Entre Acasos e Destinos | LIV...

By lettiautora

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DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON | SÉRIE: Entre Amores: Família Volkiov. LIVRO 2 - Entre Acasos e Destinos (... More

• NOTAS INICIAIS
• SINOPSE
CAPÍTULO • 01 (Degustação)
CAPÍTULO • 02 (Degustação)
CAPÍTULO • 03 (Degustação)
CAPÍTULO • 04 (Degustação)
CAPÍTULO • 05 (Degustação)
CAPÍTULO • 06 (Degustação)
CAPÍTULO • 07 (Degustação)
CAPÍTULO • 09 (Degustação)
CAPÍTULO • 10 (Degustação)
DISPONÍVEL NA AMAZON

CAPÍTULO • 08 (Degustação)

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By lettiautora

CAPÍTULO 08

VLADIMIR

— É ESSE O meu apelido? — indago, sem desbloquear a passagem.

Não importa o quanto alguém se esforce para manter o bom senso diante dos poderes concedidos por um suposto patamar privilegiado, em algum momento as pessoas começam a abaixar suas cabeças; foi assim que eu me acostumei com obediência e sujeição. Mas com ela, não acontece, e isso é o que mais me intriga.

Ela é a personificação de tudo o que escondo dentro de mim, do que tenho evitado.

— O que nós estamos fazendo? — sussurra. — Não deveria estar aqui, posso ser demitida. Você precisa superar essa obsessão com o meu nome, principalmente nos meus ambientes de trabalho.

— Obsessão? — debocho, surpreso com a audácia. A única obcecada em não perder o emprego é ela. Nossa diferença de alturas faz com que precise virar o pescoço para trás na tentativa de me enfrentar, e mesmo tal detalhe sutil incentiva meus instintos rudimentares de liderança. — Você está sendo infantil, não estaríamos nessa situação se tivesse falado seu nome para começo de conversa.

— Eu tinha os meus motivos — pestaneja, colocando as duas mãos na cintura, com os punhos fechados. O olhar novamente na minha boca, desejosa, sem muitos pudores.

Não tenho certeza se faz isso sem perceber ou por não se importar em demonstrar o que pensa; talvez um pouco de cada. Puxo o nó da gravata, minha respiração irregular acompanhando a instabilidade dos meus pensamentos. Corazón é perigosa, como um belíssimo e raro frasco de veneno.

Olhando de esguelha para a saída, ela revira os olhos, mas não cede à pressão.

— O que te impede, Corazón? — murmuro, feroz. Paciência não é minha melhor virtude. — Por acaso está gostando dessa brincadeira? Acha divertido me provocar?

Seguro seu queixo, colocando um pouco de força no polegar para que seus lábios se abram em um biquinho ridiculamente inocente e delicioso. Seu riso de escárnio, porém, não vai de encontro com a reação que eu esperava. Ela não sente medo nenhum, no máximo uma apreensão leve.

— Esse seu jeito arrogante costuma funcionar com as mulheres? — Estendendo a palma da mão, ela impede que eu responda e se afasta para trás, saindo do meu toque. À medida que seu nervosismo cresce, suas palavras se tornam mais frenéticas. — É óbvio que sim. Só a sua existência já é um grande funcionamento! — Rindo, fecha os olhos e balança a cabeça, fazendo uma série de caretas como se brigasse consigo mesma. Fascinante, é a palavra que me vem à mente. — Essa conversa está me confundindo, e já tenho coisas demais para lidar. É melhor encerrarmos esse assunto agora. Não importa quem eu sou e quanto menos souber, melhor. Não somos nada um para o outro e...

— Talvez possamos ser — digo sem pensar direito e recebo dela um olhar desconfiado, então limpo a minha garganta e escolho melhor as palavras. — Amigos, por que não?

A expressão dela esmorece. Capto o segundo exato em que se rende.

Abraçando o corpo, ela demonstra um pouco de fragilidade e não consigo evitar a sensação de vitória inflando meu ego. Os cantos da sua boca suavizam e o sorriso perde um pouco do brilho, deixando-me mais intrigado.

— Não tenho muitos amigos — confessa, constrangida, brincando com a borda da camisa. — No geral, as pessoas tendem a se afastar de mim, não o contrário. Quer dizer, tem a Malévola, mas ela não gosta muito de conversar.

— Malévola? — O nome me faz rir. Conversar com ela é fácil. Reconheço a sensação que me preencheu na primeira vez que nos encontramos, perturbadora e confortante ao mesmo tempo.

— Minha gata — explica, mais relaxada. Continuamos muito perto, com ela encostada na parte de trás de uma poltrona, e eu na frente, ainda impedindo a passagem como um idiota. Vez ou outra, seus olhos viajam até a porta que Roman deixou aberta. — Eu a encontrei dentro de uma caixa de papelão no meio da rua. Como moro sozinha, achei que seria uma boa ideia.

— Então mora sozinha? — Foco na única informação que me interessa.

— Você gosta de fazer perguntas demais — reclama, rolando os olhos para cima.

— E você não gosta de responder. Ainda não disse o seu nome.

Atrevida e bem à vontade para uma funcionária — não que eu esteja julgando, já que poderia muito bem receber uma denúncia por abuso de poder — Corazón se desfaz em um sorriso diabólico.

— Achei que você fosse descobrir com seus poderes mágicos, já que ficou com ciúmes do seu irmão descobrir primeiro. — Desencostando da cadeira, ela me dá as costas e começa a andar pela sala distraidamente, passando os olhos por toda a estante de livros enquanto os meus descem direto para a suntuosa curva em seus quadris.

— Não foi ciúme, Roman é um mulherengo — explico, preservando meu orgulho. — Sobre seu nome, tenho uma lista com a identidade de todos os funcionários que estão trabalhando no casamento de Ivan.

— São muitos funcionários — pontua sem me olhar, passa o dedo indicador sobre um exemplar de Orgulho e Preconceito, soltando uma risadinha de algum pensamento que não compartilha. — Você é o irmão mais velho, Ivan é o noivo bonitão. Roman é o tatuado musculoso e Andrei é o advogado que as meninas da cozinha estavam chamando de Senhor Perfeito Para Casar, e de Senhor Sorriso Perfeito. — Não tenho certeza se aprovo os adjetivos, mas permaneço em silêncio enquanto ela prossegue com o seu monólogo. — Vai ler centenas de fichas de contrato só para descobrir o meu nome, Lord Vlad? Seu desespero é assim tão grande?

Automaticamente, seu atrevimento ardiloso cutuca meu bom senso. Nunca me envolvi com funcionárias ou mulheres com o seu padrão de vida — não por me achar superior, mas para evitar rumores e dores de cabeça, além de ter sempre um leque considerável de escolhas mais cômodas na alta classe. Mas ela atiça um desejo egoísta de me apossar e controlar tanta petulância.

— Você é tão indiscreta — vocifero em voz alta para despertar outra vez sua indignação. Não movo um centímetro sequer, com medo de que acabe cometendo a besteira de puxar seu corpo para constatar se realmente se encaixa bem no meu como parece.

Corazón abandona os companheiros literários e se vira com a fisionomia divertida. Caminha até a bandeja de chá esquecida sobre a mesa e serve um pouco na xícara; pega um cubo de açúcar e tempera a bebida.

Todo bien — diz naquele maldito sotaque latino, por cima do som da colher batendo nas bordas da porcelana. — Direi o meu nome, e talvez possamos apertar as mãos, nos tornarmos amigos e tudo mais. Meu irmão costumava dizer que sou una chica loca e, no fundo, ele sempre esteve certo. Aquele babaca mau pagador! Tenho certeza de que voltou para Morella.

O quê?

— Morella?

Sinto náuseas.

Minha cabeça gira de volta à conversa conturbada que tive com Camillo Fajardo há três semanas. Ele disse que Serena era exatamente "a droga de uma chica loca". Ele também deve muito dinheiro, é um mau pagador. Um irmão endividado que fugiu de volta para a Espanha. Morella é a cidade natal de Serena Fajardo.

Não pode ser apenas coincidência. Porra, não pode mesmo!

No dia em que nos encontramos na rua, ela me disse que estava resolvendo problemas do irmão. É ela, só pode ser. Por algum motivo, essa maluca conseguiu fazer com que eu desconfiasse dos meus próprios instintos; devia tê-la pressionado naquela ocasião.

— Tudo bem? — indaga, o rosto encarando o meu, seus olhos castanhos cheios de preocupação. — Ficou pálido de repente.

— Você — começo, desconcertado, metade de mim desfazendo-se em revolta — tem que sair agora. Já chega dessa brincadeira! — Meu tom soa mais rude que o necessário, petulante e autoritário.

O nome dos meus pesadelos reverbera nas paredes da minha cabeça, ganhando finalmente um rosto. E é um fodido rosto que eu estava fantasiando saborear há menos de dez segundos.

Puta que pariu. Se minhas suspeitas se confirmarem, se for realmente verdade... Como não desconfiei antes? Tão óbvio!

O olhar dela vacila, confusa com a mudança abrupta na atmosfera. Arriscaria dizer que exibe certo desapontamento, frustração por minha retomada de controle. Estive rastejando atrás de uma sombra por nove meses e, de repente, ela surge diante de mim com seus flertes e sorriso desregrado.

— Só vai de uma vez — ordeno, liberando o caminho para que parta o quanto antes. — Devem estar precisando dos seus serviços em algum lugar.

Somos funcionária e chefe novamente.

— Era o que eu estava tentando fazer — declara, mantendo-se inabalável. Adoraria descobrir de onde arranca valentia para não recuar. Ela caminha devagar em direção à porta, mas para antes de atravessar o arco de madeira e olha sobre o ombro, seu corpo equilibrado sobre os saltos fechados. — Não tenho muitos amigos, porque aprendi a não deixar as pessoas entrarem. Depois que entram, a porta fica aberta e podem fugir a qualquer momento. Isso que você faz, se afastar e se esconder atrás do prestígio de homem rico, é uma porta fechada. Não me convide para entrar se não tem a chave para destrancar a porta. Todo mundo precisa de uma rota de fuga.

Ela me dá as costas e bate a porta com força ao sair. É por isso que tem tanto medo de perder o maldito emprego, em situações normais já estaria no olho da rua.

Merda, desde quando eu permito que uma funcionária tenha esse tipo de reação? Deveria ordenar que voltasse agora mesmo, que pedisse desculpas pela falta de respeito, que explicasse como nos fez de bobos por tanto tempo!

Serena Fajardo.

Exalo pesadamente, arranco o paletó e o jogo sobre a poltrona acinzentada perto das estantes. Com dois passos largos, retorno para a minha mesa e abro a primeira gaveta. O aglomerado de fichas técnicas zomba de mim enquanto agarro uma garrafa de vodca e sirvo um copo generoso. O bule fumegante e a xícara cheia só fazem aumentar minha raiva.

São muitos documentos, porém, há um único nome que me interessa agora. Tudo faz tanto sentido que chega a ser cômico.

Viro a bebida de uma vez, o líquido queima minha garganta. Não sou eu. Assuma o controle! Recolho os papéis e acomodo-os debaixo do braço, saindo às pressas do escritório em busca de um lugar tranquilo para analisá-los.

Qualquer lugar que não esteja impregnado com o cheiro dela.

* * *

O pergolado da minha mãe acaba sendo minha melhor opção. Ele oferece uma visão completa de todo o jardim, inclusive da enorme tenda que vai abrigar nossos convidados.

Hoje em dia a mansão não precisa de reformas ou alterações, mas o pergolado foi a primeira decoração externa exigida pela minha mãe quando compraram a propriedade. A pequena casinha de jardim se transformou em um refúgio depois de perder o marido, mas sempre o considerei o melhor lugar para pensar sozinho.

Na primavera, as flores silvestres colorem os canteiros com pétalas vermelhas, amarelas, azuis e brancas. Mas é o grande labirinto de arbustos que mais chama atenção agora que a folhagem alcançou um tom de verde-amarelado que cintila sob a luz do sol.

— Oi, tio. — Iago surge de um pequeno caminho que passa por baixo de uma raiz de árvore. Ainda não está vestido com os trajes matrimoniais, mas suas roupas casuais estão sujas de terra. — Você trabalhando? Posso ajudar? Minha mãe foi procurar o meu pai, mas eu acho que os dois estão fugindo da vovó.

Sentando-se ao meu lado, ele estica o pescoço para verificar as folhas em minhas mãos. Retiro algumas pétalas pequenas e amarelas grudadas em seus cabelos ralos e bagunçados, e Iago nem parece perceber meu toque. Toda a concentração foi tragada pelo interesse em meu trabalho.

— Aposto que sim, sua avó está muito feliz agora que seus pais estão se casando. E, respondendo à sua pergunta, estou procurando o nome de uma pessoa.

Meu sobrinho revira os olhos e, para alguém tão pequeno, acho incrível como fica parecido com Roman ao fazer isso.

— A mesma de sempre? — reclama, entediado.

Iago me desarma de um jeito bom, e agradeço por estarmos escondidos. Depois de passar a última segunda-feira no escritório junto comigo, enquanto Lara avaliava o terreno do clube na companhia de Ivan, ele passou a rever seu interesse nas minhas supostas missões investigativas. Agora, fui rebaixado para um agente secreto fracassado que passa o dia dentro de um escritório sem graça.

Iago é basicamente uma versão mirim de Roman e seu temperamento ácido, somado com a impulsividade do pai, a ética de Andrei e meu complexo de praticidade. Mesmo não acreditando em destino, me conforta que faça parte da nossa família, pois é um Volkiov melhor do que nós quatro juntos.

— Serena Fajardo — confirmo. Até o pequeno está cansado de ouvir o nome dela. — Pode ficar com esses, se quiser. — Separo algumas fichas e entrego para ele, mas Iago faz uma careta e descarta os papéis sobre os estofados florais.

— Não, obrigado. Eu bem de boa — diz com maturidade, contradizendo a oferta de ajuda. Volto minha atenção para o trabalho, mas seu silêncio não dura muito. — Olha, a moça do bolso machucado. — Ergue o pescoço fino para enxergar alguém entre os empregados que estão organizando as mesas.

— Do que você está falando? — pergunto distraidamente, passando os olhos por fichas e mais fichas.

— Aquela mulher que estava brigando com um moço na frente da empresa, tio. — Meu sobrinho fica de pé sobre as almofadas para ficar mais alto, apoiando a mão no meu ombro. — Você é um agente secreto bem ruim mesmo, não lembra de nada.

Pauso minha busca por um momento para dar atenção ao senhor exigente. Assim que ergo meu rosto, uma rajada de vento assopra todas as folhas para o alto e Iago se desequilibra, caindo em cima do meu colo com uma folha na mão.

O susto de ver meu sobrinho caindo me paralisa. O ser humano é uma criatura tão frágil que uma brisa singela é o bastante para roubar seu fôlego para sempre. Por isso fiquei tão incomodado quando reconheci Corazón — talvez Serena Fajardo — na frente da minha limusine, por isso não gosto de me responsabilizar por Iago.

Iago sorri com os olhos azuis arregalados, o cabelo loiro todo desarrumado balança suavemente. Acabo de perder dez anos de vida e tudo o que me oferece é uma gargalhada. Como se nada tivesse acontecido, ele gira o pescoço e aponta o dedinho magricela na direção da tenda.

Mais precisamente, para ela.

Outra vez.

Corazón.

— Aquela moça é a mesma que você e sua mãe encontraram na frente do prédio? A que estava brigando com um homem?

Tento imaginar a cena, mas uma preocupação agressiva preenche meu corpo e faço algum esforço para não deixar transparecer. Faz tanto, tanto sentido. Se ela for Serena, talvez o homem em questão fosse Camillo Fajardo, ou um de seus cobradores.

Céus, ela está tentando resolver a dívida do irmão! Essa menina não tem um pingo de amor à própria vida?

— Sim, minha mãe tentou ajudar, mas ela estava com pressa. — Iago deita a cabeça sobre as minhas pernas, mas continuo preso na mulher ao longe, toda sorrisos.

— Já faz alguns dias, como pode ter tanta certeza, Iago?

— Ela tem aquele olhar triste. — A voz aguda de Iago suspende meu raciocínio pelo simples fato de não fazer nenhum sentido.

— Triste? Como assim triste? — Olho para ela, rindo de algo que a colega de trabalho diz. Meu sobrinho não responde; ao invés disso, estende a folha amassada em suas mãozinhas pequenas.

— Olha, tio. Serena Fajardo.

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