Todos os caminhos levam a Fir...

By BTS_colabs

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[ concluída ✔ ] Não sabemos muito sobre o tempo, mas temos plena consciência sobre os nossos desejos: poder v... More

◵ Introdução ◷
◵ Agradecimentos ◴

◴ Todos os caminhos levam a Firenze ◵

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By BTS_colabs

Firenze, Itália, 4 de julho de 2018.

Assim que colocou os pés para fora do trem e o ar condicionado deixou de refrescar a sua nuca, o mormaço da estação de Firenze baforou em suas bochechas. A garota de cabelos compridos pôde sentir sua pele se avermelhar quase que imediatamente, fazendo-a se arrepender de não andar com protetor solar em pleno verão europeu. Tudo bem, "vida que segue", pensou sem perder o ânimo. Afinal, havia planejado passeios interessantíssimos e tinha pouco tempo para realizá-los. Com o Google Maps a postos no celular e a Nikon D7200 na bolsa seguiu para seu primeiro destino às oito da manhã: a catedral Santa Maria Del Fiore.

No trajeto de ruelas e travessas ela já pôde sentir as vibrações diferentes que a cidade enviava pelo ar. Ondas invisíveis de boas energias e uma aura que só poderia ser definida como "tipicamente italiana" lhe causavam sorrisos involuntários. Era tudo muito cativante. Aos seus olhos esse seria um sentimento constante durante todo o seu passeio, mas estava completamente enganada. Ao chegar à catedral quase perdeu o fôlego. Era tudo muito alto, muito grande, muito "claro" e muito detalhado. A garota não estava mais apenas cativada, havia sido exageradamente envolvida por aquela construção mágica. A câmera fotográfica escondia praticamente  seu rosto inteiro, mas foi através daquela lente que ela conseguiu apreciar cada pedacinho da decoração exterior de Santa Maria Del Fiore. Sem distribuir muitos cliques, porém, abusando do zoom.

Demorou quarenta minutos para contornar toda a catedral e na Piazza Duomo notou que, apesar do insistente calor, muitas pessoas desfrutavam de um café fumegante. Após encontrar o que julgou ser o ângulo perfeito, parou a alguns metros de distância da construção e pediu para que tirassem uma foto sua. Mais um minuto inteiro admirando aquele cerco sem a distração da câmera e ela finalmente teve coragem de seguir em frente.

Seu deslumbramento pela Ponte Vecchio foi igualmente grande, e a sua fome foi saciada no famoso Mercado Central. Contudo, sua passada pela Via Tornabuoni foi o que a deixou absolutamente sem palavras. Tudo parecia ter sido construído estrategicamente para fascinar quem quer que passasse por ali. No final das contas, seu planejamento havia se transformado num passeio incrível e gratificante.

Quando teve de retornar para a abafada estação e pegou o primeiro trem de volta a Roma,  seu estômago já estava reclamando de novo por causa da fome. Vasculhou o seu celular em busca de distração e acabou abrindo um sorriso involuntário no rosto um pouco suado ao contemplar o que encontrou em sua galeria de fotos. Porém, seu contentamento durou pouco, já que uma notificação do twitter postada por uma das suas contas favoritas, @bts_twt, a fez murchar no mesmo instante.

Não era possível que estivesse mesmo vendo aquilo.

Ao abrir o tweet e ver a foto recém-publicada ela só conseguiu pensar no tempo e em como o timing era capaz de transformar dias agradáveis em meras frustrações.

Tudo que se passava em sua mente eram as perguntas sem respostas que foram, até mesmo, capazes de lhe fazer esquecer a fome: E se ela tivesse chegado um pouco mais tarde em Firenze? E se tivesse ficado um pouco mais na Piazza del Duomo? E se ela não tivesse que voltar para Roma? Tudo teria sido diferente? Teriam se encontrado?

E a cada "e se" ela deixava seu corpo escorregar no assento do trem, pensando que havia perdido a oportunidade de encontrar com seu ídolo por algumas pouca horas. Aquilo era quase insano demais para se pensar e ela não queria cogitar a ideia de que não tê-lo encontrado por apenas alguns minutos de diferença pudesse significar um "não era para ter acontecido". Não que ela algum dia tivesse cogitado seriamente a hipótese de esbarrar com ele por aí, mas talvez descobrir ao mesmo tempo que "sim, era possível" e "não, não havia acontecido" era demais para uma fangirl, antes, apaixonada, agora, desiludida.

Enquanto seu olhar divergia entre a paisagem pela janela do trem e a foto recém postada no Twitter, a menina só desejou que, uma única vez, pudesse ter feito parte daquele instante congelado naquela foto.

Suspirou cansada, se não conseguia controlar nem mesmo os seus próprios pensamentos não havia a menor chance de conseguir voltar no tempo.

Afinal, como fazemos para estar na hora e no lugar certo?

O relógio não vai dizer. Nenhum alarme vai avisar qual é a hora certa pra sair de casa em direção àquele lugar, nem que é lá onde todas as coisas vão acontecer bem como, em tese, deveriam. Às vezes, basta somente um instante: perder o metrô por míseros segundos, deixar de esbarrar naquela pessoa, decidir sorrir, dizer "oi" ou deixar passar.

Timing sempre foi considerado um mistério, e, para ela, continuaria sendo.

Então, apenas guardou o aparelho em sua bolsa e tentou focar na única coisa que lhe parecia menos frustrante naquele momento: encontrar algo para comer.



Firenze, Itália, 4 de julho de 2018.

A garota de cabelos escuros e olhos igualmente negros correu o máximo que suas pernas lhe permitiram, mas, mesmo assim, só chegou a tempo de ver as portas do trem se fechando e ficou observando-o se afastar com uma expressão irritada no rosto.

Ótimo! Pensou alisando a blusa de flanela soltinha cheia de ramos florais. Como se já não fosse o bastante ter tropeçado e derramado todo o café de alguém que descia as escadas apressadamente, ter sido deixada na estação errada pelo taxista distraído e falador, ainda por cima, seu despertador a deixou na mão e acabou causando toda aquela confusão.

Respirou fundo e se acalmou. Pegou o trem seguinte e contemplou o trajeto calmo, agradecendo pelo ar condicionado que, aliviava um pouco do calor que fazia do lado de fora.

Ao chegar na catedral, os sinos bateram avisando que já era meio-dia. Parecia haver um sol para cada um naquele lugar, principalmente esquentando a cabeça dela, ainda que, paradoxalmente, estivesse ventando. Aquilo fez com que a garota se amaldiçoasse baixinho, sem conseguir conter o julgamento interno sobre ter se atrasado. Se tudo tivesse saído como o planejado, ela teria conseguido pegar o trem das 7 a.m. para Firenze e estaria fazendo o bendito passeio de manhã cedinho e não com o sol a pino.

Ainda assim, quando se deparou com aquela construção arquitetônica, seu fôlego pareceu faltar. Era tudo muito alto, muito grande, muito "claro" e muito detalhado. A garota não estava mais apenas cativada, havia sido exageradamente envolvida por aquela construção mágica que a cercava.

A câmera fotográfica escondia praticamente seu rosto inteiro, mas foi através daquela lente especial que a garota conseguiu apreciar cada pedacinho da decoração exterior de Santa Maria Del Fiore. Não distribuiu muitos cliques, mas acabou abusando do zoom.

Excuse me, você poderia tirar uma foto minha? ー O rapaz de cabelos castanhos claros e um sorriso discreto nos lábios carnudos chamou a atenção da moça que estava distraída com o visor da sua própria câmera fotográfica.

ー Ah, claro...ー Ela retribuiu o sorriso tímido e logo se apressou em pegar o celular das mãos do rapaz alto a sua frente, deixando a sua câmera pendurada no pescoço. ー Você prefere como?

Ele coçou um pouco a nuca mostrando estar embaraçado ou em dúvida, ela não conseguia desvendar a expressão dele, mas constatou definitivamente que, de perto, ele era ainda mais lindo. Continue agindo naturalmente, ela se repreendeu mentalmente.

ー Pode ser aqui, em frente à Catedral. ー A resposta dele veio acompanhada de um pequeno aceno de cabeça em direção a magnífica construção arquitetônica que estava atrás de si.

Ela se sentia boba, suas mãos suavam e ela começou a censurar o próprio comportamento infantil.

ー Tudo bem, é só você ficar um pouco mais para a direita... ー Os cabelos esvoaçantes e escuros da garota teimavam em brincar na frente de seu rosto enquanto ela indicava o melhor ângulo do seu ponto de vista. ー Assim está ótimo. ー Sorriu satisfeita ao perceber que o rapaz era extremamente fotogênico.

Covinhas, ela não conseguiu conter o pensamento, ele tem mesmo lindas covinhas.

Ele pediu que ela tirasse mais uma, porém, elogiou bastante a primeira foto, o que a fez pensar que, aparentemente, o rapaz educado só queria como recordação ter o local visto por diversos ângulos. No fundo, ele havia mesmo era gostado de vê-la tão concentrada enquanto o encarava através da tela do aparelho.

Quando o celular foi devolvido ao seu devido dono, a garota notou que seu coração estava quase se fazendo ouvir dentre o silêncio que pairou entre eles. Ela ficou encarando as feições do rosto dele como se quisesse ter certeza de que estava mesmo ali, falando com o rapaz tão talentoso que, há tempos, enfeitava a sua imaginação. Tinha que ser ele. Não era possível que existissem duas pessoas tão parecidas no universo, ou era? Poderia ser um sonho? Sua imaginação era tão boa assim?

Ela estava criando coragem para se apresentar e ter, assim, uma desculpa para perguntar o nome dele e afastar de vez aquele conflito interno cheio de incertezas, porém, o asiático se curvou na direção da garota que esboçava um sorriso ladino nos lábios.

Grazie... ー Ele gastou todo o seu italiano fazendo com que a menina risse do seu sotaque fofinho e com a possibilidade de ele ter achado que ela fosse italiana. ー Você me salvou. Afinal, o que seria de um passeio turístico sem uma foto, não é mesmo?

A garota tentou segurar os cabelos rebeldes por causa do vento inconveniente e afirmou com a cabeça, fazendo um gesto singelo com a mão livre.

ー Eu estava pensando a mesma coisa ー ela piscou tentando clarear os pensamentos ー, não foi nada.

Os dois compartilharam um sorriso simples e cúmplice, ambos sabendo que existia algo que os prendia naquele momento.

ー Sinto que te devo uma bebida gelada. ー O dono das covinhas sugeriu rapidamente quando viu a garota inquieta se proteger do sol com uma das mãos sobre os olhos semicerrados.

ー Nossa, hoje está especialmente quente ー concordou com um sorriso largo. ー E eu ainda nem vi metade do que gostaria de conhecer nessa cidade.

ー Interessante... ー as covinhas dele ficaram muito profundas e ela sentiu algo se agitar dentro do estômago, talvez estivesse com fome outra vez. ー Sinto que estamos fazendo o mesmo roteiro... Eu acabei de chegar, meus amigos não estavam a fim de turistar hoje, e eu acabei percebendo que fazer isso acompanhado é bem melhor.

A garota estava prestes a enfartar. Milhões de teorias e expectativas surgiram em sua mente, mas conseguiu se polir e apenas dizer:

ー Eu aceito uma bebida ー e se curvou rapidamente na frente dele, somente porque ele fez o mesmo.

O trajeto entre a Piazza del Doumo e a Ponte Vecchio intercalava ruelas estreitas e predinhos apertadinhos, forçando que agora ele se tornasse o fotógrafo da vez. Ele tentava focar, sem muito sucesso, com aquela câmera mais elaborada do que estava acostumado, já que a câmera do seu celular parecia ser o suficiente.

Enquanto isso ela não sabia se ria da falta de jeito do garoto ou do seu próprio desespero ao constatar que, mesmo que as fotos provavelmente fossem sair todas fora de foco, tudo já valera a pena apenas por poder ser a "modelo" dele naqueles poucos momentos.

Os dois não conseguiram ficar em silêncio durante o percurso. Como era possível ter tantas coisas em comum com alguém que acabara de conhecer? Eles, sem saber, partilhavam do mesmo pensamento, intrigados e ao mesmo tempo extasiados com aquele encontro do acaso. Afinal, não é todo dia que se encontra alguém tão interessante perdido por Firenze.

ー Sabia que essa ponte é a ponte mais antiga da Europa? ー Ele parecia estar inflando o peito em uma demonstração de flerte e exibição do seu brilhante cérebro; talvez, só talvez, ele realmente quisesse que ela ficasse impressionada.

Mas a moça de cabelos escuros que tanto o intrigava estava alheia a toda aquela sua tentativa de chamar atenção, até porque ela já estava totalmente encantada por ele, não era preciso mais nenhum esforço do dono das covinhas chamativas para que ela pudesse sorrir pelo resto da vida.

Uhum,  1.345. ー Ela disse como se fosse uma informação trivial e deu mais um gole em sua cerveja só para encontrar o garoto confuso. ー O quê? O ano em que a ponte foi construída, está escrito bem ali oh... Naquela plaquinha.

Ele já havia notado que a garota tinha aquele efeito sobre si: fazê-lo sorrir quase que automaticamente. Ela conseguia ser engraçada e intelectual, o que a tornava indescritivelmente interessante para ele, alguém que passava a maior parte do tempo se policiando a respeito do próprio jeito. A liberdade dela o intrigava ao mesmo tempo em que o atraia, pois o instigava a se sentir livre também.

Vendo que o Sol estava quase se pondo, a garota interrompeu abruptamente a conversa e puxou o braço do garoto risonho, se esquecendo, por alguns instantes, da ausência de intimidade entre os dois, das diferenças culturais e de que ele era ele.

ー Nós precisamos irrrrrr! - Ela exclamou, talvez um pouco alto demais, fazendo com que o garoto tentasse cobrir a boca dela com as mãos, tudo estava começando a ficar colorido demais e o efeito do álcool já estava inegável em seus atos espontâneos. ー Sério, vamos perder o pôr-do-sol! Vamos!

Ela puxou, mais uma vez, o braço do garoto pensando que poderia se acostumar com aquilo, e ele finalmente se levantou. Qualquer um perceberia que ambos os jovens estavam enfeitiçados um pelo outro a ponto de não haver nenhum tipo de resistência entre eles.

Depois de pagarem as - várias - cervejas ao garçom e ativarem o Google Maps no celular do maior, eles saíram literalmente correndo pelas ruas de Firenze atrás do tão famoso pôr-do-sol da Piazzale Michelangelo. Entre buzinadas de lambretas, berros e risadas, os dois chegaram esbaforidos ao local desejado, o lance de escadas foi um dos primeiros motivos pelo qual eles perderam o fôlego, o segundo motivo foi o céu matizado nos mais diversos tons de rosa e azul. E o terceiro, não menos importante, dos motivos estava prestes a acontecer.

O tempo que antes parecia acelerado de repente se fez tênue e leve assim que ambos se acomodaram sentados no topo da escadaria. Ela contemplou a catedral e a ponte, agora bem menores à distância enquanto ele a contemplava. Ambos convictos de que aquele momento só poderia fazer parte de uma composição de algum pintor renascentista. Os joelhos se tocando, as mãos buscando se encontrar e a garota pôde senti-lo se inclinar em sua direção. O nariz dele fez um carinho breve em sua bochecha e esse era o momento, ela não precisava de relógio para ter certeza.  

Uma colisão breve e suave de lábios. Um sorriso sincero compartilhado. Olhares brilhantes satisfeitos.  Então, essa era a sensação de estar no lugar certo,  na hora certa, com a pessoa certa.

Timing,huh?



Fine.


P.S: leiam os "agradecimentos"!

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