Príncipe Raiko.PoV.
Olhava para as tulipas recém desabrochadas um tanto quando receoso sobre nossa decisão. Hades estava sob controle e os irmãos Thell estavam presos. Agora, o poder de Hades estava nas nossas mãos. Eu devia estar contente. Eu devia estar feliz porque teríamos uma chance, que as pessoas teriam uma chance. Mas o olhar de Lucian quando os soldados o imobilizaram... Aquilo doeu em mim, embora soubesse que tinha sido o certo.
---Ainda pensando nele?!_Dinus perguntou, enquanto bebericava seu chá.---Lucian não será ferido... Não posso dizer o mesmo de Apolo... Isso vai depender do nosso querido Hades, que não vai ser tão facilmente domado sem incentivos de lealdade.
Encarei o rosto do meu irmão com certo espanto. O modo como falava de Hades era doentio. Era como se ele fosse um corcel selvagem ou um animal silvestre que tivesse acabado de adquirir. Sua obcessão pelo garoto foi a causa disso tudo,embora eu soubesse que era muito mais do que isso.
---Vai torturá-lo?!_perguntei calmo, embora estivesse assustado.---Apolo, eu quero dizer...
Dinus sorriu, diabólico.
---Ainda não._respondeu na hora. ---Se eu o fizer, Hades vai perder a cabeça e tentará alguma coisa mesmo sem a magia... E não queremos isso não é?!
Beberiquei meu chá, sentindo o olhar destruidor de Ren atrás de mim. Ele tinha sido contra os planos de Dinus desde o início. Ren temia Hades. O modo como ele disse, sobre como os seus instintos surtavam perto dele quase como aconteciam diante de uma fera selvagem."Não se brinca com a natureza"Ele adertiu, logo depois de ver o garoto ser arrastado pelos salões reais como um boneco de pano.
---O rei das fadas não vai gostar de saber do seu interesse pelo filho dele._avisei, tirando o sorriso do rosto de Dinus.---Sabe muito bem que não pode tocar no garoto... Se o fizer, seu plano cai por água abaixo... A nossa aliança com os fae será desfeita de vez...
Engoli em seco, sentindo o chá ficar azedo na minha boca quando Dinus ficou com seu olhar assustador. Sua obcessão por controle era algo que sempre me assustou, mas vê-lo desse jeito por uma mera possibilidade era mais assustador ainda.
---Eu concordei com seu plano pelo bem do povo... Mas se eu perceber que está usando isso para satisfazer seus desejos obscuros, não participarei_avisei receoso.
A xícara de Dinus quebrou em sua mão assim que eu disse aquilo. Eu sabia... Era óbvio que ele tinha muitas razões para fazer aquilo e ajudar o povo não era uma delas. Meu irmão era alguém vazio, algo como um grande e escuro buraco sem fundo de onde nem mesmo a luz podia voltar.
---Hades pertence ao meu reino._disse mais calmo.---Darei um jeito nas fadas quando isso acabar... Por enquanto, eu devo me concentrar em contê-lo.
Apertei minha xícara de chá sentindo meu peito apertar.Hades era algo bem superior aos humanos e meu irmão sabia disso.Sua batalha contra o rei das fadas ainda assombrava meus sonhos até hoje. Era difícil acreditar que tinha sido contido, mas não tinha mais volta. Qualquer cooperação amistosa já não era mais possível. Se Hades se livrasse do efeito da pedra, todos estaríamos condenados.
---Espero que saiba o que está fazendo..._avisei.
Um barulho alto e assustador ressou por toda a cidade. Era uma trombeta de guerra. Quando ela soou,eu soube que devia ter ouvido Ren desde o início.Não tínhamos ideia de como usar o nosso trunfo sem acabar com tudo e agora, precisávamos dele mais do que nunca.
Apolo PoV.
Meu desespero aumentava a cada segundo longe deles. Nosso bebê e ele, meu amado ômega desprotegidos tão longe de mim me deixavam louco.Eu precisava sair logo daqui.Guardas passavam comentando coisas cruéis sobre ele ao mesmo tempo em que riam das minhas tentativas desesperadas de sair da prisão. Como meu pai pôde fazer aquilo conosco?!Meu amado ômega passando por aquilo no início da gravidez... Eu queria mata-lo por isso.
O ódio de Hades invadia meu peito de forma tão devastadora que eu mal conseguia respirar.A cada dia que se passava,esse ardor infernal aumentava dentro de mim como uma labareda crescente. Essa sede... Essa intenção asssassina crescendo rápido dentro dele. Eu entendia seus motivos e por isso,eu não interferi. Eu perdi o direito de fazer. Estávamos nessa situação por culpa minha. A minha esperança vã de que meu pai mudasse como eu mudei nublou os meus olhos diante da sua verdadeira natureza.
Para completar a situação confusa e sombria, Franklin estava aqui. Há uma cela de distância e por mais que tentássemos uma comunicação,seu silêncio era implacável. Ele não se movia,não fazia barulho e um sorriso pertubador nunca saia do seu rosto. Algo estava errado. Eu sabia disso desde o momento em que seus olhos gélidos cruzaram com os meus.
Lucian também não falava além do necessário. Ele estava distante, triste como nunca o vi antes. Eu me sentia um lixo. Eu prometi a Hades que jamais o deixaria sozinho. Eu prometi protegê-los. Ele e o nosso filho.Mas aqui estava eu, preso em uma cela enquanto meu ômega enfrentava tudo sozinho. Eu nunca perdoarei meu pai.
De repente, o som de uma trombeta de batalha tremeu tudo ao nosso redor. Os soldados carcereiros se entreolharam confusos. Foi uma trombeta grave, um som forte e perturbador que se alastrou pelo ambiente rápido como um raio. Medo surgiu pelo meu elo com Hades, um medo tão desesperador que caí no chão atordoado.
Demônios.
---Ah finalmente..._ouvi a voz de Franklin dizer.---Parece que a diversão enfim vai começar...
E então tudo aconteceu rápido.Como se a barras de ferro fossem feitas de madeira, Franklin as entortou com as mãos sem esforço e saiu,calmo e sorridente olhando de mim para Lucian com um ar vitorioso. Soldados avançaram na direção dele, mas todos morreram com um estalar de dedos da sua mão. Corpos envoltos em chamas negras. Era isso que eu via por todos os lados. Elas queimavam a pele dos pobres humanos com ferocidade enquanto ele caminhava até mim.Eu soube naquele momento que aquele não era mais o mesmo Franklin.
Me afastei para o fundo da minha cela quando ele se encostou na grades e ficou me encarando com seus olhos negros brilhantes que substituíram os olhos azuis do meu rival.Era um demônio maior.O garoto humano Franklin tinha sido possuído por um demônio poderoso.Lucian me puxou para perto dele quando o ser sorriu.
---Sabe...O garoto que possuí está louco para que eu mate você..._falou, usando a voz de Franklin.---Posso ouvi -lo gritar dentro deste corpo para que eu o faça,mas para sua sorte,não vim aqui para matar e sim para roubar...
---O que é você?!_gritei, o medo indo embora.---Como passou sem ser detectado pela magia de Hades?!Ele devia ter sentido seu....
Eu não terminei de falar. Seja lá o que tivesse possuindo Franklin estava com pressa pois tinha sumido. Minhas forças voltaram de uma vez como se uma onda de adrenalina tivesse me acertado. E então entortei as minhas grades com minha força renovada. Eu precisava achar Hades e protegê-lo do inferno que essa cidade estava prestes a virar.
---Vamos logo....
Lucian me olhou surpreso. Eu sabia o que ele estava pensando. Como eu consegui força com tanta mata-lobo correndo dentro de mim ?!Eu não sabia. Talvez fosse meu instinto de alfa diante da minha família ameaçada. E bem isso não importava agora. Tudo o que fiz foi correr para onde meu amado estava com a certeza de que nada me impediria dessa vez.
Hades.PoV.
Algumas coisas são o que são e você não pode muda-las.Minha mãe me disse isso há muito tempo atrás durante uma das muitas tempestades de neve em Frost. A natureza sabe o que faz, ficava repetindo enquanto fazia seu ensopado especial de batata doce. O mundo era estava triste e precisava da minha ajuda, era o que eu respondia quando criança.
Lembro de quando Franklin se machucava e eu prontamente curava seus dodóis acariciando as suas mechas negras feliz por vê-lo parar de chorar. Também lembrei das lindas flores congeladas no lado Griimson, ou como eu carinhosamente o chamava lago congelado. Ninguém entendia como duravam o inverno todo.
Era eu.
Ia todas as noites, escondindo sob uma capa grossa de pele de cervo, atravessando a floresta escura determinado a impedir que morressem. Eram tão lindas e frágeis. Algumas coisas são como são e você não pode muda-las. A voz de minha mãe soou mais forte na minha cabeça quase como se estivesse do meu lado.
---Sinto sua falta..._falei.
Mas não sabia muito bem para quem. Se era para minha falecida mãe ou para Franklin ou para Apolo. Essa parte do meu peito insistia em doer misturada ao ódio crescendo no meu coração. Foi quando eu percebi que não era de nenhum deles. Eu sentia falta de quem eu era. Do Hades que vivia pela floresta livre, atravessando a neve rápido. Sentia falta de ser eu mesmo.
Eu estava confuso sobre quem eu sou agora,quem eu devo ser e quem eu era. Tinha medo de me tornar cruel mas sabia que essa parte de mim era necessária. Tinha medo de perder as coisas que eu costumava amar mas sabia que não podia me apegar só a elas.Acariciei meu estômago, onde um lindo garotinho ou mocinha crescia e sorri, curioso.
---Você é tão sortudo..._falei, sentindo meu peito esquentar.---Protegido aí dentro sem fazer nada... É um bebê muito sortudo... Só não espere muito de mim... Sou péssimo em demonstrar emoções.
Quando o som das trombetas reverberou por toda a cidade e pelas paredes do meu quarto, senti uma onda de puro medo se formar ao meu redor.Isso não podia ser possível. Não tinha como, não tão rápido assim, não dessa forma. Saí da varana, corri para dentro do quarto e assim que me aproximei da porta, o barulho de gritos de dor e de coisas quebrando me faz recuar.
Isso era impossível.
Minhas asas tremularam, alertas.
Algo estava vindo.
A porta do quarto explodiu e um ser humanóide com cauda serpente entrou acompanhado de criaturas semelhantes a cachorros. Seu sorriso vingativo deixou claro que sua visita não era uma conversa informal. Medo tomou conta de mim rápido,eu estava despreparado dessa vez. Koh, vivo e forte. O assassino de Kato. O maldito demônio das almas perdidas estava diante de mim vibrando de raiva.
---Nos encontramos de novo garotinho_.sibilou, acariciando suas criaturas como se fossem animais de estimação.---Que tal uma melhor de três?!
Então os monstros atacaram e antes que eu percebesse já estava em pleno ar voando para bem longe deles. Foi bem involuntário,como respirar ou como as batidas do meu coração. As asas sentiam o ar com tanta precisão que foi como se eu tivesse feito isso a vida toda.Olhei para trás e entrei em pânico ao perceber que as criaturas criaram asas e me perseguiram pelo céu da capital.E essa nem era a pior parte.
Droga.
Em frente as muralhas, um grande exército negro e vermelho aguardava ordens do seu general.Repousando no chão,uma enorme serpente de fogo me observava atentamente e quando suas grandes asas escamosas se abriram e ele veio em ao meu encalço a frieza que ainda me restava sumiu sendo substituída por completo desespero.
Era um dragão.
O maior dragão que eu já tinha visto em toda a minha vida.Era colossal e negro e como um morcego voava na minha direção rápido e preciso. Mirei para o chão,onde centenas de pessoas minúsculas corriam em todas as direções em busca de abrigo. Senti o vento batendo forte no meu rosto enquanto me impulsionava para o chão.
De repente,minha pele esquentou e uma enorme labareda de fogo surgiu do meu lado chamuscando algumas penas da minha asa esquerda. O fogo me ultrapassou atingindo algumas das casas que explodiram em chamas. Desviei para cima chamando Apolo de todas as formas pela nossa ligação, sem sucesso. Eu via as nuvens acima de mim,vi o infinito dos céu azul e ouvi os rosnados da enorme criatura ao meu encalço.
Que falta de sorte...
Os pequenos demônios voadores de Koh me alcançaram mas consegui me livrar deles usando força bruta. Minhas garras estavam totalmente expostas.Me sentia um animalzinho assustado tentando escapar. Outra rajada de fogo,mas dessa consegui sair ileso.O dragão estava quase me alcançado.Era muito rápido.Foi então que avistei uma grande construção de pedra.
Um armazém de grãos recém construído. Se eu pudesse atrair o dragão até lá,poderia fazê-lo se chocar contra o armazém.Se eu tivesse sorte,o impacto o deixaria tonto tempo o suficiente para eu sumir de vista.Outra rajada de fogo me atingiu em cheio.E essa queimou parte do meu braço,me fazendo gritar de dor.Me impulsonei para frente,aumentando a velocidade de vôo para o máximo.
O armazém estava a minha frente,só mais um pouco.E foi então que o dragão me alcançou.O suficiente para usar o focinho e me empurrar com força para o chão.Foi como se uma rocha tivesse se chocado contra mim e mesmo assim,diante da dor insuportável e da sensação de pânico,eu sorri quando vi a enorme sombra negra rolando pelo chão como um lagarto que caiu da parede.
O armazém estava destruído.
O dragão caído no chão.
E meu corpo com tanta dor que parecia explodir.Espatifado no chão depois uma milagrosa aterrissagem, toquei meu estômago aliviado. Ele ainda estava lá. Eu ainda podia ouvir seu pequeno coração batendo rápido.Olhei para onde o dragão caiu e arregalei meus olhos estático diante da minha visão..A fera estava....Ela estava morta,por um milagre. Um dos alicerces do armazém estocou seu couro duro como se fosse uma lança atravessando seu peito escamoso por inteiro..
Hades!!.A voz de Apolo ressoou forte como se ele tivesse gritado na minha orelha.Você está bem?!Pelo amor dos deuses..Hades..Por favor me responda..Sua voz chorosa e cheia de dor estraçalhava meu peito. Me levantei do chão totalmente acabado com uma queimadura horrível na mão e vários cortes pelo corpo.Meu cabelo estava chasmuscado e algumas das minhas penas tinham pequenas faíscas como se fossem velas.
Minha perna doía muito.Mas fora tudo isso,eu estava bem e o mais importante,o bebê também. Olhei ao meu redor e quase vomitei com o qu vi.Sangue em todo lugar,fogo nos telhados e corpos estilhaçados por todos os lados..Pernas e braços caídos pelo chão de pedra destruído.Cabeças de pessoas esmagadas pela carcaça do dragão. Eu estou bem. respondi, sentindo meu peito ficar mais leve na hora.O nosso pestinha também.
Comecei a andar pelo massacre me forçando a não olhar para o que eu causei.Eu estava na avenida principal perto do mercado das frutas ou pelo menos o que sobrou dela.Ouvi choros e lamentos por todos os lados mas me recusei a olhar. Eu não podia. Eu não aguentaria.Escutei pedidos de ajuda e gritos de agonia.Era como andar pelo inferno.
Os demônios estavam do lado de fora e o som das trombetas ainda tocava, o pior ainda nem tinha começado.Olhei para o castelo real sentindo meu corpo tremer de ódio .Apolo..chamei,Não se preocupe...Estou indo pegar você. A presença da sua mente surgiu mais depressa que antes .Eu não estou no calabouço...Eu consegui escapar.
Parei de andar,surpreso e contente por ouvir aquilo como nunca fiquei contente na vida. Apolo e Lucian estavam bem.Eu só precisava pega-los e fugir para longe. Eu vi você.ele disse, sua presença transbordando admiração.Todos viram você matando o dragão.Revirei os olhos e continuei me arrastando como pude por causa da dor.
Fiquei tonto e me apoiei na parede de uma taberna onde uma placa escrito Peitos da Molly estava pendurada em cima da porta.Que ótimo bebê,pensei me sentando no chão que cheirava a cerveja e a vômito,de fato uma ótima hora para você mostrar do que é capaz.Eu estava parado na frente de um bordel sentindo ânsia de vômito depois de ser perseguido por um dragão enquanto um exército de demônios esperava na porta da cidade.
Mas isso não importa para você não é bebê...Não...Quem liga para o que seu pai está passando?!Vamos causar ânsia nele!!É divertido....Revirei os olhos de novo.Eu tinha que seguir em frente.Eu tinha que continuar.Tentei me levantar mas minha perna não deixou.Eu sei onde você está. Apolo falou como se espionasse pelos meus olhos.Conheço esse lugar.
É claro que ele conhece,pensei,sentido meu corpo inteiro tremer de dor e minha mão queimada arder como o inferno.Me encostei atrás de uns barris de cerveja velhos e usados num beco apertado proximo do bordel e coloquei a mão na minha barriga.Não seja como seu pai,pedi ao bebê,cansado.
Não mesmo.