Castelos de Areia

By JulietGeorgia

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"Ela não podia ficar. E não queria fechar os olhos. Precisava manter dentro dela a visão dos cabelos loiros d... More

Prólogo
1. O Garoto Atleta
2. A Menina do Livro
3. O Jantar
4. Não Dá pra Gostar de Você
5. Kimmie
6. Ciúme de Você
8. Incompreensível
9. Desafio
10. Francesinha
11. Ombros
12. Roda-Gigante
13. Do Avesso (+18)
14. Provas (+18)
15. Entregue (+18)

7. Tudo ao Mesmo Tempo

118 26 60
By JulietGeorgia

"You've got your ball
You've got your chain
Tied to me tight tie me up again"

Crash into Me - Dave Matthews Band

18 de julho de 1997.

Duck, Carolina do Norte.

Bree.

É incrível como alguns dias têm o potencial de reação em cadeia que muda tudo, absolutamente tudo, na nossa vida. Foi o que aconteceu naquele 18 de julho. Primeiro, o aparentemente banal telefonema para Kimmie, depois a inesperada ligação do meu pai e, por fim, o absurdo maior: Ike tentou me beijar! Mas vamos do começo.

Eu tenho consciência de que anos mais tarde, algo desse naipe causaria uma ansiedade tremenda e seria o tipo de coisa que me consumiria como fogo e me faria ter um episódio de gastrite nervosa. Mas, aos 13 anos, eu não entendia direito a repetição de pensamentos e a urgência no meu coração. Sabia que precisava resolver aquele pequeno turbilhão dentro de mim, mas não perdia o sono ou a fome por causa dele. A única coisa era que eu queria saber. Eu queria saber de qualquer jeito se Taylor tinha ligado pra Kimmie. Se os dois estavam conversando. Se ele estava prometendo coisas pra ela. Enfim. Infelizmente, o único jeito era mesmo perguntar pra ela, e eu não ia mais protelar.

Aproveitei que Martha havia saído para comprar algo no mercado, e eu tinha ficado sozinha. Não havia um telefone no meu quarto e eu não queria que ninguém ouvisse aquela conversa. Disquei os números e respirei fundo. Estava apreensiva, e a apreensão estava me deixando bastante irritada. Ouvi três toques antes de a mãe de Kimmie atender. Depois de falar duas ou três frases, houve silêncio e, finalmente, os cliques que mostravam que o aparelho da sala havia sido colocado no gancho e que o do quarto de Kimmie estava em uso. A voz fina atingiu meu tímpano:

_ Oi, amiga!

_ Oi, Kimmie! E aí? Como estão as coisas? - mordi o lábio e sorri, embora soubesse que minha interlocutora não podia me ver e como que para assegurar a mim mesma que estava tranquila.

_ Ah, o normal. Tomando um pouco de sol quando dá. Queria taaaanto ter continuado aí. E você?

_ O de sempre também! Tenho estudado bastante.

_ Afff! Vai beijar algum menino! - ela bufou e riu.

Minha voz saiu mais seca do que eu gostaria quando respondi. _ Não tem ninguém.

_ Falando nisso. E o Taylor?

Pronto. Minha deixa.

_ Ele não te ligou?

_ Não... Eu jurava que ele tinha gostado de mim.

A onda de alívio que me tomou pareceu tão desproporcional quanto a agonia que eu vinha sentindo. Quase tive vergonha. A angústia se derreteu dentro de mim e deu lugar a um brotinho de alegria. Quando pensei no sol e tive vontade de sair de casa, o broto começou a se irradiar para todos os lados. Queria parar de ouvir a voz dela e de ruminar dentro da minha cabeça aquele beijo idiota que eu tinha visto. Chegava daquele que tinha sido o assunto mais chato de todos os meus verões. Encerrei a conversa o mais rápido que pude.

_ Ah! Eu tenho certeza que gostou. Certeza mesmo. Escuta, Kimmie. Preciso ir. Bom falar com você. A gente se fala na volta às aulas.

Acreditei realmente que nós voltaríamos ao normal quando eu retornasse pra Nova York. Mas, e depois ficaria claro pra mim, isso não seria mais possível. Aquela foi a última conversa de verdade que eu e Kimmie tivemos. Fomos colegas depois, mas a amizade se evaporou como água quente.

Coloquei o telefone no gancho, subi para o meu quarto, botei um biquíni, um short e brincos. Antes de ir para Duck, tinha ido ao shopping com Kimmie e comprado um par de brincos compridos de contas coloridas, que ela ajudou a escolher, mas que eu nunca tive coragem de usar. Naquele momento, tudo que eu mais queria era pendurar as bijuterias na orelha e desfilar pela rua.

Sentei no sofá da sala esperando impacientemente que Martha voltasse, quando o telefone tocou. Por um momento, imaginei que pudesse ser Kimmie e cogitei não atender, mas desisti da ideia. Assim que disse alô, ouvi a voz grave e nasalada do outro lado.

_ É nessa casa que a princesse Sabrina passa férias?

O fogo subiu pelo meu corpo deixando nada além de uma sensação estranha de formigamento, como se eu não estivesse lá. Não era possível. Mas ele tinha falado francês. Então, só podia ser.

_ Pai? - perguntei hesitante.

_ Quem mais te chama de princesa? - ele fez uma voz de irritado de brincadeira e riu. Eu ri também.

Fazia mais de um ano que não falava com ele. Tentei ligar no Natal e no aniversário, mas não consegui encontrá-lo, e ele nunca me retornou. De repente, aquilo! Tinha todos os motivos para detestar meu pai, mas só o que sentia era saudade dele. Ele perguntou como eu estava, e eu quis saber como ele tinha conseguido aquele telefone. Ele me contou que minha mãe tinha relutado em passar o número para ele. Eu sorria sem parar, mas queria chorar ao mesmo tempo.

_ Como está a França?

Eu nunca tinha ido à França. Era meu maior sonho, mas minha mãe só desconversava.

_ É sobre isso mesmo que eu queria falar com você, princesse! Quero que venha passar a última semana de férias aqui.

Toda aquela conversa parecia ter saído de um livro de fantasia. Não só meu pai tinha aparecido do completo e total nada, como queria me ver. Só podia ter algo errado.

_ Hmm... Pai, já é a próxima semana.

_ Eu sei! Mas posso mandar uma passagem sem nenhum problema. Nice é sensacional no verão.

Nice. Um balneário no sul da França. Tinha visto fotos incríveis desse lugar. Era lá que meu pai morava, então.

_ Pai! Que incrível! Eu quero muito. Minha mãe deixou?

Silêncio.

_ Pai?

_ Não falei com a Justine a respeito ainda.

Meu coração desacelerou. _ Ela não vai deixar. Eu sei.

_ Vamos tentar, ok? Vou ligar pra ela. E você peça com carinho também.

Sorri. _ Ok, pai. Estava com tanta saudade de falar com você.

_ Eu sei, petite, eu sei. Sinto muito. Vamos tratar de consertar isso, ok?

Estava lutando com todas as forças contra as lágrimas que se formavam no meu olho, mas uma delas rolou pela minha bochecha antes que eu pudesse fazer algo. _ Ok.

_ Nos falamos de novo amanhã, então.

_ Ok, pai!

_ Je t'aime, ma princesse. Não se esqueça.

_ Vou tentar. - disse com alguma amargura, mas emendei que o amava também.

Aquele dia estava impossível. Meu pai queria que eu fosse pra França passar uma semana com ele! Era surreal. Saí para a varanda e respirei fundo. Só então percebi que tremia um pouco. Minha mãe queria muito que eu odiasse meu pai e eu a entendia de todo coração. Mas eu simplesmente não conseguia. Ele continuava sendo meu ídolo.

Avistei Taylor na areia e lembrei que ele nunca tinha ligado para Kimmie. Sorri sem nem perceber e senti meu peito se inundar de um sentimento muito esquisito. Era como se a visão dele na areia me atraísse como um ímã. Tive uma quase necessidade de estar mais perto e quis com toda minha alma contar o que tinha acontecido. Mas nesse momento Martha finalmente chegou, estacionando o carro na lateral da casa e eu despertei do meu próprio devaneio que, diga-se de passagem, não fazia sentido algum.

Naquele dia, mais tarde, Taylor se juntou a mim e Ike na varanda e trouxe Nate também. Ele era um garoto ruivo um pouco esquisito, mas muito engraçado. Ike estava com o violão como sempre, e nós cantamos por umas duas horas até Taylor puxar Nate para irem tomar sorvete. Provavelmente, um código dos dois para paquerar na rua. Quando ele se levantou, esbarrou uma das pernas em mim e pediu desculpa apertando meu ombro. Me senti amolecer. De novo aquilo. Era muito estranho sentir coisas por ele, mas vinha acontecendo fazia alguns dias. Na verdade, não parava de acontecer.

Quando ele se foi, senti alívio e nervoso ao mesmo tempo. Tentei me concentrar na sensação de conforto pela ausência. De fato era bom não ter ele dividindo o mesmo ar do que eu. Além disso, com Ike eu tinha mais liberdade.

_ E agora, Bribs? O que vamos cantar?

_ O que você vai cantar, né?

Eu ri enquanto ele já começava a tocar "Crash into Me". Uma música molinha e linda que eu já adorava, e que ficou tão legal na voz dele. Tínhamos nos movido do chão para o banco, eu estava de pernas cruzadas e virada na direção dele. Quando terminou, Isaac deixou o violão no chão e se virou para mim.

_ Você é bonita, sabia disso?

Eu odiava ser elogiada. Mas tinha por Ike algo que era inexplicável. Ao seu lado, eu não tinha dúvidas sobre mim mesma.

_ Se você está falando, eu acredito. - disse sinceramente.

Mas foi aí que a coisa toda aconteceu. Ele apoiou a mão no meu joelho e veio se aproximando, olhando bem nos meus olhos e desviando o olhar para a minha boca eventualmente. O Ike ia me beijar. Por um momento, eu quis beijá-lo também. Ele era bonito, legal, me tratava bem e sua presença acalmava meu coração, bem diferente de Taylor. E nessa hora o erro fatal ocorreu na placa mãe do meu cérebro. Quando Taylor preencheu meus pensamentos, eu soube que seria impossível. Eu adorava o Ike, mas quem eu queria que me beijasse não era ele. Tive medo de ofegar com minha própria realização. Meu estômago deu cambalhotas. Aquilo era absolutamente terrível.

Mas e se eu o beijasse? E se Taylor ficasse com ciúme de mim?

Ike colocou uma das mãos no meu rosto.

Não.

Me inclinei suavemente para trás, e ele recolheu a mão. _Ike, acho melhor não.

Ele pareceu um pouco desconcertado, e eu odiei aquilo. Ainda mais porque outra verdade se projetou na minha frente: eu não podia perdê-lo. O carinho que eu tinha por Isaac era precioso demais para desperdiçar num beijo, que poderia virar um belo de um problema. _ Nós somos amigos!

Eu disse isso da maneira mais doce e honesta que consegui. Ele riu. Graças a Deus, ele riu.

_ Não sei muito bem o que eu estava pensando. Você tem razão.

_ Você jura? Eu poderia te beijar! Eu até queria. Mas...

_ Queria é?

Dei um soco no ombro dele. _ Idiota.

Suspirei e continuei. _ Não quero fazer isso com você. Eu gosto demais de você.

_ Eu entendo. Mas... - ele se levantou e pegou o violão. _ Acho que vou pra casa.

Ike me deu um beijo no rosto e eu o abracei por uns segundos. Antes de entrar em casa, olhei para os lados numa esperança idiota de ver Taylor. Que inferno, cabeça! Mas ele não estava por ali mesmo.

Dentro de mim, eu esperava com todas as forças que Ike tivesse entendido. E, ainda bem, conforme o tempo passou, aquela se mostrou a decisão mais acertada do mundo. Naquela noite, eu ganhei o meu melhor amigo.

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