A Menina Dos Winchester

由 valenteautoria

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Naquele momento eu soube que não podia ir embora. Não podia simplesmente deixar os dois que me encaravam com... 更多

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Apenas Uma Noite
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Sobre O Próximo Livro

O Final

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由 valenteautoria

HUNTERSSSS 😱😱😱

Chegou o dia, socorro😭

Este é, oficialmente, o último capítulo da fanfic "A menina dos Winchesters"🎉🎉

Mas, nada temam... Enquanto eu estava escrevendo e ignorando os trilhões de trabalhos da faculdade, sorry not sorry, eu me dei conta de que sim... Vai ter que ter segunda temporada heheheh no final cês vão ver o porquê.

Deixa eu fazer um momento meloso então e aproveitar para agradecer a todos vocês por cada visualização, cada estrelinha, cada COMENTÁRIO que meu Deus, vocês me fizeram feliz esse ano kkk souberam me apoiar para que eu continuasse a escrever, soooo, muito obrigada mesmo ♥️♥️

Por enquanto eu vou botar minhas ideias no papel e planejar bem a possibilidade de uma continuação antes de mergulhar de cabeça, então, sinceramente, não pretendo começar a escrever a parte dois agora. Porémmmm já tenho outro livro no gatilho dos meus rascunhos, bem planejadinho, e pronto pra ser conhecido.

Não é fanfiction. É um original, com personagens realmente criados por mim. Personagens que eu AMO E MORRO POR ELES VELHO e acho que talvez vocês vão amar também, principalmente porque são fãs de supernatural. Nele tem vibe de ficção e monstros também, além de romances, dramas e tretas que vivemos para apreciar.

Logo, se você gostou desse livro e da minha escrita, provavelmente vai gostar também do próximo, quem sabe? Então fecha comigo. Se não me segue ainda aperta o botãozin lá pra receber a notificação de quando o próximo livro estrear. Vai ser logo, logo, juro.

Ah, vou deixar a sinopse aqui mesmo pra cês darem uma conferida, ok? É só terminar de ler esse capítulo e passar pro próximo que já está lá, espero que gostem.😊😊😊

Acho que é só

AI MDS 😂😂😂😂😂😂

PS - Esse capítulo ficou um pouco mais longo que o normal, mas não me matem porque é o último, paz e amor. E ah! Não esqueçam de conferir a música que eu fixei no texto. Pra mim tem tudo a ver com a Nina e o Dean, além de ser MARAVILHOSA

Boa leitura meus lindões ♥️♥️

**********

Então era isso.

Era assim que ia acabar.

Todo o sofrimento que causamos e passamos, por tantos anos... Todas as pessoas que se feriram, que não conseguimos salvar... Todas as coisas sem perdão que fizemos e todas as vezes em que perdemos uns aos outros e a nós mesmos... Tudo ia se resumir naquele dia. Marcado para sempre na minha memória.

Eu gostaria de ter recebido um pequeno aviso antes de acontecer.

Qualquer que fosse, de qualquer fonte, de qualquer jeito que me acordasse para a realidade.

Isso era assunto de todo mundo, afinal; não se tratava só de nós dois, por mais que eu odiasse admitir... Mas fomos uma grande bola de neve no caminho de todos e isso era óbvio demais até para mim; porque naquele dia o curso de toda a dinâmica que eu conhecia, em todos os sentidos, virou minha vida de cabeça para baixo.

E tudo o que eu consegui pensar quando chegou ao fim... Quando tudo literalmente chegou ao fim de uma só vez diante dos meus olhos foi no quanto eu me enganei... No quanto eu só podia rezar enquanto arrumava minhas malas sozinho em meu quarto, provavelmente pela última vez na vida, apenas completando repetidas vezes, como o devoto que eu não era: "Deus, você bem que podia ter impedido isso de acontecer... Bem que podia ter impedido tudo".

Porque eu nunca achei que esse momento chegaria tão depressa.

Certamente não depois que me transformei em humano de novo.

Meu relacionamento com a Nina sempre foi estranho, é verdade. Havia dias em que eu a odiava com tanta força que mal podia ficar debaixo do mesmo teto que ela; e no dia seguinte, no entanto, lá estava eu de joelhos aos seus pés de novo. Nunca achei que passaria por qualquer desequilíbrio assim mais uma vez, não depois de ter me libertado da Marca; não depois de estar convicto de que eu definitivamente tinha sentimentos muito fortes em relação à ela.

Achei que ficaríamos bem agora.

Mas quando dei por mim já estava no mesmo dilema.

Quando dei por mim já me peguei pensando: "Deus, como eu odeio essa garota"... E isso poucas horas depois de eu ter feito uma porcaria de serenata... De ter chorado junto com ela no bosque que, sinceramente, a essa altura, eu já podia chamar de nosso. Talvez fosse porque amor e ódio estivessem sempre entrelaçados. Demônios envolvidos ou não.

Ou... Talvez fosse pura e simplesmente porque ela era especialista em me provocar.

Estava mais inclinado a acreditar na segunda opção.

O jeito que ela sorria para ele; a forma como movia os olhos lentamente ao encarar seu rosto e como de alguma forma sempre parecia estar perto demais... Era tudo de propósito. Nina estava a fim de me desafiar; queria brigar para resolver nossos problemas, como eu costumava fazer.

E por Deus, era isso mesmo o que ela ia conseguir.

Tudo começou quando estávamos nós quatro na cozinha, naquela noite.

Depois que todo mundo se deu conta de que a nossa pequena viagem ao bosque deu certo e que ela finalmente tinha voltado a falar, Sam e Castiel não conseguiam se conter. Por boas horas tudo o que se seguiu foram abraços, choro, e conversas cuidadosas que não envolvessem as palavras "tortura" e "Michael".

Não saiam de cima dela.

Como se só agora ela tivesse realmente voltado de seu desaparecimento de mais de dois anos. O que, pensando bem, era verdade.

Sam tinha feito o jantar e estava sentado à sua esquerda. Já Cas não deixava a sua direita, como um segurança. Todos sorriam e falavam levemente na minha frente como se não houvesse nenhuma vítima de coisas impensáveis na mesa; como se Nina ainda não estivesse secretamente pensando em morrer ou deixar de ser o Oráculo, sem meios termos. Quando nem uma nem outra opção era sequer remotamente aceitável para mim.

Ela mantinha o personagem. Os acompanhava como se tudo estivesse bem; entrava na conversa, fingindo um interesse que eu sabia ser inexistente. Só porque ela sabia que isso me irritava; me tirava do sério qualquer tipo de rodeio para chegar na questão principal; ainda mais quando a questão principal era a vida dela. Eu devia ter dito algo. Devia ter conversado com Sam e Cas sobre o que aconteceu na floresta e talvez assim eles conseguissem convencê-la do que eu não consegui.

Mas não fiz isso.

E esse foi o maior erro que eu poderia ter cometido.

Agora tudo o que eu ganhava em troca era uma pequena demonstração do quando ela podia me enlouquecer com quase nada de esforço.

"É ótimo te ter de volta, Nina" - Cas sorriu do seu lado, satisfeito por vê-la comendo normalmente, sem abandonar o prato para correr e vomitar no banheiro. Em resposta ela ergueu os olhos para ele e assentiu. Na hora eu soube que o que Nina queria mesmo dizer era que ela não estava de volta coisa nenhuma.

Mas, claro, em vez de apontar isso ela só concordou em silêncio, dando esperanças de uma coisa que de real não tinha nada... Quando eu tinha certeza absoluta de que assim que virássemos as costas mais uma vez ela tentaria de novo.

Travei a mandíbula.

"Acabou mesmo?" - Sam perguntou com um tom de desconfiança, assistindo ela mexer na comida do prato como se fosse a coisa mais interessante do mundo; o olhar dela parou nele por uns três segundos e por algum motivo todos fizeram silêncio; paramos enquanto ela estudava a sua pergunta e a sua expressão, com cuidado para ter certeza de que ela estava mesmo sendo convincente o suficiente.

"Está mesmo tudo bem agora?" - Ele insistiu ao ver ela se calar, quase como se a estivesse acusando de algo. Aí eu soube que não, ela não estava sendo convincente o suficiente para ele também.

Pelo jeito meu irmão a conhecia bem mais do que eu tinha imaginado.

"Vai ficar" - Ela respondeu sorrindo o sorriso mais triste que eu já vi na vida e pôs sua mão sobre a dele, em cima da mesa; não demorou muito e ele fez o esperado: Fechou a mão em volta da dela com tanta força que parecia estar tentando impedir que ela caísse de um precipício.

Mordi o lábio.

Ele não entendeu o que ela quis dizer com aquilo, mas eu entendi.

Por isso, ver ele se dando por satisfeito com a frase e deixando um beijo demorado demais na têmpora dela meio que me tirou do sério; o que só piorou quando ela respondeu o gesto descansando seu queixo no ombro dele por alguns segundos e encarando sua nuca, exatamente como as pessoas fazem quando querem demonstrar afeto em público sem chamar muita atenção.

Exatamente como ela nunca, nenhuma vez na vida, fez na minha frente.

Eu não tinha expectativas infantis em relação à isso... Tudo estava muito claro para mim - Sabia bem como eles se tratavam quando eu não estava por perto; sabia que eram íntimos nesse ponto, talvez até mais que eu e ela. Por isso mesmo ela nunca me deixou ver. Nem mesmo quando eu era um demônio, nem mesmo quando eu a ameacei, e fiz outras coisas horríveis; ela nunca tocou o Sam daquele jeito na minha frente por questão de respeito.

Mas acho que isso tinha mudado.

E eu só fiz confirmar minha teoria quando ela se afastou dele e imediatamente me encarou nos olhos, na maior cara lavada.

Franzi a testa na mesma hora, encarando-a com acusação.

Nem Sam nem Cas notaram o que estava acontecendo.

E continuaram sem notar, mesmo que nenhum de nós dois estivesse disposto a quebrar o contato visual pelo que pareceu mais de um minuto... E a cada segundo que passava minha raiva só aumentava cada vez mais, como um copo prestes a transbordar.

Eu podia jurar - Se eu ainda fosse demônio alguém naquela mesa já estaria sangrando a essa altura.

Ela ergueu o copo de suco de repente e deu um gole, ainda me olhando, enquanto Sam dizia alguma coisa distraidamente para Cas.

Quando dei por mim ela mesma respondeu aos dois, porque ao contrário de mim, realmente prestava atenção na conversa - "Ele vai me ajudar com isso" - Disse, sem deixar de me encarar.

Tomei o que só podia ser chamado de choque e olhei para os três imediatamente, sem entender, perguntando um pouco alto demais - "Quem vai te ajudar com o quê?".

"Sam" - Nina respondeu na lata, levantando uma sobrancelha - "Ele vai me ajudar a me recuperar".

"Como é que é?" - Larguei o garfo no prato instantaneamente.

E meu irmão logo tomou a palavra, estranhando o meu tom de voz - "Que foi? Não estava ouvindo? A gente estava comentando sobre a perda de peso da Nina, e como ela não fica no sol há sei lá quanto tempo... Vamos trabalhar para botar a saúde dela nos trilhos o mais rápido possível... Para ela ficar nova em folha de novo".

Desviei minha atenção dele e fuzilei Nina com os olhos.

Eu não sabia como... Mas eu ter pensado que Sam ia ajudar ela com bem mais coisas do que só com sua saúde foi coisa dela. Tudo sempre era coisa dela.

"Qual é o seu problema, Dean?" - Cas perguntou ao ver minha reação intensa demais para uma conversa que em tese era a mais leve de todas. Para mim não. Para mim aquilo era um inferno de situação e meu rosto não escondia isso.

Não o respondi.

Grunhi com desdém e afastei meu prato, levantando da mesa na mesma hora para deixá-los na cozinha antes que eu falasse demais. E fizesse demais... Mas, como se não já bastasse, escutei Nina levantando também e vindo atrás de mim.

"Qual é o problema deles dois?" - Cas corrigiu a frase enquanto saíamos da cozinha como se estívessemos marchando para a guerra.

"Eu nem pergunto mais" - Ouvi Sam respondendo distraidamente ao longe, enquanto eu já dava passos largos no corredor para que ela ficasse para trás; e deu certo; acabei chegando no meu quarto bem antes que ela. Tempo o suficiente para andar de um lado para outro, atirar um livro contra a minha cama com toda a força e me sentar, sem fôlego, com as mãos trêmulas sobre o rosto.

Ela entrou de mansinho logo depois.

E não disse nada. Não fez nada. Nada além de ficar perto da porta, parada, me encarando enquanto eu perdia todo o juízo.

Lutei por uns bons dois minutos para não dizer nada. Mas como já era de se esperar... Falhei completamente.

Íamos brigar.

"O que você quer?!" - Falei alto, mas sem gritar, tirando as mãos do rosto para olhá-la - "O que você quer de mim?!".

"Achei que essa parte já estivesse clara" - Respondeu simplesmente, na maior calma possível.

"Eu também fui bastante claro, Nina... Não vai acontecer. Esquece!".

Ela abaixou a cabeça e assentiu devagar, soltando um meio sorriso fraco - "De todas as coisas impossíveis... Nunca achei que esse dia chegaria... Eu, praticamente implorando para você tirar minha virgindade... E você dizendo não".

Fiz silêncio.

"Achei que me quisesse" - Completou.

E eu me coloquei de pé na mesma hora - "Não vem com essa" - Respondi, irritado - "Você sabe muito bem que não tem nada que eu queira mais, e é por isso mesmo que eu estou enlouquecendo aqui!".

"Não precisa enlouquecer, Dean... Você pode resolver tudo hoje mesmo" - Ela de repente começou a vir lentamente na minha direção; de imediato estendi minha mão na frente do corpo, num sinal de "pare"; com um medo real do que eu seria capaz de fazer se ela encostasse em mim.

Nina parou no meio do caminho e só então eu respondi - "Se não o que? Hein? Vai correndo pedir a ajuda do Sam para ele solucionar o seu "problema"?.

"Não".

"Não foi o que pareceu".

"Você está imaginando coisas".

"E a culpa é de quem?!" - Berrei.

Agora era oficial. Sam e Cas já sabiam que tinha coisa errada e estávamos tendo outra briga.

Respirei fundo. Fechei os olhos e dei um passo para trás, tentando pôr a cabeça no lugar.

"Eu nunca pediria isso ao Sam por vários motivos" - Ela continuou assim que eu me acalmei - "E um deles é que a resposta seria sempre, definitivamente, sem meios termos, um grande não".

Fiz uma careta - "Então se achasse que ele aceitaria...".

"Ele nunca aceitaria, Dean" - Cortou-me - "Ele nunca faria isso comigo".

Assenti.

Eu tinha pensado que nada me magoaria mais do que ouvir ela dizer que o relacionamento dos dois poderia chegar a esse ponto, mas estava errado. Ouvir ela dizer que o nosso é que chegaria me magoou muito mais. Ela realmente acahava que eu, então, faria sim isso com ela. Que eu seria capaz de desfazer tudo o que ela era e que podia ser.

"E porque acha que comigo é diferente?" - Perguntei, meio que querendo sentir ainda mais raiva - "Porque acha que eu faria isso com você?".

"Porque você é meu".

Fechei meus punhos e abaixei a cabeça, de repente me segurando muito para não fazer um escândalo. Tudo o que ela dizia, cada palavra, só piorava as coisas ainda mais.

"Não é justo" - Sussurrei, quase que para mim mesmo; e então ergui a cabeça para encará-la com o rosto destruído - "Você sabe muito bem o quanto eu esperei para te ouvir dizer isso... E agora você... Usa isso contra mim? Usa a nossa ligação como desculpa para arruinar tudo? Passou dos limites, Nina. Não... É... Justo".

De alguma forma o que eu disse fez ela perder completamente a compostura; de um segundo para o outro toda a calma desapareceu e seu rosto se quebrou. Quem tinha se magoado agora era ela - "Quer falar comigo sobre justiça?" - Perguntou - "Acha que eu sei o que é isso? Que em algum momento, por um segundo que fosse, durante toda a minha vida, eu experimentei através de uma pessoa sequer o que era justo?!".

Abaixei a cabeça.

"Eu sempre fui o sacrifício, Dean. Sempre fui o saco de pancada, desde criança, me diz que justiça tem nisso?! Os escolhidos não podem se dar ao direito de cansar? Bem, dane-se! Porque eu cansei e não vou voltar atrás. Vou tomar uma decisão por mim mesma pelo menos uma vez na vida e eu quero isso com você! Eu quero tudo isso com você, não entende isso?".

"Você vai se arrepender" - Respondi com toda a convicção, encarando-a firmemente - "Vai se arrepender e botar toda a culpa em mim, e quer saber? Você vai ter razão" - Coloquei-me de pé e fui na direção dela, para segurar seu rosto e obrigá-la a prestar o máximo de atenção no que eu dizia - "Eu vou ser o culpado de tudo Nina, porque ao contrário de você... Eu estou no controle. Eu sou completamente humano de novo e não vejo mais nada na minha frente a não ser você. Sempre vai ser você".

"Dean..".

"Mas você não tem controle nenhum" - Cortei-a - "Te machucaram, te feriram, tiraram o seu propósito de jeitos que só eu sei. Não está... Pensando direito, amor. Então para. Para antes que eu faça essa besteira e arruine a sua vida".

De imediato Nina tirou minhas mãos do rosto dela e deu um passo para trás, segurando o choro.

"Minha vida já está arruinada" - Respondeu e se calou; quando eu sabia que o que ela queria dizer mesmo era que eu podia consertar. Que eu podia consertar tudo.

Foi quando eu vi que nada daquilo a tinha convencido.

"Você não vai dormir no meu quarto hoje à noite" - Decretei de supetão.

"O quê?".

"Não vamos mais dormir juntos até que você desista dessa ideia".

"Sabe muito bem que eu não consigo dormir sem...".

"Não, eu que não consigo Nina! Não confio em você e não confio em mim, então por favor... Sai do meu quarto".

Ela parou, sem acreditar que eu estava mesmo dizendo aquilo.

Aproveitei sua hesitação para completar.

"Podemos conversar mais amanhã. E por conversar eu quero dizer te ajudar a pôr a cabeça no lugar... Ou não... Ou você pode ir até o Sam e resolver isso do seu jeito, porque ao contrário do que você acredita... Ele faria isso sim. Aquele cara faria todas as merdas do mundo se acreditasse que está te ajudando, mas eu não. Porque eu não estou ligado a você para fazer as suas vontades e sim te proteger. Inclusive de você mesma".

Ela endureceu o rosto, com os olhos petrificados em mim.

Vi o momento exato em que ela acreditou - Em que soube com toda a certeza que eu realmente não faria aquilo. Então no final quem ficou sem acreditar fui eu; eu é que não podia crer que tinha sido convincente o suficiente para fazer a Nina recuar, quando na verdade... Tive que me segurar e dar tudo de mim para não agarrar o braço dela antes que passasse pela minha porta.

Tive que me sentar e cobrir minha cabeça para que meu cérebro não derretesse.

Porque Deus, eu queria aquilo.

E quanto mais eu pensava, mais os motivos que me impediam de ir frente ficavam nebulosos, enquanto os que me diziam para mandar o mundo se explodir e ficar com Nina ficavam cada vez mais fortes.

"Ela acreditou mesmo em mim" - Repeti para mim mesmo, perdendo o controle, sacudindo minhas mãos trêmulas.

Talvez ela fosse realmente fazer o que eu sugeri; talvez fosse mesmo conversar com Sam sobre isso... E só o pensamento me dava calafrios. Porque uma coisa era certa - Ela não queria mais ser o Oráculo. E ia fazer de tudo ao seu alcance para conseguir deixar de ser.

Inclusive acabar com nós dois no processo.

Eu lembro de pensar que eu podia passar por aquilo - Podia viver a vida inteira ao lado dela sem passar dos limites; porque eram exatamente esses limites que a faziam ser quem era. Seria tortura, mas eu seria mesmo capaz. Por ela. Só que isso era antes de saber que Nina também me queria desse jeito; antes de saber que ela não diria "não".

Antes de saber que essa era a última esperança dela de que tudo podia ficar bem.

E isso tudo com ela dormindo no quarto em frente ao meu.

Aquela, definitivamente, seria a noite mais longa da minha vida.

*******

Eu estava na mesa dele de novo.

Estava amarrada e amordaçada, ferida e aos prantos, tudo de novo.

Abri os olhos e vi o rosto de Michael próximo ao meu, sorrindo ao som das respostas que eu já tinha lhe dado de bandeja... Mas elas não seriam o suficiente. Nunca eram. Ele jamais se daria por satisfeito e os meses de tortura injustificada só provavam isso.

A verdade era que eu pertencia à criatura mais desprezível que já tinha existido. E isso eu podia afirmar com toda a certeza que meus poderes de Oráculo me davam. Eu não era mais minha; não era mais de Dean; não era mais de ninguém; ninguém além do arcanjo parado na minha frente com uma lâmina na mão, naquela sala vazia.

Eu entrei em desespero assim que vi seus olhos. Assim que vi as fivelas sobre meus pulsos.

Achei que estava livre.

Achei que tinha voltado para casa... Que tinha voltado para os Winchesters, para o bunker e a minha antiga vida... Achei que tinha escapado e que ninguém nunca mais ia me ferir de novo. Mas fui dormir no meu quarto e acordei no meu inferno pessoal mais uma vez.

Era o que ele fazia.

De quando em quando me fazia acreditar que eu tinha conseguido fugir... Ou que ele tinha terminado... Ou mesmo que eu tinha morrido. Sempre havia uma nova forma de me fazer ver e sentir uma realidade que não existia; de me dar esperança e depois arrancá-la de mim num piscar de olhos.

Da última vez ele me forçou para dentro de uma ilusão que durou três dias - Setenta e duas horas acreditando que eu tinha mesmo escapado do céu, com todas as sensações que eu tinha direito. Lembro de ter sentido o chão frio sob meus pés enquanto corria; o cheiro da grama no pequeno parque fora do portal; a sensação da areia nos meus dedos... Se eu me concentrasse bem podia até sentir a água descendo pela minha garganta; a água que uma senhora gentil me ofereceu no bar mais próximo que achei.

Eu sorri ao fim do terceiro dia.

Sorri quando achei ter visto o Impala no fim de uma rua qualquer.

E então pisquei.

E tudo sumiu.

Lá estava eu na mesa de novo.

Eu vi meus pais morrerem logo depois de passar por isso umas trinta vezes.

Michael me mostrou como num vídeo dois anjos invadindo a minha casa e matando todos dentro.

Não demonstrei reação - A essa altura nada mais era real para mim; nada mais fazia sentido; por mais que ele jurasse que aquilo estava mesmo acontecendo, eu o ignorei.

Eu tive que ignorar.

"Você não matou meus pais" - Sussurrei, com os olhos vidrados nos corpos na tela -"Você não matou os meus pais" - Repeti.

"Oráculos não são tão poderosos assim" - Disse sorrindo - "Sua fala não pode mudar o que aconteceu. Está feito".

"Você não matou os meus pais" - Repeti no mesmo tom, sem emoção, como um gravador quebrado.

E como resposta, só porque ele podia, Michael me deixou trancada naquela sala vazia por mais três dias, vendo a cena da morte deles de novo e de novo, sem parar, numa grande tela acima da minha cabeça. Quando finalmente voltou, perguntou se eu já tinha entendido o que aconteceu. Mas eu só fiz repetir a mesma frase, de novo e de novo, sem parar.

Foi quando ele enfim pareceu se dar conta de que tinha me quebrado.

Foi quando enfim ele começou a me olhar como se eu não tivesse mais nenhuma utilidade.

Talvez fosse tudo parte do plano - Toda a decisão de me jogar fora e me largar sozinha numa avenida qualquer; tudo outra ilusão. Porque lá estávamos de novo... Lá estava a tortura de novo.

Eu jurei para mim mesma que nunca mais cairia nessa armadilha; que não importava o que acontecesse, nem o quão bom fosse; eu nunca mais acreditaria que nada daquilo era real... Mas semanas se passaram desde que escapei; Dean disse coisas para mim que Michael não reproduziria nem em ilusão, de tanto ódio mortal que tinha pela nossa ligação. Pela primeira vez em anos eu acreditei mesmo que tinha acabado.

Estava completamente enganada.

Assim que me vi no branco profundo de novo comecei a berrar.

Comecei a me debater e a chorar enquanto Michael gargalhava.

"Achou mesmo que ia ser fácil assim?!" - Gritou, inclinando-se para trás de tanto rir - "Acreditou mesmo em toda aquela palhaçada que aconteceu no bosque?!".

Berrei de novo, o mais alto que podia, entrando em pânico - "Não, não, não, não, por favor!".

"Eu fiz tudo aquilo, Nina!" - Gritou mais uma vez, agarrando meu rosto - "Dean ainda é um demônio. Dean matou o próprio irmão por sua causa. Não teve violão, não teve viagem de carro, não teve nada! Você nunca saiu dessa mesa, criança".

Engasguei.

Literalmente, nenhuma fração de ar descia pela minha garganta.

"Está pronta agora para admitir que eu matei seus pais?" - Concluiu - "Repete comigo: Você matou meus pais".

"Não!!".

"Quer assistir o vídeo de novo?!".

"Não, por favor!!".

"Então repete!! Repete!".

Tudo ficou preto.

Senti duas mãos segurando meus pulsos com força; mãos completamente familiares.

Então finalmente abri os olhos - Eu estava deitada na minha cama, no meu quarto escuro. E Dean, sentado do meu lado, agarrando meus braços com uma expressão inteiramente preocupada.

"Foi só um pesadelo" - Sussurrou - "Está tudo bem".

"Não, não está..." - Continuei a chorar - "Eu ainda estou lá, não estou? Eu ainda estou lá".

"O que?".

"Por favor Michael, me mata de uma vez!" - Pedi com a voz tremendo, segurando minha cabeça - "Faz isso parar, faz isso parar".

"Nina, olha para mim" - Dean travou a mão no meu queixo e me obrigou a olhá-lo - "Isso já parou. Você está aqui, eu estou aqui, estamos todos bem".

"Não é real..." - Falei com dificuldade, desesperada, em meio aos prantos - "Não é real Dean, eu não sinto mais nada, não é real".

Antes que eu sequer conseguisse abrir os olhos de novo os lábios dele já estavam nos meus.

Dean me beijou devagar, suavemente, para me dar tempo de perceber o que estava acontecendo. Só então senti sua mão me segurando pela nuca, me mantendo parada, me prendendo naquele cenário. Não consegui corresponder. Deixei que ele fizesse o que bem entedesse e me deixei ser guiada por cada movimento, mas não fiz mais do que isso. Não mais que chorar.

Enfim ele se afastou por poucos centímetros; só o bastante para me olhar nos olhos, e então sussurrou contra os meus lábios - "Isso pareceu ilusão para você?".

Segurei suas duas mãos e deixei o formigamento da ligação fazer seu trabalho.

Fechei os olhos, abaixei a cabeça.

"Eu só quero sentir alguma coisa" - Respondi o mais baixo que podia, com a voz tremendo - "Só... Me faz... Sentir alguma coisa, Dean".

Olhei nos olhos dele.

E ele olhou nos meus.

Na hora eu soube que ele nunca tinha me visto assim antes.

Soube que estava arrependido de ter me mandado dormir sozinha.

Que estava arrependido de muitas coisas.

Praticamente pude ver em sua expressão toda a relutância se partindo em um milhão de pedaços e dando lugar a uma submissão estranha... Uma que eu nunca tinha percebido nele antes. Porque em todos os outros momentos em que Dean me protegeu, ele tinha assumido a posição de domínio; aquele que faz, aquele que vai atrás, e realiza o impossível porque o controle está com ele.

Mas não dessa vez.

Dessa vez ele me olhou como se quem estivesse no controle fosse eu.

Como se ele só estivesse amparando a queda de um salto que eu decidi dar; totalmente suscetível e vulnerável a mim.

Foi quando eu entendi - Ele ia fazer o que eu precisasse que ele fizesse. Sem discussões.

Quando dei por mim, enfim, senti sua mão no meu pescoço, percorrendo cada centímetro dele enquanto descia seus dedos devagar até minha clavícula, e mais para baixo até a gola da minha blusa; foi como uma explosão de pequenos choques por todo o meu corpo; o caminho de um pavio que começava na pele dele e terminava na minha.

Então ele olhou para a própria mão, parada com o polegar e o indicador sobre o primeiro botão da minha roupa.

Respirei fundo; sabendo que ele sentiria o vento dos meus lábios nos seus olhos. Imediatamente olhou para mim, extasiado como nunca esteve antes; fascinado como nunca esteve antes. E disso eu só tinha certeza porque era assim que eu me sentia também. Se ele sentia... Eu sentia.

Agora sem pausas ele começou a desabotoar todos os meus botões, um por um, sem nenhuma pressa, sem querer que eu o ajudasse. Talvez estivesse querendo me dar tempo para desistir... Talvez estivesse se dando tempo porque realmente achava que eu o culparia por tudo. Mas nenhuma dessas coisas ia acontecer. De jeito nenhum.

Ele abriu minha blusa, mas não a tirou.

Antes, tão rápido que nem me dei conta, puxou-me pelas duas mãos e me pôs de pé diante dele, fazendo nossos corpos sofrerem um pequeno encontrão. Segurou-me pela cintura e parou, sem tirar os olhos do meu rosto nem por um segundo. E então, só quando se deu conta de que eu ainda estava confortável com a situação, ele se agachou na minha frente e começou a puxar minha calça para baixo devagar.

Perdi o compasso da respiração. De um segundo para o outro fiquei ofegante e comecei a ouvir meu coração claramente. Sabendo que ele estava ouvindo também. Tão certa disso que o que ele fez em seguida só fez confirmar: Pôs-se de pé mais uma vez e sem mais nem menos começou a abrir sua calça quase que colado ao meu corpo; como se quisesse me assustar; me mostrar que ele ia mesmo em frente se eu não o parasse.

Não funcionou. Pará-lo era a última coisa que eu queria fazer.

Quando dei por mim, assim, ele também estava tirando a camisa e deixando-a cair no chão.

Foi quando ele botou as mãos em mim de novo.

Agarrou uma ponta de cada lado da blusa que ainda estava em mim e puxou-a para fora dos meus ombros.

Quase que de imediato, quando meus braços ficaram nus, ele lançou os próprios lábios na direção do meu ombro esquerdo, beijando toda a pele sobre a minha clavícula sem correr, sem se precipitar; subindo e descendo pelo meu pescoço.

Foi quando tentei reagir e tocá-lo também; beijá-lo também; mas ele não deixou. Assim que ameacei fazer qualquer movimento ele agarrou minha nuca e puxou meu cabelo, prendendo minha cabeça inclinada para trás. Soltei o ar, tremendo em cada centímetro do meu corpo. E só então ele voltou a beijar e modiscar minha pele.

Eu entendi na hora. Dean queria evitar ao máximo que eu o tocasse de volta; porque se acontecesse ele perderia todo o resquício de controle ou concentração do que fazia; perderia a si próprio. Não estava disposto a deixar isso acontecer.

Deixei ele ter isso.

Deixei ele ter pelo menos isso.

Sua boca foi subindo; se aproximando cada vez mais do meu rosto; cada vez mais dos meus lábios, até que ele não tivesse mais para onde ir. E antes que eu raciocinasse sobre o que eu achava que Dean faria em seguida, ele simplesmente enterrou o rosto no meu; me beijou de um jeito que nunca  tinha beijado antes: Era sempre com cuidado; sempre bem pensado; me dando tempo para me ajustar e respirar. Mas não dessa vez.

Moveu os lábios nos meus e a língua na minha sem nenhuma fração de recuo; nada que desse a entender que ele pretendia parar tão cedo ou permitir que eu me afastasse. Se entregou. Sem reservas. Como se aquele fosse o último beijo que ele me daria na vida. E só o pensamento já me fazia estremecer por si só; me fazia apressar o beijo também e me submeter à violência dominante dele sem me conter.

Joguei os braços sobre seus ombros.

E na mesma hora Dean desceu as mãos até minhas coxas soltando um grunhido, e ergueu-me do chão; envolvi minhas pernas em sua cintura com naturalidade e ele avançou de volta para a cama; deitando-me em meio aos travesseiros ao mesmo tempo em que deitava seu corpo sobre o meu.

Eu não tinha nada de ar nos pulmões, meu peito já queimava; afastei meus lábios dos dele, e enquanto ele beijava meu busto e minha barriga, eu podia ver o quanto estava sem fôlego. Tudo o que se ouvia no quarto era minha respiração rápida, fraca, embebida de adrenalina.

E quanto mais ele descia, mas a minha situação piorava.

Mas então parei de respirar totalmente quando senti os lábios dele tocarem o tecido da minha calcinha; desviei o olhar do teto e o encarei, sem querer.

Na mesma hora Dean sentiu que meu rosto estava voltado para ele, e assim, parou também, se colocando de joelhos na cama.

Eu mal podia ver sua expressão, estava muito escuro; mesmo assim eu sabia exatamente como ele me encarava agora, como numa foto. E por Deus, aquilo em seus olhos me tiraria o sono por um longo tempo... Mudaria tudo por um longo tempo... Porque de repente assim eu não era mais a garota esquisita e sem amigos; aquela que ninguém quer estar perto, que ninguém quer realmente tocar. Dean me queria. Mais do que ele podia conceber. Olhava para mim como se eu fosse uma manifestação divina num altar, num pedestal; como se tudo o que ele quisesse era me conhecer... Me adorar.

Era o que ele tinha acabado de decidir que ia mesmo fazer.

Afastou meus joelhos um do outro com solenidade e passou sua cintura entre eles, colocando meus pés atrás dele.

Começou a debruçar-se sobre mim lentamente; e quando estávamos prestes a ficar cara a cara senti suas mãos na minha calcinha e então uma pressão, seguido de um som que por um segundo me assustou - Dean rasgou o tecido no meu corpo mesmo, com um só puxão, sem nem desviar o olhar do meu rosto; não ia mais se afastar.

Não tive tempo de assimilar mais nada.

Assim que seu tórax finalmente tocou no meu, Dean já estava em mim. Sem cerimônias, sem o cuidado exacerbado de quem normalmente me tratava como se eu fosse quebrável - Em um segundo já estávamos conectados, rápido e com decisão como arrancar um band-aid.

Eu me sobressaltei na mesma hora; ergui meu corpo do colchão por um instante e agarrei suas costas com as duas mãos, prendendo o grito. Quando minha cabeça estava de volta no travesseiro enfim, Dean pôs o rosto no meu pescoço e continuou.

Fechei os olhos.

Mordi minha língua, desesperada para ficar quieta, tentando ao máximo não fazer barulho... Mas falhei. Só Dean, no entanto, ouviu: O que começou como dor, mas logo, sem demora, se transformou em êxtase completo.

Finquei minhas unhas em suas costas,  sem querer, sentindo todo o corpo dele se unindo ao meu num ritmo que ficava cada vez mais constante; ele soltou o primeiro grunhido na minha orelha; e eu respondi no mesmo tom. De novo, e de novo.

Desci minhas mãos até o fim de suas costas; até que eu pudesse sentir o quanto realmente sua carne tremia. Mas não pude por muito tempo. De repente Dean agarrou meus braços e os prendeu pelos pulsos ao lado da minha cabeça.

Fiquei presa.

Totalmente entregue a ele.

E isso, por algum motivo, só me fez sentir ainda mais; só me fez perder ainda mais o controle que eu tinha sobre as minhas reações.

Soltei uma lágrima, sem entender porquê e sem querer pensar a respeito.

Minhas pernas vibraram; balançando nas costas de Dean como se soubessem de algo que eu não sabia.

Foi aí que começou - Foi aí que a minha cabeça explodiu em vozes; em gritos, em falas, em orações, muitas das quais eu ouvia sem parar, todo o momento, há tantos anos que eu já tinha perdido a conta.

Sempre estiveram lá. Impedindo-me de pensar. Baixo e constante, tirando toda a minha paz. Mas agora era diferente. Elas estavam berrando. Fazendo minha cabeça zunir.

Fechei os olhos de novo, querendo me concentrar em Dean; nos sons que ele fazia; nos sons que eu fazia.

No entanto, quanto mais próximos ficávamos, mais a gritaria aumentava e fazia meus ouvidos doerem.

Mais que depressa me libertei dos braços de Dean que me restringiam, e ele nem pareceu se dar conta. Na mesma hora prendi minhas mãos em seu rosto, uma de cada lado, forçando-o a ficar frente a frente comigo. Encostei minha testa na dele.

O toquei.

Mesmo sabendo o que isso faria; mesmo sabendo como ele se sentiria. E foi instantâneo. Quase como se fosse visível pude ver o controle e o equilíbrio se quebrando em seu rosto; de imediato refletindo no nosso ritmo.

Ele acelerou, sem perceber. Começou a mover seu corpo bem mais rápido e constante, sem nenhuma leveza ou cuidado comigo; simplesmente se esqueceu de tudo e foi em frente, mergulhando, sem se preocupar se estaria sendo brusco demais para a minha primeira vez.

E isso era tudo o que eu queria.

Segurei seu rosto colado no meu com firmeza, sem o deixar escapar, até o fim, até que tudo aquilo conseguisse me desvencilhar dos berros nos meus ouvidos.

Soltei mais uma lágrima. E dessa vez eu sabia porquê.

Estava acontecendo.

Eu estava deixando o Oráculo para trás.

Dean grunhiu mais alto, prestes a acabar, e eu não consegui reprimir dessa vez - Soltei um grito abafado; por dor, por prazer... Por sentir algo morrendo dentro de mim e deixando uma trilha que quebrava tudo. Deixava tudo aos cacos.

Meu ventre queimou. Dean se retraiu. Puxou meu cabelo mais uma vez e soltou o ar.

Senti meu corpo inteiro estremecer ao mesmo tempo que ele; senti todos os meus músculos amolecerem e toda a minha carne gritar ainda mais alto que os berros na minha na cabeça.

E o som foi aumentando, aumentando, todas as vozes juntas com o êxtase, até ficar insuportável e eu achar que meus tímpanos explodiríam.

Foi quando, de repente...

Na mesma fração de segundo em que Dean e eu nos atingimos... Tudo parou.

Todos os gritos dentro dos meus ouvidos, todas as revelações, todos os flashbacks, todas as profecias, tudo... Parou bruscamente como se alguém tivesse desligado uma caixa de som pela tomada.

Arrancado a caixa de som pela tomada.

Silêncio.

Parado.

Quieto.

Absolutamente nada.

Nada além de um vazio sem voz.

*******

Foi como se a porcaria do meu coração tivesse descompassado. Literalmente.

Essa foi a exata sensação de acordar no dia seguinte e ver que Nina não estava lá, deitada ao meu lado, como deveria. Eu estava sozinho. Nu. Esparramado em meio às nossas roupas rasgadas e jogadas para todo o lado, sem ter a mínima ideia do que tinha acontecido enquanto eu estava apagado.

Bastou eu parar para pensar por três segundos.

E foi puro reflexo - Pulei da cama, desesperado e perdendo mais o fôlego a cada segundo, imaginando mil e uma coisas e dessas a pior; agarrei minha calça do chão e saí descalço e sem camisa mesmo, disparando pelo corredor atrás dela.

Nina não faria isso.

Lembro de ter pensado e dito para mim mesmo que eu não podia estar certo; não podia realmente ter acertado sobre o que aconteceria assim que eu desse o que ela queria, de jeito nenhum. Isso me arruinaria, arruinaria nós dois e ela sabia disso... Devia saber.

Foi quando, a toda velocidade, pulei para dentro da sala de leitura já me preparando para subir as escadas e me dar conta de que ela não estava mais lá. Que tinha fugido de novo. Me abandonado de novo. Me deixado para trás de novo. Mas... Ao invés disso... Encontrei Sam tomando café enquanto lia um livro, de costas para mim, e Nina de pé ao seu lado, de braços cruzados, apoiada sobre a mesa e sorrindo como se ele tivesse acabado de elogiá-la por algo.

Engasguei, me forçando a parar.

Soltei todo o ar e inspirei pelo máximo de tempo que podia, pondo a mão sobre a cabeça como se assim fosse conseguir pô-la no lugar.

Ela olhou para mim primeiro.

E o sorriso desapareceu na mesma hora, dando lugar a uma testa franzida.

Só então Sam se virou para me encarar.

"Bom dia" - Murmurou, me examinando com estranheza - "Você... Está tudo bem?".

Assenti sem jeito, olhando para o chão, querendo disfarçar a falta de fôlego. Aí pelo canto do olho vi Nina vindo na minha direção devagar.

Quando ergui o rosto vi que ela estava passando do ponto "espaço pessoal", ao realmente se aproximar demais. Ela parou na minha frente enfim e estendeu um braço - Por um milésimo de segundo achei que ela ia me abraçar. Quem sabe até me beijar. Mas então me dei conta: Ela só estava tentando pegar uma caneca na mesinha de serviço atrás de mim.

Xinguei-a com olhos, dizendo só com a minha expressão que ela não precisava ter chegado tão perto assim para fazer aquilo. Só que ela não se deu conta. Lançou-me outro olhar endurecido e me deu as costas para se sentar também.

Travei a mandíbula e me virei sem o menor jeito para pegar um copo da mesma forma, o tempo todo sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo ou do que ia acontecer. Tínhamos que conversar. Dizer o que estávamos pensando. Naquele momento.

Se meu irmão que também era apaixonado pela garota não estivesse na mesma sala.

Bufei de impaciência e me servi de café, ignorando um pequeno tremor nas mãos, me perguntando como Sam não estava notando aquele clima pesado que me deixava a ponto de berrar. Porque uma coisa era certa - Eu achei que ela contaria tudo para ele antes mesmo de conversar comigo. Achei que eu já acordaria em meio aos socos e que naquele dia eu teria a briga mais feia de todas com ele. Mas nada disso estava acontecendo. Os dois tomavam café em silêncio como se tudo estivesse absolutamente normal.

Era insuportável.

"Nina" - Chamei-a, com a voz fraca, parado de pé ao seu lado enquanto ela começava a ler também.

Na mesma hora ela ergueu os olhos assustada, cheia de surpresa, sem ter a mínima ideia do que eu estava fazendo e mesmo assim não gostando do rumo das coisas ou da expressão na minha cara.

"Posso falar com você?" - Perguntei como um colegial com complexo de rejeição faria. Afinal, a verdade era que naquele momento eu me sentia como se eu é que tivesse perdido a virgindade e não ela.

"Sim, claro... Fala" - Respondeu de um jeito forçosamente distraído; quase me passando a sensação de que ela realmente não sabia do que íamos falar, ou porquê eu estava tão nervoso.

O que só me deixou mais nervoso ainda.

Fiz uma careta e ergui as sobrancelhas de irritação.

"Em particular" - Grunhi, sem paciência nenhuma de fingir ou atuar qualquer ideia estúpida que ela estivesse tentando reproduzir agora.

E mais do que na hora Sam se intrometeu, tirando os olhos das páginas como se o meu tom tivesse feito o assunto dizer respeito a ele também - "Qual é o problema?".

"Nenhum" - Ela respondeu na lata, se colocando de pé para ir onde eu quisesse que ela fosse. E isso foi literalmente como estar presenciando um fenômeno da natureza ao vivo; parei, sentindo um arrepio descer pela minha espinha: Eu devia ter imaginado. Agora ela conseguia mentir.

Não pude deixar de encará-la e hesitar no mesmo lugar por uns instantes. Era realmente uma das coisas mais estranhas que eu já tinha visto e eu não tinha como disfarçar.

Ela parou também, observando minha reação.

Mas quando Nina estava prestes a abrir a boca para dizer alguma coisa ouvimos um baque no portão de cima; como o som de alguém entrando no bunker.

Ótimo. Castiel, bem na hora como sempre. Era hoje que eu ia tomar um raio na cara.

Olhamos para cima esperando ele aparecer na escada. Nina e Sam com expectativa leve, e eu querendo mata-lo de raiva. Mas essa vontade sumiu inteira de um segundo para o outro. Sumiu assim que o vimos descer os degraus da entrada completamente coberto de sangue, dos pés à cabeça.

Arregalamos os olhos.

"Cas!!" - Nina correu até ele imediatamente e Sam se pôs de pé para ajudar.

"Não é meu sangue... Não é meu sangue" - Explicou, ofegante, querendo nos acalmar para que ficássemos no lugar. Meio tarde para isso.

"Que merda aconteceu com você, cara?" - Perguntei sem entender nada, vendo Nina coloca-lo sentado numa cadeira. E por um instante pensei que ele responderia de imediato, mas se deteve; se deteve ao olhar para o rosto dela, como se não tivesse certeza se devia dizer a palavra que tinha pensado. Então eu entendi.

"Não me diga que...".

"Michael" - Cortou-me, observando a Nina para ter certeza de que ela aguentaria ouvir o som daquele nome; e eu fiz o mesmo; todos nós fizemos o mesmo. Mas o máximo que ela fez foi dar um passo para trás e acelerar a respiração, se controlando para não expressar mais que isso.

Fui até ela.

"O que ele fez?" - Sam perguntou.

"O que ele não fez!" - Gritou com a voz tremendo - "Rapazes... Nina... Temos um... Problema muito sério. Precisamos... De vocês".

"Precisamos?".

"Eu e... Eu e os anjos. Cerca de três pelotões se voltaram contra Michael quando ele.... Olha, estamos recrutando qualquer um que saiba lutar, que possa fazer alguma coisa para impedir... Eu vim buscar vocês. A guerra começa hoje".

"Espera" - Cortei-o, levantando uma mão e olhando de soslaio para Sam. Porque não tinha volta. Esse era o dia. Esse foi o momento que planejamos por semanas, que marcamos para entregar a notícia para Cas e Nina. E todo aquele estardalhaço só provava que tínhamos mesmo que ir em frente com aquilo. Já estava feito. Mesmo assim insisti - "Você vai ter que ser mais claro, está bem? Fala devagar. O que é que está acontecendo?".

"Ele está matando milhões!" - Berrou, colocando-se de pé - "Cidades inteiras, estados inteiros estão sendo dizimados, está chovendo sangue lá fora, vão lá ver!".

"Cas...".

"O que disse para ele, Nina?".

"Ei, ei! Não!" -Berrei, entrando na frente dela para esconde-la - "Isso não é culpa de ninguém, seu irmão arcanjo que é uma merda de um psicopata!".

"Esse é o problema, Dean! Eu preciso saber, ela tem que contar o que sabe para eu poder impedi-lo!".

"Não há como impedir" - Escutei ela murmurar das minhas costas de repente. E todos nós nos viramos para encará-la - "Eu contei tudo o que ele queria saber. Michael está no comando agora e quem se colocar em seu caminho vai acabar morto".

"Todo mundo já está morrendo" - Cas replicou.

"Redução de população. Para chamar a atenção de Deus... Ou chamar a atenção da humanidade, pode escolher... Existem vários motivos para ele estar fazendo isso, mas não existe nenhum para ele querer acabar com todos nós. Ele vai parar. Eventualmente".

"E isso deixa tudo bem?!".

"Não Castiel, nada está bem, nada nunca está!".

"Tudo bem, já chega vocês dois" - Os interrompi antes que começassem a gritar mais - "Vamos nos acalmar e pensar direito".

"Não tem o que pensar!" - Gritou - "Nina, você é o Oráculo... É sua obrigação. E a partir de agora está sendo convocada para nos liderar!".

Merda.

"Ela não vai a lugar nenhum" - Sam enfim tomou a palavra, silenciando a nós três com um tom de quem finaliza a discussão - "Nem eu... Nem meu irmão também".

"Como é que é?".

"Castiel eu sinto muito... Mas chegou a hora" - Decretou, lançando um olhar rápido para mim - "Nós já demos tudo o que tínhamos. Até não sobrar mais nada. Fomos torturados pela causa, feridos, despedaçados... Deus, nós até já morremos pela causa incontáveis vezes. E agora... Ela está nos transformando em algo que não somos".

"Covardes?!".

"Desistentes" - Cortou-o imediatamente, dessa vez olhando para a Nina, encolhida atrás de mim.

Cas respirou fundo, procurando o que dizer - "Tudo bem, olha, eu sei que o que aconteceu foi assustador...".

"Assustador? Eu quase perdi as duas pessoas que eu mais amo num só segundo, Cas. E a troco de quê? Dean se transformou num genocida! Nina perdeu a fala por dois anos e tentou tirar a própria vida, e eu... Ainda sou chamado de estripador aonde quer que eu vá. Não temos mais nada para dar... Não nos restou nada. Não podemos continuar assim".

"O que isso quer dizer?".

"Vamos embora, Cas. Chega de nos meter em assuntos divinos. Chega de caçar".

"O quê?!" - Nina tentou sair de trás de mim, mas eu a segurei pelo pulso, puxando-a de volta para o lugar - "Como assim chega de caçar? Ficaram loucos?".

"Ficamos sim, Nina. Essa é a questão" - Respondeu.

"Isso é por causa do que eu... Do que eu fiz, por eu ter tentado me afogar?! Não vai acontecer de novo, está bem? Eu prometo, eu vou superar isso".

Por um instante quase deixei soltar que agora as promessas dela não valiam mais nada - Mas mordi a língua.

"Eu sei que vai. Bem longe daqui" - Sam murmurou, completamente certo do que dizia.

"Como assim?".

"Nós compramos uma casa há alguns dias" - Explicou, o mais lento que podia para dar tempo aos dois de entenderem - "Numa cidade pequena na Virginia, onde nada de sobrenatural acontece há pelo menos duzentos anos. Vamos ter uma vida normal lá. Você vai fazer amigos. Vai arranjar um emprego. Vai estudar. E eu e o Dean... Vamos fazer exatamente a mesma coisa. Vai ter uma família de novo".

Ao ouvir isso Cas paralisou.

Mas Nina, pelo contrário, simplesmente começou a rir - "Família?! Amigos?! Sam, você me conhece? Você nos conhece? Não temos direito a nada disso".

"Viu, cara? Era disso que eu estava falando" - Respondeu, apontando para a total falta de estima e esperança dela. O que só a fez se sentir ainda mais acuada, como numa intervenção.

"Dean, você concordou com isso?" - Perguntou como se tudo fosse um grande absurdo para mim... Como se eu, ainda mais que Sam, não pudesse viver sem caçar. E se isso tivesse acontecido há alguns anos atrás até seria verdade. Eu realmente preferiria morrer. Mas não era mais assim. Nina estava enganada. Agora... Era sem ela que eu não podia viver.

"A ideia foi minha" - Respondi na lata.

E ela fez uma careta na mesma hora, sem acreditar, dando um passo para trás.

"Eu quero saber é se você concorda, Nina" - Cas se pronunciou finalmente, descruzando os braços - "Se decidir que isso é o que você precisa fazer pelo seu bem como o Oráculo, para recuperar seu propósito e voltar a falar por Ele, eu não vou discutir. Eu faço qualquer coisa para não perder outro porta-voz desse jeito trágico e horrível, eu juro... Mas se achar que está em condições de lutar... Ninguém pode te impedir".

Fuzilamos Cas com os olhos imediatamente. Sam, porque achava que ele tinha razão. E eu, porque tinha certeza absoluta que não.

Por fim, como eu sabia que aconteceria, ela não conseguiu dizer.

Calou-se... E abaixou a cabeça.

Castiel então entendeu finalmente que ela não ia a lugar nenhum com ele.

"Certo" - Concluiu, se forçando a aceitar - "Eu confio em você e se diz que não vai suportar outra batalha agora... Eu acredito. Eu posso esperar. Mas por favor, eu só preciso de uma coisa no momento... Só uma coisa e aí eu vou embora e deixo você se recuperar em paz".

Fizemos silêncio. E de antecipação eu já tive um pressentimento muito ruim.

"Me diga onde Michael está e como posso derrota-lo".

Merda de novo.

Isso era exatamente o que ela não podia fazer.

"Cas... Ela não quer ter mais nada a ver com o Michael" - Tomei a frente.

"É só uma informação, está bem? Sabe onde ele está. Com certeza sabe, é só se concentrar".

Ela abriu a boca, sem jeito, mas não deixei que terminasse.

"Eu...".

"Não precisa dizer nada que não queira, Nina" - Deixei claro, olhando para ela, fazendo eles pensarem que eu estava falando de Michael, quando ela sabia muito bem que não - "Não tem obrigação nenhuma de explicar nada".

"Do que você está falando?" - Sam perguntou, desconfiado da intensidade na minha voz - "É só uma localização".

"Eu não sei onde ele está" - Ela respondeu mesmo assim, encarando-o nos olhos.

"Como não assim não sabe?".

Foi quando ela se calou e olhou para mim com o rosto atônito, querendo achar coragem para dizer logo a verdade, sem conseguir. Sem chegar nem perto de conseguir. Aí vi o desespero começando a se instalar na expressão dela, o início da perda da compostura, a vergonha de dizer aquelas palavras.

Decidi intervir de uma vez e assumir a responsabilidade como se não fosse grande coisa.

Mas era. Todos nós sabíamos que era.

"Nós transamos, está bem?" - Praticamente gritei - "Ela não é mais o Oráculo. Pronto.".

Perfeitamente sincronizados, Sam e Cas arregalaram os olhos ao mesmo tempo, deixando suas posturas amolecerem como se tivessem acabado de passar pelo maior sobressalto de suas vidas.

A sala ficou em silêncio pelo que pareceu um minuto, enquanto os dois só nos encaravam com expressões completamente impassíveis no rosto. Reagiram como se eu tivesse feito a coisa mais errada da minha existência. E isso me irritou. Caramba, me irritou demais.

"Não ajam como se isso fosse tão surpreendente assim, ok? Todos nós sabíamos que isso ia acontecer uma hora ou outra".

Assim que eu terminei de falar essa frase os olhos de Cas se acenderam numa explosão de luz; em um segundo ele estava vindo na minha direção com o punho no ar, quase que correndo, rosnando feito um animal, fora de controle como eu nunca tinha visto antes.

Continuei parado no mesmo lugar, sem reação.

Mas Nina saiu detrás de mim e se jogou no meio, pondo a mão em seu peito - "Não, Cas!! Não foi culpa dele, eu que quis que isso acontecesse!!".

"Foi isso o que ele te fez pensar?! Você não estava em condições de fazer nenhuma escolha, e ele sabia disso! Mesmo assim te levou na conversa e tirou tudo o que você tinha! Tudo o que nós tínhamos!".

"Tem razão" - Respondi calmamente, fazendo os dois se virarem para me encarar - "Se você estivesse bem, não teria feito aquilo Nina... Mas você não estava. Então eu tomei a decisão por você e não me arrependo".

"Ora, seu..." - Cas tentou avançar de novo, transtornado de raiva, mas Nina resistiu, mandando num tom autoritário:

"Não, Cas! Para, agora!!".

"Para, agora?" - Ele olhou para ela de repente, dando um passo para trás para examinar seu rosto por completo - "Não pode mais falar assim comigo... Criança. Eu não aceito mais ordens suas, ninguém mais aceita. Perdeu a sua voz".

"Não" - Ela balançou a cabeça, se recusando a se dar por vencida - "Eu a recuperei".

Castiel então soltou o ar, encarando-a como se ela tivesse terminado de magoa-lo completamente com aquelas palavras - "E quanto ao resto de nós?" - De repente seu semblante caiu tanto, e sua voz se partiu tanto que eu realmente acreditei que o veria chorar pela primeira vez na vida, ali na nossa frente - "E quanto a mim, que só queria ver o meu Pai de novo? E quando as vozes na sua cabeça? Elas não tentaram te avisar?".

Nina travou a mandíbula.

De alguma forma parecia entender exatamente do que ele estava falando.

"Você ouviu elas, não ouviu? No último segundo? Não se perguntou o que elas significavam?".

"Chega, Cas" - Intervi, tentando muito não me sentir atingido com nada daquilo, mas ele continuou, fingindo que não tinha me ouvido:

"Eram as multidões que Michael assassinava enquanto você transava com Dean. Te implorando para ficar e lutar por elas só por mais um dia!".

Puxei Nina para trás e entrei na frente dela, completamente decidido a fazer o que fosse necessário para parar aquela conversa, por mais que por dentro o que eu quisesse fazer era pedir perdão e implorar que ele entendesse. Mas não ia. Ninguém nunca ia - "Vá embora" - Mandei firmemente - "Só volta quando estiver mais calmo, entendeu?".

Ele assentiu, recuando para longe de nós dois - "Não se incomode, Dean... Porque eu não vou voltar".

E assim, sem mais nem menos, ele desapareceu.

Deixando-me encarando o vazio onde ele esteve, segurando as mãos em punhos para não berrar.

Nina começou a chorar em silêncio instantaneamente, prendendo a respiração para não fazer nenhum barulho que fosse, por algum motivo que eu não entendia. Não até que ela olhou para trás de mim e pôs os olhos nele.

Aí eu me dei conta que Sam ainda estava lá.

Sentado em frente a mesa, encarando o nada com uma mão em punho perto do peito, só escutando toda a discussão.

Pensando. Apenas pensando.

E isso me deixou com bem mais receio do que se ele estivesse com raiva como Cas. Na verdade.... Eu preferia raiva. Preferia gritaria, socos e xingamentos... Preferia qualquer coisa que não fosse aquela calma e aquele silêncio.

Ela também.

Nina parou ao seu lado e esperou impacientemente para que ele dissesse algo; para que a olhasse, ou mesmo que se mexesse de qualquer forma. Mas nada aconteceu. Era como se nós dois sequer estivéssemos lá com ele.

Depois de dez segundos daquele silêncio aterrador, enfim, ela não conseguiu mais. Respirou fundo, secou o rosto com as mãos e deixou a sala o mais rápido possível, completamente inconsolável porque tinha uma certeza clara: a de ter perdido o Sam e o Castiel num só dia; junto com Deus e a vida de milhões de pessoas.

Eu não a culpava. E não podia admitir que ninguém a culpasse... Mas se eu a conhecia bem... Ela faria isso por todos nós.

Fiquei para trás mesmo assim, encarando o Sam com extrema tristeza, sem saber o que fazer ou o que dizer, mas sabendo apenas que alguma coisa precisava que ser dita. E precisava ser dita agora.

"Eu... Eu sinto muito" - Sussurrei, sendo completamente sincero nisso e querendo com todas as minhas forças que ele acreditasse. Mas não ia acreditar, e eu já sabia - "Eu nunca quis te ferir, irmão. Nunca quis ferir ninguém, eu sinto muito mesmo".

Ele não respondeu.

Sequer olhou para mim.

Continuou sentado, impassível, sem reação.

E assim eu percebi que Nina tinha razão - Aquilo era mesmo insuportável. Dei-lhe as costas e comecei a me preparar para deixar a sala também e ir atrás dela, mesmo que no estado em que eu estava, mal podia consolar a mim mesmo, quanto mais a Nina. Quando de repente escutei a voz dele ao longe:

"Você prometeu que ia se redimir".

Virei-me devagar para encara-lo.

E ele fez o mesmo.

"Sam, eu realmente tentei, eu juro que tentei, mas...".

"Acabou de cometer o maior erro da sua vida" - Cortou-me, com a voz firme.

Parei e respirei fundo, tentando não me irritar com essa história de erro de novo - "Não... Não cometi".

"Não falo isso por mim, irmão. Eu vou ficar bem. Eu e Nina vamos ficar bem, inclusive. Falo isso por você... Você é que ferrou a si mesmo e agora não tem mais volta.".

"Do que você está falando?" - Bufei, perdendo a paciência e indo na sua direção para que Sam dissesse de uma vez o que estava pretendendo, sem rodeios. E ele aceitou o confronto. Se colocou de pé também e parou na minha frente.

"Ela não é mais o Oraculo, seu idiota" - Esclareceu - "Isso significa... Que você não é mais o protetor. Não existe mais ligação. Não existe mais profecia, arco e flecha, ou qualquer conexão espiritual. Nina está oficialmente livre da obrigação de te amar. E foi você quem a libertou".

Travei a mandíbula.

Não podia ser.

"É isso o que você acha? Que ela só me amou porque foi obrigada?".

Ele deu de ombros.

"Não... Eu ainda sinto a mesma coisa, então ela também sen..."

"Mas é claro, Dean" - Cortou-me - "Eu mesmo acabei de saber que ela transou com outro e ainda a amo, que dirá você... Ela é a nossa menina, sempre vai ser, não temos escolha. Mas ela? O que demos para ela para que ela se apaixonasse? O que você deu para ela?"

Grunhi, sem saber o que dizer.

"Acho que agora vamos acabar descobrindo de qualquer forma, não é mesmo?" - Assim que disse isso, ele esperou que eu desse uma resposta, que reagisse; mas não consegui. Eu realmente não tinha uma só palavra para desmentir aquela teoria de merda. Eu não tinha nada.

Quando se deu conta disso ele enfim assentiu e deu a volta em mim para deixar a sala, sem evitar um pequeno esbarrão no meu ombro.

Observei ele sair com cautela, esperando para ter certeza de que ele tinha mesmo saído de vista. Só quando me dei conta de que ele tinha mesmo me deixado é que levantei meu braço direito devagar, com um nó na garganta, sentindo todo o meu corpo se arrepiar.

E para o meu desespero, lá estava - Absolutamente nada. Nenhum desenho, nenhuma marca.

Nenhum arco.

******

EPÍLOGO

"Essa não pode ser minha última vez no bunker" - Pensei comigo mesma enquanto subia as escadas com uma mala em cada mão, ouvindo nada além dos meus passos fora de ritmo sobre os degraus de ferro, e a minha respiração inconformada com a situação.

Porque eu não conseguia aceitar nada daquilo.

Nem a parte que eu não tinha mais a estrutura mental para caçar, nem a parte que os Winchesters estavam se deixando serem arrastados comigo avenida abaixo; desistindo do negócio da família pela garota que virou o mundo deles de cabeça para baixo no mal sentido.

Eles mal se falavam; não mais que o necessário.

Mal se olhavam; só para evitar mais confronto. Mas comigo, a encrenqueira, o tratamento continuava normal... Tirando a parte que os dois sempre pareciam fazer o máximo que podiam para me evitar; ou, mais especificamente, evitar conversar sobre o que aconteceu; porque, então, eles queriam morar na mesma casa que eu, no meio do nada, era um completo mistério para mim.

Íamos para uma cidade chamada Mystic Falls.

Tudo já estava pronto.

Inclusive os documentos que "provavam" que os dois eram meus irmãos mais velhos; um professor, e outro mecânico, com os locais onde trabalhariam já certos. Um jogou baseball na faculdade, e outro, futebol americano; totalmente dispostos a criarem o fim de semana de tradição em que voltariam a jogar com a comunidade, feito dois cidadãos perfeitamente sociáveis. Quem sobrou fui eu. Porque eu não queria fazer nada. Não queria participar de nada nem me arriscar de novo.

Eu nem sabia mais quem eu era. Do que gostava. E descobrir que mesmo sem ser o Oráculo eu ainda assim não conseguia fazer amigos, definitivamente não estava nos meus planos. Nada daquilo estava.

Saí para o bosque e me dei conta de que Dean já estava no volante do Impala, esperando.

Sam apareceu logo depois, com mais duas malas, fechando a porta do bunker atrás de si.

Bufei, sem conseguir tirar os pés do lugar.

Até que ele veio e tirou minhas malas de mim, pondo-as no carro; que agora sem o fundo falso cheio de armas tinha bem mais espaço. Era oficial - Estávamos mesmo indo embora. Indo viver uma vida "normal".

O ex oráculo, o ex demônio, e o ex caçador de monstros.

Até parece.

Entramos os três no Impala, sem dizer nada.

Dean botou a chave na ignição e antes de a girar, perguntou - "Todos prontos?".

"Pronto" - Sam respondeu.

"Uma ova" - Rebati, cruzando os braços.

"Vou encarar isso como um 'claro, Dean, acelera a baby".

"Uma ova" - Repeti ao mesmo tempo que ele ligou o motor e acelerou várias vezes, fazendo o barulho esconder o som da minha voz.

"Como é? Não entendi!" - Gritou como se não fosse ele mesmo provocando os estrandos - "Deixa para lá, você me conta quando chegarmos em Mystic Falls" - Concluiu, dando de ombros, e arrancando com o carro pela estrada.

Observei a cena.

Dean de um lado, Sam do outro, e a pista vazia na frente.

Uma verdadeira luta para construir e manter a família.

Eu não era mais o Oráculo, podia aceitar isso... Mas, a questão era que eu nem precisava ser para saber com toda a certeza que as confusões, o sofrimento, as mortes, e as brigas no nosso meio estavam longe de acabar.

Na verdade... Tudo estava só começando.



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