como chegar lá.

A única forma que eu tinha de proteger a criança aqui era chamar pelo casal que tentou demonstrar o amor em todo momento e foi repelido por ela. Ela estava perdida, com frio e com medo. Não somente com medo da rua. Mas também o medo de ser abandonada novamente.

Voei para a casa e entrei nos sonhos de Carolina. Mostrei Alice fugindo, e a incomodei até que ela não conseguisse mais ficar acordada.

Atordoada ainda pelo sono, mas incomodada com a visão que mostrei, a jovem correu até o quarto de Alice e não encontrou nada lá. Ela acordou o marido, que se vestiu rapidamente, e seguiram o caminho que levaria ao parque do bairro. Lugar que mostrei no sonho e onde estava Alice.

Mas o parque era imenso, e não consegui dar detalhes precisos da localização.

— Carol... como justificaremos que perdemos a menina? — Henrique sacudia o ombro da mulher, esperando que ela saísse de seu estado de torpor.

— Não estou nem aí pra eles, Henrique. Alice corre perigo. É madrugada, e ela é uma menina linda e frágil. Pode adoecer, ou coisa pior. Chama a polícia, amor?

Enquanto o casal tomava todas as medidas para encontrar a criança, optei por interceder por eles. Somente uma pessoa, ou duas, poderia mostrar a ela que estava agindo totalmente errado.

Alice estava absorvida pela imagem de estrelas reluzentes, quando resolvi aparecer. Ela estava sentada em um banco na praça, debaixo de uma árvore frondosa. O lugar estava sendo iluminado somente pela luz da lua, e isso escondia ainda mais a menina.

Olhei para os lados para me certificar de que não seria visto por mais ninguém e me materializei. Assim que andei em sua direção, ela foi atraída para uma luz branca que me envolvia, fazendo com que prestasse atenção em mim.

— Quem é você? Por que está brilhando? — indagou Alice, encolhida com as costas imprensadas no banco.

— Meu nome é Gabriel e sou um anjo. Vim aqui te ajudar a tomar uma decisão. Uma que pode mudar sua vida para sempre. — Alice arregalou os olhos e continuou olhando para mim. Aproveitei essa oportunidade para falar tudo que era preciso. — Você está perdendo a chance de ganhar pais maravilhosos, sabia?

— Eu não quero pais novos. Já que você é um anjo, traz minha mamãe e meu papai pra mim? — O olhar de súplica que recebi quase me fez recuar. Minha determinação em consertar a dor que a vida trouxe para essa garotinha era maior do que a minha vontade de acalentá-la.

— Infelizmente Alice, seus pais estão com Deus. Sei que isso dói — afirmei assim que vi as lágrimas rolando no rosto dessa garota tão machucada. —, mas podemos melhorar sua vida. Basta confiar!

— Confiar no Papai do Céu? Que tirou tudo de mim? — Sua ira contra Deus dificultaria tudo.

— Deus não nos tira nada e não nos faz viver no sofrimento. Seus pais cumpriram sua missão na Terra. Estão descansando.

— A missão deles era cuidar de mim. Então, não tava na hora. Traz eles de volta. — Seu choro não cessava, e tocar no assunto só estava aumentando sua dor.

— Você já ouviu falar que Deus coloca a sementinha na barriga da mamãe? — Alice fez que sim com a cabeça. — Deus também coloca a sementinha na barriga de uma mamãe, mas dá o bebê de presente para outra.

— Como assim?

— Papai do Céu decidiu levar sua mamãe para junto dele. Mas, como Ele sabia que você iria sofrer, Ele mandou uma nova mamãe e papai para você. Mesmo sem você saber, eles já te amam. — Sorri para ela e esperei que absorvesse tudo que falei. Sei que ela tem somente sete anos, mas sua inteligência e perspicácia supera a de muitas crianças.

— Mas eu não a amo. Eu amo minha mãe Raquel e meu pai Artur.

— Eu sei que você ama. E não precisa deixar de amar. Mas pode amar outras pessoas também.

— Não. Isso é errado. Se você é um anjo, me mostra meus pais?

Parece que o pedido da criança foi atendido, pois imediatamente ouvi uma voz falar atrás de mim:

— Errado é sofrer, minha filha.

— Papai... papai! — gritou a menina, enquanto corria em direção à luz. Mas ela não poderia ser tocada, o que fez com que chorasse ainda mais.

— Não chore, minha menina. — Outra luz apareceu ao lado da primeira.

— Mamãe? Por que posso ver vocês? Vocês estão de volta? Vamos voltar para casa? — disse a criança, com esperança.

— Não, minha querida. Não podemos voltar. O Gabriel nos chamou somente para dizer uma coisa. — O pai falava transbordando paz para Alice. — Nós sempre vamos te amar, docinho. Mas está na hora de deixar as pessoas cuidarem de você, assim como nós cuidamos.

— Nós estaremos sempre presentes em sua vida, minha filha — disse Raquel. — Mas não podemos descansar em paz, sabendo que está aqui sofrendo. Lembra quando a mamãe te ajudou a escolher sua primeira roupa de quadrilha? — A menina fez que sim com a cabeça. — Lembra o que me disse?

— Que confiava em você para escolher — disse Alice, entristecida.

— Você acha que eu deixaria o Papai do Céu escolher pais ruins para você? — A menina negou com a cabeça. — Pois, então, escolhemos pais parecidos com a gente para que nunca se esqueça de onde veio, mas quero que saiba que sempre estaremos te amando, assim como a Carolina e o Henrique.

— Então, foram vocês que escolheram eles? — Seus pais fizeram que sim com a cabeça. — Vocês prometem sempre me amar? — Eles afirmaram para a garotinha. — Gabriel? — Eu me aproximei de Alice. — Então, vou ser uma boa filha para eles. Pode me ajudar a voltar pra casa?

— Assim? Tão fácil? — perguntei para os pais.

— Não teste a garota, Gabriel. Ela está obedecendo, isso é o que importa — falou o pai, rindo para mim.

Raquel e Artur se despediram de Alice, que parecia outra criança após ouvir os pais. Não diria que ela mudou completamente, mas se abriu para uma nova vida, para um novo futuro e também para o amor.

Mostrei para ela o caminho onde estava Carolina e Henrique, que a avistaram de longe, e correram em sua direção embargados em lágrimas.

— Graças a Deus, encontramos você! — disse Carolina, demonstrando todo o nervosismo que passou e o amor que já sentia por essa recém-conhecida.

— Vocês não vão brigar comigo? — a menina perguntou temerosa.

— Não, não vamos. Vamos te levar para casa e te deixar abrir todos os presentes, curtir tudo que quiser, e depois te levaremos de volta para o orfanato — disse Henrique, nada satisfeito com o que tinha acabado de dizer.

— Eu espero para abrir meus presentes amanhã. Não quero voltar para o orfanato. Vocês foram escolhidos para serem os meus pais, e eu serei a filha que vocês querem. Não precisa me adular. Minha ex-mamãe era brava, e eu a amava, como vou amar vocês. Posso chamar vocês de papai e mamãe? — perguntou a menina, insegura quanto à reação deles.

— Eu não poderia ganhar um presente melhor de Natal. Claro que pode — Carolina dizia enquanto abraçava a menina.

— Nem eu... vamos para casa, família? Podemos ir, minha filha? — Henrique pegou a filha no colo e beijou castamente sua esposa.

Esse foi o primeiro Natal de Alice na casa de Carolina e Henrique. Mas o primeiro de muitos. Eles eram felizes, amorosos e gentis. Sentiria falta do amor que sentiram por essa menina enquanto eu existisse.

Tantas pessoas têm filhos no momento que querem, ou até nos momentos que não querem, e não dão nem um décimo do amor que esse casal ofereceu para Alice. Eles lutaram por sua filha, e mostraram que a perseverança e o carinho são a chave para a felicidade.

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