19/21✔️
Coloquem o colete, lindinhas!
SEM REVISÃO!
***
— Vamos lá, você primeiro. — Lauren disse, Camila sentada a sua frente, com um cobertor cobrindo-lhe o corpo.
— Hmmmm, um medo meu? — pareceu pensar, balançando para frente e para trás.
— Vai, não deve ser tão difícil.
— Acho que tenho medo de morrer. Sabe?
— Tem medo de ser como eu?
— Eu não diria que tenho medo de ser como você, mas diria que morrer deve ser a pior coisa do mundo.
Camila começou a tremer, o suor escorrendo por sua testa. Lembrava de quando tiveram aquela conversa, fora dias antes do primeiro beijo que tiveram, e ela nunca se esqueceria. Já era a quinta vez que sonhava com a mesma coisa, e se via incapaz de acordar. Presa em seu próprio pesadelo.
Não estava em casa, e mal tinha ideia de quem era a cama cujo estava dormindo.
Os raios de sol já atravessavam o frágil vidro das duas enormes janelas daquele irreconhecível quarto. Por um segundo, ela pensou estar morta.
Apenas por um segundo.
Seu coração batia forte e sua respiração era deveras pesada. O gosto metálico de sangue ainda estava em sua boca. Naquela mesma noite, fora o pesadelo repetitivo, ela continuou tendo os flashs involuntários sobre ela.
Então era aquela à história de Lauren?
Além do mais, uma insistente voz – que se assemelhava demais com a de seu amor – lhe perturbou a noite inteira, e assim estava fazendo até agora.
Você a deixou cair.
Algo se remexeu em seu estômago, fazendo-a ter náuseas. Essas que estavam fazendo-se frequentes desde a meia-noite.
Por que fez isso?
Ela tinha tanto ódio. Estava tão sobrecarregada de malditos sentimentos, mas não sabia descrevê-los e tinha medo de não poder defini-los para com Lauren.
Porque, por mais que isso a destruísse, tinha certeza que esses sentimentos tinham sido despertados por sua soulmate.
E agora ela estava longe, perdida.
Ela confiava em você.
Camila à traiu, mas não apenas à ela, também traiu seu próprio subconsciente. Sabia da fraqueza que tinha no quesito "bebidas", mas deixou-se levar e agora estava sofrendo.
Agora seu amor iria morrer, se ela não pudesse encontrá-la
Você disse à ela...
Você à protegeria.
Como ela poderia proteger alguém, sendo que ela não tinha forças para proteger à si mesma?
Por que você não está fazendo isso agora?
E mais uma vez, aquele maldito pesadelo retornara.
— Vamos lá, você primeiro. — Lauren disse, Camila sentada a sua frente, com um cobertor cobrindo-lhe o corpo.
— Hmmmm, um medo meu? — pareceu pensar, balançando para frente e para trás.
— Vai, não deve ser tão difícil.
— Acho que tenho medo de morrer. Sabe?
— Tem medo de ser como eu?
— Eu não diria que tenho medo de ser como você, mas diria que morrer deve ser a pior coisa do mundo.
— Camila...
— O quê?
— Sabe por que eu morri?
— Não. Por que?
— Por sua culpa.
Silêncio.
— Camila...
— Sim?
— Acorde!
Sentou-se exasperada na cama, as lágrimas, que agora desciam de forma inconsciente por suas bochechas, deixando sua visão embaçada. Não tinha ciência, mas passara a noite inteira arranhando o torso, sentindo-se sufocada.
Sentindo-se agoniada por estar viva.
O quão irônico aquilo era?
Seu amor estava sufocado por estar morrendo, e ela estava sufocada por estar vivendo.
Talvez ambas tivessem nascido com os papéis trocados.
Na noite anterior
— Abre a porta, Chris! — Harry ordenou, segurando Camila nos braços. O rapaz, desorientado, fez o que o primo disse e deu-lhe espaço para entrar na sua casa.
A casa dos Jauregui.
Não foi surpresa encontrar Taylor brincando na sala com vários brinquedos, enquanto Michael a ignora e Clara se mantém presa no quarto.
Aquela era a rotina dos Morgado desde a partida da filha mais velha. Um martírio.
Michael não entrou em depressão, como Clara, mas sua vida ficou resumida em dúvidas e receios.
Ele não sabia se devia odiar Alejandro pela morte de sua filha – embora Clara insistisse que o fizesse –, ou ficar triste pela morte do próprio Alejandro.
Ele era seu melhor amigo, não se conheceram de forma comum, mas eram melhores amigos. Quase irmãos.
Michael o adorava, e era recíproco. O Jauregui mais velho cansou de ver o latino correr com sua pequena Lauren pela casa, brincando de alguma fantasia, nos vários finais de semana que passava com a família.
E mesmo que não quisesse, ele o perdoou. Mesmo que não parecesse certo para sua esposa, ele seguiu sua consciência e coração, e perdoou Alejandro. Pelo menos uma parte dele.
Já Clara... Bom... Clara era um caso mais delicado. Para ela, era totalmente impossível até respirar o mesmo ar que os Cabello. Como alguém que jantou e festejou em sua casa, usufruiu de sua hospitalidade, desfrutou de sua companhia e recebeu do bom e do melhor, pode fazer o que Alejandro fez? Eles eram falsos e hipócritas para ela.
Michael não a julgava por isso.
Afinal, você conseguiria dizer "Ah, tudo bem! Você matou a minha filha, mas a amizade continua!"?
Clara e Michael tinham certezas diferentes, e talvez isso gerasse brigas em casa.
O homem de barba rala e cabelo elegantemente cortado, levantou a cabeça de seu jornal para ver o movimento abrupto que se fazia na porta, assustando-se em ver seu sobrinho com uma garota em seus braços.
Ele conhecia aquela garota.
Aproximou-se rápido, e encarou os rapazes que, naquele instante, tinham semblantes suplicantes para ele. Camila estava desacordada e sangrando, dentro de sua casa.
— O quê diabos vocês estão fazendo com ela aqui?! — o homem questionou, baixo para que a esposa não ouvisse.
— Ela estava conosco em Pwayneland, mas acabou passando mal e a casa dela fica muito longe para a levarmos. — Chris contou, usando as mãos para gesticular.
— Tirando o fato de que não achamos um mísero táxi para levá-la! — Harry continuou, Michael estudava a situação.
Era a filha de seu melhor amigo.
A paixão de Lauren.
Ele não podia dizer "não".
— Leve-a para o quarto vazio lá de cima. — ordenou. Harry começou a caminhar com a latina, mas travou no primeiro andar.
— O quarto que era para ser de Michelle?
Ouve uma pausa.
— Sim.
Então carregou a pequena até lá, sendo acompanhado pelos parentes. Assim que a colocaram na enorme cama de casal, começaram a discutir quem daria um banho em Camila, para livrá-la de todo aquele sangue.
— Será você, Harry!
— Por que, eu?!
— Porque você é gay e é o que mais tem proximidade com ela.
— Mas tio!
— Sem "mas".
Bufando, ele pediu licença e começou a despir Karla, deixando-a apenas com as roupas íntimas. A colocou novamente no colo e levou-a ao banheiro, fazendo o mínimo de barulho. Tirou todo o sangue impregnado na pele bronzeada – que não era pouco – e lavou um pouco de seus cabelos. Quando voltou ao quarto, questionou como eles iriam vesti-la, sendo que as roupas da própria estavam sujas.
— Pegue uma muda de roupas de Lauren. Fica naquela gaveta. — apontou para um canto do grande armário branco. — Pegue um par de roupas íntimas também, ela não pode dormir com as dela. Estão encharcadas!
— O quê?! Não acha que está exagerando? Eu não vou fazer isso!
— Vai sim. É pela saúde dela, menino. Pense nisso.
— Mas eu não quero ver Camila nua!
— Não tem que querer. E você não precisa vê-la nua, oras. Coloque um cobertor por cima dela e o faça.
Logo muito a contragosto, após ter mais uma vez, pedido licença para Chris e Michael, ele obedeceu as ordens do tio, certificando-se de não ver e nem tocar nada que não deveria.
Assim sendo, eles deixaram a latina dormir. Harry ligou para Anne falando que passaria a noite na casa de seus tios, junto a Chris, e avisou Sinuhe que Camila passaria a noite com Dinah. Mesmo que não fosse verdade. Tempos depois ele conseguiu contatar Jane e avisá-la da farça, mas ela só aceitou se pudesse ver Camila no dia seguinte. E assim seria.
Presente
Harry tinha acabado de vir da cozinha, com uma caneca de achocolatado, e encostar-se no batente da porta, quando a latina acordou, fazendo-o se assustar e quase derramar o líquido marrom de seu recipiente. Com cuidado, ele se aproximou. Camila parecia assustada demais para ter uma abordagem agressiva.
— Oi... — falou, gentil e cuidadoso, sentando-se na beira da cama. — Está tudo bem?
— Eu- Como- Onde estou? — questionou, confusa e um tanto atordoada.
— Está na casa de Chris. — ele respondeu receoso, temendo a reação que Camila teria, mas ela simplesmente arregalou os olhos.
— E-eu- Mas- Espera- Me explique como vim parar aqui! — se desesperou, seu coração batendo tão rápido que o sangue corria forte em seus ouvidos.
— Calma... Calma. Respira. — ele tocou seu ombro vagarosamente, afagando. Ela respirou fundo e encarou o rapaz, mas desistiu assim que viu os olhos verdes e brilhantes. — Ontem você surtou, eu diria, e acabou desmaiando. Tivemos que te trazer pra cá, porque sua casa ficava muito longe.
— Entendo... — olhou para camiseta com uma estampa do The 1975 e a calça moletom da cor preta, estranhando até mesmo a sensação que as roupas íntimas davam. Elas queimavam sua pele, mas não de forma ruim. Muito por ao contrário... — De quem são essas roupas?
— São de Michelle. Lauren Michelle Jauregui. — falou, buscando a forma como Camila reagiria ao ouvir aquele nome. Ele ainda não havia esquecido das coisas que a latina tinha dito na noite passada.
Os cílios de Karla bateram lentamente, as mãos tremeram e a respiração passou a ficar irregular. Então, sem se importar com a presença de Harry, segurou a camiseta com as duas mãos e levou até o nariz, inalando o cheiro doce de baunilha. Seus pulmões fizeram uma festa, e tornaram-se nostálgicos.
Vanille
Harry a examinava cuidadosamente, Camila parecia conhecer Lauren, e isso o deixava deveras intrigado. Ela só chegou na cidade um ano depois da morte de sua prima, então não poderia tê-la conhecido, poderia?
— Camila. — ele chamou.
— Sim? — ela o respondeu, sua voz rouca e falha.
— Ontem, quando você estava, sabe... Fora de controle, você gritou o nome de Lauren. — a latina travou, subindo os olhos para poder fitar Styles. — Você pediu perdão e pediu para que ela voltasse... Voltasse para você. — suspirou. — Eu estava conversando com Chris, e ele me disse que na Roda Gigante, vocês tinham falado sobre Michelle, e aí você se desesperou daquela forma... — observando como o achocolatado girava dentro da xícara, ele indagou. — Você a conhecia? Digo, por que agir daquela forma?
Camila deixou uma risada de nervoso escapar entre os lábios carnudos, se remexendo inquieta no colchão macio.
Sabia que se contasse a verdade, poderia ser taxada de louca, então teve que pensar rápido.
— Eu- Bom- — mas ela não tinha o que pensar, e por isso implorou à Deus que lhe tirasse daquela situação. E, ouvindo suas preces, Michael apareceu na porta.
Droga, droga, droga.
— Ela acordou? — adentrou o cômodo, um pouco acanhado, com uma caneca, parecida com a que Harry segurava. Vendo os olhos castanhos bem abertos, ele sorriu e corou levemente, estendendo a caneca azul para a latina, que ruborizou. — Bom dia.
— Bom dia. — confusa, ela buscou Styles, que apenas deu de ombros. O homem sentou-se na cadeira que acompanhava a escrivaninha.
— Finalmente eu conheci você.
— Ah... Eu vou lá ver o Chris. — em questão de segundos, o rapaz robusto já não estava no quarto. Michael, o homem de suas visões, o pai de família exemplar, o apaixonado pela filha mais velha, o melhor amigo de seu pai, agora estava frente à frente com ela.
O que ela devia fazer agora?
— Sei que você não me conhece, mas, meu Deus, eu te conheço muito bem. — riu. — É Karla Camila, não é? — ela assentiu devagar. — Céus! Isso é tão- Meu Deus! — passando as mãos no rosto, o homem se acomodou mais na cadeira. — Lauren ficaria tão feliz. Ela- Ela ficaria muito, mas muito feliz. — analisando a garota, ele inflou o peito antes de dizer. — Eu sou Michael Jauregui, Camila. — "eu sei quem você é" — Eu sou pai de Lauren Jauregui, a garota que morreu no acidente de 12 de outubro. — "eu sei de quem você é pai" — E... Bom, digamos que Lauren tinha um amor platônico por você. — "ok, isso é novo" — Eu lembro a época que seu pai fugiu para cá com sua mãe, com apenas algumas malas e um montoado de sonhos nas costas. Nos conhecemos de forma muito descomunal, quer dizer, nós nos esbarramos e eu já fui chamando eles para jantar na minha casa. — sorriram, tanto ele quanto ela. — Seu pai e Lauren se deram bem desde o primeiro momento, foi de imediato. Alejandro era uma criança, digo, ele só tinha dezoito anos quando você nasceu, Camila. Ele era louco por você. E o estímulo dele para levantar todos os dias e ir trabalhar, era o fato de querer te dar tudo do bom e do melhor quando vocês estivesse aqui. Você era a razão da existência dele. — engolindo em seco, ele continuou. — Fui eu quem arranjou o emprego na transportadora para ele. E de acordo com o tempo, ele foi fazendo transportes cada vez mais longos. Cansei de ouvir Alejandro reclamando que estava mais de cinco, seis dias sem dormir. — ouve uma pausa. — Eu tinha planos... Planos de sair da nossa antiga casa, e comprar uma maior. Então prometi para o seu pai que doaria a nossa residência para ele, quando saíssemos de lá, e ele não precisaria trabalhar tanto. É óbvio que Alejandro tentou negar, mas Sinuhe, que sempre foi mais sensata que ele, conseguiu convencê-lo de que era uma ótima casa e que seria uma boa escolha para acolher você. Tempos depois da conversa que tivemos sobre o imóvel, começaram a surgir problemas com Lauren. Ela estava se metendo com drogas.
"Não, ela não estava. Lucy estava metendo ela."
— Estava se tornando complicado falar com Michelle. Ela não queria nos deixar ajudar. — "ela estava apaixonada e perdidamente cega, como queriam que ela dissesse?" — Talvez fosse algum namoradinho, — "ou namoradinha" — eu não sei. Christopher foi o que mais sofreu com a mudança da irmã. Ele a via como uma heroína. — "e chamou ela de viciada" — Os dois brigaram bastante, mas Chris foi o primeiro a ampará-la quando ela chegou em uma situação decadente em casa. E também era ela quem cuidava e dava banho nela todas as vezes em que ela passava dos limites. Ela passou dos limites diversas vezes. — "ela era como você..." — Ela era como eu. — "eu sei." — Nós só percebemos que a coisa era realmente séria quando ela passou a ficar assustada. Que dizer, todo mundo usa alguma droga na adolescência, e pensamos que fosse uma fase, mas ela estava demorando demais para passar. Lauren estava com medo. Medo de alguém. — "medo de Lucy" — Estávamos dando todo apoio possível para ela. A levamos no psicólogo e ela estava indo bem. Ela passou bastante tempo limpa. E quando estávamos prestes a descobrir o que tanto a deixava insegura, o acidente aconteceu. — lágrimas teimavam em querer fugir dos olhos de Michael Jauregui, mas assim como a filha, ele não sabia chorar. — Ela sobreviveria, Camila! Mas tinha alguma merda naquela ponte que fez os pneus dos carros estourarem. Eu não sei o que foi, e muito menos a policia quis dizer. A ambulância de Lauren caiu no rio, e eu sequer pude dar um enterro descente à minha filha. Eu a amava. Céus, eu a amava tanto! — "por favor, não chore" — Ela era minha pequena Lauren. Minha e de Alejandro, porque ele também a amava. Era nossa Lern Jergui. — e, já não se segurando, ele se deixou esvair. "Por favor, não deixe esses lindos olhos verdes chorarem!" — Na época, eu tinha acabado de comprar a nova casa. Faria uma surpresa e contaria a todos em um jantar, mas infelizmente não foi possível. E mesmo fervendo de ódio e bastante magoado com o seu pai, eu lhe entreguei as chaves para ele, e então eles saíram do micro apartamento em que moravam. Porque, embora tudo que tenha acontecido, eu sou um homem de palavra, e naquela época, eu cumpri a minha.
Alejandro quebrou Michael, assim como Camila quebrou Lauren.
Tal pai, tal filha.
— Depois disso, à última vez que o vi, foi no seu velório, quando ele se suicidou. — as palavras saíam lentamente pelos lábios rosados, como se a cada sílaba, ele recebesse um tiro no peito. — Foi a segunda pior coisa que aconteceu na minha vida. — ele sorriu. — E agora você está aqui, na minha casa, na cama que era para ser da minha filha, vestindo as roupas dela. Que ironia do destino, não? — ele se levantou da cadeira e caminhou até a porta. — O que eu quero dizer é que... Eu não pude salvar Lauren, Camila; muito menos pude salvar Alejandro. Mas se você tem alguém que precisa ser salvo, faça isso. Não espere que o tempo resolva as coisas, porque ele não resolve.
E deu as costas, deixando a latina perdida em uma linha de pensamento inexistente.
"Levante-se e coloque suas asas. Está na hora de buscá-la"
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