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Itan entrou e se ajeitou na minha cama observando o vaso que estava no chão.
Itan: Está chateada com sua mãe? — Me olhou.
Mia: O que veio fazer aqui? — Me sentei do lado dele.
Itan: Hum... — Pensou. — Fico feliz que você se afastou dele. — Olhou para a parede.
Mia: Não quero falar sobre isso Itan.
Itan: Mas o assunto aqui é sobre ele. Não posso evitar. — Suspirou. — Eu acredito em você mais do que acredito em mim mesmo. Eu com certeza fiz várias besteiras ao longo da minha vida. E me arrependo de todas.
Mia: Itan... Por que isso agora?
Itan: Porque eu pensei "Eu gosto dela" e "não quero ele na vida dela.", mas... acho que também não mereço entrar na sua vida.
Mia: Eu realmente não estou entendo nada. — Me aconcheguei na minha cama.
Itan levantou e deu uma olhada no meu quarto. Parou de costas para mim e de frente ao espelho do guarda-roupa me observando pelo reflexo.
Itan: Eu tinha certeza de que você não faria nada de ruim para mim. Mesmo estando com ele.
Mia: O que?
Itan: Eu sei que você sabe. — Me olhou.
Meu copo esfriou por um leve segundo e depois eu abri a boca, mas não saiu nada. Ele sabe que eu sei o que?
Itan: Não precisa mentir. A partir do momento que ele se envolveu com você eu já sabia onde isso ia dar. Eu poderia ter acabado com tudo no começo. Mas acho que no fim eu queria que você soubesse. Não por mim é claro Eu sou um covarde de ficar com medo de ouvir "Não chegue perto de mim nunca mais" de você. — Se virou.
Mia: Eu nunca diria isso! — Retruquei.
Itan: Eu sei. Mas ele e você não são o certo. E nem eu e você.
Mia: Você está errado! Não tem eu ou ele!
Itan: As coisas vão ficar um pouco ruins a partir de amanhã eu acho.
Mia: Ruins?
Itan: Por isso eu vim aqui. Caso nós nunca mais nos encontremos. Pelo menos alguém tem que fazer alguma coisa. E eu confio em você. Mia. — Se sentou a minha frente.
Mia: Isso é muita coisa para mim. Não compreendo tudo.
Itan: Vai compreender. — Sorriu. — Vamos ver. Se eu fosse dizer o que eu acho que você sabe. Seria algo em torno de 2% da história toda. Por isso meu pai não agiu. Não tinha razão e ele gostava um pouco de você. Raquel teve que se conter também.
Mia: O que a Raquel tem a ver com isso? — Perguntei com medo da resposta.
Itan: Ora. Ela é a minha madrasta praticamente. — Disse e eu não pude deixar de ficar surpresa.
Raquel e o Sr. Marcos...? Como isso é possível?
Mia: Os dois... — Falei e ele me interrompeu.
Itan: Perguntas depois. — Sorriu. — É o seguinte. Jayden não tem nada a ver com a nossa história. Ele foi somente uma vítima de tudo isso. O pai dele. Você já deve saber. Ele pegou um dinheiro emprestado e não devolveu. E quando fomos atrás dele ele sumiu e obviamente passamos tudo para seu filho. E foi o que acabou com tudo.
Mia: Itan... Por que está me contando isso?
Itan: Já disse que perguntas são guardadas para o final. — Suspirou. — Eu entrei nesse negócio todo pelo meu pai. Ele nunca me deu atenção. Só focava no trabalho. Quando minha mãe morreu ele teve que se esforçar mais em mim. O que me levou a esse mundinho. A empresa do meu pai trabalhava principalmente fornecendo armas para os países fracos e armas químicas. Isso é totalmente proibido em qualquer país.
Mia: Armas químicas... — Falei para mim mesma.
Itan: O que levou a empresa ser fechada e nós começamos a vender nossas mercadorias no mercado negro. Por causa disso meu pai se livrou de algumas delegacias de polícia as explodindo. Com a coisa subindo de estágio tivemos que nos mudar e nos separar. Quando nos separamos eu fiquei e ele foi parar aqui. A Raquel já estava com a gente desde que entrei. Ela também não tem aquela idade. É bem mais velha. Mas não posso dizer quanto.
Respirei fundo e ele continuou e eu continuei escutando.
Saber que aqueles incidentes em outros países foram causados pelo Sr. Marcos é bem chocante... Milhares de pessoas morreram com o experimento de armas químicas. Era proibida a venda e mesmo assim elas chegavam até lá de algum jeito.
Milhares de pessoas morreram. Eu lembro dessa reportagem até hoje e do trabalho que fizemos sobre esse assunto. Até lembro que o Itan o fez também.
Itan: Voltei para cá depois de alguns problemas fecharem nosso local. A polícia estava cada vez mais perto de nós. Pela primeira vez na vida meu pai me dava atenção e focava em mim. Eu estava orgulhoso de mim e não me importava aonde isso iria chegar. Mas a vida nos prega peças. Eu não sabia que você estava no meu caminho. — Riu olhando pra mim.
Mia: Itan...
Itan: Eu pensei que eu apodreceria na prisão um dia ou morreria em alguma operação policial. Mas... acho que é certo dizer que quando te conheci eu comecei a imaginar coisas inimagináveis. A viajem do Caribe foi apenas para levar algumas coisas para deixar por lá. Meu pai não tem uma revista de moda praia. Até as modelos eram contratadas no momento.
Mia: Por que eu tive que ir então?
Itan: Você estava sob nossa responsabilidade. Te levar foi uma coisa óbvia. — Riu.
Mia: Itan... eu não quero ouvir mais nada... — Falei com os olhos cheios.
Itan: Seu padrasto. Lúcio. Ele não apareceu mais né? — Perguntou e eu neguei. — Então eles fizeram tudo direitinho. — Ficou sério.
Mia: N-Não me diga...— Levantei devagar.
Itan: Meus sentimentos. Quando soube da história eu não me contive. E mandei fazer aquilo. Pode me culpar se quiser. Mas ele viria te atormentar depois.
Fui em sua direção e lhe dei uma tapa.
Mia: Itan... era uma vida... Ele não vai voltar mais... Você não teve esse direito...
Itan: Eu sei. — Sorriu. — Pode me bater, eu não ligo. Foi feito e não tem como desfazer. Me desculpe. — Virou o rosto.
Mia: Então... O Jayden... — Me assustei.
Itan: Não fiz nada com ele. E nem meu pai. Que eu saiba. Ele realmente sumiu. — Apertou os dentes. — Ele poderia nos denunciar a qualquer hora. Mas não fez isso.
Mia: E-Eu pedi que não...
Itan: Por quê?
Mia: Porque eu queria acreditar em você! Que você não foi capaz de nada disso!
Itan: Mas eu fui. E agora? O que você vai fazer?
Mia: O que.... Eu vou... Fazer?
Itan: A viagem de agora é para se livrar de você e sua família. Meu pai vai se mudar depois disso. Vamos sumir de novo. Vamos ser dados como mortos e fim da história.
Mia: Mas Itan... — Chorei. — Isso é terrível! — Falei e ele me abraçou.
Itan: Eu sei que é. Por isso vim te contar. Não posso permitir que denuncie meu pai ou eu. Mas não posso permitir acima de tudo você morrer ou sua família. — Apertou.
Mia: Eu...
Itan: Eu vou dar um jeito. Não faça nada. Ao contrário de mim você tem uma vida especial. Todos gostam de você. E bem. De mim não gostam. Gostam do Itan.
Mia: Mentira! — Me afastei. — Eu gosto de você! Do Itan e da outra pessoa que você é! Você é meu amigo.
Itan: Eu não sou o Itan.
Mia: O Itan e você são a mesma pessoa. Mesmo sendo teatro vocês são a mesma pessoa dentro de um mesmo corpo. Itan é uma parte de você. E se você quiser você pode ser ele!
Itan: Não. Não posso. — Sussurrou.
Mia: Ãn?
Itan foi para a janela e me jogou um papel.
Itan: É uma música que eu fiz. Não vou poder cantar para você mais pode pelo menos imaginar? Quem sabe um dia. — E pulou.
Corri até a janela e ele entrou no carro dele e saiu em velocidade máxima.
Peguei o papel e li. Só tinha a letra, mas por algum motivo a música era tocada em mim. Era como se eu soubesse a letra.
Meus olhos encheram d'guá e eu caí na cama. Apertei meu travesseiro e me deixei chorar. Aquele aperto no peito era mais forte que eu. E por mais que eu gritasse ele não parava de doer. Minhas cordas vocais explodiriam e mesmo assim não pararia de doer...
➥ Continua