Floresta do Sul

נכתב על ידי InTheClows

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• Livro I • Segundo livro já disponível: Colina do Sul. Chloe Lidell. Desde a barriga foi destinada a algo gr... עוד

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXIII
Agradecimentos
Informações sobre o livro II
Curiosidades FS
Aviso extremamente importante
NOVIDADES DO LIVRO EM PAPEL
Aviso (leiam todos, inclusive os que ainda nao terminaram de ler, por favor)
Atualização Completa e Colina do Sul
Ainda há alguém aqui?
Por todos vocês

Capítulo XXX

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נכתב על ידי InTheClows

Não sei quanto falta para amanhecer, mas espero que não muito.

Tento controlar as batidas do meu coração enquanto desço a rua escura calçando as botas e o suporte enquanto corro. Coloco as espadas no lugar e não olho para trás enquanto acelero o ritmo até chegar no portão. Não posso olhar para trás. Não posso pensar em nada.

Corro sem fazer muito barulho. A lua iluminava o meu caminho, mas eu gostaria que estivesse tudo na completa penumbra. Rápido, eu pego uma lanterna nas caixas antes de chegar ao portão, e praguejo baixinho quando paro em frente ele. Eu não fazia ideia de como iria abrir aquilo, mas tinha que ser rápido, Rhys já devia estar me procurando.

Tateio procurando alguma fechadura ou algo do tipo, mas não vejo nada, não sinto nada. Começo a entrar em um leve desespero. Não sei quanto tempo levaria para Rhys chegar, mas sei que não seria muito. Nunca reparei em como aqueles portões se abriam, por que não tinha chegado nessa parte do planejamento antes de desistir da fuga?

– Muito desesperador, eu imagino. – Tenho um sobressalto quando ouço a voz vinda de algum lugar da penumbra.

Não reconheço imediatamente, mas quando ele entra na luz que a lua fornecia me seguro para não cair de joelhos. Eu, com certeza, devia ter feito algo muito errado sem saber. Nunca desejei tanto ter mais sorte enquanto encarava Bill.

– Fique longe. – Digo cautelosa. Ele está com as mãos nas costas o que me deixa ainda mais alerta. Não conseguia enxergar o que tinha ali, poderia ser uma espada também.

– Quanta falta de modos. – Ele diz e estala a língua. – Sabe, você nunca disse para ninguém sobre aquele dia. Se tivesse dito eu provavelmente estaria morto agora.

– Duvido muito. – Levanto o queixo, fechando os punhos para não acabar pegando as espadas em minhas costas por instinto.

– Pense o que quiser, mas eu sei que estaria. Bom... – Ele entra de novo na escuridão e mexe em algo. Parece puxar alguma coisa. Os portões se abrem o suficiente para que eu passe. – Acredito que esteja na hora de eu retribuir o favor.

Hesito um pouco olhando lá fora. Não era a floresta que me causava medo, mas talvez Bill tivesse montado uma armadilha.

– Acho que isso vai ajudar também.

Ele joga uma mochila e pego por puro reflexo. Passo as alças pelas costas rápido e penduro o casaco azul marinho em uma delas. Bill olha para mim e para o portão, como se me incentivasse a sair. Hesito novamente, mas ouço passos atrás de mim e quando olho, Rhys está lá, parado na esquina. A lua ilumina seu lado esquerdo do rosto e os cabelos. Olho para ele uma última vez, que pega a espada de novo. Não consigo ler nada em seus olhos. Bill já sumiu na escuridão, e, antes que Rhys chegue até mim, corro para fora.

Corro muito, sem ligar a lanterna, sem fazer muito barulho. Não sei para onde estou indo, só quero correr para longe o suficiente. Não me permito chorar, não ainda.

Continuo correndo, parando por dez segundos, vez ou outra, para pegar fôlego. Em algum momento acendo a lanterna, em outro o céu clareia e o sol começa a nascer. Não sei que horas eram, não havia pego meu relógio de pulso.

Completamente ofegante eu paro quando os primeiros raios de sol surgem. A neve ali está praticamente toda derretida, a terra fresca está limpa e pura. Me sento em um tronco caído e me recosto em uma árvore. Fico por dois minutos inteiros olhando fixamente para algo, sem realmente prestar atenção.

E então, choro.

Choro muito, enterrando o rosto entre os joelhos e soluçando. Meu rosto dói pela expressão sofrida, as lágrimas caem incessantes, as cenas se repetem em minha mente. Choro e choro e choro. Até sentir a garganta se fechar por completo e o fôlego sumir. Levo tempo até conseguir me controlar, até enxugar as lágrimas com o dorso da mão e respirar mais calma.

Me controlo aos poucos e paro de tremer. O sol bate em meu rosto e fecho os olhos, encostando a cabeça no tronco da árvore.

O que aconteceu? O que eu fiz? Por que ele fez aquilo?

Pensei e pensei e pensei, por minutos, talvez horas. Procurei no fundo de minha mente algo que pudesse explicar, mas simplesmente não consegui achar nada. Simplesmente não havia explicação pelo que tinha acontecido. Eu queria confrontá-lo, e perguntar qual era o problema, mas cada vez que eu tentava falar com ele, ele me golpeava. Ele queria me matar.

E todos aqueles dias ele disse que estava tudo bem. Que as coisas se resolveriam logo.

Então, era a isso que ele se referia?

Ele disse que me amava, que me protegeria... Chegava a ser cômico o que ele tinha feito ainda a pouco. Balanço a cabeça. Tudo mentira... Todas aquelas palavras de amor, aqueles cuidados, tudo aquilo... Uma farsa. Me fez confiar, contar coisas. Ele era horrível. Rhys era um monstro.

Mentiras.

Mentiras.

Mentiras.

Várias delas.

Eles fizeram isso porque sabiam que eu iria cair, que eu era inocente o suficiente para acreditar em cada uma delas. Tola.
Rio com escárnio, de mim mesma. Eu era tão tola. Como pude acreditar em tudo aquilo? Como me julguei tão forte se não percebi o que realmente estava acontecendo?

Eu me perguntava o que, de fato, havia acontecido durante a missão ao Leste, o que Rhys queria dizer quando disse que era minha culpa, o que quer que fosse.

Mas não me importava mais.

Enxuguei completamente as lágrimas e continuei deixando o sol bater em meu rosto. Não me permitiria chorar mais. Não por Nevra, não por ele. Me achavam fraca o suficiente para me enganar, e eu realmente era fraca. Tão fraca que me deixei cair naquelas palavras venenosas, aquele povo ardil.

Fraca. Fraca. Fraca.

Mas eu não seria mais assim agora. Não permitiria meu coração destroçado no peito me deixar ainda mais vulnerável, chorando pelos cantos, pensando nele. Eu não me permitiria continuar sendo fraca por isso, por ele. Eu não iria mais derrubar uma lágrima pelo que ele fez, pelo quanto ele me enganou. Eu não podia deixar isso acontecer a mim mesma, eu tinha que cuidar de mim agora. E eu sabia fazer isso.

Me sentei corretamente e estiquei o copo sobre as pernas, pegando a mochila e colocando a meus pés. Não fazia ideia do que Bill teria colocado ali, mas não me pareceu sensato recusar na hora. Abro o zíper com certa cautela e dou uma espiada lá dentro com deliberado cuidado. Bom, não parecia ter nada que fosse me atacar, não que eu soubesse que tipo de coisa podia ser guardado em uma mochila para que atacasse outros quando a abrissem. Uma bomba, talvez? Eles teriam acesso a uma? Balanço a cabeça me focando no que está ali dentro.

Frutas, garrafas de água, pães e potes com carne seca. Uma adaga com capa protegendo a lâmina, uma manta fina azul escura, mais frutas, cordas, meu relógio de pulso e... Minha máscara preta.

Fecho a bolsa depressa. Cogito a hipótese de arrancar o colar e jogar longe, mas... Eu poderia fazer aquilo depois. Era de ouro, talvez eu pudesse vender. Ignorei o aperto no peito quando pensei nisso.

Me levantei, convicta, decidida, e vesti o casaco azul marinho. Prendi o cabelo em um coque alto, voltei a vestir o suporte de espadas e passei a mochila pelo ombro direito. Ficava um pouco incômodo e pesado usar a mochila e o suporte, mas teria de dar. Deixei a adaga por dentro da bota, entre a panturrilha.

Não sabia para onde iria, o que faria, não sabia de nada. Então apenas resolvi andar, devagar, observando tudo e escutando com atenção. Eu estava sozinha agora, precisava cuidar de mim mesma. Pensei e andei por um tempo até decidir tomar a direção do Leste. Eu mesma veria o que estava acontecendo. Mais promessas quebradas... Rhydian dissera que me contaria tudo dentro de alguns dias. Ele sabia que não seria preciso contar quando eu estivesse morta.

Eu estava alheia para meus sentimentos agora. Não sabia o que sentir sobre Rhys, sobre suas mentiras, seu ato de quase me matar, aquele povo. Um povo que um dia considerei meu, que confiei, que até pensei um dia ser líder, ao lado de Rhydian. Então, decidi ignorar a dor, o ódio, a raiva, a tristeza, o vazio e a solidão. A decepção, o trauma, a saudade. Iria ignorar tudo aquilo o quanto desse. Foi tudo rápido demais, literalmente da noite para o dia. Eu ainda não havia me estabelecido, não havia caído toda a ficha, então eu suportaria ignorar tudo aquilo por mais um tempo. Já havia chorado o bastante. Não podia continuar sendo fraca, não agora que tinha que decidir o que fazer, para onde ir depois de ver o que tinha no Leste. Talvez eu me juntasse ao Norte, por pura vingança.

Não. Apesar de tudo, eu sei que jamais me vingaria de Rhys. Apesar de tudo, eu era tola demais para, sequer, cogitar a hipótese de feri-lo. Porque eu era uma tola apaixonada. Ainda apaixonada.

O sol continuava ficando mais forte a medida que eu andava. Nem parecia um dia triste de inverno. Era injusto. Queria que o céu estivesse tão nublado quanto meu coração e minha alma agora, queria que tivesse uma tempestade furiosa para me representar neste momento, para que, de alguma forma, Rhys soubesse o que eu estava sentindo. Mas não. O céu estava lindo, quase sem nuvens, pássaros cantavam, neve e rios e lagos se derretiam, flores se abriam. Parecia um dia de primavera. Ótimo.

Depois de quase uma hora e meia andando, pensando e observando, resolvo parar. Me sento em uma rocha lisa.

Abro a mochila e pego um pote de carne seca e pão, colocando a carne dentro dele. Cheiro a comida várias vezes em busca de veneno e até penso em não comer, mas minha barriga ronca alto e... Bom, se Bill quisesse mesmo me matar me deixaria morrer nas mãos de Rhys. Eu acho.

Dou de ombros e mordo o pão com vontade. Estava completamente faminta e os sabores se misturando em minha boca quase me fizeram chorar de felicidade. Não tinha percebido que estava com fome até aquela hora. Termino de comer mais rápido do que gostaria, e até penso em comer uma maçã, mas eu tinha que racionar agora, fazer aquela comida durar.

Não estava com pressa de chegar ao Leste, depois de lá eu teria que descobrir outra coisa para fazer, então preferia ir devagar, de modo que estabeleci quinze dias antes de chegar.

Então, quando guardei a comida de volta na mochila, resolvi procurar um lugar para dormir por ali mesmo. Não parecia que iria nevar durante a noite, mas resolvi tentar encontrar, de preferência, uma caverna. Cobras realmente me assustavam e com a neve longe elas deviam aparecer cada vez mais.

E eu estava sozinha agora.

Andei envolta procurando. Ao mesmo tempo que andava, silenciosa, ficava atenta aos outros sons, atenta a sinais de inimigos ou talvez animais perigosos. Certa vez eu não me importava com isso. Porque eu tinha Rhys, eu confiava nele, me sentia infinitamente segura ao seu lado. Mas no final, ele mesmo era meu inimigo.

Inacreditável que o jogo houvesse se virado daquela maneira.

As horas vão passando, até rápidas demais, enquanto tento achar algum lugar decente para dormir. Depois de mais algum tempo acabo encontrando uma caverna funda e guardo minha mochila ali, saindo de novo para procurar galhos secos para a fogueira. Não podia negar que, pelo menos, o teste idiota e enganoso de Rhys me ajudaria a partir de agora. Quando as noites chegassem, a comida acabasse... Eu já saberia o que fazer.

Terminei de juntar os gravetos com certa demora, mas o sol ainda estava de pé. Coloquei eles perto da entrada da caverna, não seria necessário acender a fogueira agora. Na verdade, acender a fogueira era um pouco perigoso já que iria chamar atenção e eu estava sozinha, mas mesmo sem neve a floresta era fria durante a noite.

Tirei o casaco e joguei em cima da mochila. Iria montar armadilhas envolta da entrada da caverna, para que não fosse tão perigoso. Levei bastante tempo para achar coisas que pudesse usar, mas com a quantidade de corda tinha dentro da mochila, consegui fazer uma rede improvisada e coloquei na entrada. Joguei terra por cima e amarrei em um galho alto as pontas da rede, deixando um pedaço de tronco pesado perto de cair. Se alguém pisasse, derrubaria e ficaria preso no alto da árvore. Era uma boa armadilha, mesmo improvisada. Agradeci silenciosamente a Bill pelas inúmeras cordas.

Quando acabei tudo o sol já estava se pondo, então resolvi acender a fogueira quando ventos frios começaram a passar por mim. Organizei os gravetos, acendi o fogo e me encostei na parede de pedra fria enquanto assistia a madeira queimar e bebia um gole d'água. Estava faminta novamente, mas esperaria até o último segundo.

Bom, não demorou muito até a fome me vencer.

Comi apenas pão. Tinha de racionar, fazer aquilo durar porque depois eu teria que me virar caçando e pegando peixes.

Fiquei parada, comendo, enquanto lá fora a noite caía salpicada de estrelas. Vesti de novo o casaco quando mais ventos frios passaram por mim, agitando as chamas. Me deitei com a cabeça na mochila e peguei a manta fina para cobrir o corpo. A caverna era apertada, mas consegui me esticar.

E só então, deitada e sozinha, sem espaço para que mais ninguém se deitasse ao meu lado, me permiti pensar em tudo de novo. As cenas de nós juntos se misturavam com sua fracassada tentativa de me matar. E acabei me permitindo chorar mais um pouco. Por ter sido fraca e enganada, por ainda o amar com todo o resto do que sobrou do meu coração, por ainda desejar que ele esteja bem. Chorei por tudo que poderíamos ter tido se aquilo não fosse uma mentira, por suas palavras doces e inventadas, por acreditar que ele poderia mesmo me amar.

E Selena e Laurien, tão distantes nos últimos dias, com certeza cientes do que viria a acontecer... Tudo parte do plano, para que parecesse mais verdadeiro. Traidoras, víboras, repugnantes.
Rhys criou uma máscara tão perfeita, tão perfeita. Tanto para ele quanto para os outros. No final, eram todos brincando de um baile de máscaras cruéis, e eu era a única que não usava nenhuma. Traidores, cruéis.

Paro de chorar. Seco as lágrimas de novo. Última vez, aquela foi a última vez que chorei por qualquer um daquele povo. Que morressem e queimassem, não me importava mais.

Seria a última vez que me importaria.



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