Trago Seu Amor em Três Dias (...

By _MelGv

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Em primeiro lugar, isso não era para ter acontecido. Eu deixei bem claro desde o começo que não pretendia fic... More

Lançamento de TSA
Capítulo 1
Capítulo 2
Cat Friday (só que monday porque me atrasei, risos)

Capítulo 3

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By _MelGv

Pelo menos o dia tinha passado rápido (em aproximadamente setenta e duas Africas, que já tinha virado unidade de medida de tempo) e eu poderia ligar para o Sobradinho em busca do Theo.

— Sobradinho, Tamires, boa noite. — Disse a voz entediada do outro lado do telefone.

— Oi, Tamires, boa tarde. Meu nome é Amélia e eu preciso de um favor.

— Sim...

— É que eu fui aí ontem...

— Vou te transferir para o Achados e Perdidos.

— Não! Eu não perdi nada! — Fiquei em silêncio por alguns segundos. — Aliás, perdi.

— Perdeu ou não perdeu?

— Perdi.

— Vou te transferir para o Achados e Perdidos — E antes que eu pudesse responder, prosseguiu. — Um segundo, por favor — O telefone ficou mudo, ouvi uma musiquinha irritante e então... — Achados e Perdidos, Tamires, boa noite.

— Oi, boa noite. Eu sou...

— Eu sei quem você é, já fui avisada da situação.

— Ah. Bom, então, na verdade eu não perdi nada.

Não compreendi, senhora.

— Não, é que assim, eu explico — respirei fundo, enrolando meu cabelo escuro na ponta do meu dedo indicador na expectativa de que um cacho se formasse e mantivesse. Ledo engano. — Eu fui aí ontem e conheci um cara. E ele era muito chato, mas ele era legal? Aí eu nem queria ficar com ele, mas na verdade eu queria, então ficou naquela coisa meio fica, não fica, fica, não fica, fica, não fica, mas fiquei. Ficamos. Muito.

— Poupe-me dos detalhes, senhora.

Meu rosto corou do lado de cá da linha antes que eu respondesse:

Desculpa, Tamires. Mas, sei lá, rolou uma coisa. A gente deu certo, sabe?

— HM.

— Só que o Tio Joca, que é o pai da Pipa, minha amiga, chegou. E eu tive que ir embora voando e acabei perdendo o Theo.

— Ele não está na seção de Achados e Perdidos, Amélia.

Ah, ótimo. Como se eu sinceramente esperasse que ele estivesse. Sentadinho, com as mãos nos joelhos, aguardando minha ligação.

Sempre fui uma mulher madura e paciente. Embora meu coração estivesse disparado, respirei fundo em uma tentativa de acalmá-lo, estalei os dedos das mãos e continuei minha negociação:

— Não, eu sei! Eu não queria ter sido encaminhada para a seção de Achados e Perdidos. — Expliquei coçando a cabeça. Não era possível que fosse tão difícil de entender. Ela me forçaria a dizer todas as palavras, era isso? — O que eu queria... é que assim... eu sei que o nome dele é Theo. E eu sei que toda vez que a gente chega, precisa mostrar o documento e falar o telefone, que é anotado na comanda individual... Então... será que você não pode procurar a comanda dele, e me passar seu celular? — Dei meu melhor sorriso de "por favor, por favor, moça legal do Sobradinho, me ajuda". Não que ela tenha visto meu sorriso, mas deveria ter ouvido. O sorriso suplicante de uma garota tolinha.

— Desculpe, senhora, eu não estou compreendendo. Sendo uma questão de comanda, vou encaminhar para a Central de Comandas — ouvi mais musiquinhas até ela atender de novo. — Central de Comandas, Tamires, boa noite.

— De novo? — Franzi as sobrancelhas. Ok. — Oi, Tamires. De novo. Você tem a lista de todo mundo que esteve aí ontem, não?

— Tenho sim.

— Você pode procurar, por favor, um Theo, Theobaldo, Theófilo, sei lá, alguém que comece com "Theo" no nome e passar o número dele, por favor? Por favor mesmo.

— Você não tem o Facebook dele?

— Não, Tamires, não tenho. — Se eu tivesse, não estaríamos tendo essa conversa, não é mesmo, querida? — Não tenho nada dele, só sei seu nome. — Mordi o canto de dentro da minha bochecha antes de continuar. — E preciso do celular, porque o que aconteceu ontem foi muito legal e eu gostaria de reencontrá-lo.

— Ai, olha, não posso te passar, não.

— Por que não? — Meu coraçãozinho afundou um pouco. Eu senti. — É questão de política de privacidade, proteção de dados pessoais, essas coisas? Porque eu juro que ninguém nunca saberá disso. E não usarei o número para nada que não seja falar com ele. Prometo. — Caminhei até meu armário e abri as duas portas para ver se conseguia pensar melhor olhando para minhas roupas. — Posso... assinar um Acordo de Confidencialidade, sei lá. E tenho certeza – mais ou menos – de que ele quer falar comigo.

— Não. Quer dizer, tem isso de privacidade, sim. Mas não é por isso.

— Então é por quê?

— Porque se ele não te deu o celular, ou o Facebook, ou o nome, ou o que quer que seja, é sinal de que não quer nada com você. Sério, é a coisa mais fácil do mundo ser adicionado no Facebook. As pessoas mantêm contato quando querem. Não vou deixar você ficar se arrastando atrás desse cara.

— Mas...

— É, moça, ele certamente nem lembra de você. Você precisa se valorizar, sabe? Precisa parar de se arrastar atrás dos homens — continuou seu discurso, emocionada. — Se você não se valorizar, ninguém vai. Ele que deveria ligar para cá para pegar o seu número.

O quão lindo seria se ele tivesse tido a mesma ideia e ligasse para o Sobradinho à minha procura? Mas ele jamais faria isso, era óbvio, porque ou me odiava por ter ido embora, ou sequer se recordava da minha existência.

— E eu te garanto que nenhum Theo ligou para cá até agora — Tamires continuou, categórica. Obrigada, Tamires, por ter arruinado meus sonhos e fantasias. Muito gentil da sua parte.

— É que eu fui embora sem querer! Porque o Tio Joca chegou, porque a mãe da Pipa não gosta que ela pegue táxi da balada porque tem medo... — tentei explicar. — Por favor, me passa o número dele. Eu tô me valorizando, pensa que eu que fui embora! Deixei ele lá me esperando. — Enquanto isso a culpa me remoía. Eu não deveria ter ido embora. Não deveria. Não deveria.

— Sim, parabéns, moça. — Ouvi três palmas irônicas. — E agora quer estragar tudo isso ligando para ele. Sério, o que você vai falar? "Oi, Theo, aqui é a fulana, a gente ficou ontem, lembra de mim?". Ele vai falar "não", e você vai ficar toda triste e humilhada. Para de correr atrás de macho, mana! Você precisa se libertar dessas correntes de submissão e encontrar na sua deusa interior o caminho para o empoderamento!

Preferi não dizer que minha deusa interior estava muito bem localizada, que eu era uma moça devidamente empoderada e justamente por isso estava indo atrás do macho em questão, em vez de ficar esperando por ele do alto de uma torre, como qualquer princesa passiva dos contos de fada tradicionais.

— Você precisa do feminismo na sua vida, senhora. — Tamires afirmou, e não pude discordar. Todas nós precisávamos. O tempo inteiro.

Sim, do feminismo, e do telefone do Theo, miga. Por favor.

— Você não entendeu nada? Ele não te quer. Eu vou te proteger. Isso é sororidade. — Isso não era sororidade, era tortura psicológica, pelo amor de Deus.

Por mais que eu reconhecesse que as intenções da Tamires eram as mais puras possíveis, eu só queria que ela parasse de tentar me ajudar... e me ajudasse.

Você me agradecerá no futuro. — Eu podia ouvir claramente o abrir e fechar de sua boca mascando chiclete ao fundo. — Assim que passar a ressaca e você voltar a pensar racionalmente, me ligará falando "poxa, Tamires, muito obrigada por ter me protegido de mim mesma. Graças a você eu sou um ser humano melhor e uma mulher mais digna".

Ai, meu Deus.

— Tamires, eu realmente preciso do número dele.

— E eu realmente preciso de um aumento, fulana.

— Amélia.

— Claro, claro, Amélia. Mas você precisa entender que a gente nem sempre consegue o que quer. Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você?

— Mudar de ideia!

— Além disso, Amélia, mais alguma coisa?

— Não.

— O Sobradinho agradece a ligação e te deseja uma boa noite — concluiu, antes de desligar o telefone e me deixar bastante aborrecida com a primeira pessoa do Sobradinho que eu conhecia e não era incrível.

Eu merecia ser punida pelo universo por ter abandonado o Theo daquele jeito na noite anterior, mas a Tamires tinha sido tão injusta. Meu plano para encontrá-lo era infalível e ela tinha conseguido arruinar tudo.

Depois de alguns minutos deitada, abri o Facebook de novo para olhar com mais cuidado os Theos brasileiros. Em nome da minha paz de espírito, seria melhor só ignorar o risco de ele não ser brasileiro.

Respirei fundo e digitei "Theo" na busca. Desta vez, abri o perfil de todos aqueles que pareciam ter mais ou menos a minha idade. A maioria claramente não era quem eu procurava, mas alguns tinham potencial porque não conseguia ver o rosto nitidamente.

Era inútil porque existiam milhares e a maioria dos perfis era bloqueada. Até o pai do Nemo (Marlin?) tinha mais pistas do que isso antes de sair em busca do filho pelo oceano. E a Internet era bem maior do que o oceano.

Logo conclui que aquele método de busca era muito contraproducente, então abri o evento da festa, cliquei nos "interessados" (ninguém nunca confirma presença, ainda mais no Sobradinho, onde isso não era necessário para se colocar o nome na lista) e saí em busca de todo mundo que tivesse o nome remotamente parecido com o dele.

Em um bloco de notas, listei o nome de cada um dos dezesseis Theos e Derivados que tinham "interesse" no evento de ontem, e depois dos sete que haviam efetivamente confirmado presença. Não custava nada olhar todo mundo. Preguiça nunca levou ninguém a lugar nenhum.

Com o escopo reduzido, iniciei minha jornada pela rede social esperando que eu tivesse mais chances agora que o universo de Theos em Potencial estava reduzido aos vinte presentes ontem.

Mas não.

Quem eu estava procurando não era nenhuma das quase setecentas pessoas que tinham se manifestado no evento.

O cara de ontem não poderia simplesmente facilitar a minha vida e aparecer.

Liguei de novo para o Sobradinho, certa de que a Tamires já teria ido embora e outra pessoa — mais empática e menos mandona — atenderia.

Sobradinho, Tamires, boa noite.

Desliguei.

Talvez ele nem gostasse de lá na verdade.

Talvez tivesse ido sob pressão e odiado cada segundo até me encontrar.

Era bastante evidente que a decisão correta seria deixar toda essa história de lado, mas eu não podia.

Não quando tinha sido tudo minha culpa e ele era tão incrível. E tinha tanto mais para acontecer entre nós.

A mera lembrança de seus beijos aquecia meu corpo inteiro e me enchia de um misto de desejo e saudade. A ponta dos meus dedos começava a formigar e eu sabia que simplesmente precisava, precisava, continuar de onde tínhamos parado.

A verdade é que eu nunca conseguiria encontrá-lo, mas isso não me impediu de voltar naquele mesmo sábado à noite para o Sobradinho, despretensiosamente e sem segundas intenções – mas com terceiras, quartas e quintas.

Theo não estava lá.

Fiz o mesmo na semana seguinte e a droga da música da minha mãe continuava na minha cabeça. Nem era uma música boa de verdade, pelo amor de Deus.

"It's gonna take a lot to get me away from you, there's nothing that a hundred men or more could ever do..."

Eu estava oficialmente amaldiçoada pela maldição de Africa, Toto.

Não lancei nenhuma hashtag no Twitter porque fiquei com medo de soar desesperada, mas baixei vários aplicativos de namoro no celular, criei um perfil deixando bem claro que eu gostava de Blink-182, plânctons e lhamas, e me esforcei para vagar bastante por São Paulo para o caso de ele aparecer dentre as opções.

Sem sucesso.

Cogitei seriamente aproveitar minha miniformação em design para criar os cartazes de "Procura-se Theo", mas a Pipa disse que eu estava sendo ridícula. Não queria ser ridícula.

Já estava completamente desiludida e praticamente desapegada da ideia de reencontrá-lo quando percebi que a solução para todos os meus problemas sempre estivera no meu campo de visão: colada no poste da esquina do bar de sucos com a rua do xerox da minha faculdade havia um lambe-lambe verde-água meio desbotado, escrito: "TRAGO SEU AMOR EM TRÊS DIAS. MADAME ZUMBA".

E minha lista ganhou um novo item:

*     Ligar na tal da Madame Zumba e recuperar "meu amor" em três dias. 

***

Oi, meus amores!

Colocando o terceiro capítulo aqui, com O Maravilhoso Retorno de Tamires (quem tava com saudade? Quem tava com medo que ela tivesse sumido? hahahaha) e aproveitando para contar que esse domingo (dia 15 de julho) tem o lançamento da versão física de TSA aqui em São Paulo! Ele vai acontecer na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, das 16h às 19h, e eu vou amar, amar, amar se vocês forem. 

De verdade. 

E eu amei conhecer  vocês na FLIPOP! Foi a coisa mais linda do mundo! Sabiam que TSA foi o terceiro livro mais vendido da feira? POIS É! Muita emoção. To tão feliz com tudo que está acontecendo que mal sei explicar. 

E vocês, como estão? Já compraram o livro físico? Ele está à venda no site da Duplo Sentido (www.duplosentidoeditorial.com) e prontíssimo para ser lido por todo mundo! Espero que gostem, de verdade. 

Beijos mil, 

Mel

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