Quando enfim chegou o final de semana, eu estava esgotada. Passei a semana inteira com Ned preparando as novas matérias para o jornal da escola. Tivemos que escrever sobre a competição do decatlo em Washington e sobre o fato do homem aranha ter salvo a gente do elevador. Como sempre, o jornal fez um sucesso e todo mundo ficava me parabenizando.
-Agora você precisa revelar a identidade dele – um cara do time de basquete gritou e eu dei risada.
Sempre tive esse objetivo, mas é mais difícil do que eu pensava. Além disso, não sei se seria uma boa. Ele esconde a identidade por algum motivo.
Mas quando eu achei que iria descansar, estava mais errada. Esse final de semana era o famoso jogo de basquete e eu, como era das líderes de torcida, teria que participar.
-Você poderia pelo menos fingir que está animada – Liz disse estralando um dedo na minha frente – Sua função é animar, certo?
Suspirei pesado e me levantei. Ela tinha razão. Me comprometi com elas, agora preciso honrar.
Coloquei meu uniforme e comecei a me aquecer para o jogo.
-Ned e Peter estão aqui – Ana disse aparecendo no vestiário – Vieram nos ver dançar.
Senti meu coração acelerar com aquelas palavras. Eu sempre tive o costume de dançar na frente da escola inteira, mas agora eu estava nervosa.
É só uma dança idiota. Eu pensava.
Assim que entramos na quadra, percebi que estava lotada. Muita gente da escola levava aquele time muito a sério. Observei a arquibancada e logo avistei Ned e Peter. Ambos seguravam um cachorro quente nas mãos e riam de alguma coisa.
Desviei o olhar para evitar contato visual que só me deixaria mais nervosa.
Nos posicionamos no centro da quadra e logo começamos o número. Confesso que eu logo esqueci a multidão de pessoas na minha frente. Dancei com todo esforço que tinha e quando terminou, estava até sorrindo com a empolgação.
Liz terminou a coreografia sendo levantada para cima, o que fez a galera explodir em palmas e gritaria. Sorri mais uma vez com tudo aquilo.
Assim que terminamos, observei o diretor da escola se aproximar do microfone e chamar a atenção das pessoas.
-Isso foi demais – ele disse – Parabéns meninas. Eu gostaria de chamar aqui agora, uma pessoa muito importante para o time, que, apesar de passar por rumores, conseguiu dar a volta por cima e fazer seu trabalho do melhor jeito possível. Senhoras e senhores, o capitão do time de basquete: Brandon Lancaster!
Senti meu corpo enrijecer com aquelas palavras. O garoto apareceu correndo com um monte de pessoas gritando seu nome. Respirei fundo e fechei minhas mãos tentando controlar a raiva. Minhas unhas compridas machucaram a palma da minha mão com aquele ato, mas eu não me importei.
Depois de tudo o que eu fiz para impedir, ele continuava sendo o capitão do time e era louvado como um Deus.
-Obrigado pessoal! – ele disse pegando o microfone – É uma honra poder ter esse título e eu não conseguiria sem o apoio de vocês. Por mais que tenham pessoas que não acreditem em minha capacidade, que inventam mentiras e tudo mais, a verdadeira função de um líder é mostrar a verdade por meio desse time. Vamos ganhar!
Mais uma onda de gritos e aplausos.
O resto do time entrou na quadra e logo o jogo começou. Minha função era continuar da quadra e ficar animando a torcida, mas se antes eu já não estava com cabeça para aquilo, depois de tudo aquilo, eu só queria ir embora.
E assim que Brandon olhou para mim e deu uma piscadinha seguido de um sorriso que ele deve considerar galã, eu não aguentei e sai daquele lugar, voltando para o vestiário.
Sentei em uma cadeira e respirei fundo. Olhei para minhas mãos, dessa vez havia um pouco de sangue e a marca de minhas unhas estavam profundas.
-Lily? – ouvi uma voz e logo fechei minhas mãos.
Virei para trás e observei Peter entrando no local.
-Você não devia estar aqui – eu disse me levantando. – Eu podia estar sem roupa.
Me arrependi na mesma hora de ter falado aquilo, já que Peter deu uma risada sem graça. Senti minhas bochechas queimarem na mesma hora.
-Por isso eu te chamei antes de entrar – ele disse.
Ficamos nos encarando por um tempo.
-Sinto muito por ter que ver aquilo – ele continuou falando, se aproximando de mim. Ambos sentamos no banco atrás de mim.
-Eu pensei que com o jornal eu teria um pouco de voz nessa escola – eu disse suspirando – Mas parece que não.
-É claro que você tem – ele disse – Todo mundo lê aquele jornal! O problema é que o Brandon tem apoio do diretor. Ou melhor, o dinheiro da família do Brandon tem apoio do diretor.
Ri com suas palavras.
-Mas as pessoas estavam gritando – eu disse.
-Elas gritam por tudo! Se eu for lá na frente e sentar no chão elas vão gritar.
Ri mais uma vez.
-Ia ser engraçado – eu disse – Eu gritaria.
-Podemos dar um jeito nele – Peter continuou – Você tem poder para isso sim! Ned me contou que vocês estão recebendo declarações anônimas de pessoas que passaram por coisas parecidas! Você não está sozinha.
-Você tem razão – eu disse – Podemos tentar.
-Se quiser ajuda...
-Obrigada Peter – eu disse sorrindo para ele e o mesmo sorriu de volta.
Peter segurou minhas mãos com a dele, mas logo percebeu que algo estava errado e desviou o olhar de mim para as minhas mãos.
Tentei puxar de volta, mas ele impediu.
-O que é isso? – ele perguntou olhando mais de perto meu machucado.
Fiquei com vergonha na mesma hora.
-Acho que fiquei muito brava – eu disse – Não é nada.
Peter me encarou nos olhos com um pouco de dó. Eu odiava aquele olhar.
O mesmo puxou minhas mãos e depositou um beijo em cada uma delas. Sorri com seu ato.
Assim que nossos olhares se encontraram mais uma vez, uma onda passou por todo meu corpo, como um arrepio. O som abafado do jogo que acontecia ali do lado ecoou pelo vestiário e era a única coisa que se ouvia.
Peter desviou o olhar dos meus olhos para a minha boca e eu fiz o mesmo, já me aproximando dele.
Selei nossos lábios e senti meus músculos relaxarem na mesma hora. Meu corpo pedia por aquilo e eu não fazia ideia de quanto eu precisava dele.
Minhas mãos foram para seu cabelo e meus dedos puxaram os fios que estava ali de leve. As mãos dele foram para minha cintura e me puxaram para mais perto dele. Ele logo pediu passagem com a língua e eu cedi, aprofundando aquele beijo.
Eu não estava tão nervosa como estava com o beijo da piscina e isso fez com que tudo ficasse melhor e eu pudesse aproveitar mais, explorar mais.
A sensação de nossas línguas juntas era estranha, mas ao mesmo tempo boa. Cada movimento era novo.
Assim que o ar faltou, nos separamos devagar. Sua respiração batia em meu rosto e eu sorri levemente.
Abri meus olhos e encarei Peter. Ele também sorria.
-Preciso te contar uma coisa – ele disse me encarando um pouco sério.
Me afastei um pouco dele, para poder entender melhor. Peter abriu a boca, mas foi logo interrompido por um barulho na porta.
-Lily, eu... – era Liz.
Ela entrou com tudo no vestiário e assim que percebeu que estávamos ali, se calou. A mesma não aguentou e deu um sorriso malicioso. Me levantei com vergonha.
-Não sabia que tinha atrapalhado – ela disse – Me desculpa.
-Ta tudo bem – Peter disse se levantando – Eu não devia estar aqui.
-Eu só queria saber se a Lily estava bem.
-Estou ótima, obrigada.
-Já que eu já atrapalhei – ela disse se aproximando – Eu vim aqui para dizer também que eu e o resto das meninas estamos ao seu lado.
-Como assim?
-Odiamos o Brandon também – Liz disse sorrindo – E vamos te ajudar.
Sorri com aquilo.
-Temos vários podres dele – ela continuou – E você tem o jornal. Vamos juntar isso.
-Parece que já temos algo – Peter disse ao nosso lado.
Encarei Liz na minha frente e dei risada, levemente animada com tudo aquilo.
-Nós temos tudo! – Liz continuou – Brandon não devia ter mexido com uma de nós. E agora vai sofrer.
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Os próximos capítulos vão ser muito bons! Só digo isso...