8:47pm.
Pelos céus.
— Chegamos — Hope salta de seu Pontiac GTO vermelho – ela contou tê-lo ganho aos dezesseis anos e, nunca se desapegou desse carro ofuscante cheio de adesivos na traseira.
Isso é o que menos importa.
Pisco lentamente quando vejo a casa de uma das fraternidades de Prince Hills, creio que seja onde Barners se instala. Sigo os saltos rosa choque de Griffin, que está empolgadíssima. Mas a minha cara de tacho não disfarça o quão desconfortável estou.
Entretanto, estou aqui porque quis vir à esta maldita festa, não sei se por vontade, ou... tanto faz – é igualmente como todas as outras que estamos lindamente acostumados a ver.
Muitos jovens espalhados pelas partes de fora; copos azuis cheios de bebida alcoólica; uma bandeira representando a fraternidade está pregada na sala, que no momento tem a mesma função de um quarto de motel; e uma música vibrante e alta aos fundos. Estou quase no segundo ano, mas não posso dizer que sou adepta a frequentar pândegas organizadas por acadêmicos.
— Você veio, gata — Tyler passa o braço pelo pescoço de Hope quando nos encontra indo até a cozinha.
Dou um sorriso fraco no segundo em que ele desvia seus olhos claros a mim.
— Emma — os dois me fitam enquanto entrelaço as mãos na frente do corpo. — É ótimo que tenha vindo.
— Só espero não me arrepender — respondo prontamente o fazendo soltar uma risada.
— Fique a vontade — ele pausa — ah, vou roubar sua amiga por alguns minutos, se não se importa.
Eu me importo.
Mas Hope sorri, então faço a mesma coisa assentindo – anotarei isso na minha lista vingativa, Griffin. Me deixar sozinha não é simpático.
— Mas não se preocupe — ele observa a tela do celular e então estampa uma expressão gentil. — Brandon chegará daqui a pouco.
Abro a boca para respondê-lo rudemente mas, os dois caminham para outro cômodo. Reviro os olhos.
Coloco uísque em um copo e então, atravesso a porta que dá para a área externa onde há várias pessoas, algumas até mesmo na piscina, rodeada de luzes coloridas.
Dou um suspiro.
Campbell é um portal para o pior tipo de confusão. Quando ele estranhamente disse que eu estou a mentir para mim mesma, é o mesmo que querer enganar os sentimentos, mas eles é quem estão me enganando. Sua justificativa para a total ignorância de me evitar, fora um tanto quanto surpreendente. Na verdade, ele é imprevisível. Sou tão estúpida. É como se estivesse tentando lutar contra o invisível.
Querendo navegar nas marés altas enquanto a tempestade cai.
Embora meu corpo aniquile os riscos.
— Eu nunca erro.
Penso que seja meu devaneio indo além, mas não. É a voz dele. Aveludada e intimidadora – que não faz-me contorcer de raiva, mas que agora faz meus joelhos tremerem.
Não me viro, ele é que se põe frente a mim.
— O que te fez vir? — Brandon está com sua jaqueta de couro escura. Já o vi a usando, mas dessa vez é como se ele estivesse mais provocante.
Foco no barulho da água quando jogam alguém na piscina.
— Vim porque quis.
Seus olhos me analisam com o habilidoso talento de fazer-me queimar.
— Você está bonita pra caralho — ele diz instantaneamente balançando a cabeça. — Com muito respeito.
Eu não estou exageradamente bonita, não assim.
O vestido vinho escuro que se estende até os joelhos e é grudado ao corpo, fora a opção mais digna (para a ocasião) que consegui tirar do meu armário. Mas, nada de saltos. Sou péssima quando os uso – então, calcei um par de sapatos brancos sem queixas.
— Obrigada — desvio meu olhar provavelmente corada.
— Finalmente uma palavra educada vinda dessa boquinha perspicaz.
— Retire o agradecimento então, idiota.
— Sem grosserias, princesa — ele morde os lábios e olha para os lados. — O que acha de darmos uma volta?
— Como?
— Andarmos por aí, juntos.
— Eu e você? — franzo o cenho o encarando incrédula e ele assente, despreocupado. — De jeito nenhum.
Esse par de oceanos escuros me enfrenta por minutos, minutos estes que parecem serem os mais longos e impertinentes da minha vida.
Argh.
Reviro os olhos.
— Tá legal.
Brandon contorna um sorriso estonteante, sincero. Ele se curva para trás e eu me coloco ao seu lado, engolindo em seco.
Uma corrente elétrica percorre todo meu corpo.
A culpa logo preenche meus pensamentos. Estar aqui, próxima a ele, dá-me a sensação de estar loucamente perturbada por uma onda de emoções. A razão disputa ferozmente cada minúscula parte de mim, entretanto, eu sei que a pulsação acelerada impede que eu raciocine bem – da mesma forma em como sempre o fiz. Sei que estou marchando até o precipício, mas uma voz martela cada vez que penso em arrependimento.
Então, e daí?
— Você realmente quer morrer logo — digo observando a fumaça do cigarro de Campbell se estampar no ar enquanto andamos ao redor da casa.
— Não tenho nada a perder — embora eu pense que haja sarcasmo em sua resposta, ainda sim ele mantém um semblante sério.
Algumas pessoas falam com ele, – vulgo a maioria das garotas – que me olham como se eu fosse um animal extinto. Fico quieta, é claro. Mas também não quero que pensem que sou a alternativa da noite dele, isso soaria muito mal.
Analiso os outros cantos para ver se encontro Hope, mas nem sinal dela.
Traidora.
— Continuo perfeitamente bem — ele dispara do nada, o encaro sem entender, ele aponta para o cigarro entre seus dedos. — Dizem que ele prejudica a beleza, não é?
Faço uma careta.
— Não será para sempre assim.
— Quando isso acontecer, acha que alguém vai me querer?
— Responda você mesmo, garanhão.
— Acha que sou um?
— É o que dizem.
— Você acredita?
Ele joga o cigarro no chão, o pisoteando em seguida. Seu olhar vai de contra ao meu, então novamente fico emaranhada.
Honestamente, não sei.
— Sim — respondo de supetão.
— Por quê?
— Quantas perguntas — cruzo os braços. Ele parece estar tentando arrancar respostas nas quais eu mesma tenho dúvidas.
— Você é a primeira garota que me despacha assim — ele se aproxima e então sinto o aroma do perfume amadeirado que invade minhas narinas. — Tem de haver alguma explicação.
Um silêncio ensurdecedor é a minha resposta.
— Qual é a sua?
— Têm coisas que não se explicam, Brandon.
Recuo.
Mas a expressão traquina permanece em seu rostinho incrivelmente infernal.
Deus.
— Faremos um acordo, então — ele apoia uma das mãos na cintura e a outra ele passa pelos fios escuros do cabelo.
— Acordo?
— Sim — molho os lábios. — Provarei que não sou o que pensa, e se mesmo assim você quiser me afastar, arrumará um pretexto para fazer isso.
— E como faremos isso?
Ele sorri de canto.
— Vamos a um encontro, princesa.