Chuck.
Eu queria tanto conseguir fechar meus olhos e adormecer, mas os olhos daquela menina junto com seu sorriso alvo não saiam da minha cabeça. Ela estava me infectando por inteiro, mesmo que eu lute contra isso.
Eu apenas fiquei andarilhando pelo quarto. Pegava um livro para ler, mas não me concentrava. Pegava o celular, mas as redes sociais por mais lotada que estivessem estavam sem graça. Olhei vídeos sobre meu curso e nada me atraía naquele instante. Só a beleza por trás das maçãs do rosto dela estava tomando minha mente.
— Saí da minha cabeça, saí da minha cabeça.... – Bati na minha têmpora enquanto andava.
— O que você quer que saia da sua cabeça? – Túlio perguntou com sua voz embargada. — Ah já sei! – Se animou com algum pensamento. — Quer pegar mulher nova, não é? Claro, já cansou da Anyazinha...
— Não chama ela assim, idiota! – Rosnei. — Não é isso... É que... Bem, não interessa.
— Você está começando a ficar estranho. – Ele faz uma leve careta, enquanto vai para o banheiro.
— Pois é, estou. – Digo baixo, para mim mesmo.
Ouvi batidas na porta, e como estava distraído, fiquei assustado, mas abri a porta. Fernanda estava com os braços cruzados parada ali. Ela entrou sem convite, então peguei minha camisa e vesti.
— O que você quer? – Ela espichou seus olhos para algum canto no meu quarto. — Você sabe que não pode ficar na ala masculina – Baguncei meu cabelo um pouco.
— E daí? Da última vez você não ligou para isso – Ela deu alguns passos na minha direção.
— É porque eu estava bêbado e com uma leve loucura também. – Ela me olhou com irritação.
— Você não pode resistir a uma mulher como eu. – Ela começa a tirar sua camisa.
— Enlouqueceu Fernanda? – Eu abaixo sua blusa.
— Eu só quero você – Ela começa a me agarrar e tentar me dar beijos, mas esquivo meu rosto.
— Eu sinto muito por você! Eu já disse que estou namorando. – A empurro, fazendo-a cair sentada na cama.
— Bem, vamos ver o quanto isso vai durar – Ela se levanta da cama irritada e saí do quarto batendo a porta com força.
— Que bagunça é essa? – Túlio saí do banheiro com uma toalha amarrada na cintura e com a boca cheia de pasta de dente.
— Esquece. – Eu pego meu celular. — Eu vou dar uma saída, pode levar meu material para a aula? – Ele assente e eu saio do quarto.
Vou caminhando pelo campus procurando por Anya. Eu estava com um leve medo de Fernanda ir atrás dela e contar alguma besteira. Eu não entendia esse medo, pois o namoro nem era real e ela nem gostava de mim, mas eu não queria que ela pensasse que eu ia descumpri minha promessa de, enquanto o namoro falso rolasse, eu não ficaria com outras.
Eu imaginei que isso seria mais difícil, mas quando eu fico perto dela eu nem tenho tempo para pensar sobre isso e mesmo longe eu também não tenho me preocupado muito com minha vida sexual.
Eu vi Fernanda de longe, conversando com alguma amiga dela, então apenas virei em outra direção, eu não podia aguentar mais uma conversa com ela.
Me escorei em uma arvore e fechei meus olhos. Quando abri, Anya estava passando por ali.
— Anya! – Chamei-a.
Ela me avistou na hora e veio até mim. Fiquei curiosa sobre o homem que estava com ela. Ela se despediu antes de vir direto a mim.
— Quem era ele?
— Meu amigo. – Respondeu, olhando-o de novo.
— Você... Por acaso, viu a Fernanda hoje? – Ela semicerrou os olhos para mim e negou com a cabeça. — Ah! Que bom... Evita ouvir o que ela diz.
— Está bem. Não está esquecendo nada? – Ela questiona.
— Hum? O que? – Ela ri de leve.
— Sua aula. – Eu entreabro minha boca e saio correndo. — Não se esqueça do ensaio!
Viro-me para dar um aceno apenas e ela faz o mesmo.
Ela estava uma graça naquela roupa dela hoje, e não foi uma das que comprei. Ela prendeu seu cabelo num coque bem bagunçado, uma bermuda que ia até o joelho e uma camiseta preta, sem mangas. Mais longa atrás. Mesmo sem nenhuma maquiagem, seu rosto parecia com um pouco de rosado.
Corri para minha aula, com esperança de não ver mais ninguém indesejável hoje e que meu corpo e mente resista até a noite, pois não dormi nem um tiquinho.
Tentei prestar atenção na aula, mas não consegui muito. Apenas fiquei a observar o movimento tedioso das folhas com o vento a bater nelas. Parecia poético se olhasse bem.
Depois que terminou todas as aulas, consegui um tempo para um cochilo, mas não consegui, pois eu quis pesquisar um pouco sobre a aula que eu não tinha prestado atenção. Minha consciência pedia por isso. Enquanto estava pesquisando um site de viagem começou a anunciar ofertas para as praias nordestinas. Fazia tempo desde a última vez que fui lá.
E pensar, que se aquela pessoa nunca andou de carro, ela jamais deve ter saído do Rio de janeiro.
As férias já estão se aproximando e essa seria uma boa chance de viajar para lá de novo.
Depois de muito pesquisar eu fui me arrumar para o ensaio antes que Anya aparecesse aqui com uma faca. Coloquei novamente roupas confortáveis, me perfumei um pouco e então fui em direção ao departamento dela.
— Chuck! – Olho para trás ao ouvir meu nome.
Era um dos meus amigos de balada.
— E aí cara – Nos cumprimentamos. — Hoje eu vou ir numa festa, está afim?
— É que eu... Eu não posso hoje, tenho compromisso. – Digo, colocando a mão no bolso.
— Que? Você nunca recusou uma festa. Vai me dizer que aquele papo de namoro está sério mesmo.
— Pior que está – Respondi. — Vou nessa. – Me despeço antes dele dizer algo mais.
Ao chegar lá, olhei pelas portas de vidro antes de entrar. Ela estava praticando com uma música que parecia ser clássica. Ela ficava bem dançando, mudava completamente. Era como se tivesse outra pessoa na minha frente, uma essência magia a rodeava quando ela movia seus pés dessa forma.
Parei de encará-la e entrei no local.
— Chegou na hora. Que milagre! – Disse, sem me olhar.
— Não dá para esperar um elogio de você, né?
— Você se importa com isso desde quando? – Rebate.
— Não me importo. – Digo.
Ensaiamos mais uma vez como combinado e, mais uma vez, me cansei. Eu sempre me cansava, não era como ela que estava sempre em boa forma e parecia não soar nunca.
Eu não entendia como ela mudava tão espontaneamente quando colocava uma música. Ela ficava mais séria e seu olhar um pouco feliz, mas não era uma felicidade que contagiava, tinha algo ali que ao mesmo tempo parecia triste. Cada vez que eu a conhecia mais queria saber os mistérios que a envolviam.
— Você está melhorando, nesse ritmo vamos conseguir um troféu de participação. – Ela dá um gole em sua agua que estava na garrafinha.
— Ah, pode contar com o primeiro lugar. Eu jamais iria deixar você apenas com um troféu minúsculo – Passo a toalha pela minha nuca.
— Oh, isso é uma promessa? – Ela sorri de canto.
Dou de ombros sem falar mais nada. Ela apenas sorri e voltamos a ensaiar.
No meio do ensaio um pensamento me rodeou: Eu recusei uma festa. Não posso negar que amo festejar e estar rodeado de garotas e bebidas, mas hoje eu queria cumprir o que prometi a Anya.
Eu nunca me senti dessa forma antes. É como se uma flecha atingisse meu peito e, aos poucos, entrasse por inteiro até perfurar meu coração. É esse sentimento que tenho ao ver seus pés flutuarem numa dança ou seus olhos se encontrarem com os meus.
Eu só posso estar louco.
Anya.
Eu não sei o que está havendo com ele. Ele parece estar fora de órbita agora, fica me encarando sem parar e o pior é que isso não é mais tão nojento quanto antes, só não sei o porquê dessa mudança agora. É tão confuso.
Eu realmente odeio esse garoto. Ele é arrogante, metido, abusado e intrometido, mas ele agora parece ter os olhos mais lindos que já vi.
— Você vai dançar com uma dessas músicas aí? – Ele me olha, esperando minha resposta, mas meu cérebro parece paralisar, eu estava ocupada olhando seus olhos. — Anya?
— Han? Ah... Ah, não. Quer dizer... Não sei. – Ele apenas balança a cabeça.
— Eu soube que o jurado mais importante é de outro país. – Ele pega a garrafinha de água e ameaça beber, mas não o faz. — Pode escolher uma música do país dele.
— Ah... É... – Ele sorriu para mim, com ternura.
— O que você tem? – Ele se aproximou de mim, fazendo-me inclinar para trás e quase cair, mas ele me segura pela cintura e me traz de volta para perto dele.
— Seus olhos são bonitos – Solto, sem pensar. Ele arqueia a sobrancelha e sorri de canto.
— Os seus também. – Responde, tirando um fio do meu cabelo do rosto e colocando atrás da orelha.
— Vamos voltar a ensaiar! – Desperto saindo de perto dele.
— Claro. Você vai ter que se responsabilizar pela massagista – Ele estica seu corpo.
— Se eu tivesse dinheiro para massagista você acha que eu teria começado a universidade chantageando um playboy? – Arqueio a sobrancelha e ele ri.
— Está certa. Você tem razão. – Ele ergue as mãos.
Voltamos a ensaiar por mais alguns minutos. Ele pesquisou em seu celular para ver de que país o jurado tão importante era. Eu teria que pesquisar muito, pois, o homem era da Coreia do Sul e eu não sabia absolutamente nada sobre isso.
Quando saímos do departamento, fechei tudo e apaguei as luzes. Apesar do horário tinham ainda alguns grupos no campus estudando. Claro, as provas estavam se aproximando. Eu tinha sorte nesse quesito, eu sempre me saia bem.
— Porque tem tanta gente aqui?! – Ele colocou seu celular no bolso.
— Oi! – Um grupo de meninas se aproximou de nós.
Estavam todas com um olhar estranho, como se tivessem contas a cobrar. Chuck as olhou confuso, mas parecia conhecer cada uma delas. Não era de se estranhar! Por um momento esqueci com quem eu estava.
— O que vocês estão fazendo? Vão formar uma girlband? – Ele perguntou com um sorriso cínico nos lábios.
— O papo não é com você hoje, meu bem – Uma das meninas, que tinha o cabelo bem curto, preto, chegou mais para frente, como se fosse a líder.
— Que?
— É com "essazinha" que você diz ser sua namorada! – Ela aponta para mim.
Sinto meu sangue ferver, mas me contenho, eu não podia ter meu nome manchado, pois poderia ser expulsa por ser bolsista.
A mulher de cabelos negros e curto olhou para trás e deu algum sinal com a mão. Foi então que todas elas – Eram mais ou menos umas cinco – se aproximaram de mim e me jogaram farinha de trigo.
Eu tive que fechar meus olhos para processar o que estava acontecendo bem ali. Será que estou mesmo numa universidade?!
— VOCÊS ESTÃO LOUCAS? – Chuck vociferou. — O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? – Mesmo de olhos fechados pude sentir que ele ficou na minha frente.
— Eu já disse que o papo não é com você! – Quando abri os olhos ele foi empurrado pelas cinco e em seguida, todas começaram a jogar ovos em mim.
Eu estava com muita raiva mais ainda de não poder fazer absolutamente nada para me defender. Eu sabia que mesmo tendo razão para isso eu iria levar a pior. Então, apenas fechei meus olhos outra vez e por alguns segundos senti os ovos se encontrando com partes do meu corpo. Mas depois cessou.
Eu senti o abraço forte dele me envolvendo e sua mão puxando minha cabeça para seu peito. Eu não senti mais nada, apenas a respiração ofegante dele e o calor do seu corpo perto do meu.
— Parem com isso! – Uma delas gritou.
— O que você está fazendo? Sabe como funcionam as coisas. Essa menina se meteu onde não devia estamos apenas colocando ela no seu lugar – Reclamou alguém entre elas. — Você deve estar louco. Não é possível que estava namorando essa... Sem sal. Ah! A Fernanda é bem melhor que isso. Pelo menos sabíamos que você iria ficar com uma de nós a qualquer momento.
Não ouvi Chuck retrucar, ele só continuou me abraçando sem hesitar. Sua respiração foi desacelerando aos poucos, mas sua mão ainda tremia um pouco, talvez de raiva.
— Ei! – Ouvi uma voz familiar.
— Vamos embora! – Ouvi os passos correndo para longe.
— Han? Anya? – Abri meus olhos ao reconhecer a voz de Rony. — Meu Deus! O que aconteceu com vocês dois?
Chuck se desprende de mim e apenas fica do meu lado olhando firme para Rony e bufando.
— Hein? O que houve Anya? – Ele se aproximou de mim e começou a limpar meus braços.
— Foi só... Infantilidade. – Respondi, vislumbrando Chuck de canto. Ele estava emburrado.
— Ah claro! Sei de quem é a culpa... Eu te avisei antes para tomar cuidado. – Dou uma olhada mortal para Rony.
— Vamos Anya, eu vou te ajudar. – Chuck pega na minha mão, mas Rony pega na outra.
— Você não acha que já fez o suficiente? – Rony rebate com um sorriso maldoso nos lábios.
— Eu não sou o culpado disso. E essa mulher é minha. – Chuck tira a mão de Rony de mim e começa a me arrastar pelo campus.
Eu sigo sem dizer nada. Apenas olho para trás rapidamente e vejo Rony boquiaberto. Como Chuck estava muito sério eu resolvi não questionar nada por enquanto, apenas continuei me deixando ser levada com ele.
Continua...