Por Você, eu faço tudo

By DebbyScar

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Completo na Amazon, Buenovela e HiNovel. Sam tem a chance de mudar de vida e a possibilidade de recomeçar do... More

Prologo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Notícia

Capítulo 1

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By DebbyScar

TEXTO NÃO REVISADO - OBRA REGISTRADA - PLÁGIO É CRIME
*Antes que comece, convido você para ler "Príncipe do Meu Destino"! Corre lá!  É um bagulho cheio dos paranauês (+18). Você vai entender que nem tudo é o que parece...

Portugal - Porto - Alguns anos antes.

Não estava aguentando mais. Minha cabeça fervilhava com a proposta de uns amigos. Minha mãe estava se matando de trabalhar e meu pai, meu pai estava começando a trabalhar como jardineiro em uma casa de uns ricaços. Minhas provas para terminar o oitavo semestre em arquitetura já estavam próximas e eu tinha que estudar - apesar das dificuldades e do dinheiro contado, eu queria ter um diploma para poder dar orgulho aos meus pais -, mas ver minha mãe se matando para ajudar meu pai, me cortava o coração. Ela era uma mulher de força e que sempre fazia de tudo para me ver feliz, mas eu queria que ela fosse feliz também.

Com os seus cabelos brancos já em evidencia e as marcas de expressões em seu rosto, não me surpreendiam mais do que suas mãos calejadas do trabalho árduo, como empregada. Queria poder dar uma vida digna a ela e ao meu pai, eu sempre os via como heróis na minha vida. A tentação de assaltar um dos supermercados mais frequentados da região, pairava por minha cabeça e entrava em mim como uma doença.

Uma doença suja.

Um vírus quimera.

Já havia tentado arrumar um emprego, mas nunca aparecia nada. Eu fazia de tudo para ajudar meus pais, mas, do jeito que as coisas estavam indo, não está dando.

Meu pai sempre me dizia para ser honesto e bom - assim como todos os Ottos da família -, mas a tentação de obter dinheiro fácil e ajudar eles, não saia do meu pensamento. Quando eu era criança, meu pai me deu um carrinho de brinquedo, mas o meu carinho de brinquedo não era o mais moderno, era de madeira, com as rodas fixadas com pregos e pintado com tinta vermelha. Lembro que todos zoavam da minha cara, por ter um brinquedo de pobre. Acabei deixando o brinquedo de lado e deixei meu pai magoado, e hoje eu sei que ele trabalhou uma semana para poder juntar dinheiro para comprar o carrinho. Um mero carrinho de madeira:

"Um dia você vai entender o que fez" foi isso que disse ele, quando pegou o brinquedo que eu havia abandonado por vergonha e guardou entro da minha mochila.

E a partir daquele dia, eu tentei ser um homem melhor, falhando logo depois.

~*~

- Vamos... - disse Antonio sacolejando as mãos como um gangster.

- Não sei se é uma boa ideia... - eu podia sentir o medo se formar dentro de mim. Só a ideia de ser preso, não me deixava à vontade.

- Você precisa de grana ou não? - perguntou franzindo o cenho. Antonio era o cara das sombras dos becos escuros e das vielas. Quando se precisava de dinheiro, ele estava lá e como num passe de mágica, o dinheiro já estava em suas mãos, mas isso viria com um grande custo. Se eu aceitasse, eu sacrificaria meu tempo, minha vida e a minha liberdade.

- Preciso, mas assim não é a melhor forma... - hesitei ainda incerto, mas com a convicção de que meus pais mereciam uma vida melhor. Eu tentando conseguir um emprego, não estava conseguindo dar essa vida melhor.

Aos vinte e três anos, eu estava prestes a cometer o maior erro da minha vida, e eu ainda sabia disso.

- Você é um otário - resmungou ele irônico, com sua voz irritante e desafiadora - você sabe quando vai surgir outra oportunidade como essa? Nunca mais. O cara que arrumou a parada, vai entregar umas armas sem munição. São apenas para fazer medo. Vai ser moleza - ele disse revirando os olhos, vendo a minha expressão assustada.

- Antonio, eu tenho que terminar de estudar - murmurei suspirando - tenho prova final, e tenho que passar, falta apenas um ano e meio para que eu termine a faculdade.

- Sam, você me conhece e eu lhe conheço há muito tempo - apoiou a mão em meu ombro, apertando com força - quero você nessa parceiro. É muita grana envolvida, e você vai usar mascara - explicou querendo diminuir as minhas preocupações, mas não estava conseguindo - Você pode ir com essa que você está usando, acho que todos vão ficar com medo dessa sua cara feia - esboçou um sorriso, tentando me fazer achar graça naquela situação - pense direito, você vai ficar com uma boa parte do dinheiro e vai poder ajudar seus pais - dinheiro era o que eu precisava para ajudar meus pais. Ele acertou bem no calcanhar de Aqulis - E sabe como é né... grana no bolso, vida mansa parceiro.

- Não sei... - abaixei a cabeça, pensando melhor no "grana no bolso, vida mansa".

- Deixe de pensar, e vamos entrar nessa. Eu até respeito esse seu lado de "tenho que estudar", mas se liga... - franziu as sobrancelhas - dinheiro é dinheiro. Vamos faturar muito com esse roubo. - gesticulou com as mãos no ar, e logo segurando em meu ombro, novamente. Não me senti nenhum pouco a vontade com o que ia fazer.

Sabe como dizem por ai: para levar você para o bom caminho, poucos fazer, mas para levar você para o inferno, até o próprio diabo aparece sorridente para você.

- Está bem, eu vou - me dei por vencido, e eu sabia que no fundo, eu já havia cedido - mas você tem que me prometer que as armas estarão sem munição. Não quero machucar ninguém.

- Concordo com receios internos - ele avaliou bem a questão enquanto olhava para mim pensativo, querendo parecer intelectual.

Sei que era algo errado, mas tinha que fazer algo para ajudar meus pais.

- Agora tenho que ir, meu pai vai precisar de ajuda para levar umas plantas lá para o novo trabalho dele. Até mais.

- Vai na fé, parceiro - falou apertando minha mão.

Antonio estudou comigo desde o primário, mas do grupo que fazíamos parte, eu fui o único que conseguiu uma bolsa de estudo. Ele sempre dizia que faculdade é coisa de gente rica e que ele não era rico e que por isso, tinha que ajudar os ricos a faturam mais, roubando deles. Ele sempre esteve ao meu lado em situação complicadas, mas agora era diferente. Era um roubo. Algo que eu nunca havia participado e nunca tinha pensando na hipótese, até aquele momento. Até ser tentado.

Já ele... Roubou tantas pessoas e casas, que por onde ele passava as pessoas já entregam suas bolsas ou suas carteiras voluntariamente. Meu pai não sabia que eu estava andando com ele nas minhas horas vagas de estudo, e se soubesse teria me matado, não literalmente falando. O lema do meu pai era "Diga com quem andas que é te direi que és" - um ditado antigo, e acho que se aplicava bem na minha vida e na do meu amigo -, até imaginava ele falando grosso em minha mente, e só de pensar que iria segurar uma arma, só agrava o som da sua voz como se fosse minha consciência falando.

~*~

Estava na sala de aula, era dia da prova de final de ano, e se eu passasse naquele ano, ficaria faltando apenas trezentos e sessenta e cinco dias para terminar o curso. Eu estava pingando de suor, o verão tinha chegado com toda sua força - praticamente um estágio para entrar no inferno -, mas não era por causa do calor, que eu me sentia nervoso, tirando a minha concentração, era outra coisa. Olhei para prova, ainda mais desanimado que o normal. Cálculos por cima de cálculos. E embora eu gostasse muito dos números, eu queria mesmo era sair daquela sala e respirar o ar quente do lado de fora e deitar embaixo de alguma arvore, para pensar na vida. Minha cabeça fervia, pois além de ter que prestar atenção na prova, ainda tinha pensar no assalto, e em como eu não seria pego, ou ainda pior, ser reconhecido, apesar da mascara. Sabia que a grana era boa, mas meu medo de acontecer algo se tornou mais forte que a minha vontade de me concentrar na prova.

- Tempo encerrado. - o som da voz rouca do professor que mais tirou minha paciência naquele ano, ecoou pela sala - por favor, fechem suas provas e as deixem na minha mesa - todos estavam nervosos. Uns olham torto para ele, outros sibilam palavrões baixinho, xingando fielmente a mãe dele, ou olhava feio, e eu, eu fazia as três coisas ao mesmo tempo. Não tinha simpatia por ele, e nem ele por mim, mas ainda bem que eu tinha marcado todas as questões corretamente, e como eu sabia disso? Estudei dois dias e três noites para ter uma prova perfeita, mesmo com minha mente vagando pelo lado obscuro do crime no meu cérebro - os resultados saem em duas horas. - disse enquanto os outros alunos sem um pingo de esperança, lhe entregavam as provas.

- Então, como foi à prova? - perguntou minha mãe, quando me viu saindo, e me aproximando dela.

- Fiz o melhor. - falei dando um abraço. Eu adorava o cheiro do perfume dela, e do sorriso sempre acolhedor que apenas ela tinha

- Ei cara! - gritou Antonio de longe.

- Sam... - minha mãe me olhou preocupada. - seu pai não gostar de saber, que você continua andando com o filho dos Ruffato. Ele não é uma boa pessoa meu filho. Já conversamos sobre esse assunto, querido - Ah se minha mãe soubesse, o que de fato iríamos fazer juntos, ela teria um ataque.

- Mas eu o conheço desde o primário mãe - tentei explicar o fato de ainda estar andando com ele, mas ela continuava me olhando preocupada, com aqueles olhos castanhos grandes e expressivo - e eu sou o único amigo que ele tem... - dei de ombros, tentando amenizar as coisas, mas eu sabia que minha mãe, também, não gostava de me ver andando com ele.

- Tudo bem, mas não chegue tarde. Seu pai vai chegar um pouco tarde hoje, mas não abuse da sorte. Não quero ter que ir tirar você de alguma cadeia - estremeci com a ideia da minha mãe entrando numa cadeia - Tudo bem? - falou tentando esboçar um sorriso, que me fez ficar de coração partido.

- Tudo. Prometo não chegar tarde. - respondi beijando o topo da sua cabeça me despedindo dela. Então minha mãe seguiu para o seu carro. Um Chevrolet Belair 56 azul celeste, que sempre admirei por ser um clássico, e por ainda não ter-mos o vendido para pagar as contas. Pouco tempo depois, a Belair era apenas um ponto azul no horizonte.

- Você tem que conhecer os caras que armam à jogada. Eles querem ter certeza que você não vai amarelar. - sugeriu Antonio estalando a língua, quando chegou perto de mim. Ele andava de um jeito esquisito, e todos na faculdade o olhavam atravessado, isso quando não viravam o rosto para o outro lado. Ser aluno de arquitetura, não era apenas status, era ter amigos ao nível do curso, mas ao contrario de muitos, eu sempre quebrei as regras nesse quesito - sabe com é, nada pode sair errado.

Agora era tarde para voltar a trás. Realmente tarde. Eu estava seguindo para um caminho que poderia não ter volta. Fiquei me perguntado: E se der algo errado? E se machuco alguém? Mas, tinha que ajudar meus pais de alguma maneira. Mesmo sabendo que aquela maneira que eu tinha escolhido, não era a certa a ser feita. Mesmo sabendo de tudo que o meu pai havia me ensinado.

Ensinado os conceitos de ser um homem honesto desde criança.

Isso me deixava de coração partido, mas ver meu pai e minha mãe se matando de tanto trabalhar, me faz seguir em frente.

Eu ia me arrepender, e muito.

~*~

Estávamos em galpão escuro e velho. Dava para ver as correntes de aço penduradas para todos os lados, assim com gosmas esverdeadas nas paredes com o reboco caindo. Tinha certeza que havia ratos por ali, não que eu tivesse medo de ratos, mas, só em pensar neles, meu estomago revirava. A noite estava fria e úmida. Mal dava para ver as estrelas sobre o teto de vidro do galpão, e eu sentia calafrios todas as vezes que o vento passa mais forte sobre minha nuca. Antonio estava visivelmente impaciente, andando de um lado para o outro, enquanto esperávamos os caras que estavam preparando o tal assalto. Desconfortável e depois de horas em pé dentro do galpão, fui para o carro e esperei sentado no banco do motorista, enquanto Antonio fica andando de um lado para o outro. Já está ficando tarde e eu tinha prometido que chegaria cedo. Onde estávamos, era um bairro escuro e perigoso e assunto frequente nos jornais locais da cidade de Porto.

Quando Antonio parou de andar e logo vi a luz de um farol de carro se aproximar. Saio do carro e segui em direção a ele, observando os dois carros parando bem ao lado do nosso. Ambos com as luzes dos faróis altas, dificultando a visão. Um homem alto saltou do carro, ele parecia um armário de tão grande, e logo depois três homens menores os seguiram.

O homem alto e forte era negro e tinha algumas tatuagens espalhadas pelo braço esquerdo. Ele era mau encarado e parecia não ter muita paciência. Dois dos três homens que o seguiam, eram brancos, altos e tinham os ombros largos, e ainda eram gêmeos idênticos, até a roupa eram bem parecidas. Os dois saíram do primeiro carro, junto com o homem alto e negro, e do segundo carro, saiu um homem de estatura mais baixa e com uma cicatriz que seguia do supercílio direito, no inicio da entrada do olho, e passava por sua bochecha até o lóbulo inferior da sua orelha, quase formando um Z em seu rosto. Ele, do mesmo jeito que o homem alto e negro, parecia não ter muita paciência.

- Martim, meu amigo. - cumprimentou Antonio apertando a mão do chefe do bando, se aproximando do homem mais alto.

- Vamos deixar a conversa fiada para depois Tom. - ele realmente parecia não ter paciência. - quem é a mocinha que você quer colocar na jogada? - questionou olhando para mim, e pude jurar que o meu couro cabeludo tinha ficado anestesiado e os pelos erriçados.

- Essa cara aqui - me puxou para apresentar na cadeira velha que tinha, ao lado de outras quatro, naquele galpão velho. - esse é meu irmão, Samuel, mas podem chamá-lo de Sam.

- Você tem alguma experiência com roubos? - perguntou com sua voz grossa, se sentou abrindo as pernas, apoiando o braço esquerdo na lateral da cadeira, me olhando e percebendo o medo estampado em meus olhos. Poderia dizer que ele seria um bom cantor de Jazz.

- Não senhor. - digo sendo o mais sincero possível.

- Já pegou em uma arma? - franziu as sobrancelhas, mostrando irritação.

- Não senhor.

- Droga garoto! - berrou o homem baixo que tem a enorme cicatriz no rosto. - que porra você faz da vida? Queima rosca nas esquinas, com essa cara de bunda que você tem?

- Estudo - respondi a contragosto, e me sentido um idiota por esta ali.

- É isso que você nos arruma, Antonio? - perguntou Martim, visivelmente irritado com Antonio. - uma boneca com diploma? Seu bunda mole.

- Esse cara vai foder a parada toda. - rosna o homem baixo, com mais raiva ainda em seus olhos, por Antonio chamar um amador para trabalhar com eles.

- Calma gente. - Antonio começou a se explicar. - ele precisa entrar na parada, calma. Ele é de confiança. Pode confiar em mim.

- Tomara mesmo, pois se ele melar o trabalho, eu mesmo mato ele. - falou Martim sem paciência, eu podia ver as veias do seu pescoço saltarem de raiva.

- Gêmeos. - gritou para os dois caras parados no fundo do galpão. - entreguem. - ordenou, e os gêmeos se aproximaram, e um deles, tirou de dentro da jaqueta preta de couro uma arma e uma caixa de balas, me entregando logo em seguida. Sem dizer uma palavra, voltaram para observar o movimento da rua, como cães de guarda, apesar de parecer deserta e completamente escura. - treine, e em duas semanas quero ver como anda sua pontaria.

- Mas eu não vou atirar em ninguém, certo? - questionei confuso, segurando a arma e as balas. Não era o que Antonio tinha medito. Eu não queria segurar uma arma, completamente municiada.

- Nunca se sabe quando vamos precisar nos defender Sam. - disse o homem baixo em um tom mais severo, mas acho que ele se referia a sua cicatriz, que era de chamar atenção mesmo na meia luz que os faróis dos carros, do lado de fora, ofereciam.

Olhei para a arma em minha mão e meu coração ficou cada vez mais apertado. Não era bem isso que eu tinha em mente. Não quereria machucar ninguém. Tentei explicar, mas eles já estavam seguindo para seus carros, e agora eram apenas sombras.

Tarde demais. Tarde demais.

Muito tarde para voltar atrás.

~*~

Aquela noite fria, enquanto meus pais dormiam de maneira calma e confortável, o meu sono conturbado e tudo que eu queria era dormir em paz, ou ao menos tentar dormir sem ter pesadelos. A sensação de ter uma arma em minhas mãos, não me deixava ficar em paz. Já havia passado no prova e agora só faltava mais um ano para terminar a universidade.

Os dias estavam passando muito rápido, e com isso o peso da minha consciência ficava mais evidente. Faltavam apenas doze horas para que tudo em minha vida tomasse um rumo diferente. Um rumo no qual eu poderia gostar ou não gostar.

Agora só me restava esperar.

~*~

Já era manhã. Uma manhã que mais parecia um pesadelo, em plena luz do dia, e tudo estava pronto para seguir com o plano. Antonio já estava me esperando do lado de fora. Meu pai já estava no trabalho e minha mãe tinha saído para fazer compras. Não sabia o que fazer, então antes de sair para acabar com a minha vida, assisti todos os filmes relacionados ao meu futuro delito e treinei no espelho varias e varias vezes no espelho, dias antes de ter Antonio parado na frente da minha casa.

- Parado! Isso é um assalto - berrei sacando a arma, na frente do espelho, com a voz um pouco esganiçada. - Droga! Parado! Mãos pra o alto - balancei a cabeça, sabendo que eu já era um fracasso como assaltante, como homem e como um filho.

Já sabia que aquilo não ia dar certo. No meu intimo, tinha algo alarmando. Como em uma premunição sem visão. Uma coisa que estava tomando conta da minha alma, como em um modo de defesa.

- Vamos Sam! - Antonio gritou impaciente, e buzinou logo em seguida - Tá na hora.

Ainda tremendo, guardei a arma na jaqueta de couro marrom, que a minha mãe havia me dando no natal do ano passado, e sai pegando meu boné que tinha as inicias do meu time favorito, que estava em cima da cama e suspirei. Seria naquele dia, e sei que eu não seria mais o mesmo, depois de tudo.

- Pronto? - perguntou ele quando entrei no carro, de cabeça baixa.

- Nenhum pouco - foi o mais sincero possível, mas ele não estava se importando de verdade. Antonio estava nessa vida a mais tempo, do que eu. E eu sabia que aquilo era apenas para me incentivar a seguir com o planejado.

- Então você está pronto - brincou, mas por dentro, meu estomago estava revirando de tensão.

- Não. Não estou Pronto, mas agora é tarde para desistir - falei um pouco exasperado.

- Agora é realmente tarde para desistir. Agora é tudo ou nada - deu de ombros, como se aquilo fosse à coisa mais natural do mundo.

- Agora é tudo ou nada - repeti aquela frase como um mantra para não desistir de tudo, e abrir a porta daquele carro e fugir, me ferrando depois. Sabia que se desistisse ali, naquele momento, as consequências seriam drásticas, e minha família pagaria por minha desistência, Martim tinha deixado isso bem claro, com apenas um olhar.

Antonio me entregou uma mascara e suspirou fundo. Sei que ele também estava pensando no que poderia acontecer se ele desistisse também.

- Agora é tarde demais para voltar a trás - falei chamando a atenção dele, que logo deu partida no carro para seguirmos para o nosso destino.

- Isso mesmo - disse ele dando partida no carro - as verdinhas estão dançando Hula Hula bem ali, então vamos pegar elas.

~*~

Foi tudo muito rápido. Em um momento estávamos dentro do supermercado e em outro momento estávamos em uma situação difícil. A arma que aparentemente estava sem balas, disparou por acidente. Sirenes da policia podiam ser ouvidas de longe. Meu sangue gelou, mas não foi por causa da minha arma que disparou. Antonio estava nervoso e uma mulher loira alta reagiu. Por impulso, ele mirou na mulher achando que ela iria parar quando o visse mirando bem na cabeça dela, mas não foi assim que aconteceu. E, questão de segundo a arma disparou e a mulher caiu no chão, os outros do grupo entrarão em pânico. Sem pensar, larguei a arma e corri para ver a mulher caída no chão, mas já era tarde. O sangue já estava espalhado pelo chão e ela não respirava mais.

Nesse momento, a minha vida desmoronou completamente. Reconheci de longe a mulher ao fundo do supermercado. Minha mãe. Meu coração ficou em pedaços. E lá estava eu, parado ao lado do corpo da mulher alta e loira, de traços finos de delicados, e minha mãe com o pânico estampado em seu rosto. Alguns segundos depois eu estava sendo puxado para fugir, mas meu corpo havia virado pedra. Todos se foram, menos eu, que quando tirei a mascara, vi o rosto da minha mãe se transformar e as lagrimas de desgosto de formarem em seus lindos olhos, banhando o rosto logo em seguida.

Tudo perdido.

Tudo errado e eu todo ferrado.

A humilhação maior foi quando a policia me algemou como um bicho, bem na frente dela, da mulher que me deu amor incondicional.

Minha mãe.

Quando eu já estava na cadeia minha mãe me visitou, algumas, e raras vezes. As coisas tinham mudado. As coisas dentro da cadeia mudaram para mim também.

Antes da minha saída, meu parceiro cela foi morto. Mas no fundo sei que isso havia sido a promessa do Martim.

Capítulo 1

Portugal - Porto - dias atuais.

Sam

As gotas de um vazamento qualquer ecoavam pelo corredor. Não chegava a ser irritante, mas incomodava bastante. Agora, estava deitado, esperando ser solto. Respirei fundo, observando o teto de concreto com mofo. A luz mal conseguia entrar na cela quase do tamanho de uma lata de sardinha. Era quente, e úmida. De longe, pude escutar o guarda com passos longos e firmes, balançando as chaves em sua mão. Mês passado meu colega de cela havia sido morto com uma facada bem no meio da caixa torácica, com a ponta acertando coração e outra facada abaixo dos pulmões e deixado às moscas, mas eu nunca me envolvi com o pessoal, por isso, muitas vezes me livrei da morte. Um cara legal, mas, sempre estava metido em rolos estranhos. Pobre John. Ele queria sair da cadeia para ficar junto a sua família, mas o destino não quis assim, e ele escolheu o caminho errado. Não queria terminar como ele terminou, sendo morto de maneira brutal e completamente desumana. John era um cara do bem. Sempre ajudando os outros, mas pecava por se misturar com membros de gangues rivais dentro da cadeia. E como sempre ficava em cima do muro, acabou tendo a vida ceifada por alguém, das gangues.

Minha carta de liberdade já estava pronta, e eu estava louco para sair daquele inferno.

- Samuel Otto - chamou o guarda fedorento, alto de mais, gordo de mais e feio acima do normal. O cara tinha os dentes tortos e amarelados, mas suas bochechas eram a pior parte, ainda tinha rastros do café da manhã em sua barba, migalhas espalhadas pela barba mal feita e de pelos grossos - Levante - ordenou com sua cara de buldog - Passe suas mãos entre as grades - levantei e obedientemente coloquei minhas mãos juntas entre o espaço das barras de ferro da grade, para ele poder me algema. Eu era o único que com quem ele faz isso... Mesmo sabendo que não era de briga e nem muito menos de confusão. O balofo nunca foi com a minha cara, para ser mais exato. Mas isso não importava mais. Eu estava a poucos segundos de sair e sentir o cheiro do ar puro se era assim que eu poderia dizer. Eu mal lembrava como era a cidade, como era sentir um ar puro de verdade, sem sentir o mau cheiro que vinha daqueles caras.

Caminhado em direção à saída olhei para a janela gradeada - janelas sendo protegidas por barras de ferro tão grossa, que acho que demoraria dias para serrem elas - tentando inspirar um ar puro que tanto sonhei desde o dia que entrei aqui. O corredor frio, e com cheiro esquisito, me fez querer sair o mais rápido dali, mas infelizmente eu teria que esperar até que finalmente conseguisse pegar todas as poucas coisas que eu tinha.

Levantando meu pulso para as algemas serem retidas quando chego à sala, senti um alivio por não precisar mais usá-las. Agora, eu era um homem livre, pensei. Finalmente livre. Recebi do guarda mal-humorado com cara de buldog, todos os poucos pertences que eu tinha em uma mochila pequena. Carteira, documentos, dinheir... Merda! Roubaram meu dinheiro! Suspirei resignado com o que fizeram, mas não reclamei do ocorrido - afinal eu também roubei de alguém e me arrependi profundamente dos meus erros -, apenas pego minhas roupas - uma calça jeans velha azul, quase desbotada e uma camiseta sem mangas cinza, que minha mãe havia costurado sobre medida para mim, assim como um par de sapatos surrados, marrom - e em um local reservado me vesti e entreguei a roupa laranja que por tanto tempo me cobriu.

Ao sair, pude senti o olhar do guarda pairar sobre mim - aquele era o guarda que me acompanhou com atenção, até mesmo na hora da minha liberdade. Bundão! -, mas não me importei como ele olhava para mim, agora, eu era plenamente e irrevogavelmente, um homem livre e com minhas contas pagas perante a sociedade.

Quando sai, não consegui conter um sorriso no rosto, sentindo o sol batendo e me aquecendo. Larguei tudo no chão e gritei de punhos cerrados, um grito de alegria, que saia a plenos pulmões e me alivia a alma. Não consegui conter minha alegria. O era ar quente, mas do tipo que aquecia a alma e o vento estava muito forte, parecia que eu estou no meio do deserto, mesmo sabendo que não estava. Eu sabia que estava a apenas a alguns minutos do centro da cidade. Tudo que eu queria era dar um forte abraço no meu pai, e lhe pedir desculpas por tudo que o fiz passar.

De longe, observei e reconheci o carro - o Chevrolet Belair 56 azul celeste. Clássico e o meu favorito -, recolhi meus objetos do chão e corri em direção à mulher sentada dentro do carro, feliz por esta finalmente a vendo. Ela, a minha mãe, estava sentada e ainda com as mãos no volante, me olhando com lágrimas em seus lindos e brilhantes olhos. Seus lindos olhos castanhos, com cílios longos e úmidos, me fez relembrar o porquê de querer fazer o que era certo, e nunca mais magoar aquela mulher que me colocou no mundo. Que meu deu a vida

Com seus cabelos poucos brancos já em evidência, e com os traços da sua idade marcando seu lindo rosto, ela abriu seu sorriso encantador ao descer do carro para me abraçar forte, e logo depois segura meu rosto em suas mãos para avaliar meu estado físico - ela era verdadeiramente incrível - e na mesma hora comecei a chorar. Um choro desesperado ao abraçá-la, enterrando minha cabeça em seu pescoço, sentido o seu cabelo cheiro e sedoso. Ela apenas acariciava minhas costas, me acalmando e acalentando, com as suas mãos penas e macias. Minha linda morena de corpo pequeno que tanto me fazia bem. Minha mãe.

- Calma - falou afagando meus cabelos com as pontas dos dedos - Já passou - me afastei, olhando para ela, ainda chorando.

- Perdão - pedi passando a mão em seu rosto, colocando uma mecha do seu cabelo atrás de sua orelha.

- Não é necessário pedir perdão - passou suas mãos em meus ombros - Você é meu filho, e haja o que houver, vou estar ao seu lado. Sempre. Eu amo você Sam, e não a nada nesse mundo que mude esse sentimento, nem mesmo seus erros - falou isso, me puxando para mais um longo abraço - agora vamos - seu tom era mais alegre - seu pai já deve estar arrancando os poucos cabelos que lhe resta, naquela careca - não pude deixar de rir, ao lembrar que meu pai, o senhor Bernardo Joaquim Otto reclama sem parar dos cabelos que já estavam praticamente extintos do topo de sua cabeça.

Meu pai... Bom, meu pai era o homem mais incrível e sensato que a humanidade deveria ter conhecido, acho que em cada centímetro de terra deveria ter um homem como ele no mundo. Ai, eu meu perguntei... Então porque você foi para o caminho da criminalidade? Nem eu sabia responder. Acho que por achar que minha vida estava sem graça, e que precisava de um pouco de agitação, mas me ferrei, ou melhor, provei o gosto amargo da dor, por correr atrás de uma coisa que eu já sabia o final de tudo.

Cadeia.

Homem de cinquenta e nove anos, branco, olhos castanhos claros mais serenos que se podem imaginar, cabelos lisos e pretos - que já estavam sumindo, dando espaço, aos cabelos brancos que ele insistia em pintar de preto, mas nunca funciona, pois a tinta nunca quer fixar nos cabelos brancos-, estatura baixa, uma barriga saliente, sempre usando macacão de jardinagem - acho que tem uma coleção daqueles macacões ­- careca, com alguns heróis da resistência dos lados de sua cabeça penteados para cima.

Resumido, meu pai era um homem amoroso, gentil, honesto e engraçado.

O seu caráter era de dar inveja ao atual ganhador do prêmio Nobel da paz.

Meus pais eram a combinação perfeita de um casal harmonioso, mesmo na hora das discussões. Nunca os ouvi brigar de verdade, ambos não levantavam o tom de voz para o outro, a não ser para chamar um ao outro quando estão em uma longa distância, e isso quase nunca acontece, pois estavam sempre grudados. Um dia, eu queria ter um relacionamento assim, como o deles. Uma união capaz de passar por cima de tudo, só para se manterem juntos pela eternidade.

De longe vi o enorme portão de ferro bem trabalhando, e percebi que algumas coisas haviam mudado naquele local. Muros mais altos, câmeras de segurança na entrada, um jardim no centro, as arvores estavam mais frondosas, mas a casa era do mesmo jeito que me lembrava - foram apenas duas visitas, mas ainda me lembrava da casa.

Duas torres com dois andares, ambas, uma da cada lado, no meio a parte maior da mansão, com janelas grandes vitorianas e vidros verdes. Portas grandes de madeira, paredes brancas e com detalhes de linhas circulares pequenas nas bordas formando uma corrente muito bonita. O cheiro das flores era o mesmo, mas a beleza do local havia sido aprimorada pelo meu pai que, agora, não podia mais cuidar do jardim, por isso, ele convenceu o senhor Joseph Drummond para que me contratasse. Nunca fui tão bom jardineiro quanto meu pai é, mas faria de tudo para deixá-lo orgulhoso.

Meu pai aguardava na entrada e assim que viu o carro entrar, comecei a chorar - Droga de filho eu sou. O único filho que eles têm, e faz uma merda dessas com pais tão legais -, desço do carro, assim que minha mãe para. Corro para os braços do homem que me deu o exemplo do que é ser bom e honesto e não me tornei o que ele queria. Abraço forte meu pai, que não é muito alto. Diferente de mim, que tenho um e oitenta de altura. Minha mãe agora esta de braços cruzados ao nosso lado chorando, mas não a deixo fora do abraço. Abraço os dois seres mais importantes da minha vida, tudo se tornou completo.

- Oi pai - falo enquanto abraço meus pais.

- Oi meu moleque - responde com a voz embargada.

- Perdão - pedi, assim como fiz com minha mãe - me perdoa por tudo que te fiz passar.

- Passado é passado - falou se afastando e passando a mão no meu rosto e no rosto da minha mãe - você já pagou pelos seus erros. Agora é só seguir em frente.

- Amo vocês dois - declarei - não teve um dia sequer que deixasse de pensar em vocês dois.

- Nós também pensamos muito em você - falou minha mãe com ternura.

- Vamos - disse meu pai pegando minha mochila suja de barro e colocando no ombro - quero lhe mostrar onde você vai morar.

- Eu vou ficar onde vocês estão morando - digo confuso.

- Ah querido, o senhor Drummond fez questão de que você tivesse seu próprio canto, e será bom para você - disse minha mãe passando a sua mão em meu rosto enquanto caminhávamos em direção ao local. Não sabia o tamanho da residência, mas era muito grande. A casa onde eu iria ficar era quase ao lado da dos meus pais. Perfeita. Quando entramos, ainda tinha o cheiro de tinta, era muito arrumada e organizada com moveis simples, mas a TV tela plana de cinquenta polegadas era com toda certeza meu objeto favorito.

- Gostou? - perguntou meu pai.

- Se eu gostei? - minha voz saiu surpresa, por está sendo bem tratado, mesmo sem merecer - Muito - respondi contente - é mais do que eu realmente mereço.

- Espero que fique confortável - minha mãe me olhou com carinho - temos que ir. Amanhã pela manhã o senhor Drummond quer falar com você sobre o seu salário, já que agora seu pai não vai poder mais trabalhar e vamos ser só nós dois.

- Agora eu vou ser um inútil e explorador - meu pai franziu o cenho, fingindo está orgulhoso da sua situação - trabalhem.

- Não me venha com essa Jo. Você não é um inútil, só esta ficando velho - brincou minha mãe e meu pai fez um careta e logo beijando o topo de sua cabeça. Todos nós rimos.

- Bom o velho aqui precisa encher o estomago - passa a mão na barriga - vamos minha velha - meu pai chamou minha mãe segurando a sua mão - Sam, qualquer coisa é chamar.

- Obrigado pai. Chamo sim - respondo dando um beijo no topo da cabeça de cada um, e nós despedimos na saída.

A casa era pequena, mas aconchegante. Bem melhor que a cela fria e fétida que fiquei. Finalmente privacidade. Lembrei olhando o banheiro que tem uma banheira enorme em comparação com o cubículo da cadeira e os chuveiros coletivos, onde a cada sabonete caído... Um perigo para seu traseiro estava estabelecido. Ainda bem, que nenhum sabonete escorregou da minha mão, ou meu traseiro entraria para o cardápio prisional. O meu sorriso aumentou ainda mais, quando vi a cama... Um sonho de cama. Enorme, confortável, com lençóis brancos macios e limpos - principalmente limpos. Eu era uma criança perdida em cima daquela cama enorme. Pulando, mergulhando e bagunçando a cama, revirando os lençóis.

Nem parecia que tinha trinta anos.

Quando a fome apertou e a primeira coisa que fiz ao sair do quarto, foi procurar a geladeira, que para minha surpresa, esta repleta de alimentos. Abri todas as portas do armário, e constatei que também estava abastecido. Preparei meu mega sanduíche com salame, e preparei um copo enorme de suco de laranja, me sentando na pequena mesa perto da janela que dava para ver o jardim e os fundos da casa. Saboreio cada pedaço mordido como se fosse o único. Na cadeia, a comida não era ruim, mas também não era das melhores.

Depois, pediria para minha mãe, para que ela me preparasse a sua torta de morangos com chocolate, que tanto sentia falta. Eu estava com saudades de um tratamento com carinho e atenção, e não queria perder isso, por isso, iria dar duro no trabalho, e no tempo vago iria estudar para ser o filho que tanto os meus pais queriam.

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