Me levantei da cadeira assim que vi o herói na minha frente. E lá estava ele mais uma vez. Ned olhava para o garoto mascarado de boca aberta ao meu lado.
-Parece que você está me seguindo – eu disse sorrindo.
-Acho que é o contrário – ele respondeu – Já que você anda pesquisando e escrevendo sobre mim.
Fiquei quieta ainda sorrindo. Eu não sabia o que responder. Porque ele estava completamente certo.
-Você é o homem aranha! – Ned finalmente disse – Pode jogar uma teia? Como faz isso? Você nasceu assim? Quem te deu esse uniforme? Quantos anos você tem?
-Ned! – eu disse meio ríspida.
Tínhamos que ir devagar para conseguir as informações.
Percebi que o herói estava rindo na nossa frente.
-Olha – ele disse – Eu não vejo problema em escreverem sobre mim. Afinal, vários jornais estão fazendo isso. Só vim pedir para tomarem cuidado.
-Com o que? – eu perguntei meio confusa.
-Vocês não são profissionais. Você quase se machucou no meio daquele prédio. – ele disse e eu revirei os olhos.
Desde quando um super herói teria tempo para vir até uma escola pedir para que duas pessoas tomassem cuidado?
-Eu também quero pedir um favor – ele completou.
Olhei para ele esperando ele continuar.
-Preciso que escrevam algo sobre mim – ele disse devagar – As pessoas não estão me levando a sério. Não quero ser apenas o herói da vizinhança.
-Mas você é o herói da vizinhança – Ned disse baixo.
-Mas eu não quero ser apenas isso! Escrevam sobre como eu roubei o escudo do capitão américa!
-Você roubou o escudo do capitão américa? – Ned gritou com a boca aberta.
-Sim! Escrevam sobre isso! Irão me ajudar!
-Pode nos dar mais umas informações para o jornal? – Ned perguntou com uma caneta e um caderno, ignorando totalmente o que ele tinha dito há uns segundos atrás.
-Claro – o garoto respondeu.
-Quem é você? – Ned perguntou sorrindo.
-Ned! – eu falei um pouco rápida.
-Espero que me ajudem – o garoto de azul e vermelho disse e logo saiu correndo para fora do jornal.
Eu e Ned ficamos fazendo o que o homem aranha pediu para fazermos. Escrevemos sobre como ele é um herói incrível e merece ser reconhecido por tudo isso. No final, escrevemos sobre o escudo do capitão américa e garantimos que as informações tinham sido confirmadas pelo próprio herói.
Estava tudo ficando quase pronto quando ouvi uma batida na porta.
-Pode entrar – eu disse desviando o olhar do computador.
Era Peter.
-Oi gente – ele disse meio tímido.
-Oi Peter – Ned disse – Como foi o estágio com o Stark?
-Você sabe que eu não trabalho com ele – Peter disse meio desconfortável – Trabalho para ele. É diferente.
Ainda me sentia incomodada em Peter nunca ter dito isso para mim. E ele pareceu perceber.
-Queria pedir desculpas por não ajudar vocês hoje – ele disse – Por isso eu consegui isso.
Em suas mãos ele segurava um papel que eu identifiquei sendo uma foto. Peguei e observei. Era uma foto do homem aranha em perfeita qualidade. Parecia até que ele tinha parado só para posar para a foto. Abri a boca surpresa. Era uma foto profissional. A melhor do herói até agora. Peter era muito bom mesmo nisso.
-Peter – eu disse devagar – Isso aqui está fantástico! Como conseguiu?
-Acho que ele estava indo para as indústrias Stark. Consegui tirar a foto bem rápido.
-Vamos colocar na matéria! – Ned disse pegando a foto e levando para um canto.
Olhei no relógio. Já eram nove da noite.
-Gente, eu preciso ir – eu disse desligando meu computador e pegando minha mochila – Já está tarde. Ned, podemos terminar isso amanhã e mandamos para a impressão ainda essa semana.
-Pode deixar – Ned disse – Vou só terminar de anexar a foto do Peter.
-Tudo bem – eu disse e fiquei olhando Peter.
Ele me encarava e nem parecia perceber isso.
-Peter – eu disse chamando sua atenção – Será que teria como você me acompanhar até em casa? Já está tarde...
Ele ficou me encarando por mais um tempo e depois sorriu.
-Claro – ele disse pegando suas coisas e abrindo a porta do jornal para eu passar.
Os corredores da escola estavam totalmente vazios. Era tão estranho ver aquilo daquele jeito.
Saímos da escola em completo silencio. Estava ficando constrangedor. Bom, pelo menos para mim. Eu acompanhava meus pés andando um de cada vez. Estavam tão interessantes...
-Obrigada por me acompanhar – eu disse quebrando o silencio – Eu não queria voltar sozinha...
-Eu entendo. – ele disse – Não precisa me explicar. Pode me chamar sempre que quiser.
Sorri com aquilo. Era bom saber que podia confiar nele. Que ele me entendia.
-Foi bem legal o que você fez sobre a foto – eu disse – Ela ficou incrível. Você podia ter esperado para entregar amanhã. Deve estar cansado.
-Eu sabia que Ned iria querer hoje mesmo – ele disse rindo – Não foi nenhum sacrifício.
-Com o que você trabalha lá?
-Eu sou tipo de um estagiário. Faço o que mandam. Nada de mais.
Percebi que ele não queria falar muito sobre aquilo.
Uma parte de mim queria começar uma briga por ele não ter me contato aquilo antes. Mas eu não podia. Ele estava sendo muito legal comigo. Eu tinha que ser amiga dele.
-Que legal – eu disse – Você conheceu o Tony Stark?
-Sim – ele respondeu concordando com a cabeça.
-Ele é meu segundo herói favorito.
-E qual seria o primeiro?
-Homem aranha, obvio.
Peter sorriu ao meu lado.
-Ele te salvou né – ele disse rindo – Eu também o adoraria. Na verdade, eu o adoro por ter salvo você.
-Obrigada – eu disse sorrindo, mas parei de falar. Ficava com vergonha de admitir que admirava um cara que nunca tinha visto nem o rosto e tinha falado três vezes.
Continuamos a andar até minha casa. Eu estava com dó de fazer Peter me acompanhar, já que a casa dele era um pouco longe da minha. Mas Peter parecia estar muito tranquilo em relação aquilo.
Ele andava sorrindo. E eu achava aquilo tão fofo nele.
-Sabe Lily – ele disse devagar olhando para os próprios pés. – O que você acha de sairmos um dia desses?
Parei de andar naquele instante. A última coisa que eu imaginaria ouvir da boca de Peter naquele momento eram aquelas palavras.
Ele deve estar apenas querendo se divertir com sua amiga.
Deve estar com dó de mim.
Peter me olhava envergonhado. Seu olhar ora cruzava com o meu, ora desviava para suas mãos.
-É claro – eu disse sorrindo.
Meu coração batia rápido e eu não queria demonstrar nervosismo.
Peter sorriu na minha frente. Continuamos a andar ainda em silencio. Mas dessa vez, eu andava sorrindo, igual a ele.
-Entregue sã e salva – ele disse assim que cruzamos meu apartamento.
-Como sabe que eu moro nesse prédio? – eu perguntei rindo.
Peter arregalou os olhos.
-É que você parou – ele disse gaguejando.
-Eu to brincando – continuei rindo – Sei que você não é um stalker.
Peter ainda estava envergonhado.
-Obrigada por me acompanhar – eu disse sorrindo – De coração.
-Sempre que precisar – ele disse e se aproximou de mim, me dando um beijo na bochecha.
Senti mil borboletas em meu estomago.
-Até amanhã – eu disse entrando em meu prédio.
Depois de alguns dias o jornal foi lançado oficialmente. Ned era muito rápido com tudo e eu ficava bem feliz com isso. Tivemos que imprimir praticamente o dobro de jornais porque a demanda era muito alta.
As pessoas da escola corriam para pegar o delas e eu sorria com aquilo. A matéria do homem aranha estava fantástica e todo mundo perguntava como que tínhamos contato com ele.
-É que ele é nosso amigo agora – Ned disse para todas as meninas se exibindo.
Ri com aquilo.
Senti alguém me encarar e, do outro lado do corredor, Peter me olhava. Sorri para ele e ele logo retribuiu o sorriso.
Comecei a voltar para casa com o sentimento de dever cumprido. O jornal estava indo melhor do que eu imaginava. Eu não sabia quando teria tempo para manter ele desse jeito até o final do semestre, mas já era um bom começo.
Entrei pela porta do prédio e peguei o elevador, indo até meu andar.
Porém antes mesmo que eu pudesse entrar no meu apartamento, senti um vulto ao meu lado, me fazendo gritar com o susto.
Era um homem. Ele era mais alto e mais forte do que eu. Tinha uma de suas mãos no bolso e a outra ele segurou o meu braço firmemente.
-Fique quieta – ele disse antes que eu gritasse mais uma vez pedindo socorro.
Como ele tinha conseguido entrar dentro do prédio sem ninguém ver?
Senti meu coração bater muito rápido e minha respiração acelerar.
-Pode levar o meu dinheiro – eu disse com a voz tremula.
-Não quero dinheiro – ele disse sorrindo – Você vai me ajudar.
Olhei para ele sem entender. Percorri meu olhar pelo corredor, procurando por ajuda ou um lugar para fugir. Ele pareceu perceber, então segurou meu braço com mais força e se aproximou mais de mim. Fechei os olhos com força.
-Você vai me contar a identidade do homem aranha – ele sussurrou.
-E-eu não sei – eu disse rápido.
-Sabe sim – ele disse – Conversou com ele para o jornal, não?
-Ele estava com a mascara
-Pois então você vai descobrir quem ele é. Eu conheço você, sei onde mora... Seja boazinha.
Respirei fundo tentando controlar o choro.
-Por favor – eu implorei – Me solta.
Ele me soltou com calma.
-Faça o que eu pedi – ele disse me olhando e com isso começou a andar para fora do prédio.
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