-Tá muito justo! – eu disse me olhando no espelho e subindo mais uma vez o vestido.
-Não está não – minha mãe me disse – Você que está acostumada a usar apenas moletom.
-São mais confortáveis!
-Uma vez na vida se sinta bonita – ela disse me olhando orgulhosa pelo espelho – É uma noite única, você vai com um menino que você gosta e vão se divertir.
-Mãe... – eu disse já ficando com vergonha.
Digamos que nós não conversamos muito por ela estar sempre ocupada com o trabalho. Mas assim que eu disse que precisava de ajuda para o baile, ela ficou louca e fez questão de comprar tudo e me arrumar.
Era um vestido preto com alguns detalhes em roxo, bem justo na parte de cima e em baixo um pouco mais rodado.
-Coloca os sapatos – ela continuou mostrando um par de saltos.
Eu ia abrir a boca para dizer algo, mas ela me interrompeu mais uma vez:
-Não, você não pode ir de tênis.
Fechei a boca na mesma hora. Teria que ir com aqueles saltos que fazem meu pé doer mesmo. Bufei e coloquei os mesmos.
Uns cinco minutos depois a campainha tocou.
Gelei na mesma hora.
-O que eu faço? – eu sussurrei para minha mãe.
-Abre a porta ué – ela disse já me empurrando.
Respirei fundo e mandei ela sair dali, não poderia passar mais vergonha. Me dirigi até a porta e abri a mesma devagar.
Peter estava maravilhoso na minha frente. Ele vestia o tradicional terno e suas bochechas estavam levemente coradas, o que deixou tudo mais fofo. Ele ia dizer algo, mas parou totalmente e me olhou dos pés à cabeça, me deixando com mais vergonha da situação.
-Uau – ele disse assim que olhou em meus olhos.
Sorri meio tímida para ele.
-Você está linda – ele continuou dizendo.
-Obrigada, você também está.
Ficamos nos encarando por mais tempo, sem saber direito o que dizer ou falar um para o outro. Peter pareceu cair na realidade primeiro, então se aproximou e pegou minha mão, puxando para si.
Observei ele pegar a tradicional flor de punho e colocar delicadamente em meu pulso, dando um pequeno nó. Fiquei encarando ele fazer aquele pequeno gesto e não consegui esconder o sorriso.
Peter era tão atencioso, fofo e se preocupava comigo de um jeito que eu nunca poderia sonhar.
-Vamos? – ele perguntou estendendo o braço.
-Vamos – eu disse aceitando, o que me fez lembrar do dia que eu aceitei a ajuda do homem aranha naquela rua.
Assim que chegamos na escola, onde seria o baile, observei todas aquelas pessoas dançando ao som da música alta. Eu sabia que nem eu, nem Peter teríamos coragem de dançar daquele jeito. A escola estava bem decorada e eu tentei encontrar Liz no meio daquela multidão, apenas para elogiar o ótimo trabalho que ela tinha feito. Mas não a vi em nenhum local.
Avistei Ana em um canto dançando com um cara e dei um aceno de longe. Também observei Ned sentado em uma das cadeiras.
-Isso aqui está bem bonito – Peter disse claramente tentando puxar assunto.
-Sim – eu disse – Liz caprichou.
-Você quer...bom...é...você quer dançar? – Peter perguntou sem olhar em meus olhos.
Sorri com aquelas palavras.
Uma parte de mim nunca teria coragem de ir lá no meio daquelas pessoas e ficar pulando que nem uma retardada. E eu imaginava que Peter também nunca teria essa coragem. Mas lá estava ele, me convidando para fazer aquilo, me surpreendendo mais uma vez. E como eu poderia dizer não?
-Claro – eu disse segurando sua mão e o puxando para a pista.
Estava tocando uma música bem alta e assim que Peter ficou na minha frente, ficamos nos encarando.
-Eu não sei dançar – ele disse.
-Eu também não – eu disse e começamos a rir. – Vamos tentar imitar os outros.
Olhei ao meu redor e vi uma menina rebolar e descer até o chão.
-Eu não vou fazer isso – eu disse arregalando os olhos.
-Ali! – Peter disse apontando para uma outra garota, que balançava os braços no ar.
Observei Peter tentar fazer o mesmo, mas acabou ficando mais engraçado do que eu esperava e eu não consegui segurar a risada.
-Não ria! – Peter gritou fingindo estar ofendido.
-Desculpa – eu sussurrei.
-O que? – ele gritou colocando a mão no ouvido – Está muito barulho!
Me aproximei dele e encostei minha boca perto de seu ouvido.
-Desculpa – eu repeti e percebi Peter se arrepiar com o que eu tinha feito.
Não era minha intenção, mas sorri ao perceber o efeito que eu tinha sobre ele.
E logo depois a música parou e foi substituída por uma lenta. Me afastei um pouco dele e fiquei encarando o mesmo. Ele não disse nada, só estendeu a mão e me puxou para perto.
-Essa eu sei dançar – ele sussurrou em meu ouvido do mesmo jeito que eu tinha feito, me causando uma sensação boa também.
Levei minhas mãos ao redor de seu pescoço e Peter me segurou pela cintura, me aproximando mais dele. E ele sabia mesmo dançar musica lenta, já que fazia os movimentos certos e balançava de lá para cá.
-Onde aprendeu a dançar assim? – eu perguntei olhando para ele.
-Minha tia me ensinou – ele disse.
-Sério? Quando?
-Hoje de manhã – ele disse já ficando vermelho – Queria aprender para poder dançar com você.
Sorri com aquelas palavras.
-Bom, eu não sei dançar – eu disse tentando acompanha-lo.
-Eu te ensino outro dia – ele disse – Mas você está indo bem.
Até que não era tão difícil, não com Peter guiando.
-Lily – ele disse um tempo depois – Queria falar uma coisa com você.
Olhei para ele, levemente curiosa, esperando que ele continuasse. Peter olhou para baixo, um tanto envergonhado, e depois olhou em meus olhos.
-Eu gosto de você – ele disse.
Sorri mais ainda, se aquilo era possível.
-Eu também gosto de você – eu respondi.
-E agora que você sabe meu segredo, que confia em mim e eu confio em você, as coisas podem ser mais difíceis ou mais fáceis, não sei ao certo. – ele continuou – Mas eu sei que você é uma garota incrível e que eu me apaixono cada vez mais por você. Desde que coloquei os olhos em você, a uns anos atrás. Desde que conversamos pela primeira vez na aula de química ou quando li um de seus textos. Todas essas vezes, eu sabia que gostava de você.
Abri a boca para tentar responder algo naquele nível, mas nada me saía. Eu estava um tanto chocada com aquelas palavras lindas. Tão chocada que tinha parado totalmente de dançar ao ritmo da música lenta.
-Então por mais que isso tenha riscos – ele disse – Eu quero sofrer esses riscos com você.
-Peter... – eu consegui dizer, mas fomos totalmente interrompidos por Ned, que apareceu ao nosso lado desesperado.
-Peter! – ele gritou separando a gente.
-Ned! Não me atrapalhe agora! – Peter disse nitidamente bravo.
-Peter! – Ned voltou a gritar – Ele está aqui!
-Quem? – Peter mudou de expressão na mesma hora, substituindo o olhar bravo por um preocupado.
-O cara com asas!
Peter arregalou os olhos, em puro desespero.
-Lily – Peter disse pegando a minha mão e me puxando para fora do salão – Lembra do super vilão que eu estava tentando derrotar?
-Sim – eu disse já sabendo o que vinha a seguir.
-Ele está aqui e eu preciso da ajuda de vocês – ele continuou.
-É só pedir – eu disse.
-Você e Ned vão até os computadores da escola e vão me ajudar pelo microfone em meu ouvido.
-Isso! – Ned comemorou animado – Vamos! Eu sempre quis fazer isso.
Ned começou a correr na direção oposta.
Observei Peter correr para um canto do corredor vazio da escola e tirar de lá uma mochila com o seu uniforme.
-Peter – eu disse me aproximando dele – Toma cuidado.
Peter sorriu na minha frente.
-Você também. E me desculpa por atrapalhar.
-Pelo menos você não saiu correndo sem me avisar de nada – eu disse rindo – Depois continuamos.
Olhei para trás, onde Ned já preparava uns computadores da escola.
Em um movimento rápido me aproximei de Peter e selei nossos lábios, em um beijo curto e rápido, mas o suficiente para ele entender o recado.
-Agora sim – ele sussurrou e colocou a máscara de homem aranha – Vamos lá!
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