A traição - Livro 1 - Série S...

By autorakdepaula

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Em um mundo onde é matar ou morrer nas mãos de metamorfos, Arianne vive o dilema de cumprir a sua missão como... More

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Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Spoiler do segundo livro :)

Capítulo 3

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By autorakdepaula

Assim que o sol se põe, me arrumo para ir com Emma à academia. Ela fica atrás de uma porta bem escondida se passando por almoxarifado dentro do YMCA de Vancouver. É o nosso lugar especial para treinarmos. Ninguém além de Guerreiros Crossfire pode entrar.

No entanto, assim que cruzo a porta, percebo que o brasão do nosso clã não está mais pendurado na parede. Lembro-me de isso ter acontecido algumas vezes e a minha reação é sempre a mesma: Estranhamento. Temos certo orgulho de exibir o nosso brasão, seja nas portas das casas dos caçadores ou em locais que só nós frequentamos.

A última vez que o brasão foi retirado já faz pelo menos uns 3 anos. Eu não me lembro o motivo.

– Eles já devem estar selecionando o novo líder – Emma diz ao entrar pela porta da academia junto comigo. – Pelo menos eu acho que é isso, né? Quando selecionarem o novo líder, devem colocar o brasão de volta em sinal de respeito.

O que faz muito sentido, para falar a verdade.

Eu não posso dizer que ouvir a respeito da nova escolha não mexe comigo porque seria mentira. Tanto é que minha primeira reação é apertar o anel que eu carrego comigo pendurado em meu colar. O sentimento que tenho pelo líder vai demorar um bocado para sair de mim pelo visto.

Mas treinar é a minha maior válvula de escape e é isso que vou fazer pelas próximas duas horas, junto com a minha irmã e os outros membros do meu clã. Especialmente os da 86ª geração, que são os que eu treino com muito orgulho.

Desde muito cedo nós treinamos luta corpo a corpo, especialmente artes marciais mais antigas, como tai chi. Tai chi é, na verdade, aprendido como uma dança e apenas quando atingimos 11, 12 anos é que passamos a treinar com espadas e adagas os movimentos dessa luta. É também a mesma época em que começamos a nos reconhecer como guerreiros e até mesmo assassinos. Não há como negar, é para isso que treinamos tanto. Para deter e matar qualquer shifter que ouse cruzar o nosso caminho.

Porém, devido à minha agilidade, fui chamada para aprender outras técnicas de luta corpo a corpo. Raras são as mulheres selecionadas para isso porque normalmente os homens têm preferência por serem mais fortes. No entanto, não somente o Líder Ezequiel, mas a minha treinadora atual, Crystal, me ensinaram que tudo é jeito e não força.

Eu sou capaz de defender o golpe de um homem de 130 kg de músculo e ainda derrubá-lo no chão sem usar praticamente força nenhuma. Eu sou boa nesse nível.

Por isso, ao chegar ao vestiário, visto minhas roupas de acordo com as atividades que vamos planejadas para hoje, prendo meus longos cabelos em uma trança que bate quase na altura da minha lombar e vou para o tatame. Lá, meus "alunos" já me aguardam prontos para o aquecimento.

– Hoje nós vamos fazer um exercício diferente – falo observando Mike, Milo, Alec, Emma e Dominic, que pulam sobre o tatame para ativar a circulação. – Vamos preparar vocês para enfrentar todo e qualquer desafio que um Guerreiro Crossfire pode encontrar. Vai exigir de vocês força, estratégia e atuação.

Na parte da atuação, todos eles apertam os olhos, confusos.

Empolgada, continuo:

– Como vocês estão em 5, cada um vai ter um papel e depois vocês vão intercalar para que além de descobrir com quem vocês estão lidando, vocês também saibam como atacar. Vamos ter apenas um Guerreiro Crossfire por vez. Alguém se habilita para ser o primeiro?

– Eu – Emma levanta a mão timidamente. Acho que ela se sente mais confortável em ser quem ela é mesmo.

– Okay, Emma – falo estalando os nós dos meus dedos. – Meninos, venham comigo.

Ficamos longe o suficiente de Emma para que ela não consiga nos escutar. Percebo que Crystal se aproxima para nos ouvir, interessada na minha estratégia de treinamento. A verdade é que eu estou encarando a atividade como diversão muito mais do que treino.

– Mike, você vai ser um Guerreiro Six Souls – falo apontando para ele.

– O quê? – ele pergunta surpreso. – Por que isso? Isso não faz o menor sentido.

– Não faz? – Cruzo os braços.

– Guerreiros Six Souls vivem na Europa. Não vejo o ponto de treinarmos para atacar um deles.

– Mike, precisamos estar preparados para tudo. Até para os clãs rivais. Então você vai ser um Six Souls e vai agir como um quando atacar a Emma. Ou você quer ficar de fora dessa?

Ele se reserva o direito de rolar os olhos e ficar calado. Gosto dele assim, quietinho e obedecendo em vez de tentando mandar em mim.

– Você sabe o que um Six Souls faz, não sabe? – pergunto apenas para confirmar.

– Sim.

Six Souls é um dos 4 clãs de caçadores de shifters. É o que mais me assusta com suas histórias bizarras de tortura psicológica. Dizem que devido à lábia dos Guerreiros Six Souls, eles são capazes de extrair segredos até da sua alma. E, no fim, usar isso contra você a ponto de você cometer suicídio. Por sorte, assim como guerreiros de outros clãs, eles não estão no continente americano, então apenas precisamos nos preocupar com os shifters por aqui. Só achei que seria interessante fazer esse exercício com os meus colegas a título de treinamento.

– Dominic, você vai ser um Guerreiro Vulture – aponto para Dominic.

Um Vulture é um guerreiro dos mais traiçoeiros. Daquele que te ganha pelo cansaço de tanto desviar dos golpes por tempo indeterminado e, quando o inimigo já está exausto, ele dá o bote. Para enfrentar Dominic, Emma precisará de muito mais estratégia do que força. Se ela apenas usar força, vai perder feio o combate.

– Alec, você vai ser um Guerreiro Ripper.

Vejo um sorriso maquiavélico brotando nos lábios do namorado da minha irmã. Rippers são guerreiros que matam com uma crueldade ímpar. Eles são médicos natos, conhecem todos os pontos fracos e mortais do corpo humano. Não perdem tempo com golpes que não causam dor extrema ou morte instantânea. A tortura deles, ao contrário da dos Six Souls, é física.

Chego até a ter um calafrio quando vejo Alec achando o exerício divertido.

– E você, Milo... Você vai ser um shifter mesmo.

Milo sacode sua cabeleira loira em afirmativa. A verdade é que Milo é um garoto de 16 anos meio bobão e eu não acho que ele vá conseguir interpretar algo que não seja comum para ele.

– Vocês não vão atacar ao mesmo tempo. Como quero que ela esteja cansada fisicamente, o Milo vai começar, depois o Alec, depois o Dominic e por fim o Mike. – Organizo os meninos, sentindo uma ponta de ansiedade para saber como eles vão se sair no exercício. – Agora vamos. Quero ver do que vocês são capazes.

Ao tentar voltar para onde Emma está nos aguardando, Crystal me para no meio do caminho com um sorriso curioso.

– Boa ideia – ela diz. – Se você deixar, eu gostaria de usar isso na minha prática também.

– Claro – falo surpresa. É sempre muito legal ser elogiada por um superior, ainda mais com toda a experiência que Crystal tem.

Percebo que meus alunos estão me aguardando e vou até eles, pronta para assistir a batalha que ocorrerá ali.

– Emma, sua função hoje é descobrir quem eles são e encontrar a melhor estratégia para se livrar deles. Você pode usar as armas que quiser. Boa sorte.

Milo é o primeiro. O garoto se aproxima silencioso e, feroz como um gato, começa a atacá-la. Não há como prever os movimentos de Milo, pois shifters são muito diferentes entre si e cada um tem uma abordagem de ataque distinta. Emma percebe que ele é um shifter em menos de 10 segundos, mas apenas após quase um minuto que ela o nocauteia. Até sangue sai de seu nariz.

– Desculpa, Milo – ela se agacha ao chão, tapando a boca com as mãos.

– Não peça desculpas para o shifter – oriento. – Mate ele.

Ela entende que é para fingir ter uma adaga na mão e acertá-lo cheio no peito. Assim Emma o faz. Prefiro atingir o pescoço, mas não obrigo ninguém a atacar do mesmo jeito que eu.

Milo se finge de morto, mesmo com o nariz doendo e assim que começamos a bater palmas para a sua primeira batalha bem sucedida, Crystal vai ao socorro de Milo e o leva até a enfermaria.

– Espero que ele me perdoe – Emma fala, ainda com um semblante preocupado.

– Quero ver você quebrar o nariz de todos eles – brinco. – Vai lá Alec. Boa sorte.

O combate contra Alec é difícil. Primeiro porque sei que ele não quer machucá-la e ela tampouco tem qualquer intenção de quebrar o nariz do namorado. Porém, como estudamos anatomia desde muito novos, sabemos os locais pelos quais os nervos passam e que podem deixar o inimigo desorientado. É exatamente isso que Alec começa a fazer da metade da luta em diante. Emma grita com os choques que leva pelos golpes certeiros de seu namorado sem entender o que ele está fazendo. Quando ela o acerta e o derruba no chão, o mata sem identificá-lo.

– O que era ele? – Emma questiona, ficando de pé. Ela ajeita seus cabelos negros suados de volta em um rabo de cavalo, ofegante como se tivesse corrido atrás de um trem.

– Um Ripper.

O queixo dela cai enquanto seus olhos verdes ficam cada vez mais esbugalhados.

– Como diabos você queria que eu me livrasse de um Ripper? Eu nunca nem vi um.

– Como eles agem? O que são capazes de fazer com você na batalha? – Devolvo a pergunta.

– Eles cortam nervos, drenam o seu sangue, tocam pontos do seu pescoço que te fazem parar de respirar e morrer sufocado. Eu não faço ideia de como me livrar desse tipo de ataque.

– Você pega uma arma e ataca de longe. – Aponto para o quadro de armas que temos exatamente ao lado do tatame em que estamos. São armas não letais, apenas para treinarmos. – Qualquer coisa para não deixar eles se aproximarem. Você também precisa ser rápida, porque se eles souberem lutar à distância, você vai ter que desviar.

– Okay – ela assente. – Mas eu não estava esperando ter que batalhar contra outro clã. Você poderia ter me avisado antes.

– Não teria metade da graça se eu tivesse avisado. Você tem mais dois para enfrentar – respondo em um tom sádico. Ela sabe que eu estou brincando.

Dominic se aproxima na sequência. Ele não precisa de armas. Ainda mais após Emma ter batalhado com outros dois adversários.

Ele começa a luta quieto e permanece calado, desviando de todos os golpes que ela tenta desferir. Dominic chega ao ponto de colocar suas mãos para trás em desafio. Como se fosse tão superior que nem sequer sentisse a necessidade de revidar.

Emma já está com a blusa encharcada de suor, sem quase conseguir respirar quando ele dá o seu primeiro e único golpe que a joga no chão de bruços.

– Maldito Vulture – ela diz do chão quando recupera o fôlego.

– Por que continuou atacando quando viu que ele só desviava? – pergunto.

– Eu achei que... – ela resfolega como um sedentário subindo um lance de escadas. – Achei que ele fosse cansar de desviar.

– Resposta errada.

Estendo o braço para que ela segure a minha mão e a ergo do chão. Assim que a coloco de pé, assumo sua posição. Soco o ar duas vezes na tentativa de acertar o Vulture. Nas duas vezes, Dominic faz uso das pernas para desviar. Meu terceiro golpe é certeiro na lateral de seu joelho.

Dominic me xinga rolando no tatame abraçado ao joelho

– Veja onde ele se apoia para desviar de você – falo para ela. – E use a força dele contra ele. Eu quero ver ele conseguir se reerguer do chão depois de um golpe desse no joelho. Se eu tivesse usado mais força, poderia ter rompido algum ligamento.

Pelo tanto que Dominic continua gritando no chão, devo mesmo ter rompido alguma coisa ali. Porém, não demora muito, ele vai se arrastando sentado para longe do tatame, abrindo espaço para Emma enfrentar a sua última batalha.

– Não me decepcione dessa vez – falo para Emma.

Mike vai até o centro do tatame com um olhar que eu só poderia descrever como perverso. Juro, eu praticamente enxergo veneno saindo de sua boca. Emma, ao contrário, está claramente assustada. Ela sabe que o clã que resta é o Six Souls. Assim como eu, ela também tem pânico da ideia de ter um Six Souls ao seu redor. As histórias de terror que ouvíamos sobre eles quando crianças eram as mais horripilantes. Espero que ela tenha coragem para enfrentar Mike apesar de tudo.

– Eu ouvi falar de você – Mike diz, rodeando Emma, que desta vez opta por aguardar as investidas dele. – Você não é a garota que foi abandonada pelos pais?

Gelo por dentro.

– O que está fazendo? – ela pergunta confusa e se vira para mim. – O que ele está fazendo?

– Me desculpe – ele se corrige. – Não abandonada. Seu pai foi assassinado e você assassinou a sua mãe.

Meu queixo cai. Se era para eu ter alguma reação positiva ao ouvir isso, eu falhei miseravelmente. Se Emma não sabia o que ele estava fazendo, eu muito menos.

– Eu não... Eu não assass... – Emma tenta continuar, mas é interrompida

– E então foi acolhida por pena – ele diz estreitando os olhos. – Como tudo o que fazem por você.

Nesse momento, eu não consigo me conter.

– Mike, para.

Emma nutre um enorme complexo com o acidente de seus pais e o fato de não ter uma família de verdade. Digo, nós somos a sua família, mas ela guarda em si uma necessidade gigantesca de conhecer seus pais biológicos. O fato de sua mãe ter morrido durante o parto sempre a fez sentir-se culpada por ter nascido. O que Mike está fazendo é usar as angústias mais profundas da minha irmã contra ela.

Chego a sentir bile na minha garganta de raiva dele.

– Seus amigos se aproximam de você por pena – Mike continua mesmo após eu pedir para parar. – Até mesmo o seu namorado está com você por pena.

Não, não, não. Isso definitivamente não está acontecendo. Os olhos de Emma, quando ela os dirige a Alec, gritam de insegurança. Eu sei exatamente o que ela está pensando porque eu penso o mesmo. Alec e Mike são melhores amigos e é bem possível que Mike esteja falando tudo isso porque Alec o tem como seu confidente. Se Alec realmente estiver com Emma por pena, minha irmã vai desmoronar.

– Mike, chega – repito, fechando os meus punhos. Isso já está indo longe demais.

– Olha para a sua irmã. – Ele aponta com o queixo para mim, ainda a rodeando como um abutre. – Se é que podemos chamá-la de irmã. – Meu corpo treme de ódio. Estou muito perto de enfiar um murro no rosto dele sem remorso algum. – Ela quer que eu pare por pena. Pena de você se sentir sozinha. Porque é assim que você se sente, não é? Sem ninguém que tenha o seu sangue.

– Mike – alerto com tanto rancor que minha voz vacila. – Eu não vou repetir.

– Por isso você tem essas crises de ciúme com o seu namorado – ele continua. – O seu noivado é uma farsa.

Os olhos de Emma estão marejados e suas bochechas vermelhas. Eu conheço a minha irmã. Sei que se o choro vier, ela não vai ter nem tempo de vê-lo a caminho. Soluços serão disparados antes mesmo de ela perceber o que lhe atingiu.

Eu definitivamente não posso deixar isso continuar.

– Como você se sente sabendo disso? – ele pergunta e eu me vejo dando um impulso em sua direção. – Como você...

Dou um soco na boca de seu estômago que o faz perder o ar e o equilíbrio. Em seguida, o empurro ao chão e monto sobre seu corpo com o punho pronto para atingi-lo mais uma vez.

– Eu te mandei parar! – falo sentindo fúria tomar conta do meu sangue.

– E você acha que um Six Souls pararia? – ele grita comigo e eu contenho meu punho no ar. – Você me deu uma missão e eu cumpri. Se ela não fosse a sua irmã, você não teria me parado.

Ele tem razão. Se fosse qualquer um dos meus outros alunos, eu iria mandá-lo lidar com os seus problemas, fazer terapia ou qualquer coisa do tipo e superar o assunto. É o meu dever ser dura e ensinar. Sei que tentando proteger Emma, eu não estou ensinando nada, mas tudo o que Mike disse foi tão maldosamente calculado que ele mais parecia um Six Souls no corpo de um Crossfire.

– O que você fez foi cruel, Mike – falo baixando meu punho e saindo de cima dele.

– E você acha que eles não seriam? – ele pergunta, tocando o estômago exatamente onde eu o atingi.

Ao ficar de pé, percebo que Emma não está mais aqui. Nem ela e nem Alec. Mike é um idiota. Ele pode ter acabado com o relacionamento de 3 anos da minha irmã. E pior, o relacionamento no qual ela será obrigada a ficar pelo resto da vida.

– Me diz que o que você falou sobre o Alec é mentira – falo absurdamente frustrada com a situação que eu mesma criei.

– Claro que é mentira – ele diz. – Eu nunca faria nada para machucar a sua irmã de verdade.

– Então por que falou sobre a nossa família? Você sabe que isso é importante para ela.

Mike não responde, apenas continua alisando seu abdômen, como se isso ajudasse a diminuir a dor.

– Que droga de amigo você é.

Dou meia volta e vou procurar a minha irmã. Porém, não a encontro em lugar algum. Eu sei que provavelmente ela ainda está com Alec, pois ao perguntar ao segurança se ele a viu, ele afirma que Emma saiu acompanhada do almoxarifado.

Isso me tranquiliza. Pelo menos ela está com alguém que poderá ajudá-la a tirar as coisas horríveis que Mike disse de sua cabeça.

Volto para dentro da academia e faço todo o possível para ignorar a presença de Mike, como se eu já não fizesse isso nos dias normais. Treinar com raiva, na minha opinião, é a pior coisa que eu posso fazer contra as minhas articulações e ligamentos. Eu bato com tanta força contra o que quer que seja meu oponente, aluno, treinador ou saco de pancadas, que no final do dia fico completamente dolorida.

Não preciso de força, eu sei disso, mas preciso deixar a raiva passar e se não me sentir exausta e sem energias depois do treino, é como se eu não tivesse conseguido me livrar desse sentimento tão ruim.

-

Duas horas depois, finalmente consigo parar. Sento em um banco de onde consigo ver meus companheiros guerreiros lutando entre si após beber uma garrafa inteira de água.

Não demora muito, recebo uma mensagem de Alec dizendo que ele levou Emma para casa e que já está tudo bem. Isso me deixa mais tranquila, portanto consigo desviar a minha atenção para outras coisas que passaram o dia inteiro me incomodando.

Uma delas, claro, é o garoto na minha turma. O suposto shifter que se recusou a tocar o anel do Líder Ezequiel e para quem eu disse um palavrão em francês.

Eu não sei se é possível passar uma vergonha maior do que essa com alguém ou se eu terei coragem de olhar na cara dele de novo, por mais que ele tenha reagido super bem ao meu descontrole verbal.

De qualquer forma, eu preciso pensar em algo. Algo que certamente irá surtir efeito.

– Você está meio esquisita hoje – Crystal diz, sentando-se ao meu lado. Seus cabelos negros curtos estão totalmente molhados de suor. – Quer conversar?

– Não, não. Eu estou bem. Obrigada. – Abro um sorriso amarelo. Fico com um pouco de vergonha quando as pessoas conseguem ver como eu me sinto através do meu rosto. Acabo me sentindo transparente.

– Tem certeza?

Suspiro e aperto minha nuca que já está dura igual a uma pedra da tensão do dia. Talvez eu precise de ajuda, no final das contas.

– Okay – digo. – É que estou em uma situação um pouco delicada.

– Do que se trata? – ela pergunta curiosa.

– De um rapaz.

– Um rapaz? – ela repete. – Você diz o Mike?

Depois de ouvir essas palavras saindo da sua boca é que eu percebo a burrada que fiz. Crystal não é exatamente minha amiga para que eu fique compartilhando os meus dilemas. É um dos membros do clã e precisa se reportar às autoridades do clã caso sinta que algo está errado.

– Você tem que prometer que não vai falar para ninguém – eu imploro. Ela parece surpresa com o meu pedido.

– Sem problemas, sei guardar segredos.

– Okay... – Mordo o lábio inferior, preocupada se posso confiar ou não. – O rapaz não é o Mike. Na verdade, não sei nem se ele é um rapaz. Acho que é um shifter. Ele está estudando na minha turma.

– Entendi – ela aperta o próprio queixo.

– Estou com um pouco de dificuldade para pensar em algo certeiro que me ajude a desmascará-lo. Não posso simplesmente sair atacando porque senão posso matar um inocente, mas estou um pouco apreensiva por tê-lo deixado ir embora hoje. Não sei se ele vai atacar alguém até a próxima aula que eu tiver com ele, sabe?

– Se ele atacar alguém, vamos receber alguma notícia. Nenhum corpo foi encontrado desde a morte do Líder Ezequiel, então talvez esse shifter esteja mais na defensiva do que no ataque.

Faz sentido. Os shifters agem de formas diferentes e eu já vi de tudo um pouco. Ainda mais quando eles estão tentando se mesclar com a comunidade.

– De qualquer forma, meu estoque de ideias geniais para capturar shifters acabou. – Dou de ombros.

– Então que bom que você abriu o seu coração para mim. Eu tenho uma carta ou outra na manga para te apresentar.

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