Louis havia “parado de frescura”, nas palavras de Stan. Os três dias em que ele passara na pousada foram repletos de fotos, uma tentativa de jogo de futebol – Louis teve que concordar com Stan era muito engraçado ver os outros tentando jogar. Zayn desistiu depois de cinco minutos – sorvetes a beira da piscina com as irmãs de Louis e conversas sobre nada em especial.
Louis não percebera quantas saudades tinha daquele pateta até o reencontrar em Doncaster. Stan sempre fora um bom amigo e era o único fora de sua família quem sabia de seu “problema”. Os dois se conheciam desde os sete anos e eram inseparáveis. Aqueles três dias de Stan na pousada confirmaram que a amizade nunca mudaria, não importava se estavam há duas horas de distância um do outro.
Ele desejava que o outro ficasse mais, mas este viajaria o resto das férias com os pais – talvez se vessem novamente lá pro meio de Agosto.
- Vê se não chora por causa da minha partida! – Stan brincou enquanto colocava suas malas no bagageiro. Ele aproveitaria um ônibus de excursão para os lados de Doncaster que iria sair da pousada aquele dia, assim não precisaria pagar pelo transporte de trem ou mesmo dar trabalho a Mark o levando até lá.
Louis lhe deu um soquinho no ombro e o abraçou em seguida. Harry, Niall e Zayn estavam na porta da pousada com eles. Os três haviam gostado de Stan, o cara era um palhaço! Harry particularmente achava que o cara era um pouco sem noção, mas ele tinha armado para que esclarecesse as coisas com Louis – embora não tivesse percebido que precisavam resolver algo até a intervenção de Stan – e isso contava muitos pontos a favor dele.
Em seguida Stan se despediu dos três, dando um abraço rápido em Niall e Zayn. Na vez de Harry, ele aproveitou para cochichar em seu ouvido:
- Pirralho, tenha paciência com o Lou. Não desiste dele.
Harry deu um pequeno sorriso enquanto respondia:
- Jamais.
Os dois se soltaram do abraço e sorriram um para o outro antes de Stan ir até o ônibus fingindo que estava chorando enquanto gritada “au revoir!!” dramaticamente. Depois ele se pendurou na janela e começou a cantar desafinadamente “Bye Bye Bye” do N’Sync. Os quatro esperaram o ônibus sair para voltar para dentro, rindo.
- Se todos os seus amigos forem assim, ligue para eles agora e peça pra virem. – Niall comentou rindo do seu jeito típico.
- Bom, todos são! – Louis respondeu colando as mãos nos bolsos. – Considerando que ele é meu único amigo.
- Impossível. – Harry declarou franzindo o cenho. – Você é legal demais para ter só um amigo.
Louis sorriu para ele sendo correspondido.
- Vai ver Louis é muito seletivo. Deveríamos nos sentir privilegiados por ele aceitar andar com a gente. – Zayn completou.
Harry e Niall riram enquanto Louis suspirava sem graça.
- Pois agradeçam aos céus mesmo. – ergueu o queixo fingindo altivez.
Harry passou o braço pelos ombros de Louis enquanto ria com os outros. Louis sorriu sentindo-se tão em casa como se estivesse no velho sobrado dos Tomlinson onde crescera.
- Abraço em grupo!! – Niall abriu os braços e Harry e Louis riram. – Não é pra rir é pra abraçar! Dá pra acreditar nisso Zayn? Eu aqui literalmente de braços abertos e...
Zayn não olhava para Niall e o loiro só notou naquele momento. Harry e Louis pararam de rir e estranharam o semblante fechado dele, seus olhos fixos no balcão a sua frente.
- Preciso sair. – ele declarou subitamente, bastante sério.
Os três seguiram seu olhar ainda fixado e não sabiam o que estava acontecendo.
- Er... O que aconteceu, Zayn? – Harry já estava ficando preocupado.
Louis percebeu que algum hospede que estava pegando informações no balcão se voltou para eles como se uma descarga elétrica houvesse transpassado seu corpo assim que o nome de Zayn foi pronunciado. Se possível, isso só aumentou a confusão de todos.
- Zayn?
O cara no balcão parecia ter a mesma idade deles. Era moreno de cabelos lisos castanho-claros, curtos e exibia um semblante preocupado.
Os três se surpreenderam tanto com a voz daquele estranho falando o nome de Zayn que só processaram a informação de que este estava saindo pela porta de entrada da pousada o mais rápido possível quando o estranho saiu em disparada atrás dele, deixando no saguão duas malas e uma atendente confusa.
Os três se entreolharam e a curiosidade foi mais forte: seguiram as duas figuras apressados. Harry finalmente soltando os ombros de Louis.
Foram encontra-los a alguns passos da entrada. O estranho a frente de Zayn e este querendo se esquivar parecendo bastante zangado. Eles não sabiam se deveriam intervir ou ficar olhando enquanto a cena se desenrolava:
- Mas eu não quero ouvir o que você tem pra dizer, Liam.
Ok, agora sabiam o nome do outro garoto.
- Você precisa! –ele soava desesperado.
- Como você me encontrou aqui? Foi o Andy, não foi? Ele me paga! – Zayn cerrou os punhos e soava muito nervoso.
- Eu insisti. Eu precisava insistir. Você sumiu!
- Eu sumi por um motivo e esse motivo é você. Mesmo motivo pelo qual eu não queria ser encontrado! Volte para Bradford e me esqueça.
Zayn tentou continuar seu caminho desviando de Liam, mas este o impediu, bloqueando a passagem em qualquer direção que o outro fosse.
- Eu não quero te esquecer! Por favor, vamos conversar.
- Não, não e não. Eu estou cansado de conversas! – Zayn empurrou o outro que teve que dar três passos para trás para recuperar o equilíbrio e não cair de costas no chão. Niall quase foi até lá, mas Louis o impediu com o braço. – Estou cansado de promessas, de enrolação.
- Eu sei! É por isso que a gente precisa...
- Não, não. Você não tá entendendo. – Zayn se aproximou, colocando o dedo indicador em riste na direção de Liam. O espaço entre os dois era mínimo. - Tô cansado de tudo! Tô cansado de você!
O tal Liam pareceu verdadeiramente chocado e Louis adicionaria: magoado.
Zayn girou os calcanhares e passou voando pelos três garotos espantados na porta da pousada. Um casal ali perto esquecera de tomar as casquinhas de sorvete que tinham em mãos de tão chocados com o que tinha acabado de acontecer.
Niall foi o primeiro a falar enquanto os três observavam Liam passar as mãos pelos cabelos e pressionar suas pálpebras enquanto se sentava no canteiro do jardim que adornava a entrada:
- Alguém deveria ir falar com o Zayn...? – questionou incerto. – Alguém deveria ir falar com aquele ali...?
Harry e Louis voltaram sua atenção para o irlandês, sem saber como responder aquilo.
- Ham... – Louis disse depois de uns bons segundos de silêncio. – Acho que Harry deveria ir ver se Zayn está bem... Você já passou mais tempo com ele do que a gente.
Louis não tinha mais a insegurança em relação a Zayn. Ele havia sido um tolo em julgar Harry daquele jeito. Na verdade agora os dois se entendiam muito bem. O mais novo concordou com um aceno.
- Eu vou.
- Mas vai com calma, porque o cara parece bem nervoso. – Louis adicionou.
Harry concordou com um aceno novamente e entrou. Louis e Niall se encararam e depois olharam Liam que tinha baixado a cabeça e olhava para os próprios pés.
- Vamos tirar par ou ímpar ou... - Niall começou.
- Pega um copa de água no bebedouro ao lado do balcão e vamos os dois.
Harry subiu as escadas para o segundo andar apressado, mas quando alcançou a porta de Zayn, parou apreensivo. Não sabia se deveria deixar o outro ter um pouco de espaço. E se ele entrasse e Zayn o chutasse para fora?
Deu duas batidas de leve.
- Liam se for você, eu juro que te dou um soco na cara!
Harry mordeu os lábios diante da voz zangada.
- Er... Sou eu, Harry.
Não houve resposta da parte do outro. Harry suspirou interpretando aquele silêncio como um aviso para ele ir embora. Antes que pudesse fazê-lo, Zayn abriu a porta.
- Entra... – ele deu espaço para que o mais novo entrasse, o que este fez com cautela.
Harry deu uma olhada no quarto de solteiro. A janela estava aberta e dava para ver toda a cidade dali, pois se encontrava na parte da frente da pousada. O quarto possuía um banheiro do lado direito, quase ao lado da porta de entrada formando um pequeno corredor. Depois disto o cômodo ampliava-se e possuía uma mesa no canto direito e uma pequena estante de madeira com televisão e aparelho de dvd. A cama de solteiro ficava do lado oposto, de frente para um armário simples de madeira e um frigobar ao lado.
Zayn tomou a dianteira e Harry o seguiu. Ele parecia realmente zangado.
- Você quer conversar? – arriscou enquanto Zayn se sentava na cama.
Harry permaneceu em pé a sua frente. Zayn encarou a parede a seu lado, punhos fechados. O mais novo começou a achar que deveria simplesmente ir embora.
- Eu vim para cá... – ele começou sem encarar Harry, o olhar ainda fixo na janela do lado da cama na qual havia sentado. – Porque queria sumir de Bradford. Por causa dele.
Harry acenou positivamente. Zayn ficou mudo, como se ponderasse se deveria dizer mais ou se era só aquilo que queria dizer.
- O que ele fez? – Harry se atreveu a sentar ao lado dele na cama.
Zayn finalmente olhou para ele e suspirou antes de girar o corpo em sua direção. Harry fez o mesmo.
- Não sei o que você vai achar disso, mas... Liam é meu namorado.
Harry encarou Zayn nos olhos tentando avaliar se ele estava falando sério. Oh, aquilo sim era algo espantoso... Não pensou direito naquilo no momento, Zayn precisava desabafar e deveria ter sido difícil contar algo como aquilo e convenhamos, Harry não achava o fim do mundo de qualquer maneira...
- Certo... – tentou parecer seguro. – Ham... e você tá bravo com ele porque...?
Zayn sentiu certo alívio que Harry não tenha olhado para ele de maneira estranha como ele esperava de toda a sociedade. Sentiu-se confiante para continuar.
- Não é algo fácil. Digo, é simples, mas as pessoas não entendem e o Liam... ele fica me enrolando. Eu disse que por mim andaríamos de mãos dadas, nos beijaríamos no cinema, faríamos todas as coisas românticas e melosas possíveis. Mas eu sei que não é por ai, eu até entendo. O problema é que Liam foge de tudo isso como se eu estivesse sugerindo que comprássemos drogas e vendêssemos para criancinhas da pré-escola. – Harry só prestava atenção, sinalizando com um aceno para ele continuar. – Era só um detalhe no começo, mas faz sete meses que estamos juntos e eu perguntei para ele quando a gente iria poder fazer tudo isso ou parte disso, nem que eu tivesse que pegar dez ônibus e ir para uma parte da cidade onde ninguém nos conhecesse. Eu só queria mostrar para as pessoas que eu estava orgulhoso de quem eu era e da gente. Eu queria exibir o Liam para todo mundo, não como meu amigo de infância, mas como meu namorado. – Harry mordeu os lábios sentindo o quanto Zayn estava frustrado. Ele não conseguia no momento imaginar a situação. – E a única resposta que eu consegui em relação a isso foi “daqui uns anos, talvez.”. Uns anos, Harry! Eu posso atravessar a rua e morrer atropelado amanhã e ele me diz “uns anos” e como se isso não fosse o suficiente, seguido de um “talvez”. TALVEZ?
Zayn se levantou irritado. Harry sinceramente não sabia o que pensar. Não sabia quem tinha razão e ele só estava ouvindo uma parte da história, não podia avaliar. Sem contar que não conseguia se colocar no lugar de nenhum deles. Nunca havia conhecido um cara que gostava de caras. Era estranho, mas ele não tinha nojo ou o que fosse, disso ele tinha certeza.
- Eu entendo que não é fácil porque as pessoas não acham normal. Mas eu não posso nem cochichar no ouvido dele que ele se esquiva como se eu fosse passar alguma doença vergonhosa e altamente contagiosa pra ele. Isso me magoa e eu cheguei no meu limite. – Harry observava o ir e vir do amigo cujo andar e gestos ficava cada vez mais frenético. - Eu falei para ele que a gente poderia vir pra cá, porque eu tenho uns primos que já passaram as férias aqui e gostaram muito. Ele nem pensou duas vezes: disse que seria estranho dois garotos dividindo um quarto, passando as férias sozinhos e o que as pessoas iriam pensar da gente e idioticesses como essa. Então eu fingir concordar e na mesma noite liguei, reservei o quarto, pedi para meu amigo Andy fingir que era um adulto responsável ao telefone e falar com meus pais. Dois dias depois eu vim para cá.
- E agora ele veio atrás de você... – Harry completou já compreendendo o que havia se passado.
- É. E tudo que eu quero é sumir de novo para a cidade mais distante o possível daqui.
- Mas não é grande coisa ele ter vindo? – Harry perguntou incerto.
Zayn só suspirou. Estava bravo demais com Liam, ele queria que o outro fosse embora e por “embora” ele queria dizer da sua vida. Pra sempre.