O frio do lado de fora é o suficiente para congelar, o que me faz amá-lo ainda mais. Pois, ao chegar em casa, posso ser abraçado pelo calor. Contudo, não é só o clima que tem me causado isso.
Todos os dias uma parte de mim estremece, eu sempre soube que ele não era bom em demonstrar sentimentos. Entretanto, ele se torna mais frio a cada dia que passa. Meu aconchego tem sido os braços de Taehyung. O melhor amigo sabe me abraçar e confortar como nunca ninguém fez.
É como se Yoongi fosse o clima do lado de fora, e Taehyung o aconchego cálido de minha casa. Isso me faz amar Yoongi ainda mais.
Sinto que sou ingênuo demais e que deveria questionar a forma como ele me trata, mas mesmo que doa, ainda é o que me faz bem. A forma fria de Yoongi me leva a um Taehyung quente.
Tenho pensado nisso com maior frequência. Agora, sentado em frente a lareira quente à espera de meu amigo, imagino como seria se Min fizesse por mim o mesmo que Tae.
Meus pensamentos são interrompidos pelo voz grossa e alegre de Kim. O mesmo se aproxima e me entrega uma caneca cheia de chocolate quente. O moreno me dá um sorriso sincero, que faz todo o meu peito aquecer, levando o calor para todo o resto de meu corpo aos poucos. Mas mesmo em frente de uma lareira, a única coisa que aquece toda a minha alma são os braços de Tae.
Como quem pode ler minha mente, Taehyung entrelaça seu braço em meu pescoço e beija o topo de minha cabeça. Finalmente estou aquecido. Quero mais e, por isso, me aproximo mais e tento me aconchegar. O moreno solta uma risada fraca e desce o braço até os meus ombros, me apertando e trazendo para mais perto.
— No que está pensando? — o melhor amigo me pergunta olhando diretamente para mim.
Envergonhado com seu ato, abaixo a cabeça sentindo o minhas bochechas queimarem. Taehyung realmente aquece qualquer parte de meu corpo. Dou de ombros, fazendo os mesmos causarem atrito com os braços do amigo.
— Yoongi. — digo em um suspiro.
Posso ouvir apenas um murmuro em descontento, e logo depois sou abraçado com mais força. A mão de Tae esfrega o meu braço em uma forma amigável, para me confortar.
— Quer desabafar?
— Não sei, Tae. — finalmente olho no fundo de seus olhos, à procura de mais conforto.
Quero contar, mas quero que o melhor amigo me mostre que isso importa. Sou a droga de um carente, o qual não ganha atenção nenhuma do namorado e que, com isso, desconfia do melhor amigo.
Mas Kim me conhece como ninguém, e parece se importar como ninguém, seus olhos me passam a confiança que me falta. Sua expressão calma e positiva me deixam à vontade. Não sei o que dizer ou qual decisão tomar, não sei o que fazer. E em um ato repentino, até para mim, afundo o meu rosto no peito do moreno.
Choro feito uma criança que perdeu a mãe em um super-mercado e Taehyung me abraça e aconchega como uma mãe que acabou de achar seu filho perdido.
— Ele é tão frio. — digo entre os soluços. — Tão frio, Tae.
Sinto seu queixo em minha cabeça, sua mão acaricia meu cabelo. Sinto ele assentir e continuo.
— Fico pensando... — espero um soluço passar e suspiro. — Será que estou amando sozinho?
— Será que está realmente amando, Jimin?
Congelo com sua pergunta e, sem nenhuma vontade, me afasto. Tudo se torna frio a cada centímetro longe. Me sinto deplorável só de imaginar meu rosto molhado pelas lágrimas, Kim por outro lado, sorri ao me ver.
— Se eu não o amasse... — paro, penso e continuo. — Ora, Taehyung, por que eu não o amaria?
— E ele te ama?
Mais uma vez todo o meu corpo para de funcionar, Taehyung nunca foi tão direto. Estou tão confuso, isso dói.
— Me desculpa, Jiminnie.
Assinto sem ânimo e antes que possa dizer algo, sou interrompido em meus pensamentos, por batidas na porta. Taehyung se afasta por completo e eu sinto que todo o meu corpo está vazio.
— Espere. — digo ao me levantar.
Na porta está quem eu mais desejava que estivesse. Yoongi me olha de forma profunda, e tenta de forma falha, me dar um sorriso amigável.
— Jimin, podemos conversar? — seus braços estão cruzados, não sei se é porque ele está sério ou porque está frio.
Lhe abro espaço, dando-lhe a visão de Tae sentado de costas. Recuo, mas a porta continua aberta.
— Aqui fora. — ele diz, por fim.
Fecho a porta atrás de mim e me aproximo. Yoongi me dá as costas, nem ao menos me protege do frio. Desapontado, abraço meu próprio corpo no intuito de me aquecer sozinho. Ele anda até o fim da calçada, para perto de seu carro e finalmente se vira.
Imagino que ele vá me convidar para entrar e me tirar debaixo da geada. Mas mais uma vez, ele não me esquenta, ele me deixa frio.
— Diga, Yoongi. — limpo os vestígios de lágrimas em minha bochecha, tentando de alguma forma, lhe mostrar que estou machucado.
— Eu juro que tentei, Jimin. — Min diz em um fio de voz. — Tentei te amar. Mas, simplesmente não é você.
Eu esperava não estar certo. Sou tão fã da razão, mas dessa vez esperava vê-la longe de mim.
— O que? — é a única coisa que eu digo.
Yoongi passa a mão sobre o rosto, ato que me demonstra seu nervosismo. Ele está sendo sincero. Por que ele não pode mentir?
— Minta para mim, Yoongi.
— Chega de mentiras, Jimin. Esse relacionamento todo foi uma mentira. Chega de sofrer.
Olho para trás, procuro Taehyung, meu desejo é correr até ele e me aquecer. Quero sair do frio.
— Eu nunca menti sobre os meus sentimentos por você, Min Yoongi!
— Mal sabe o que é amar, Jimin. — eu sempre admirei sua fala direta e dura, mesmo quando ela me machucava; como agora.— Você ama uma pessoa e nem sabe. Isso só me afastou de você e você nem viu. Eu nunca questionei porque sei que ele te ama de verdade.
— Está falando merda...
— Estou? Tem tanta certeza assim, Jimin?
Nego com a cabeça, me recuso a aceitar tudo isso. Minha indignação é tão nítida, acho que até Tae pode sentí-la, do lado de dentro.
— Pouco importa.— diz por fim. —Estamos oficialmente acabados. Sabe que eu não gosto de ser duro com você, embora esse seja o meu jeito. Mas você não está me ajudando a te ajudar, Jimin. Te machucar é a minha única forma de te proteger de mim mesmo. Te amo, mas não da forma que devo e abrirei espaço para alguém que te mereça, queira você ou não.
Minhas lágrimas voltam sem previsão, as mesmas descem esfriando meu rosto.
— Yoongi, por favor, vamos...
Sua palma no ar para as minhas súplicas. Ele nega e me deixa ver a lágrima solitária que cai.
— Me desculpe, Jimin. Espero que você possa enxergar o óbvio em breve.
Sem mais delongas, Min adentra em seu carro. Em poucos segundos ele está longe, mais do que um dia já esteve. Como sempre, nunca próximo, nunca quente. Sempre tão frio...
Estou sem reação, parado, sem saber o que fazer pela segunda vez. Limpo o rosto mais uma vez e olho para os meus pés. Depois para cima, para as estrelas. Peço para que, de alguma forma, algo ou alguém me traga paz e conforto.
O barulho cômico da porta de minha casa me atenta, olho para trás e vejo Taehyung. O moreno me olha com ternura, me parece tão aquecido.
— Hey, Jiminnie, venha cá.
Ando em passos rápidos, não me importando com a expressão de espanto do melhor amigo. Finalmente estou perto o bastante.
— Hey, Tae...
Ele assente, quer que eu conclua minha frase. O abraço e percebo que, mesmo do lado de fora no frio congelante, ele é capaz de me aquecer. Sou puxado para o lado de dentro.
Estou disposto a arriscar. Não sou tão ingênuo, sei de quem Yoongi se referia. Abraço Taehyung com força e me contagio com sua risada abafada. Meu corpo se aquece mais. Me afasto um pouco e olho no fundo de seus olhos. Mais. Tento me recordar do máximo de vezes possíveis em que Kim Taehyung aqueceu minha alma. É ele.
— Me ame como ele não fez.
Tenho como resposta um aperto de seus braços cálidos, um beijo quente na testa e um murmuro em afirmação.