Boa noite, Aquiles ✓

By sofianeglia

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" O olhar dava medo e eu quase perdi o sorriso o qual tentava seduzir ela do rosto. - Esquece, porque i... More

intro + sinopse
0. prólogo
1. ela procura
2. ele tem que sair
3. ela se nega
4. ele cozinha e convence
5. ela estabelece as regras
7. ela não consegue dormir
8. ele chega de madrugada
9. ela conhece o resto do grupo
10. ele não quer ela no grupo - pt.1
10. ele não quer ela no grupo - pt.2
11. ela não consegue dormir de novo
12. ele quebra mais uma regra - pt.1
12. ele quebra mais uma regra - pt.2
13. ela tenta ser simpática - pt.1
13. ela tenta ser simpática - pt.2
14. ele conquista algo
15. ela vira gelo
16. ele é fogo
17. ela vê o que não quer
18. ele sente o que não queria
19. ela cozinha e chora (repostado)
20. ele fica
epílogo
epílogo olímpios
nota final
OLIMPIOS REESCRITO!!

6. ele quebra uma das regras

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By sofianeglia

obs: este capítulo vai possuir uma cena sexual, afinal, estamos falando de Aquiles e isso já era pra ser esperado. Pulem as partes em negrito caso não queiram ler. 

obs 2: quero deixar claro, neste capítulo e já valendo para TODO os outros, que eu não incentivo o consumo de bebidas alcólicas. Aquiles é um personagem e as suas maneiras não devem ser seguidas. Se você sente vontades extremas de consumir álcool e sente que não funciona sem ele, procure ajuda.


6. ele quebra uma das regras

     Tinha deixado de ir a aula e estava atualmente subindo até o sétimo andar de um prédio bastante diferente do que eu estava morando naquele momento. E não era que eu não gostasse do apartamento da Lívia, mas depois de todas as regras que ela tinha colocado no final de semana anterior e o fato de ela realmente estar me evitando a qualquer custo, conseguia dizer que não estava sendo o que eu esperava, e eu estava aceitando qualquer distração possível.

     Saindo do elevador e caminhando o curto espaço até uma das duas portas do andar, levantei minha mão e toquei com os ossos dos meus dedos contra a porta familiar. Vênus não demorou muito para atender, e eu não consegui manter o sorriso de tesão escondido por muito também. 

     Seu corpo cheio de curvas estava basicamente todo à mostra, o robe de seda preta tapando apenas o bico dos seus seios. 

     — Já disse que te amo hoje? — Perguntei, minha mão massageando a mandíbula e admirando aquela visão.

     — Hoje não. — Ela respondeu, um sorriso de lado no rosto, os olhos concentrados em mim. Seu braço esticou no espaço que ainda existia entre nossos corpos, a mão agarrando minha camiseta e me trazendo pra dentro do seu apartamento. Me empurrando, ela fechou a porta, e com uma mão plana contra a madeira, de costas pra mim, começou a deixar o robe deslizar de um dos seus ombros. 

     Conforme a seda foi caindo e expondo a tatuagem nas suas costas, a versão em linhas do quadro "O Nascimento de Vênus" do Boticcelli, eu comecei a massagear meu membro por cima da minha calça, precisando me excitar antes das preliminares pra que quando chegássemos lá, pelo menos estivesse começando a ficar duro.

     Vênus virou, um dos seios fartos exposto, a outra mão indo atrás do lado onde a seda ainda tapava parte do seu corpo. Indo na sua direção, agarrei seu pescoço, a empurrando para a porta. 

     — Como vai querer hoje? — perguntei, nossa respiração aumentando. Passando a língua nos seus lábios, abri um sorriso. 

     Vênus retirou a minha mão da onde eu ainda tocava meu pê'nis, agarrando com força e massageando o meu membro como alguém que sabia exatamente o que eu gostava. A sua força mostrando que ela queria algo feroz. 

     Entendendo o recado, agarrei mais o seu pescoço, tomando todo o cuidado, e comecei a beijar seu ombro, indo até os seus seios e chupando a sua pele, deixando marcas ao longo de toda a trilha que tomei. 

    Olhando para ela, ela agarrou meus cabelos, querendo que eu ficasse no meio das suas pernas logo, mas eu não o fiz. Agarrando uma das suas pernas, levantei o seu joelho e o coloquei em cima de um dos meus ombros, mordendo a parte interior da sua coxa. Ela era louca feito eu, apaixonada por tudo sexo, e eu aproveitava cada segundo daquela vontade carnal que tinha com ela. 

     — Ah! — Ela disse quando eu mordi mais forte sua pele, a cabeça indo para trás e batendo contra a porta. — Por'ra, Aquiles...

     Por alguns segundos, a sua voz saiu como a de Lívia, me xingando e usando os palavrões que tanto amava, mas logo eu fechei os olhos e passei a língua pelos lábios mais doces que Vênus tinha. 

     Ela gostava das coisas assim, então enquanto eu chupava ela, dando atenção extra para o seu clitóris, uma das minhas mãos agarrava seu seios e a outra encontrava sua entrada com dois dedos. 

     Agarrando mais meu cabelo, ela pediu que eu continuasse, e eu continuei saboreando ela da melhor forma que eu podia. O prazer dela era o meu, e eu demorava para ficar duro, mas escutar a sua respiração e os gemidos ajudavam cada vez mais. 

     Sentindo com meus dedos as suas paredes começarem a apertar, aumentei minhas velocidade, sua perna que estava no chão falhando, os músculos da outra contraindo e o joelho dobrando, me pressionando mais contra o seu corpo. 

     Não demorou muito para que eu estivesse com o seu gozo além da minha saliva por todo o meu rosto, e eu continuei beijando ela lá, ao redor e nas suas coxas, enquanto ela se acalmava e eu ainda sentia seu gosto em mim. 

     Abaixando sua perna, subi pelo seu corpo, não esperando e deixando outras mordidas e chupões ao longo da sua pele. Agarrando sua cintura, continuei meu processo de beijos no seu pescoço, levantando o seu corpo e caminhando pelo lugar até o seu quarto. Jogando ela na cama, agarrei os seus calcanhares e puxei ela para o final do colchão. Desabotoando minha calça, coloquei um joelho em cima da cama, dando um ângulo melhor para que ela me colocasse na sua boca. 

     Sem demora, Vênus veio e fez exatamente o que funcionava, sem medo de usar seus dentes, sem medo de se sujar. Sua língua, boca, mãos, me envolviam e faziam com que meu tesão aumentasse. 

    Não lutei contra aquele sentimento ou os sons que ela soltava, tentando me colocar por inteiro na boca mas não conseguindo. Agarrei seus cabelos e fechei meus olhos, focando só nela me chupando. 

     Minha mente me traiu por alguns segundos, e eu pensei em uma morena de cabelos compridos e reflexos vermelhos, mas ao olhar para baixo e a cabeça em movimento só ter cabelos negros e a tatuagem nas costas, minha imaginação saiu e eu tentei voltar àquela realidade que eu ainda tanto amava. 

     E eu amava. Ver Vênus nua, sua mão no meio das suas pernas enquanto a sua boca trabalhava em mim, o poder que ela tinha no sexo. 

    Grunhindo, puxei com força o seu cabelo, retirando sua boca de mim e puxando ela para baixo, deitando seu corpo no colchão. Seguindo por cima dela, abaixei mais um pouco minha calça, mas nunca a retirando por completo. Alcançando na sua escrivaninha, peguei a camisinha e desenrolei o látex no meu membro. 

     Ela já estava pronta, então assim que me posicionei me enterrei no meio das suas pernas com força, gemendo junto dela. Fiquei parado por alguns segundos antes ir com força novamente, e repeti os movimentos lentos até ela implorar por rapidez e não aquela brutalidade. 

    Ela me arranhava por cima da camiseta e subia o tecido para me arranhar direto nas costas, com certeza deixando marcas que durariam alguns dias. Mordendo o seu ombro, fui mais rápido, minha respiração acelerada com a sua. 

     Suas pernas engataram o meu corpo no seu, e logo eu estava acompanhando ela no orgasmo. O terceiro pra ela, e o único e suficiente para mim. 

     Retirando a camisinha e amarrando-a, me joguei na cama, deitando do lado de Vênus e acalmando meus pulmões. De pálpebras fechadas, limpei minha boca e meu rosto. Conseguia sentir que estava vermelho do esforço, e não importaria nem um pouco de repetir o que tínhamos feito, se não fosse o fato estranho se eu ter se quer pensado em Lívia no meio de tudo aquilo. 

     Vênus virou de barriga para baixo, passando a mão no seu cabelo e balançando os pés no ar. 

     — Nota 9,2 hoje. — Disse, rindo e fazendo um "ok" com os dedos. Seus olhos eram travessos e alegres, a boca inchada, enquanto ela fazia o que tinha se tornado o nosso ritual de ranking. Depois de todas as nossas vezes, nós dávamos uma nota. Uma rotina que facilitou muito para que nós tivéssemos essa naturalidade e o resultado sempre fosse bom para os dois.

     — Acho que eu merecia mais uns dois décimos, mas fico contente. — Respondi, minha mão se esticando e parando em cima da sua bunda, massageando. 

     — Quer ficar mais um pouco pra jantar? — Perguntou, se levantando nos cotovelos. Me encarando, ela puxou os joelhos para a barriga, esticando o corpo na cama. Se ajeitando para levantar, seus movimentos fazendo a minha mão atravessar por toda a sua pele da bunda até o seu braço.

     Não gostava de ficar dividindo a cama por muito tempo depois, e eu sempre concordei com ela. Às vezes essa minha mania me colocava em grandes confusões com as outras meninas que eu costumava transar. 

     Pensando no que responder, balancei a cabeça em um "não". Colocando os pés no chão, puxei a calça que ainda era uma poça de tecido no meu calcanhar e arrumei minha camiseta que agora estava completamente amassada. 

     — Mas acho que tá valendo o Margot na quinta? — Perguntei, saindo de perto da sua cama enquanto ela só esticava o lençol e fui até a porta, me encostando no batente e olhando enquanto ela desistia, bufando, da cama bagunçada e ia vestir uma calça de tecido, sem nada na parte de cima do seu corpo, sem vergonha e mostrando o belo par de seios que ela tinha. 

    — Acho que vale. Vou falar com o idiota do Luan... Ele ainda tá tentando sair com aquela guria da última vez. — Comentou, revirando os olhos e passando por mim na porta.

     Eu segui ela pela sua casa, vendo ela se agachar e pegar o robe que tinha sido deixado na entrada. Ela vestiu o tecido leve e foi até a cozinha, servindo água e me oferecendo um copo. Eu tomei o líquido, limpando a minha garganta e matando a sede que não sabia que estava sentindo. 

     — Ele curte isso. — Respondi e fui invadido pela noção de como ele estava me lembrando Zeus, meu melhor amigo, ultimamente. Na forma como ele sempre escolhia só uma mulher nas festas, e o jeito que ficava quieto.

     Lembrar não era algo difícil de acontecer desde quando Zeus tinha sumido do mapa e só deixava informações através de Aimée. Minha cunhada não tinha problema algum de me contar como que ele estava, e Iara também não esquecia de esfregar na minha cara que eu era o único o qual ele não conversava de maneira direta. 

     A melhor amiga da minha cunhada tinha ocupado o lugar dele no grupo de um jeito que eu nunca ia entender, e ainda tinha me deixado de lado da melhor forma que ela conseguia, sempre lembrando o quanto ela me odiava.

      Lidar com isso era confuso, mas eu não sentia raiva dele por ter me deixado. Sabia que de alguma forma ele sabia o que estava fazendo e que um dia ele ia voltar por tempo suficiente para que eu o visse também, não só que os gêmeos, seus irmãos, e ele visitassem Iara e Aimée. 

     Escutando Vênus estalar os dedos na minha frente, balancei a cabeça e voltei a falar de Luan. 

     — Ele vai ficar assim até ver outra guria que chame mais atenção dele. — Dei de ombros, largando o copo na pia da cozinha. 

     Nunca tinha parado para realmente prestar atenção nas decorações que ela tinha pela casa, mas não pude deixar de notar como na cozinha a decoração existente era da louça pra lavar. 

     — A deusa do amor e da beleza com certeza não é a deusa da organização... — Disse, colocando minha mão na boca e tentando prender o sorriso automático que estava se fazendo no meu rosto. 

     Vênus cerrou os olhos na minha direção, fingindo estar brava, mas a realidade é que ela não se importava.

     — Pra que organizar se eu posso fazer qualquer homem limpar pra mim? — Ela questionou, e o sorriso acabou escapando de mim. 

     Balançando a cabeça, passei minhas mãos na calça e fui até a saída. — Nem todo homem! — Disse ao abrir a porta, deixando ela sozinha no seu apartamento, entendendo como quisesse o meu comentário, mas provavelmente relacionando ele à mim, o que não era a verdade. 

     Puxando a porta para que ela fechasse, tomei o caminho de volta do seu apartamento e entrei no meu carro, colocando uma música qualquer no meu celular e pareando ele com o som do carro, seguindo até o meu mais novo prédio. 

    Era completamente noite naquela hora, e as aulas da faculdade estariam terminando dentro em alguns minutos, o que me dava uma chance ótima de chegar no apartamento antes de Lívia e começar a minha próxima tentativa de me aproximar dela. 

     Tinha notado como ela realmente organizava a sua semana inteira, e percebi que ela não chegava em casa cansada pelo simples fato de estar cansada da vida ou das pessoas, mas porque ela trabalhava em dois lugares diferentes. Não tinha esperado que ela fizesse isso, muito menos que ela conseguisse manter o seu rosto em perfeição enquanto bocejava a cada dois minutos por causa das poucas horas de sono que ela tinha. 

     Não tinha conseguido encontrar um jeito de tomar café da manhã com ela também, ou almoçar ou ter um jantar propriamente dito de novo, com ela sentada na minha frente e eu podendo implicar com qualquer coisa que me viesse a cabeça. 

     Gostava do modo como ela sabia implicar de volta, e acabei rindo sozinho enquanto estacionava o carro perto do nosso prédio, lembrando do jeito como ela ironizava sua raiva. Abrindo a porta, tranquei o automóvel e parei com os pés no asfalto, olhando para o céu que estava estrelado. 

     Podia rir sozinho, mas de todas as coisas relacionadas a ela que mais repetiam na minha cabeça além das minhas fantasias, eram suas regras, e elas não eram motivos de risada para mim, por mais que tivesse feito Lívia achar isso. 

     Coçando o rosto, tentei ignorar de novo aquelas regras, e a vontade específica de burlar uma delas. 

     Na minha cabeça o certo, naquele instante, era esquecer tudo o que eu tinha vontade de fazer, dar a volta no carro, e entrar no prédio para preparar a janta. Porém meus pés não funcionaram, e notando somente o barulho das minhas chaves e o peso da minha carteira no meu bolso, eu encarei o mercadinho da esquina. 

     Já tinha ido lá para comprar ingredientes pra nossa janta, já tinha passado a mão em todas as bebidas que eles tinham. Uma variedade grande para um lugar pequeno, garrafas perfeitas que eu tanto adorava. 

     Aquela era a única regra que eu me incomodei, e acreditava que eu tinha razão. Me proibir de levar bebidas para dentro da casa me parecia um pouco radical demais, mesmo para ela, e mesmo que ela não bebesse. 

     Eu bebia, e eu gostava de beber. Do que adiantava, afinal, permitir que eu entrasse na casa normalmente, sendo que o que ela não sabia era que a última vez completamente sóbrio que eu tivera tido fora meses antes?

     Tentei não continuar com o que ia fazer, mas minha mente repetiu que eu não estava tão errado assim, e eu atravessei a rua até o mercado. Dando oi para o dono, que ficava no caixa e eu tinha descoberto da última vez que cuidava do mercado depois que seu avô faleceu, três anos antes, fiz meu caminho até o corredor das bebidas. 

     Pegando um whisky, uma vodka, uma tequila e uma garrafa menor de rum, equilibrei todos os vidros entre meus dedos, toda a força das minhas juntas funcionando para que nenhum deles caísse. Os vidros se batiam, lembrando copos saudando o outro e fazendo com que minha garganta funcionasse de novo, pedindo aquele tipo de líquido específico. 

     A água que eu tinha tomado parecendo que não era o suficiente pra matar a minha sede.

     Pagando por todo o líquido, peguei as sacolas verdes e ásperas do mercadinho, indo direto para o apartamento, olhando para a rua e tendo certeza de que o ônibus de Lívia não estava ali e que ela não conseguisse ver o que eu estava fazendo. 

    Acenando para o porteiro, ele sorriu e me cumprimentou, perguntando se eu estava bem. EU respondi rápido e fui direto para o elevador, meu coração de repente acelerado e o corpo cada vez mais seco. 

     Quando eu passei pela porta do nosso apartamento, a fechei com a chave e encarei todo o lugar, respirando fundo. Indo até a cozinha, procurei entre os copos algum que fosse mais baixo, escolhendo o que melhor se encaixava e indo direto para o que estava se tornando o meu quarto. 

     Era basicamente do mesmo tamanho que o meu antigo, e algumas caixas que eu tinha levado ainda ficavam no chão e do mesmo jeito que tinham chegado. A cama era confortável e a única coisa além de uma cômoda que ficava em baixo da janela. Era um móvel verde e no mesmo tom da porta, com marcas de lixa. 

     Com duas portas e quatro gavetas, era o lugar perfeito para eu guardar minhas roupas, e também para que escondesse em uma das portas as bebidas que eu tinha acabado de comprar. Eu retirei o whisky, a tequila e o rum primeiro, colocando eles perfeitos bem no fundo e na parte de baixo da única divisa que a porta da cômoda tinha. 

     Deixando a vodka para fora, abri o seu lacre e peguei o copo, servindo a quantidade de não mais que um dedo, e tomando o conteúdo cristalino. O amargo queimou minha garganta, mas eu estava relaxado então, servindo mais um pouco para que a ardência não passasse tão depressa. 

     Virando o segundo copo, coloquei a outra garrafa junto das outras e guardei o copo do seu lado. A visão de um mini bar começando a se formar, tão parecido com o que eu tinha à mostra no meu antigo apartamento. A diferença dos dois era que o outro não estava com suas garrafas cheias. 

     Fechando a porta do móvel, peguei a sacola verde do mercado e ergui, examinando o meu redor e gostando da leve tontura que eu senti ao levantar mais rápido do que eu pretendia. Passando a língua nos meus lábios e fechando meus olhos, me tranquilizei a perceber que o aqueles líquidos demoravam pra me deixar completamente bêbado, mas o efeito de dormência vinha logo depois do meu segundo gole. 

    E era exatamente ele que eu queria. 

     Eu estava prestes a ir atrás de novo daquele entorpecimento, quando o barulho de chaves se fez na porta de entrada, mostrando que eu estava certo em pensar que Lívia estaria chegando em alguns minutos, e só fazendo com que um sentimento de competência se amontoasse dentro do meu peito. Tinha feito tudo aquilo sem que ela soubesse e não estava arruinando por completo a minha chance. Ou, no caso, a segunda chance que ela estava me dando. 

    Deixando a sacola em cima do móvel, peguei uma das caixas do chão e a coloquei na minha cama. Troquei de camiseta, escolhendo uma branca que tinha um bolso falso preto e que era a menos amassada de todas que a caixa guardava. Atirando a que eu usava antes, que estava com o cheiro do sexo com Vênus, coloquei ela na pilha de roupas que eu ia lavar. 

     Tentei o máximo me concentrar no que eu ia fazer para que talvez Lívia se impressionasse, mas então eu escutei uma voz conhecida, e todos os meus planos estariam sendo destruídos, porque eu tinha me esquecido os que já tinha feito pra aquela noite. 

     Me preparando mentalmente para o olhar que ia receber dela e de Apolo, eu abri a minha porta e saí como se não entendesse a situação. Fingir ia ser melhor naquela ocasião para qualquer um de nós três.

     Com a cabeça pendendo para um lado, juntei minhas sobrancelhas enquanto olhava os dois em pé e perto da porta. Lívia com os braços cruzados mas o ar leve, e Apolo com as mãos nos bolsos. Ele também estava fingindo, mentindo sobre não estar irritado e mantendo uma conversa calma com minha colega de apartamento. 

     — Ué, o que que tu tá fazendo aqui? — Falei na direção de Apolo, antes de olhar Lívia e mandar um beijo no ar pra ela, o que fez ela forçar seus braços juntos contra o corpo e me lançar a morte por entre seu olhar. Eu sorri. 

     — Apolo, quer uma água? — Ela ofereceu logo depois de eu fazer a pergunta para o meu irmão. 

     Eu acompanhei ela com olhos, os passos calculados que ela deu até a geladeira, fingindo que estava pegando a água que tinha oferecido, mas na verdade ela estava olhando o calendário para ter certeza de que eu não tinha colocado ali os planos com Apolo. E eu não tinha. Mas aquela era a única regra que ela sabia que eu não tinha cumprido, e isso facilitava bastante na hora de tentar fazer ela menos irritada comigo.

     Meu irmão acenou pra ela, tirando as suas mãos dos bolsos e indo até o sofá, se apoiando nele. — Eu vim te lembrar que a gente tem que terminar a organização do apartamento. 

     — Mas isso foi semana passada... — Comentei, indo até o seu lado e me apoiando também. 

     Lívia se ocupava por um tempo grande demais com a jarra de água na cozinha, de costas pra nós, mas prestando atenção em tudo o que a gente estava dizendo. 

     — Sim, e nos dias atrás quando a gente se viu eu tinha dito que eu ia falar contigo de novo na terça, porque todo o lugar tem que estar decorado pra quando a Aimée chegar no final de semana. 

    Apolo falou sobre os dias que tinham se passado com ênfase, fazendo eu me questionar quanto tempo tinha realmente estado ali no apartamento e quanto tinha ocorrido desde as regras de Lívia. 

     — Ah, bah... Foi mal. — Falei, dessa vez pedindo desculpas verdadeiras. Eu podia ter me esquecido que ia ser aquele dia, mas não como ele estava confuso e nervoso com toda a festança que estava organizando pra Aimée. Queria tentar ajudar ele do jeito que eu conseguisse.

     Saindo do lugar que estava encostado no sofá, cocei minha nuca, tentando relaxar e ignorar aquele sentimento que estava tendo. Lívia com certeza não estava gostando nada do que eu tinha causado e o que ela sabia. 

     Sorrindo para ela, que agora vinha com um copo de água na mão para o meu irmão, apontei para o seu corpo, ela se assustando e indo levemente para trás. — A Lívia podia ajudar, não? Assim a gente vai agilizando mais as coisas. 

      Olhando pra mim, ela continuou com o olhar de vingança, mas respirando fundo e mudando o foco dos seus olhos, ela abriu um sorriso que eu nunca tinha visto no seu rosto. 

     — Eu posso ajudar, sim, se tu não te importar? Ia ficar sem janta mesmo. — Respondeu para Apolo, me alfinetando sobre a comida. 

     O raciocínio dela era rápido, e eu acompanhei através de todos os seus movimentos e palavras o que ela tinha pensado. O fato de eu não ter colocado no calendário o que estava prestes a fazer significava que ela seria pega de surpresa quando eu não estivesse em casa e também que ela não ia ter a janta que eu tinha prometido fazer todos os dias para nós dois. Como nas noites anteriores não sobrara nada de comida, ela ia ter que se virar de algum jeito para não ficar sem comer. 

    Cocei de novo a minha nuca, tentando relaxar o corpo que se incomodou com o cérebro notando que eu tinha errado, e tentando não pensar que só com uma bebida eu saberia direito o que fazer. 

     — Iara vai levar umas coisas pra gente comer lá no apartamento enquanto a gente arruma. Sem janta tu não vai ficar. — Apolo respondeu, suas mãos se abrindo e levantando na direção dela. Ele sorriu, assegurando Lívia que estava tudo bem e até se mostrou feliz por trazer mais uma pessoa com ele. 

     O movimento das suas mãos não fez com que Lívia tomasse passos para trás do mesmo jeito que ela fazia comigo. 

     Ignorando aquela troca dos dois, revirei os olhos. — Meu carro? Como que tu chegou aqui? 

     Apontando para o meu irmão, Lívia olhou para mim e respondeu por ele. — Ele veio de ônibus. Eu acabei encontrando ele quando eu desci do meu e dobrei a esquina. 

     — Então vamos no meu carro. — Disse, pegando minha chave do bolso e balançando os metais cortados no meio dos dois, um sorriso irônico no rosto. 

    Lívia me encarou, confusa, mas logo se recuperou e foi até o seu quarto, avisando somente que ia trocar de roupa. Eu continuei examinando ela e o formato que a sua bunda ficava naquelas calças sociais que ela estava usando, a única coisa que não combinava com a camiseta de uma banda e o all star nos seus pés. 

     — Tu não vai dirigir. — Apolo disse, chamando minha atenção assim que Lívia trancou a porta do quarto dela.

      Olhando pra ele, me senti ofendido. — O carro é meu e eu sei dirigir até o apartamento. 

     — Sim, e tu ta com bafo de bebida. — Reclamou, e eu pressionei meus lábios, a testa doendo com a força que eu estava fazendo enquanto contraía meu rosto. Eu provavelmente não estava cheirando a bebida e ele sentir aquilo só piorava meu humor. — Mastiga isso pelo menos, pra que a guria não fique tão irritada contigo, se é já que ela não está.

     Apolo me entregou um chiclete que tinha no bolso da mochila que ele carregava, já tirando a embalagem e colocando o que restou de lixo dentro do bolso da frente. Eu revirei os olhos e peguei o chiclete, colocando-o na minha boca assim que Lívia destrancou abriu a porta e depois a fechou por fora, guardando a chave. 

     Ela tinha colocado uma jeans de cintura alta, o tecido bem solto, e prendido o seu cabelo em um rabo de cavalo. As pontas desbotadas de vermelho roçavam o final das suas costas e a minha mão coçou ao pensar o que seria acompanhar ela com a mão exatamente ali. 

     — Vai ficar viajando aí ou vai junto? Tu tá sendo mais besta que o normal. — Ela disse, revirando os olhos e me encarando, fazendo eu guardar as mãos no bolso da minha calça, tentando esconder sem que ela percebesse que eu estava começando a ficar duro. 

    Balançando a cabeça, fiz que ia seguir eles, abrindo a porta para que eles passassem, perdido ainda nos meus pensamentos, olhando um ponto fixo no chão. 

     Quando os dois passaram, fechei a porta e continuei examinando todo o chão que passávamos, até o elevador e depois até o lobby do prédio. Indo até meu carro, Apolo desativou o alarme e foi entrando no lado do motorista. Lívia olhou meu irmão subindo no carro onde eu deveria estar, e seus olhos foram atrás dos meus, questionando. 

    Levantando um lado do meu rosto, fiz como se ela não precisasse dar atenção, e balancei o rosto, dando uma corridinha a mais para que eu abrisse a porta do carona. Ela não precisava ficar sozinha no banco de trás. 

    Ela hesitou, encarando a porta aberta, mas então subiu no carro, agarrando a bolsa contra o seu corpo, e eu fechei a porta, seguindo todo o movimento deles e entrando no carro também. Deslizando para o lado, fiquei atrás do motorista, a visão perfeita do perfil da Lívia sendo uma das coisas que eu queria encarar. 

     Automaticamente meu celular conectou com o rádio, e a última música que eu estava escutando antes de sair dele começou a tocar. O rock clássico dos anos 80 começou, o solo de guitarra conhecido tocando perfeitamente, seguido pela segunda guitarra e a bateria. A voz estridente mas aguçada do vocalista ecoando baixinho dentro do carro. Ele iniciou falando sobre o sorriso que lembrava de tempos de criança. 

     Deitando a cabeça contra o encosto, continuei encarando Lívia, e me surpreendendo quando os lábios cheios e pintados de um rosa escuro começaram a imitar cada palavra que o vocalista cantava. 

     Estava se aguentando, mas o pouco que seu corpo mexia e a forma como ela sabia de cor a música faziam eu imaginar uma Lívia que não tivesse sempre o rosto taciturno e raivoso, e sim uma que sorri e acompanha músicas sem precisar conversar. 

     Eu sorri, até que Apolo falou por cima da música, fazendo a atenção dela sair dos acordes e focar na sua voz.

     — Tu gosta de rock? — Ele perguntou, olhando um pouco para ela, mas também me examinando no espelho retrovisor. Pelo visto não era só eu que tinha ficado impressionado com os gostos dela, mas além disso, ele também tinha ficado impressionado com o fato de esse gosto imitar o meu. 

     — Sim, principalmente os antigos. Gosto de tudo, na verdade, mas no dia a dia se eu conseguir eu sempre vou escutar esses rocks, MPB e algumas músicas mais alternativas. 

     Ele acenou com a cabeça e olhou de novo pra mim, eu desviei dela e dele para examinar a rua, ignorando como ela tinha confirmado que tinha bastante em comum comigo, mas não me deixava saber.

     O namorado dela nunca pareceu se incomodar quando ia buscar ela e via a quantidade de homens olhando, muito menos comigo no dia em que eu estava conversando com ela a primeira vez, tantos semestres antes, e acabou vendo eu tentando trovar sua namorada enquanto ela tomava um suco de laranja na frente da entrada do campus. 

     Eu estava passando para ir encontrar Luan, no mesmo prédio que fui descobrir que ela estudava, e eu só consegui parar e ficar olhando. Não dava a menor atenção pra ninguém, se quer tirava os olhos do caderno que segurava com uma mão, e se quer olhou direito pra mim. Só veio dar atenção quando percebeu a quantidade de meninas que eu fiquei ao longo dos anos e como as meninas da comunicação sempre eram os meus alvos mais queridos. 

     Talvez nem lembrasse daquele dia, e nem soubesse direto que foi a primeira vez que eu falei com ela. Não a culpava, depois de todas as vezes que eu convidei ela, era fácil se perder nas investidas ocorridas. 

     O seu namorado continuou não se importando nas vezes que ele acabava sim me vendo, e eu diminuí a trova quando percebi que nada funcionava, nem para que ela comentasse com ele como eu estava incomodando ou algo do tipo. Desde o início ela agia diferente da maioria das garotas, e isso falava bastante sobre ela. 

     Quando eu percebi, estava encarando seu rosto de novo, lembrando de tudo e esquecendo que estávamos em um carro, até que Apolo estacionou na garagem do nosso prédio.

      Descendo, nós seguimos pela garagem até o elevador. Lívia ficou examinando o lugar, que era bem diferente e mais novo do que seu prédio. Ela segurada a alça da sua bolsa com força, em um dos cantos do elevador, o mais longe de mim possível. 

     — Eu esqueci de perguntar: tu é alérgica a alguma coisa? — Apolo disse, imitando a mesma pergunta que eu tinha feito quando cozinhei pra ela a primeira vez. Sem que ela percebesse, as suas bochechas ficaram rosadas, e ela evitou olhar pra mim. 

     — Não sou, não. — Respondeu, e ele acenou para ela. 

     — Alguma coisa favorita? De preferência coisas que existem em cafeterias... — Ele perguntou de novo, enquanto a gente caminhava pelo meu antigo corredor em direção a minha antiga porta. Os dois alguns passos na minha frente, deixando eu examinar exatamente o jeito que o corpo dela reagia a cada coisa que ele falava. 

     Limpando a garganta, Lívia arrumou o cabelo, apertando o rabo de cavalo. — Eu amo coisas folhadas. Doce ou salgada, tanto faz. 

      Aquilo já estava me tirando do sério, e era mais que o normal. Ela tinha negado uma resposta pra mim, mas com o mais querido de todos Apolo, ela não se importava de falar. Frieza ganhava quando ela se relacionava comigo. 

     Revirando os olhos, vi quando Apolo mandou uma mensagem para Iara, dizendo para a minha colega de apartamento que ele tinha pedido que a moça que me odiava trouxesse alguns folhados da cafeteria, junto com as bebidas e outros lanches. 

     Toda aquela função de arrumação do apartamento estava me deixando estressado, e quando ele abriu a porta do que já tinha sido somente meu, fiquei mais irritado ainda com toda a tinda espalhada pelo chão e os móveis novos cobertos por plástico. 

     Tinha ajudado com a leva do sofá novo deles, de cor cinza escuro e em forma de "L". Ele tinha colocado a mesa de comer onde estava a sala antigamente, o sofá ao longo da entrada, formando um corredor com a parede que dividia a cozinha da sala. A TV ficaria pendurada na parede na frente do sofá, e uma nova cômoda branca serviria de apoio para os enfeites e pequenas esculturas que Aimée tinha na casa dela. 

     Ele tinha feito eu trazer coisas do apartamento dela também, não se importando de me explorar e nem me contando direito onde que minha cunhada estava, ou o porque que ele precisava fazer aquela surpresa pra ela. 

     Lívia estava olhando o apartamento todo e as paredes meio pintadas com as cores que Apolo ainda estava escolhendo. 

     — Tu se mudou a pouco? — Ela perguntou, e Apolo juntou o cenho, me olhando enquanto eu me apoiava na porta que tinha acabado de fechar. 

     — Ele não te contou? — Meu irmão questionou, e Lívia exibiu um rosto tão confuso quanto o dele, e eu só consegui exibir o quanto eu odiava aquilo. 

     — Preciso admitir que não me sinto animada em conversar com ele, então provável que não. 

     Seu comentário saiu como se eu estar ali realmente não importasse, e eu deixei os dois conversarem, seguindo até o sofá e fingindo estar mexendo no celular. Ele esticou a mão, pedindo a bolsa dela e colocando o acessório em uma das cadeiras da nova mesa de seis lugares. 

     — Aquiles morava aqui. Nós dois somos donos desse apartamento. — Ele disse, sorrindo de lado e olhando pra mim, o que fez eu desviar a atenção de volta pro meu celular e encarar a tela apagada. 

     Lívia não falou nada, só balançou sua cabeça. — E o que que nós precisamos fazer? — Perguntou, a voz baixa e examinando tudo ao redor. 

     Não deixando Apolo responder, me intrometi na conversa e levantei da onde tinha me deitado em cima do plástico que protegia o sofá. 

     — Pergunta de novo, porque até eu não sei direito. — Disse, sorrindo pra ela e me apoiando na entrada da cozinha. — A última vez eu só trouxe os móveis, e mesmo assim ele não me disse porque precisava de mais espaço. 

      Tentei manter a calma no meu rosto, mas a verdade é que ele me dizer que ele e Aimée iam precisar de mais espaço não era razão suficiente para me expulsar, e toda a questão das multas... eu daria um jeito se eu pudesse. Sabia que sim.

     — O motivo eu conto quando Iara chegar daqui a pouco, enquanto isso: vocês acham que preto fica muito horrível pra parede de uma sala? 

     — Acho que não. — Lívia respondeu, se virando e olhando a parede que o sofá ficaria encostado, nela existiam já três tipos de tinta, uma preta, outra cinza clara e uma cor bege que eu com certeza não apoiava. A parede preta era bem cara do casal, e ela nem sabia disso, mas deu a resposta perfeita para o meu irmão. 

     Ele acenou, eles dois ficaram com sonhos atravessando os rostos enquanto olhavam ao redor do lugar, e só saíram daquele transe quando Iara, o diabo em pessoa, bateu na porta e foi entrando, uma chave própria nas mãos. 

     Por mais que detestasse ter que ver ela de novo, como se durante a tarde trabalhar na cafeteria e receber ordens o dia todo não fosse o suficiente, a raiva passou instantaneamente quando eu vi que ela estava carregando uma sacola cheia de comida em uma mão e um suporte com copos da cafeteria na outra. 

     Meu estômago roncou, e o meu rosto se dividiu em um sorriso. Consumido pela euforia, fui até a mulher, abraçando ela até tirar seus pés do chão. Ela reclamou, sem mudar muito o tom ao falar o meu nome. Largando seu corpo, segurei sua cabeça e beijei sua bochecha, indo logo para as suas mãos e pegando a sacola. 

     Apolo não deu muita atenção para mim, e Lívia coçava seu braço, o rosto caído para o lado enquanto ainda olhava Iara. 

     Eu deixei a sacola na mesa, o lençol branco e velho protegendo o vidro. De dentro da sacola eu retirei pães de queijo, croissants puros, folhado de frango e um pote de mil folhas. Olhando para Lívia, sorri um pouco mais, abrindo o pote de folhados e, com um guardanapo, oferecendo pra ela. Não precisou sorrir de verdade pra que eu visse nos seus olhos como ela estava contente com a comida, e aquilo fez eu esquecer sobre Apolo ter feito a pergunta e sobre ela não ter conversado isso comigo. 

     Em um instante eu esqueci aquilo, e toquei as pontas dos meus dedos com os da outra mão, como quem imagina uma vingança, mas eu só estava pensando em comer. 

     Pegando um guardanapo, cuspi o chiclete sem gosto, e fui direto ao pote com todos os pães de queijo, retirando três e deixando eles em cima do porte que continha a sobremesa, pegando o resto deles pra mim. Mordendo, enchi minhas bochechas com a comida e me sentei o melhor possível nas cadeiras ainda protegidas, cruzando as pernas. Continuei mastigando e vendo Apolo apresentando, para minha chateação, Iara para Lívia. 

     — Lívia, essa aqui é a Iara, melhor amiga da Aimée. — Apontou entre as duas. De alguma forma, Iara não estendeu a mão para Lívia e eu vi o pulmão da minha colega de apartamento encher calmo, a apreensão que ela tinha antes no rosto saindo junto com o ar.

     — Oi, como vais? — Iara perguntou, acenando com uma das suas mãos, usando aquele tom superior e o português de tempos antigos. 

      Lívia sorriu de lado, colocando as mãos no bolso de trás da sua calça e levando minha atenção para todo o seu corpo. — Tudo certo... — Respondeu, os olhos indo da comida para mim e voltando. 

      — Não preste atenção, ele é egoísta assim mesmo. — Iara comentou, sua mão mexendo no ar como se estivesse me apagando do lugar. 

     — Eu só quero saber mesmo o que que o Apolo tá precisando. — Lívia respondeu, realmente agindo como se Iara tinha me tirado da sua visão.

      — Ele também não te disse o porquê disto tudo? — Ela perguntou, e Apolo fez que não com a cabeça, mas não conseguindo esconder mais o quão nervoso ele estava e, a verdade, quão feliz também. 

     — É que eu e a Aimée queríamos fazer uma surpresa inteira, a ideia do apartamento fui eu que tive.

     Perdida, Lívia cruzou os braços e ficou nos olhando. — Eu não estou entendendo nada. 

     — Logo vai entender, — ele sorriu — e ter mais uma mulher ajudando vai ser ótimo pra mim. 

     — Conta logo, guri. — Falei, colocando o último pedaço de pão de queijo na boca. Todos os outros estavam com a bebida em mãos e ainda mastigando aos poucos a comida, e eu acabei pegando um folhado pra mim enquanto meu irmão não achava coragem pra desembuchar as notícias.

      — A Aimée está em Caxias, — ele começou devagar, aquilo trazendo um desgosto pra sua voz, mas não queria comentar direito toda a história, mesmo que Lívia fosse ficar mais confusa ainda sem os detalhes dele — ela foi visitar os pais dela, pra pelo menos isso falar pessoalmente. O noivado foi um estresse...

      E eu já sabia, de alguma forma o que estava acontecendo, e poderia explodir de felicidade com ele, fazer qualquer coisa que o deixasse feliz por bastante tempo e não se preocupasse comigo, mesmo que pra eu me ajudar eu tivesse que sair mesmo do apartamento.

      Não deixando ele continuar, me levantei com o folhado preso nos meus dentes e fui até ele, abraçando o seu corpo. Ele acabou rindo, balançando a sua cabeça. 

      — Cara, eu vou ser tio. — Disse ainda com toda a comida que tinha na boca, feliz. Não era exatamente o que eu estava querendo naquele momento, mas era o que eu sempre tinha esperado dos dois. 

      Eu já tinha dito pra ele que ele ia amar somente uma vez, e aquela talvez era a evolução natural de um relacionamento, e eu nunca ia saber ao certo. 

      Iara fez barulhos de felicidade irônicos, agindo como se já soubesse da notícia, o que provavelmente ela sabia sem precisar que os dois contassem, e Lívia acabou rindo da outra mulher. 

     — Parabéns, Apolo, fico feliz por ti. — Lívia disse, sorrindo de lado e a felicidade não alcançando completamente seus olhos. — Mas... que ajuda? 

     — Eu preciso transformar o meu antigo quarto em um quarto de bebê e ainda pintar todo esse lugar. Toda ajuda é bem vinda. — Ele disse, tudo começando a fazer sentido. 

      Ele tinha mais espaço agora com o bebê, um apartamento o qual não precisavam ficar gastando com aluguel mais as contas do prédio e outras três pessoas que ele estava, estranhamente, confiando para fazer parte de todo aquele projeto que ele tinha.

     — O apartamento tem que ficar pronto até Sábado, que é quando ela volta e nós estamos planejando o chá de bebê. Ela pensa que vai ser lá no outro prédio, mas né...quero fazer isso por ela.

     — Precisamos fazer as decorações do chá também? — Iara perguntou, e eu ia tentar o máximo não me envolver com aquele processo em si, só no dia. 

     — Não agora, só quando a gente descobrir o sexo do bebê. — Ele disse, confirmando que ia acontecer toda a festança.      

      Apolo permaneceu com o rosto alegre, e colocando as mãos no meu quadril, olhei em volta para todas as tintas e os papeis que ele tinha desenhado opções de distribuição dos móveis. — Certo, eu começo com a parede preta. 

      Deixando de lado a vontade que aquela notícia tinha me dado de beber para comemorar, peguei o rolo de pintar e comecei a transformar a parede. Ali, também, ignorei os outros três, não precisando de mais uma coisa que me fizesse pensar sobre a família que eu tinha, e o fato de que a pessoa que quase tinha estragado tudo estivera deitada comigo horas antes. 



      Algumas horas e várias manchas de tinta depois, finalmente estávamos em casa. Tinha conseguido fazer com que Apolo acreditasse que eu estava bem para dirigir, e eu estava, mesmo que quisesse muito não estar nas condições certas. 

     Lívia não tinha comentado nada sobre a notícia do meu irmão e estava guardando alguma raiva dentro dela que podia muito bem ser descontada em mim, mas ela não disse nada o trajeto inteiro e até depois no elevador. 

     Eu abri nossa porta, deixando ela passa primeiro e depois fechando o apartamento por completo. Estava esgotado, e só imaginava como que ela estava. Foi estranho toda aquela conversa dela com meu irmão, para dizer o mínimo. O jeito que ela agia, como se não quisesse admitir que queria amigos, mas como conversava com ele e mostrava gostar de colocar conversa fora. 

     Jogando as chaves em um momento de raiva, o barulho delas no balcão ecoou, fazendo Lívia pular da onde descansava encostada nas costas do sofá. Ele me encarou, os olhos vazios, e acenou. 

      — Boa noite... — Disse, soltando todo o ar dos seus pulmões e indo em direção ao seu quarto. Estávamos de volta a rotina de me evitar, e eu, com certeza, estava de volta a minha rotina de beber. 

      Esperando ela fechar por completo sua porta, fui até o meu quarto e fiz o mesmo, retirando a minha camiseta, e pegando uma calça de moletom qualquer na caixa que ainda estava no chão e fui em direção a cômoda que continha minhas garrafas. Precisava tomar um banho, mas ainda não tinha a energia certa pra ir até lá. 

     Eu peguei o whisky, abrindo-o e me sentando na ponta da cama, olhando para todas as coisas que eu ainda não tinha arrumado. 

     Não queria acreditar que realmente ia sair do lugar que eu já tinha me acostumado a viver, pensei que, talvez, era um jeito de Apolo me punir por fazer festas demais, e aproveitar do jeito que ele com certeza não conseguia mais. Mas era, sim, definitivo, e eu coloquei o bico da garrafa contra meus lábios, sentindo o gosto tão diferente da vodka. Era uma bebia mais encorpada, e se eu fosse escolher, seria a minha segunda favorita, mas eu não era de escolher, e qualquer uma das que eu tinha comprado servia para o propósito. 

     Tomando mais outros três goles grandes, joguei a calça no chão, caindo para trás no colchão e olhando para o teto, vendo cada nova e pequena rachadura que saía da lâmpada, que eu não tinha na minha visão antes ao deitar na minha velha cama. 

     Morar ali não era só mais um jeito esperto de tentar conquistar alguém, era o lugar que eu tinha. 

     Suspirando, me apoiei nos meus cotovelos e trouxe de novo a garrafa até minha boca, tomando outros dois goles. Sentia uma espécie de saudade de quando eu bebia tudo aquilo e minha garganta reclamava a ponto de eu tossir, mas agora nada disso acontecia, e o ardor passava rápido demais, fazendo com que eu bebesse mais um pouco, só para manter aquele sentimento que eu tanto gostava. 

     Apolo deveria estar sentindo aquela felicidade igual a minha em relação a sua noiva e o que seria um filho e uma filha, e a única coisa que eu tinha era aquela bebida e ninguém que fizesse eu realmente desistir.

     Olhando para o líquido dourado, cerrei minhas sobrancelhas ao pensar em beber de novo, mas escutando da sala o barulho sem querer da televisão alta, e logo o volume abaixando. 

      Deixando a garrafa no chão, perto da onde tinha jogado a minha calça, me levantei e abri devagar a minha porta. 

      Lívia estava sentada no sofá, o controle na mão e as pernas dobradas contra o corpo. Seus ombros moviam devagar para cima e para baixo, os dedos encontrando o rosto em movimentos que pareciam limpar lágrimas. 

      Eu questionei se o que eu estava enxergando era realmente o que estava acontecendo, minha visão perdendo aos poucos o foco nas coisas e a bebida começando a deixar meus olhos embaçados. Olhando para o meu estado, não podia ir até ela, perguntar o que tinha acontecido, então e fechei a porta. 

     Não precisava descobrir o que eu tinha feito, e também não era o momento certo para que ela me tivesse por perto. 

      Voltando para onde eu estava sentado, mantive o que pensei ter visto dela na minha mente. A televisão no fundo com uma das minhas séries favoritas rodando na tela, ela com um moletom de capuz cinza e os cabelos soltos. Eu imaginei que o moletom era meu, e que ela estava chorando porque talvez se sentisse emocionada demais com aquele episódio onde eles se despedem do apartamento. 

      Eu imaginei, e pegando a garrafa do chão decidi colocar a tampa nela. Diminuir era algo que eu podia fazer, pelo menos para não ser pego, e eu tinha todos os dias e principalmente as noites para fazer Lívia diminuir o seu choro. 


n o t a  d a  a u t o r a:

OI, GENTE LINDA! 

A família está crescendo! Mas, mesmo que as notícias do noivado oficial e do novo bebê grego que vamos ter, o foco da história é no Aquiles e na Lívia, então...

p e r g u n t a  d o  d i a: o que vocês acham que cruzou na mente da Lívia durante esse capítulo?

Não esqueçam de votar, comentar e compartilhar com os amiguinhos. 

Amo vocês!

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