100 Cuecas!

By FabioLinderoff

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Toda história tem um começo, meio e as vezes precisa ter um fim. Após uma década de espera, Fábio Linderoff e... More

Vem aí...
Dedicatória
Nota do autor
Prefácio
Fábio Linderoff apresenta
100 CUECAS!
Momento 1
Momento 2
Momento 3
ALMEJANDO OS HOLOFOTES
ATO I - CRAVING FOR THE SPOTLIGHTS
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
O SHOW CONTINUA
ATO II - THE SHOW GOES ON
Interlúdio 1
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Interlúdio 2
Lições de vida
100 Cuecas! Book Soundtrack

Capítulo 25

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By FabioLinderoff

1.

O inverno no Canadá dura quatro meses, de Dezembro a Março e com temperaturas bastante frias. O inverno mais ameno do Canadá acontece em British Columbia, em Victoria e Vancouver, onde raramente as temperaturas ficam abaixo de zero. É importante levar em consideração o clima no Canadá quando se está planejando uma viagem ou intercâmbio. De acordo com a época do ano há a possibilidade de aproveitar um verão com muitos festivais e atividades culturais ou um inverno típico norte-americano, com neve e atividades como ski e snowboard.

Nós não tivemos muita escolha. Embora tenhamos planejado a nossa viagem para nos encontrarmos com o Daniel em Toronto, não podíamos prever que o clima estaria horrível. Entretanto, não foi o que nos impediu de sair e desfrutar de uma noite agradável, por assim dizer. A verdade é que o que faz o passeio ser satisfatório, seja qual for, é quem está contigo, mesmo que você seja a sua única companhia.

Houve uma vez em que no início da minha adolescência, uma tia minha me convidou para ir para a praia em uma dessas viagens que fazemos em época de férias escolares. Meus primos não foram e a minha mãe, com dó de me ver trancado no quarto jogando vídeo game e de acordo com ela perdendo tempo de vida, me mandou para a casa do caralho para que eu pudesse me divertir. Pois bem, quando eu soube que meus primos Thiago e Henrique não iriam, na hora eu já fiquei frustrado porque esses primos especificamente tinham quinze e quatorze anos e eu tinha quatorze na época, mesma idade de Thiago, e embora nós nos víssemos esporadicamente sempre foram encontros legais. Mas daquela vez estávamos descendo a serra em um Chevette 1987, dourado, rumo a Praia Grande. Fomos somente o meu tio, minha tia, eu e a mãe da minha tia. Pense na diversão para um um adolescente.

Chegando lá, pensei que seria uma semana de sofrimento, pois só tinha eu de adolescente no apartamento e uma senhora que me pedia alguma coisa a cada cinco segundos. "Ai Fabinho, pega o leque pra vó", "ai Fabinho, pega uma água pra vó", "ai Fabinho, tem que tirar a carne do congelador para o almoço, tira lá para a vó". Ela nem era a minha avó, para começo de conversa. Eu vivia esperando o momento em que ela dissesse "ai Fabinho, to com coceira no cu, coça aqui para a vó". Ela era uma senhora obesa e preguiçosa, vivia maquiada e bem arrumada. No passado tinha sido dona de uma casa lotérica, mas faliu. Devido o acúmulo de dívidas, teve que vender tudo e morar com a minha tia, filha dela, esposa do irmão da minha mãe. Os cabelos brancos sempre cheios de laquê e a maquiagem forte, me faziam lembrar da personagem Úrsula de A Pequena Sereia toda vez que eu a via. E sempre que ela ria, o riso era carregado de chiado por causa dos anos de cigarro e café e a imagem remanescente era da banha toda que balançava para cima e para baixo durante as gargalhadas, antes da crise de tosse.

Qualquer pessoa pode achar que só de ir para a praia já é um grande evento. Tendo em vista que há pessoas que moram longe de uma, muitos adorariam receber esse tipo de convite para comer e beber gratuitamente em um apartamento com vista para o mar em que você não precisaria pagar nada pela estadia. Porém, eu não pensava em nada disso quando eu era adolescente. Queria me divertir, apenas. Mas naquela viagem, sem ninguém da minha idade para me fazer companhia e tendo que cuidar da Dona Úrsula seria difícil me divertir. Houve uma vez em que eu, Thiago e Henrique descemos para a praia e pegamos carona com uns colegas do meu tio até Ilha Comprida. Lá podíamos andar de carro na areia e eu lembro do meu tio deixar eu e meus primos dirigir o carro. Eu devia ter doze ou treze anos de idade e mal alcançava os pedais. Mas naquele dia eu soube que ia adorar dirigir e ter o meu próprio carro quando a idade permitisse. No final da noite, eu e meus primos apostamos corrida pelados. Estávamos bêbados. Meu tio só dizia para o Thiago cuidar de mim e do Henrique. Foi com eles que eu tomei o meu primeiro porre. Os amigos do meu tio tinham levado uma garrafa de cachaça e tinha suco de limão e uma porra de garrafa de groselha. Quem leva groselha para a praia? Quem bebe groselha? Eu me perguntava. Pois bem, a mistura desses três ingredientes era a base de uma bebida chamada Bombeirinho. E foi a primeira vez que eu coloquei uma bebida alcoólica na boca junto com familiares. Depois de correr e nadar pelado por Ilha Comprida e encher o rabo de Bombeirinho e Fandangos é óbvio que passei a madrugada no banheiro vomitando mais que a garota do filme O Exorcista. Sempre lembro com carinho das aventuras com esses meus primos, eles eram diferentes de Carlos e Fernando, aqueles de Araraquara. Embora tenhamos nadado pelados e assistido muitos filmes pornográficos juntos, foi o Fernando de Araraquara, o mais "hominho" e recatado da família que me chupou em uma dessas viagens para a casa da "tia do interior".

Sempre desconfie dos santinhos.

Pois bem, em um momento do dia, a Dona Úrsula pediu para que eu saísse para comprar refrigerante em um mercado próximo, na volta, depois de passar pela portaria do prédio, ouvi vozes no salão de jogos do edifício. Enquanto esperava o elevador chegar ao térreo, aproveitei para dar uma olhada no que estava acontecendo no salão ao lado do hall de entrada do prédio.

O salão de jogos era amplo com duas mesas de bilhar, dois suportes para os tacos estavam fixados na parede oposta das janelas que davam para a avenida da praia. Havia uma mesa de ping-pong, uma de pebolim e uma mesa redonda com gavetas, com o tampo encapado com feltro verde para jogos de carta e uma mesa pequena, quadrada com o tampo quadriculado para jogos de dama ou xadrez. Havia uma mesa com o tampo de mármore cercada de cadeiras para jogos de tabuleiro. Se eu morasse naquele prédio eu ficaria em dúvida se eu passaria mais tempo na praia ou dentro daquele salão de jogos.

Eu até gosto de praia, o problema é a alta temporada. Não gosto de pegar filas e muito menos disputar lugar na areia com pessoas que chegam com caixinhas de som ouvindo pagode ou funk. Sim, sou chato. Ainda bem que naquela época ainda não existia nada disso. Sempre gostei de rock e música eletrônica. Passar o dia ouvindo aquelas músicas, ou pior, aquele forró meloso e repetitivo não é um passatempo agradável na minha opinião. Como eu gosto de frio, praia fica melhor para mim no inverno. Além de ficarem consideravelmente mais vazias, eu adoro aquele sol ameno e vento gelado.

As vozes que eu ouvia eram de cinco pessoas. Todos adolescentes entre treze e dezesseis anos. Haviam três garotos jogando bilhar e duas meninas histéricas tentando jogar ping-pong. O som das bolas de bilhar se chocando e o estalo da bolinha de ping-pong quicando na mesa eram constantes.

- Quer jogar com a gente? - Um dos garotos perguntou ao me ver parado na porta segurando a sacola plástica com os 2 litros de Coca-cola. Ele era loiro e o mais alto dos três. Devia ser o mais velho também. Tinha o corpo dourado com marca de sunga a mostra na região do quadril.

- Posso? - Perguntei entrando no salão de jogos olhando para os lados como se eu fosse um intruso. Afinal de contas, não sabia se o uso do local era restrito para moradores do prédio.

- Só se dividir essa Coca com a gente. - O outro garoto respondeu depois de encaçapar duas bolas em uma tacada só. Ele devia ser o mais novo do trio. Era moreno jambo com olhos cor de mel.

- Eu também quero Coca. - Uma das garotas falou com uma voz manhosa. Ela era idêntica ao garoto que me convidou para jogar. Depois eu soube que eram gêmeos.

Meia hora depois meus tios apareceram no salão, brancos feito fantasmas para me dar sermão de que eu deveria ter dito a eles que eu estava no salão de jogos. Mas eu nem liguei. A turma do prédio era legal e não foi difícil de me enturmar. Fiquei com vontade de beijar a garota gêmea, mas não nego que meus olhos passearam bastante pelo corpo do irmão dela. Ele era muito bonito. E até então eu era cueca, porra! Não tinha nada demais apreciar a cor do corpo do irmão dela. E não tinha nada demais se o meu olhar as vezes se detivesse no seu rego liso pintado de branco por conta da marca branca deixada pela sunga quando ele se curvava sobre a mesa de bilhar para fazer uma jogada, não é mesmo?

Eu não me lembro do nome de nenhum deles, mas sei que naquelas férias eles fizeram a diferença. Quando tudo estava certo para dar errado, eis que as companhias fizeram toda a diferença. Passamos uma semana a base de praia e salão de jogos e falando sobre as nossas experiências. Nessa época eu tinha uma lábia muito boa para pegar garotas e mentir para ganhar vantagem era uma das minhas especialidades. O meu porte físico não era atlético, ainda não ia à academia, mas não era de se jogar fora. Eu senti que as meninas ficaram me olhando. Todas as noites sentávamos nas cadeiras de sol que rodeava a piscina com picolés na mão e ficávamos conversando sobre filmes do tipo Missão Impossível 2 e Pânico 3, lançamentos do cinema naquela época e sobre os jogos super realistas do lançamento do console Playstation 2. No penúltimo dia da minha estadia no apartamento da Sra. Úrsula choveu bastante. Enquanto tomávamos raspadinha a beira da piscina, as garotas tiveram a ideia de fazer a brincadeira do gelo. Sentamos em círculo e a irmã gêmea do garoto-da-marca-de-sunga correu para dentro do prédio e voltou com um copo cheio de pedras de gelo que havia pedido no apartamento do síndico que ficava no térreo.

A brincadeira era bem simples. Tínhamos que passar a pedra de gelo de boca em boca, sem a ajuda das mãos e quem deixasse a pedra cair ou se o gelo derretesse a ponto de não sobrar nada para passar para a boca do próximo, aquela pessoa estava fora da brincadeira.

Sentei ao lado da morena e sabia que eu ia pegar ela naquela noite. Eu era bem novo naquela época, mas o piru já tinha participado de várias ações de graça. Quando o loiro sentou do meu lado esquerdo, prevendo que ele pudesse passar o gelo da boca dele para a minha, aquilo me deixou com um misto de nojo e excitação. Algo que eu não conseguia explicar. Havia a curiosidade, mas o medo de alguém desconfiar que só por causa da brincadeira eu fosse viado me deixou bastante incomodado. A minha sorte foi que quando a gêmea chegou, ela sentou entre eu e o irmão dela. Fiquei aliviado, mas ao mesmo tempo chocado com a decisão dela de ficar sentada ao lado do irmão.

A brincadeira começou por ela. Ela pegou uma pedra de gelo e passou para a minha boca encostando seus lábios levemente nos meus. Aquilo me deixou excitado na hora. Quando eu passei o gelo para a boca da morena meu pau já estava duro feito rocha. A morena passou para o branquelo de óculos e antes mesmo de chegar próximo da boca do moreno jambo, ele cuspiu a pedra de gelo de propósito para não passar a pedra pra boca de outro cueca.

- Sai fora, mano. Até parece que vou dar gelo na boca desse marmanjo. - Ele disse se levantando.

Marmanjo? Nem minha avó usava esse termo, pensei comigo.

- Então sai fora, caralho. Vamos começar de novo. - Disse o loirão com um sorriso no rosto.

E novamente a loira tirou uma pedrinha de gelo no copo e colocou na boca. Dessa vez ela passou da boca dela para a minha de olhos fechados, prendendo o gelo em um biquinho apertado. Cara, meu pau já estava babando de tesão. Peguei o gelo e passei para morena pendendo a cabeça para o lado. Ela pegou o gelo e passou para o moreno jambo que abocanhou a pedra de gelo com seus lábios carnudos praticamente engolindo a boca da menina. Ele virou para o lado e na hora de passar o gelo para o loiro-da-bunda-branca fechou os olhos. Era nítida a vontade dele de rir.

- Passa essa porra direito, caralho. - O loiro disse.

Ambos se aproximaram lentamente um do outro. Meu queixo encostou no peito. Era a primeira vez que eu estava vendo dois héteros com as bocas tão próximas daquele jeito. O moreno jambo fez um bico e o loiro correspondeu da mesmo forma. O moreno passou a pedra de gelo para a boca dele e falou:

- Pega a minha baba.

Nesse momento o loiro acabou se desconcentrando fazendo uma cara de nojo e deixou a pedra de gelo cair. Ele estava fora da brincadeira.

Eu não sabia se me excitava em ver os dois moleques quase se beijando ou em ver os dois irmãos em uma cena sensual e incestuosa. Como diria Brady Hartsfield de Mr. Mercedes, quando o assunto é sexo, nenhum par é inacreditável. E naquela idade até se eu visse dois mosquitos juntos me excitaria.

No jogo restaram apenas eu, a morena, o moreno jambo e a loira-do-bico-sexy. A loira começou, mas a jogada anterior se repetia na minha mente incessantemente. Lembrar dos dois caras grudando os lábios fez eu me desconcentrar e deixar a pedra de gelo que estava presa na minha boca cair. Saí do jogo e fiquei puto. Quem já tinha perdido riu e ouso dizer que eu ouvi um "mais um que se fodeu" antes de me levantar. O moreno jambo e as duas gatas ficaram passando a pedrinha de gelo por um bom tempo até quase não restar nada. Eu olhava o irmão da loira de soslaio observando sua irmã passando a pedra de gelo para a boca da morena e depois recebendo do moreno-jambo. Ele apertou o pau sobre a calça de moletom discretamente, mas foi o suficiente para deixar marcado o falo já meio excitado.

Em um determinado ponto da brincadeira, o moreno apertou os lábios e a pedra de gelo espirrou feito uma bala e acertou em cheio o dente da loira, que deixou a pedra cair. Ela não sabia se o que tinha caído era o gelo ou um pedaço do seu dente.

- Você tá doido? Quase quebrou meu dente. Você está fora! Sai! - Ela decidiu.

- Claro que não. - a morena interveio. - Quem não conseguiu manter o gelo na boca foi você.

- Ele quase quebrou meu dente! Quer saber? Cansei dessa brincadeira. - A loira disse antes de se levantar e ir embora seguida pelo irmão. - Só restou eu e você na brincadeira. - O moreno jambo falou antes de colocar a pedra de gelo na boca.

Quando a morena se aproximou de olhos fechados para pegar a pedra de gelo, o moreno devolveu a pedra para o copo e colou os lábios gelados na boca da morena.

- Ganhei. Você trapaceou. - A morena disse colocando os cabelos atrás da orelha.

- Eu saí ganhando na verdade. - O moreno jambo falou com os olhos apertados e com um sorriso safado preso no canto da boca.

- Vamos fazer alguma coisa. - O branquelo de óculos disse.

- Eu tenho que ir. - Falei.

Me despedi e fui para dentro do prédio, passei pelo saguão e apertei o botão do elevador. Enquanto aguardava ele descer do décimo primeiro andar ouvi um "psss" vindo da minha direita. Olhei para o lado e vi a loira com metade do rosto escondido atrás da porta corta fogo que dava acesso às escadas de emergência. Olhei para os lados instintivamente para verificar se ela estava falando comigo. Vem aqui, eu li em seus lábios. Quando abri a porta corta fogo, ela estava em pé enrolando o cabelo na ponta dos dedos e o irmão gêmeo estava sentado nos degraus das escadas brincando com um isqueiro na mão direita.

- O que vocês estão fazendo escondidos aqui? - Perguntei.

- Fale baixo. - Ela disse. - Sabe Fábio, eu não queria muito vir nessa viagem. Achei que ia ser uma bosta. Odeio viajar com família. Ter conhecido o pessoal fez essa semana ser muito legal. Sabendo que você vai embora amanhã, eu disse para o meu irmão que eu queria ficar mais perto de você. E que aquela brincadeira me deixou com vontade de... você sabe.

Arregalei os olhos. Nunca uma garota tinha sido tão objetiva assim.

- Anda logo com isso, vai. Antes que o porteiro venha bisbilhotar. - O irmão dela disse.

- Você é tão novinho. Você é bv?

Coitada. A última coisa que eu era era boca virgem naquela época.

- Não. - Falei com o semblante sério. O meu coração estava disparado. Olhei mais uma vez para o irmão dela sentado todo esparramado nas escadas e ele fez um gesto com a mão como se autorizasse eu pegar a irmã dele bem na frente dele. Segurei na cintura dela enquanto ela envolvia meu pescoço em um abraço. Ela era levemente mais alta do que eu.

Trocamos um beijo quente. Ela já era experiente em beijar.

- Nossa me deu até calor. - Ela disse se distanciando. - Nossa, você fica animadinho bem facinho hein. - Completou olhando para o volume na minha bermuda branca.

- Quer pegar? - Perguntei esquecendo por um instante que o irmão dela estava ali.

Todos ficaram mudos. Um clima estranho pairou no ar. Falei merda, pensei. Ela encolheu os ombros e abriu um sorriso tímido com o dedo indicador no canto da boca. Depois olhou para o irmão como se buscasse uma autorização.

- Anda logo vocês dois. - O loirão disse.

Não esperei duas vezes, peguei a mão dela e a pressionei contra o meu pau. Ela ficou alisando a minha rola sobre a bermuda e voltamos a nos beijar. Nesse momento eu passei a mão pelos peitos dela sobre a blusa de alcinha com um decote que deixava metade dos peitos dela a mostra e revelava a marca do bronze.

Quando eu percebi que o barulho do isqueiro tinha parado, olhei para o lado e o loirão estava fumando um cigarro e batendo punheta vendo a irmã dele passar a mão no meu pau. Olhei para ela assustado.

- Não liga não. Ele adora ficar se exibindo. Deixe a mãe ficar sabendo que você continua pegando os cigarros dela escondido, viu. - Ele deu de ombros. Ela olhou para mim e disse: - Posso ver o seu?

Fiquei um pouco envergonhado com o pedido. Naquela idade meninos ainda não estão completamente a vontade com as mudanças que o corpo está sofrendo. Eu particularmente odiava me comparar com os outros garotos. Mesmo assim, o momento estava tão propício que eu não ia fazer uma desfeita frente a um pedido daquela loira gostosa pra caralho. Olhei para o teto e puxei o elástico da bermuda para baixo. E fiquei esperando o veredicto de sua avaliação. Olhei para ela e ela ainda estava com aquele sorriso no rosto.

- Vamos medir? - Ela propôs.

Eu imediatamente guardei o pau dizendo que não era necessário, mas quando percebi o irmão dela já estava do meu lado com o pau duro apontando para frente. Não era comum eu ver um pau duro na minha frente além do meu. Talvez aquela tenha sido uma das primeiras vezes que eu vi a rola excitada de um estranho bem na minha frente. Até então eu só tinha visto os dos meus primos ou em revistas pornográficas que os caras levavam escondidas na mochila para a escola, ou nos DVD's piratas que eu e meus primos assistíamos escondidos para poder bater punheta juntos.

Ele baforou a fumaça para cima enquanto sua irmã segurou nossos paus com as pontas dos dedos e colocou um ao lado do outro para medir. Senti a rola quente do irmão dela encostada na minha e a cabeça do pau dele melando meus poucos pêlos pubianos com fluido pré-ejaculatório.

- Bate uma pra gente rapidão ae vai. - Ele mandou. Segurava o cigarro preso no canto da boca, com os olhos semiabertos. Com uma mão ele estava batendo uma e com a outra segurava o elástico da calça abaixo das bolas.

- Eu não. - Ela disse. - Vai que aparece alguém.

- Se você já tivesse começado já estaríamos quase acabando. - Ele retrucou.

- Tabom, tabom. Mas isso não pode sair daqui, viu. - Ela disse olhando para mim enquanto segurava os dois paus e começava a puxar a pele das nossas rolas para frente e para trás.

- Vocês sempre fazem isso? - Perguntei com as pernas moles de tesão.

- Um dia essa daqui chegou em casa dizendo que o cara que ela estava ficando levou ela ao cinema e no meio do filme pediu para ela bater um bolo para ele. Falae o que você falou para o cara. - O loiro disse rindo.

- Eu disse que amava bolo de chocolate e perguntei pra ele qual tipo de bolo ele gostava.

Ambos riram da lembrança. Eu só conseguia olhar para baixo e ver a mão delicada dela ir para frente e para trás, como se tocasse um instrumento musical com as nossas picas. Meu olhar sempre acabava se fixando mais na mão dela segurando o pau do irmão. Ele tinha os pêlos dourados na região do púbis e uma marca de sunga bem evidente.

- Nesse dia eu ri pra caralho e disse pra ela que bater um bolo era o mesmo que bater punheta. A noite antes da gente dormir, ela me perguntou como era bater punheta. Eu deitei na cama dela e mostrei para ela. E disse a ela que se ela quisesse ela podia praticar comigo pra não passar vergonha com os meninos que ela pega.

- O problema é que eu acho que eu já aprendi, mas toda noite ele pede para eu praticar. Ele pensa que eu sou idiota. Está se aproveitando da situação, isso sim.

- Eu não. - Ele disse apagando o cigarro com a sola do chinelo. - A prática leva a perfeição, já te falei. E outra, hoje o vizinho aqui pode falar se eu estou certo ou não. Ela precisa praticar, você não acha não?

Eu estava revirando os olhos de tanto prazer. Com treze anos de idade e com a pica sensível do jeito que era, qualquer coisa que encostasse em mim me dava prazer.

- Ela... é muito boa no que... ai... - Antes que eu pudesse acabar de falar senti o jorro de porra vindo. E como se fosse uma mangueira que expele jatos intermitentes de água até o ar sair completamente de dentro, comecei a gozar. O primeiro jato sujou o antebraço da loira. Ela deu um pulinho para trás dizendo "ai, minha roupa" e apontou meu pau para o lado.

Quando abri os olhos, vi a barriga e o pau do loirão melados. Ele pelo visto não estava nem aí. Passou o dedo indicador pela pele, como se fosse um limpador de parabrisa e juntou minha porra na ponta do dedo, passou ao longo de seu pau e continuou a bater em uma velocidade frenética. Com a ajuda do meu lubrificante natural não demorou para ele apontar o pau para a parede e deixar sua marca como se fosse uma enorme escarrada.

- Preciso ir. - Falei rapidamente depois que começou a cair a ficha do que acabara de acontecer. Onde já se viu, três adolescentes, nas escadas de emergência se masturbando!, diria a minha mãe. E dois deles eram irmãos! E gêmeos! Gêmeos, pelo amor de Deus. Esse mundo está perdido. O que minha mãe não sabia é que eu já havia percebido desde cedo que o mundo está perdido há muito tempo.

Subimos a serra no dia seguinte. Não consegui me encontrar com ninguém sequer para me despedir. E nem quis também. Por vergonha ou talvez para prevenir que algo daquele tipo se repetisse. Logo comecei a sair mais com meus amigos do colégio e esses convites para ir para a praia foram rejeitados até o apartamento da Dona Úrsula ser vendido. Nunca mais vi ninguém. Nem o branquelo de óculos, nem a morena, nem moreno jambo, muito menos os gêmeos. Nem o nome deles eu lembrava. As vezes me pergunto como eles estão hoje em dia. Mas essa é a mágica. É você saber usar o tempo que tem para fazer algo que lhe renda memórias. Se forem boas, melhor ainda. A gente nunca sabe quando será a última vez que faremos algo ou quando será a última vez que falaremos com alguém.

A ida até o FAG Bar podia ter sido um erro. Porém, só teríamos certeza disso indo até lá. A performance de Dani e Nina cantando The Bluest Eyes in Texas do Restless Heart rendeu-lhes uma ovação morosa do grupo pequeno de espectadores.

Eu e Daniel ainda estávamos aplaudindo em pé e assobiando quando um dos garçons se aproximou com uma bandeja na mão. A princípio eu não percebi de quem se tratava, por um momento pensei que fosse o loirão da praia da época da minha adolescência. Entretanto, seria impossível reconhecê-lo tantos anos depois. O fato é que jamais esperaria encontrar alguém conhecido ali naquele bar, naquela noite, naquela cidade, naquele país... mas aconteceu.

Casualidades.

2.

François de La Rochefoucauld foi um escritor pessimista completamente desencantado com o gênero humano, suas reflexões influenciaram profundamente Friedrich Nietzsche e Émil Cioran. E em uma de suas obras diz: "É por ter o que amamos que somos felizes, não por ter o que os outros acham amável." Nem sempre os outros vão gostar das escolhas que fazemos e sempre seremos os únicos responsáveis pelos desdobramentos que nossas escolhas farão no nosso destino. Mesmo assim, o "gostar" é algo tão intrínseco que mesmo diante do notório abismo somente os nossos olhos são capazes de enxergar uma ponte para cruzá-lo e sentir que tudo ficará bem, mesmo não sabendo o quão deteriorada essa ponte possa estar. Muitas vezes os outros querem que ajamos de uma determinada forma e que façamos coisas, que até podem ser para o nosso próprio bem, mas que não queremos ou as vezes não temos maturidade suficiente para interpretar o que de fato a longo prazo será melhor para nós. Quase sempre nossa interpretação das coisas é unilateral e isso compromete o julgamento das escolhas que fazemos.

Assim como François, eu também andava desiludido com o gênero humano, principalmente com os humanos do gênero masculino que cruzaram o meu caminho para ser mais específico. Parecia que eu tinha dedo podre para escolher meus parceiros. A impressão era que primeiro eu tinha quase que me afogar em um mar de problemas - que às vezes estavam só na minha cabeça - para só então ter o direito de suspirar com alívio por alguns instantes antes de mergulhar novamente e mais profundamente dentro de mim mesmo. E uma coisa eu posso dizer, olhar dentro de si nem sempre é algo prazeroso, nem sempre é uma visão bonita.

Eu amava ir para a cama com outros caras, isso me fazia feliz e me rotulava perante a sociedade como gay. Talvez para os outros eu seria mais feliz se fosse para a igreja todos os domingos e constituísse uma família de classe média, heteronormativa bem dentro do padrão. Mas não era o que eu queria. E quanto mais eu achava que a vida gay me fazia feliz, mais problemas apareciam. Era como se a vida estivesse colocando obstáculos para me fazer mudar de conduta.

Naquele momento eu estava parado no meio de um vale que se estendia até onde o olhar conseguia enxergar. A grama era baixa e de um verde tão escuro quanto o céu carregado de nuvens de chuva. Vez ou outra um brilho repentino fazia o firmamento se iluminar desenhando um emaranhado de figuras abstratas. Um vento frio vindo do norte fustigava meus cabelos. Eu estava descalço e vestia uma calça larga e uma camisa de linho branca.

A minha frente havia uma floresta. Entretanto, não era uma floresta comum, pois as árvores eram translúcidas e refletiam a pouca luminosidade que conseguia ultrapassar o escudo de nuvens. Era como estar diante de uma gigantesca coroa de diamantes, um castelo de vidro, algo sobrenatural e lindo de se apreciar.

Entre a floresta e eu havia uma figura de asas de fogo. Olhei ao redor e não havia nada além de nós naquele lugar. Não consigo precisar por quanto tempo ficamos parados apenas nos encarando. O tempo parecia não passar. Parecia não existir. Apenas o vento continuava soprando e fazendo as chamas das asas do anjo rosnarem.

Não sei se passaram apenas alguns minutos ou se foram décadas. Aquela imagem me hipnotizou de tal forma que era como se eu estivesse admirando uma pintura surrealista ao invés de estar vivenciando aquilo tudo. Foi então que o anjo, que estava a uns trezentos metros de distância a minha frente, virou-se para a floresta de diamante às suas costas e começou a andar. Achei que ele havia visto alguma coisa, e comecei a olhar atentamente para os lados e para trás em busca de algo, mas não havia nada além do assobio frio do vento constante e do infinito mar de grama se movendo a favor do vento.

O anjo mascarado já havia voado outras vezes diante dos meus olhos. Acredito que se fosse algo que nos ameaçasse ele teria simplesmente sumido ou voado para longe, mas não foi o que ocorreu. Ele simplesmente deu as costas para mim e caminhou em direção a floresta. Achei que era um sinal para que eu o seguisse e foi exatamente o que fiz. Primeiramente a passos lentos. Acreditei que ele teria alguma reação se me visse seguindo-o. Talvez me esperasse ou então me enfrentasse, mas nada disso. Ele apenas sabia que eu iria atrás e em nenhum momento sequer virou o rosto para trás. Apenas continuou caminhando no mesmo compasso até entrar no emaranhado de troncos diáfanos. No começo acelerei o passo para não perdê-lo de vista. Quando percebi já estava correndo em direção a floresta de diamantes.

A grama foi rareando até não sobrar nada além do chão de terra e folhas secas. As árvores eram irregulares e tinham os troncos revestidos de facetas poliédricas brilhantes. Me aproximei da floresta e contemplei a infinidade de troncos tão altos quanto prédios. Galhos e folhas transparentes pendiam do alto até quase encostarem no chão, como se fossem cristais de gelo. Mas não eram frios como tal. Constatei isso passando a mão em uma folha presa na ponta de um galho fino. Era de uma espessura mais fina que a borda de um cálice de cristal, e quebrou ao leve toque e cortou o meu dedo superficialmente.

Até as coisas mais simples, belas e inocentes podem machucar.

Observei meu reflexo através dos troncos das árvores. A floresta era semelhante a casa de espelhos que havia dentro de um parque de diversões que eu frequentava quando mais novo. Eu me via em todos os troncos de todas as árvores, em cada galho e em cada folha. A imagem refletida as vezes não condizia com a realidade, era deformada. O Fábio que eu via estava deformado ou a visão que todas as árvores tinham de mim é que estava? Ficava a dúvida.

No fim percebi que não havia outros Fábios, era apenas eu. Eu não sentia nada pelos outros. Eram apenas figuras no meu caminho. O que me dava prazer, alegria, amor e proteção era a projeção que eu fazia neles. Eu amava a sensação que os outros me causavam. Não existia o sentimento verdadeiro pelo outro, apenas por mim mesmo.

Caminhei até o abdômen doer e a sola dos pés começarem a arder. Evitava encostar em qualquer coisa. Contornava troncos caídos, desviava de galhos, pulava as folhas que estavam no chão.

A floresta parecia um labirinto. De longe eu via uma luz reluzente passeando por entre os troncos. Não sabia distinguir se era de fato o anjo ou somente o reflexo da luz de suas asas. Fui sendo atraído para dentro da floresta. Caminhando por vegetações cada vez mais densas, belas e quebradiças até chegar a uma clareira. No centro dela havia algo emanando uma luz vermelha.

Caminhei na direção da luz completamente hipnotizado. Era uma árvore. Uma única árvore no meio de um terreno circular de vegetação rasteira. Ela era bela e atraente. Caminhando lentamente, saiu de trás dela o anjo com as asas de fogo. Era como se a floresta tivesse crescido ao redor daquela árvore a fim de protegê-la. Ela era de fato muito exuberante. Não era alta. Devia ter no máximo dois metros e meio de altura. Tinha o formato de um cone, mais largo na base e fino na ponta. Era feita de cristais vermelhos sobrepostos como escamas. Não havia tronco, apenas as escamas. Na base eram maiores e menores no topo. Lembrava uma pinha seca, uma árvore de Natal derretida. Caminhei até chegar bem próximo. Eu tinha a sensação que as escamas da cor rubi estavam se movendo. Derretendo. Só quando eu cheguei bem próximo percebi que não era o meu reflexo que eu via na superfície das escamas. Eu conseguia ver pessoas. Eu consegui ver quase que nitidamente o rosto do Paulo. Ele estava com um sorriso no rosto e com um violão na mão. Caminhei para a direita e vi Daniel cantando em cima de um palco. Dei quase uma volta completa na árvore tentando decifrar as imagens presas ali dentro. Era como se a minha vida estivesse acontecendo dentro dela. Eu não conseguia distinguir se o que eu via eram coisas passadas ou futuras. Do lado oposto da árvore observei uma figura negra que lembrava o Pablo, ele estava parado com o olhar congelado em algum ponto distante. Assim que me posicionei a sua frente, era como se houvesse uma estátua de Pablo presa dentro da árvore. Uma outra figura que lembrava Roger projetou-se a sua frente. As pernas e o tórax eram idênticos, mas eu não conseguia ver seu rosto. Só então que me toquei que a imagem era a do anjo que estava parado atrás de mim com o braço erguido como se dissesse para eu continuar caminhando, para observar o que o restante da árvore queria me mostrar. Olhei mais uma vez para a imagem de Pablo e foi então que os olhos dele se moveram e encontraram os meus. Levei um susto. Ele ainda estava com o olhar arregalado e estendeu a mão para mim. Olhei para o anjo e ele fez um sinal negativo com a cabeça. Olhei novamente para Pablo e era como se ele quisesse sair dali de dentro. Ele colocou uma mão na parte interna da árvore, a expressão dele era como se tivesse algo a me dizer, e disse. Eu vi sua boca mexer, mas eu não consegui ouvir sua voz em um primeiro momento. Foi então que eu coloquei a minha mão sobre a dele. Senti o calor da árvore, mas não o da mão dele. Mas foi nesse momento em que nossas mãos estavam unidas que do céu trovejou a voz de Pablo dizendo uma única palavra:

- Corra!

Olhei para o anjo atrás de mim. Só naquele momento percebi que os filetes de sangue por baixo de sua máscara haviam se alargado e a maior de seu peito estava pintado de vermelho, como se tivesse sido pintado com urucum. Ele olhou para baixo meneando a cabeça negativamente antes de erguer um braço, abrir suas asas e partir para o alto na velocidade de um raio.

- Hey! Volte aqui! - Gritei para ninguém ouvir.

A árvore vermelha ficou opaca e por fim enegreceu. Tornou-se uma árvore sem vida, parecia carbonizada, feita de rocha vulcânica.

Foi então que o chão começou a tremer e um som alto de vidro se quebrando tomou conta de tudo. Parti na direção oposta de onde eu tinha vindo. Corri para dentro da floresta de cristal e diamantes novamente e o barulho alto de coisas de vidro explodindo as minhas costas era cada vez mais alto. Cada vez mais perto. O céu escureceu e as árvores não refletiam mais luz alguma. Fiquei com medo de esbarrar em algo que arrancasse meu braço ou a minha perna. Mas o som era tão alto que eu não estava conseguindo raciocinar direito. A minha frente os troncos pareciam pessoas de costas. Fechei os olhos, baixei a cabeça e fui abrindo caminho, empurrando e acotovelando o que via pela frente. Quando finalmente abri os olhos, estava de frente para Pablo. Ele estava em cima de um palco vestindo um par de botas e sunga de couro e uma cartola com um aplique de cauda de cavalo no topo. Segurava um chicote em uma das mãos. Eu estava na primeira fileira e ia começar a apresentação do King Kobra na Bottoms up.

3.

Se em 1976 alguém dissesse ao jovem de quatorze anos Thomas Cruise Mapother IV, seminarista de uma escola franciscana, que ele se tornaria uma lenda do cinema mundial, ele não acreditaria. Seu objetivo inicialmente era ser padre. Largou a escola e aos dezoito anos chegou em Nova York com o objetivo de investir em uma carreira onde pudesse atuar. Se alguém me dissesse que eu largaria tudo no Brasil e iria morar em Nova York, também não acreditaria. Tom Cruise nunca fez artes cênicas para poder atuar. Eu nunca quis virar protagonista de uma peça. Muito menos atuar em um espetáculo que contasse a minha própria história. No entanto, assim como Tom Cruise, acabei caindo de paraquedas em Nova York atrás de um sonho. O meu, ser independente, fugir do meu passado. E ali estava eu, sobre o palco de um teatro dependendo das críticas dos espectadores, assim como os atores profissionais, dependendo do julgamento deles, e principalmente de sua atenção para conseguir permanecer onde estava.

Eu nunca pensei em ser ator. Entretanto, a arte me fascina. Sempre me fascinou. Mesmo não tendo aptidão em nada que me tornasse um artista, a vontade de produzir sempre esteve ali comigo como algo inerente de minha personalidade. E finalmente, graças a um poder sublime a quimera tornou-se realidade. O teatro Somnium era como um desses reality shows onde os protagonistas são pessoas comuns, mas ganham destaque por deixar acessível o olhar alheio às suas intimidades. A mesma luz que absorve minhas forças enquanto estou no palco, é a que ilumina o olhar dos espectadores que mergulham naquele devaneio junto comigo.

Eu tinha medo do palco do Somnium. Essa era a verdade. Era muita exposição, eram muitas pessoas observando e julgando a minha encenação, o meu roteiro, a minha verdadeira história. Não havia coadjuvantes. Todos eram protagonistas de suas próprias histórias. Paga-se um preço muito alto ao tornar algo público. Dá-se voz para muitas pessoas que às vezes não sabem o que ou como falar. Permite julgamentos. Muitas vezes abre brechas para que os outros além de julgar, possam condenar ou até proferir decisões que podem afetam o curso legal dos acontecimentos.

Em junho de 1968, a sala Galpão, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, foi invadida no final da encenação da montagem "Roda Viva", de Chico Buarque. Um grupo de homens portando cassetetes e socos-ingleses entrou no local destruindo poltronas, equipamentos elétricos e até camarins. Integrantes da peça, entre eles as atrizes Marília Pêra e Walkíria Mamberti, foram brutalmente agredidas pelos invasores.

Esse era um medo real. Ser vítima de um ataque de ódio motivado por ideologias, crenças, raças ou até mesmo orientação sexual diferentes da minha. Em setembro daquele mesmo ano a "Roda Viva" estreou no Rio Grande do Sul, a violência se repetiu e o espetáculo foi proibido pela censura da época, pois foi considerado pela censura como "degradante" e "subversivo". Segundo o censor responsável, Chico Buarque "criou uma peça que não respeita a formação moral do espectador, ferindo de modo contundente todos os princípios de ensinamento de moral e de religião herdados de nossos antepassados." Mais de meio século se passou e ainda há resquícios desse ensinamento moral e desses preceitos ultrapassados em nossa sociedade.

Eu ficava com receio de alguém se levantar no meio da plateia vestindo um colete repleto de bombas e reescrever o final da minha história. Um final que eu não havia planejado. Estamos a mercê dos marginalizados, dos politizados, dos revoltados, dos homofóbicos e dos psicopatas. A sensação de risco era evidente e a sensação de impotência também. Para alguns ainda era pior, era como ter membros do grupo extremista Reinigers der Nation dentro da própria família.

Ali estava eu parado no centro do palco, de costas para a plateia, cercado de pessoas. Na minha frente havia uma réplica do palco da boate Bottoms up. No centro do palco estava Pablo exatamente como eu o vi naquela noite. Vestindo a mesma cartola com aplique de cauda de cavalo, a mesma sunga de couro preta, com o chicote na mão.

Eu sabia que não devia ter me drogado junto com Brian e Kevin, e muito menos aceitado a carona de um estranho depois de ser desovado no meio da estrada, mas o fato de não ter que caminhar de Long Island até em casa e ainda mais faminto como estava, fez com que eu tomasse uma atitude que teria consequências. Sempre tem. E lá estava uma delas, eu indo atrás de macho na balada por conta de mentiras deslavadas.

Luzes azuis e roxas banhavam o palco do Somnium dando um contorno belíssimo ao corpo do Pablo. A cor de sua pele ficava ainda mais escura por conta da iluminação cênica. Ele parecia uma estátua. Ainda hoje é difícil encontrar estátuas que representam a África ou negros que fizeram algo para tentar mudar o mundo, ou, pelo menos, a sociedade onde estavam inseridos. Ele estava parado, imóvel, de queixo erguido. Sustentando o peso do corpo em uma das pernas.

Por um momento me lembrei de Mary Thomas, conhecida como uma das "três rainhas" que desencadearam uma revolta em 1878 em St. Croix nas Ilhas Virgens que ficou conhecida como "Fireburn". Por conta de seu papel como líder durante a revolta, Mary Thomas passou a ser conhecida como "Queen Mary". Os trabalhadores escolheram ela e duas outras mulheres, "rainha Agnes" e "rainha Matilda", como "rainhas" para desempenharem funções importantes durante o levante. Thomas exerceu um papel de liderança e se referiu a si mesma como "capitã" na rebelião.

E ali estava eu, diante da estátua de Pablo sendo observado, admirado e quisto por todos que não estavam no palco. A minha vontade era de ter uma tocha e um facão de cortar cana nas mãos. Há uma estátua de Queen Mary sentada em trono segurando esses objetos na Dinamarca. Foi o primeiro monumento público erguido em homenagem a uma mulher negra no país. Por um segundo imaginei uma estátua minha com uma tocha na mão e um facão na outra, com o pau a mostra, rosnando de raiva. Como se eu estivesse acabado de sair da cama para correr atrás de alguém que quebrou a minha confiança.

As luzes começaram a mudar de tonalidade ao mesmo tempo que me projetei a frente, apoiei as palmas no palco e com um impulso consegui por um joelho entre as minhas mãos, no instante seguinte eu estava em pé em frente ao Pablo. A pequena plateia defronte ao tablado se aproximou assobiando e erguendo copos de cerveja como se tudo aquilo fizesse parte da encenação. Um dos copos de cerveja chegou tão perto que não pensei duas vezes. Tomei o copo da mão de alguém e antes de jogar o conteúdo no rosto de Pablo, falei:

- Olá King Kobra.

Até então, Pablo apenas me encarava completamente atônito sem conseguir processar uma reação que não o fizesse passar vergonha em cima do palco, durante o seu "trabalho". Só depois que virei o copo de cerveja em seu rosto que as luzes se acenderam e a plateia percebeu que aquela "cena" não fazia parte do espetáculo. Um "ohhh" em uníssono ecoou pelo teatro.

Pablo passou a mão que não segurava o chicote pelo rosto feito um rodo. Com um movimento rápido se livrou da cerveja que escorria por seus dedos. Sem dizer uma palavra foi até a beira do palco e com um gesto pediu um copo de cerveja para alguém. A pessoa ergueu a mão e lhe entregou o que pediu. Na mesma hora pensei que ele fosse revidar. Ao invés disso, levou o copo até a boca, deu um gole curto e em seguida ergueu a cabeça e jogou o restante em seu rosto. O líquido acabou de molhar seu corpo praticamente inteiro. A pequena plateia sobre o palco e os espectadores da grande plateia do teatro foram a loucura.

Dois seguranças brutamontes surgiram atrás de mim e me puxaram pelos braços para fora do palco. Enquanto isso, banhado de cerveja, palmas e assobios, Pablo desenrolou o seu chicote como se fosse um adestrador de leões.

- Sejam todos bem vindos ao meu show. - Ele falou se posicionando no centro do palco.

"Voooh PAH" fez o chicote ao beliscar o chão.

4.

Na esquina da Dyckman Street com a Seaman Avenue havia um restaurante japonês chamado Mama Sushi. Eu já tinha visto o Sr. Noka recebendo comida desse lugar. Arthur já havia dito que era gostoso, porém o preço de tudo em Nova York era muito caro para mim. Por isso nunca me arrisquei a pedir e sempre que ofereceram algo de lá nunca aceitei. Uma garfada e certamente eu estabeleceria uma dívida eterna com o Sr. Noka. Aparentemente, ele e o dono do Mama eram amigos e por isso tinha um agradável desconto nos pedidos.

Arthur percebeu que já alguns dias eu estava indo trabalhar no modo automático. Além de não conversar, passava o tempo livre perdido em pensamentos. A maior parte deles era o quão profundamente eu conseguia me iludir com alguns caras que cruzavam o meu caminho. Obviamente outros se iludiam comigo, mas pelo menos sempre fui honesto. Sempre deixei claro que eu não estava afim de um envolvimento mais sério. Sempre era um sexo gostoso e tchau. Porém, algumas pessoas me chamavam a atenção, deixavam aquele gostinho de quero mais no ar. Eu tentava não alimentar falsas esperanças, mas o fato é que se eu tivesse que escolher entre dois boys, certamente o meu dedo podre escolheria aquele que me daria mais problemas. Em resumo, eu não conseguia afastar Pablo dos meus pensamentos. Mesmo já tendo passado cinco dias após o nosso encontro que aconteceria no Pigstomb. Tudo o que eu vi, ouvi e senti me fizeram ter certeza de que o nosso afastamento era o melhor para mim.

Todas as vezes que eu fechava os olhos eu me imaginava completamente nu, deitado em um chão molhado, não de água, mas uma mistura de mijo e água sanitária. Meus pés e minhas mãos estavam amarrados com cordas tão apertadas que chegavam machucar a minha pele. E o cheiro, o cheiro era a pior parte, acre.

- Não está com fome? - Arthur me perguntou ao reparar que eu já estava há algum tempo brincando com a comida.

Até que o Sr. Noka não era uma nova versão de Shiro Ishii, como pensei que fosse. O tenente-general da Unidade 731, a famosa e atroz unidade de guerra biológica do Exército Imperial Japonês, responsável por realizar experiências cruéis com seres humanos e cometer crimes de guerra durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa. O Sr. Noka até que era legal. Ele percebeu que eu não andava muito bem e dizia "Estrangeiro não comer direito, se não come direito não trabalha direito, trabalha infeliz." Naquele dia, ele deu dinheiro para Arthur e pediu para que o garoto me levasse até o Mama para almoçar. Embora tenha achado gentil, de fato eu não estava faminto. Recusar uma gentileza dessas estava fora de questão, por isso fui.

- Obrigado por ter me trazido até aqui, Arthur. Esse lugar é bem legal, a comida é boa. Sou eu que não ando muito faminto ultimamente. - Respondi brincando com a comida com a ponta do palitinho de madeira.

- Não só faminto. Você anda meio... apagado. Aconteceu alguma coisa? Você está precisando de alguma coisa? Posso pedir para o meu pai tentar te ajudar. Se o problema for dinheiro...

- Não. O problema não é dinheiro. O problema sou eu.

- Eu já ouvi esse tipo de desculpa antes. Uma vez tentei marcar um encontro com uma garota da escola e ela me disse exatamente a mesma coisa. No dia seguinte soube que ela tinha saído com um outro cara.

Fiquei olhando para o Arthur e me lembrando da vez que aceitei namorar com a Tábata por não conseguir lidar com a pressão de não me assumir gay e estar entre ceder às investidas de Daniel ou correr atrás de Paulo. Abri um sorriso para Arthur e disse:

- Arthur, eu sou gay.

- Eu sei. - Ele respondeu de cabeça baixa enquanto trabalhava rapidamente com o seu hashi, molhando rodelas de sushi em um nozoki repleto de shoyu.

Antigamente eu ficaria puto frente a uma resposta tão imediata e axiomática. Naquele momento apenas pigarreei para limpar a garganta e arrumei minha postura antes de lhe perguntar:

- Sabe como?

- Sabendo. - Arthur disse com uma das bochechas inchada pelo excesso de comida. Mastigou, engoliu, tomou um gole de refrigerante e continuou: - Um dia ele vai te buscar no serviço no meio do expediente, no outro você sai puto porque descobriu que ele era garoto de programa. Logo pensei que talvez você e o Sr. Pablo pudessem ter um caso e ele escondeu o trabalho dele de você, sei lá.

- Podemos ser apenas amigos. - Falei me forçando a comer um filete de salmão cru.

- Ninguém tem aquela sua reação se fossem só amigos. - Ele disse dando uma risadinha com os olhos fechados e balançando a cabeça. Ele parecia um desses personagens de desenhos japoneses quando fazia isso.

- Você está certo. Nós tivemos um lance.

- Acabou?

- Acho que sim. Quer dizer, sim. Acabou.

- Nem se ele viesse te procurar você daria uma segunda chance?

Relaxei meu corpo no encosto da cadeira e o senti desconfortável, duro e molhado. Olhei para os lados e mais uma vez vi o chão de cimento queimado na altura dos meus olhos. Meu rosto mergulhou em um líquido fétido. Uma água amarela e espumosa estava empoçada ao meu redor, meus cabelos estavam molhados, o cheiro ácido de água sanitária não superava um cheiro ainda pior. Era como se eu estivesse deitado, todo amarrado, dentro de uma rede de esgoto. No entanto, o local não passava de um cubículo de tijolos vermelhos aparentes. Uma luz fraca, trêmula e amarela vinha de uma arandela enferrujada presa a parede oposta a única saída do recinto, obstruído por um portão de metal. Eu não sabia se estava em uma cela ou em uma jaula. Eu não conseguia me mexer, meus membros estavam presos por cordas grossas e eu já estava todo molhado de tanto me debater. Quando a grade da cela se abriu com um grunhido agudo e triste, pude contar oito pessoas entrando. Todos homens. Havia um negro e dois homens bem gordos. O restante tinha o biotipo semelhante, magro, entre os 40 e 50 anos de idade. Todos estavam nus, exceto pelas botas de borracha que usavam e uma máscara preta no formato de um focinho de porco tapando o rosto. Os dois últimos a entrarem trouxeram alguns utensílios nas mãos.

- Me tirem daqui! - Gritei em desespero.

Quanto mais eu me esforçava para me livrar das amarras, mais preso eu me sentia. A sensação de impotência era preponderante ao misto de coisas que eu sentia e pensava ao mesmo tempo. Meu corpo já estava machucado de tanto me debater e me arrastar no chão. Eu me sentia um animal indefeso a espera do abate, uma presa que se contorce na expectativa inútil de se livrar das amarras para se afastar dos predadores.

O penúltimo homem entrou na cela carregando um balde de metal e algo mais. Assim que entrou, colocou o balde no chão com baque metálico. Um pouco do que parecia ser água vazou pelas bordas e se misturou a poça de urina que havia no chão. Ele caminhou até onde eu estava deitado e ficou de cócoras ao meu lado. Seu membro pendendo para baixo, flácido, feito um pêndulo de um relógio que marca a hora exata de oprimir e desrespeitar aquele que não pode se defender. Eu conseguia ver seus olhos através da máscara. Era assustador a frieza do olhar. Ele meneou a cabeça feito um cachorro querendo entender o que ouve. Em seguida apertou meu nariz para que eu abrisse a boca e assim que eu o fiz, inseriu o que parecia ser uma bola de borracha presa a tiras de couro sintético. Ele afivelou a mordaça e se levantou. O objeto impedia com que eu falasse ou gritasse por socorro. A partir daquele momento eu comecei a sentir medo.

Arregalei os olhos e emiti grunhidos guturais. Todos se aproximaram, me cercaram. Pareciam urubus sobre a carniça.

- Hein? - Arthur falou me acordando daquele efêmero mergulho em meus pesadelos. - Daria ao Pablo uma segunda chance?

- Está tudo acabado. Como diria a minha avó, "homem é igual biscoito, vai um, vem oito".

Para não ficar um silêncio desconfortável, Arthur mudou de assunto.

- Não vai comer mesmo? Estou pensando em pedir para eles embrulharem o seu prato para viagem, assim não preciso fazer a janta depois que sair do trabalho.

- Faça isso. - Falei colocando os palitinhos na mesa - Você cozinha todos os dias?

- Não todos os dias. Faço porque meu pai prefere trazer comida para o trabalho, assim economizamos uma grana. Por isso temos que aproveitar essas raras exceções. - Um garçom se aproximou e ele disse: - Embrulhe para viagem, por favor? Obrigado. - Voltou a atenção para mim e disse: - Nunca se sabe quando acontecerão novamente.

- Curte cozinhar, pelo menos?

- Odeio minha comida. Minha mãe cozinhava muito bem. As vezes acho que meu pai quer que eu faça as coisas que minha mãe fazia. Sabe? É como se ele quisesse que eu ocupe o lugar dela.

Quando ele falou da mãe, meu pensamento voou até Santo André. O que será que os meus pais estavam fazendo naquele momento? Esse talvez fosse o pensamento mais recorrente quando eu lembrava deles. A saudade não doía tanto quanto no início. Porém, a vontade de falar em Português era grande, de comer uma feijoada no almoço de sábado também, e de assistir os programas mais podres da televisão brasileira. Como será que o zelador estava se comportando com a minha mãe? Será que tinha pedido para ela vender tudo que era meu? E o meu pai? Será que já tinha feito um filho na Edna e assinado um testamento deixando eu e a minha mãe fora de tudo a que tínhamos direito a pedido dela?

Sempre que divagava a respeito da minha vida no Brasil, não conseguia me ver bem sucedido. Quando pensava como seria a minha vida se tivesse ficado em Santo André, sempre me imaginava fazendo as mesmas coisas, obtendo os mesmos resultados. Quando eu parava para analisar onde eu tinha ido parar e o quanto ainda podia conquistar, isso me dava esperanças e vontade de permanecer nos Estados Unidos.

Depois que Arthur pagou a conta e pegou sacola de papel pardo contendo sua janta, fomos caminhando lentamente pela Dyckman Street em direção a lavanderia. Conversamos sobre o peso que a tradição oriental fazia na convivência dele com o pai e de como ele gostaria de ter mais liberdade de escolha, desde escolher suas amizades até a profissão que gostaria de seguir. Se dependesse do Sr. Noka, Arthur jamais abriria mão do negócio de família para investir em uma área como a de desenhista. O Sr. Noka achava que isso era passatempo, coisa de gente vagabunda que não tem mais o que fazer.

Compramos sorvetes no caminho e ali no caminhão de sorvete eu passei uma das minhas inúmeras vergonhas. Como em português nos referimos a quantidade de sorvete de massa como "bolas", eu pedi two balls de sorvete de chocolate. A garota ficou sem entender e Arthur deu uma risadinha, tapando a boca com uma mão e apontando para mim com a outra. Ele próprio virou para a garota e solicitou two scoops de sorvete de chocolate.

Embora eu já tivesse feito intercâmbio na adolescência, havia ficado em casa de família. Nunca precisei pedir nada. Morar sozinho lhe obriga a sobreviver por conta própria, sair da zona de conforto, se comunicar. Quando se está em outro país, uma das barreiras é o idioma. Embora eu já falasse Inglês fluentemente desde a adolescência, ainda cometia algumas gafes como aquela da sorveteria. A garota certamente deve ter pensado que eu queria uma casquinha com dois bagos com calda de leite condensado por cima. Expliquei a diferença entre ball e scoop para Arthur. Ele riu.

Assim que chegamos na lavanderia, uma pessoa estava parada em pé em frente a porta, mexendo no celular. Como se estivesse a espera de alguém.

- Conhece? - Arthur perguntou baixinho.

Apenas afirmei com a cabeça.

5.

Nova York é uma cidade com oportunidades ilimitadas, há muito tempo tem apelo peculiar para a comunidade LGBT+. Estima-se que há meio milhão de moradores LGBT na cidade, o que resultou em um grande número de locais e clubes desenvolvidos especificamente para nós.

Dizem que a área gay mais popular de Nova York é Chelsea, entre a 23rd Street e 30th Street, no lado oeste de Manhattan. Ali, você encontra muitas baladas gays e outros estabelecimentos para aqueles com um gosto mais fino, como um bom restaurante que servem um bom jantar, butiques e galerias de arte incríveis. No entanto, não é a única parte da cidade para a vida noturna gay. Em toda a cidade há bares gays, clubes e festas.

Além da Bottoms up, as pessoas sempre teceram bons comentários sobre a Le Bain, o Industry Bar e o Barracuda Lounge.

Aquela noite eu parei em frente a enorme fachada da Bottoms up e cerrei os punhos. Por um segundo pensei em desistir, mas eu estava cego de ódio e já tinha tido o trabalho de ir até ali. Depois de ver o poster iluminado de Pablo, quer dizer, do King Kobra, sob a marquise, decidi entrar. Tinha inclusive dito ao Arthur mandar o pai dele enfiar a lavanderia no cu. Talvez nem emprego eu tivesse mais no dia seguinte. Caminhei com passos firmes. Ignorei o "Olá Linderoff" do Ryan, um outro segurança que já até sabia o meu sobrenome de tanto me ver na boate. Passei pela revista e segui pelo corredor iluminado por várias lâmpadas fluorescentes fixadas nas paredes e no teto nas cores do arco-íris, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta. Elas estavam dispostas perpendicularmente e era como se formassem setas indicando o interior da boate. A primeira vez que vi aquilo era como estar em um cenário de filme sci-fi diante de uma máquina que te teletransportasse para um outro mundo. E no fundo aquilo tinha a sua parcela de verdade. As boates nos levam para um outro mundo. Ali todos os problemas parecem não existir.

Até aquela noite...

Ao passar pelas caixas registradoras, logo a esquerda, estava o balcão do bar e a frente a enorme pista de dança. Naquele dia a boate estava lotada. Fui direto para o bar.

- O de sempre, Linderoff? - George, um dos barman me perguntou. Aquele também já me conhecia. Eu era um cliente cativo da casa.

Eu estava prestando atenção no palco que havia sido montado especialmente para a apresentação de Pablo naquela noite.

- Pode ser. - Respondi em um tom automático.

Algumas luzes passeavam pela boate, iluminando as pessoas aglomeradas na pista. Enquanto outras iluminavam a cortina preta projetando círculos de luz azul. Foi de repente que as batidas de uma música eletrônica começaram para anunciar o convidado da noite.

"Todos aos seus lugares". - Um locutor começou. O que ele quis dizer "aos seus lugares"? A pista não tinha divisórias. Na certa aquilo era um recado para mim. De fato ou ele estava dizendo que o meu lugar era fora da balada ou em cima do palco com as minhas mãos agarradas ao redor do pescoço da cobra peçonhenta. - "A Bottoms up tem o prazer de tê-lo de volta". - Quantas vezes será que Pablo subiu naquele palco para se exibir para uma plateia sedenta por uma rola? Quantas vezes ele não flertou com algum carinha que estava dançando na pista? Quantos caras como eu já não tinham caído na lábia dele? - "Uma salva de palmas para ele, o grande e único, King Kobra!" - Grande, com certeza. Único, já tenho minhas dúvidas. Eu ainda estava pagando a minha cerveja no bar quando as cortinas do palco que fora montado no local onde normalmente ficava o DJ se abriram.

As luzes se apagaram e apenas fachos azuis banharam o corpo musculoso de um negro alto. Peguei a minha cerveja e comecei a abrir caminho em direção ao palco. Mil coisas passavam pela minha cabeça.

Será que era preciso tudo aquilo? Ele era um desconhecido!

Mas ele não só me levou para a cama como também me comeu, coisa que eu não faço com ninguém. Só com... pessoas especiais. Me senti usado!

Mas você fez porque quis. Ninguém te obrigou a nada. Você já é um cara adulto. Sabe dos riscos que a noite oferece.

Mesmo assim. Isso não dá o direito da pessoa entrar na minha casa, me pegar no serviço, me levar para almoçar, me tratar como se eu fosse especial e mentir. Eu confiei na palavra dele. Não estávamos namorando, mas havia ali algum tipo de relação.

Ele não te obrigou a nada. Somos responsáveis por aquilo que cativamos. Por que simplesmente não vai embora e esquece que algum dia um cara chamado Pablo passou pela sua vida?

Porque ele precisa ter o que merece. Para ele não fazer o mesmo com mais ninguém.

A música começou e Pablo virou para o público. Reparei que usava lentes de contato verdes nos olhos sob a máscara de couro. Por um momento duvidei que fosse ele, mas aquele corpo eu já conhecia. Conhecia e gostava. Eu já tinha observado de perto as marcas na pele, as cicatrizes de espinhas nas costas, a irritação que o desodorante causava em suas axilas, a rachadura do lábio inferior, eu conhecia cada ruga do saco dele. Era o filho da puta. Ele segurava um chicote na mão e ia começar a sua apresentação quando eu finalmente consegui chegar a frente da primeira fileira de pessoas. Foi nesse momento que eu e King Kobra nos encaramos olho no olho. A deixa da música já tinha passado há muito tempo. Continuávamos nos encarando. O meu coração estava disparado. Meu olhar estava fixo, como os olhos de uma águia prestes a dar o bote em sua presa. Ele também sustentava seu olhar no meu. Percebi que a minha presença e a minha cara fechada deixaram ele apreensivo. Alguém com seus "pss, pss" chamou a atenção dele. Era o DJ fazendo sinal para ele seguir com a apresentação. Ele olhou novamente para mim, apertou os lábios e virou de costas. O rabo de cavalo preso no topo da cartola alcançava a sua cintura. Eu não acreditei que ele tinha dado as costas para mim e ia insistir na apresentação.

O DJ soltou o som de sonoplastias, sons de carros de polícia e ambulância. Sons característicos de cidade grande. A música retumbante tomou conta da plateia e todos começaram a pular e a bater palma. Pablo virou apenas o torço para frente e o rabo de cavalo voou para cima do seu peito direito. No microfone a voz dele soou enquanto no palco ele seguia no lipsync cantando:

I don't like cities

But I like New York!

Ele virou o corpo para a plateia enquanto quatro bailarinos musculosos surgiram atrás dele vestindo harness no peito, sunga, gargantilhas e braceletes de couro preto e coturnos.

Other places make me feel like a dork

Los Angeles is for people who sleep

Paris and London, baby you can keep

"- Bom dia. Desculpe a minha intromissão. Mas eu gostaria de saber se está tudo bem. Você precisa de ajuda? O meu nome é Pablo."

baby you can keep

"- Você está com fome?"

baby you can keep

"- Hey cara, entre. Eu estou indo para Manhattan, te deixo lá."

baby you can keep

"- Eu comprei um Big Mac para você."

baby you can keep

"- Eu trabalho como Administrador de Redes. Passo as madrugadas configurando sistemas de empresas e escritórios, instalando programas, resolvendo problemas."

baby you can keep

"- Você mora nesse prédio? Nesse aqui? Minha esposa mora nesse prédio. Ex-esposa, quer dizer."

baby you can keep

"- Tem como você liberar esse rapaz por alguns minutos para ele ir comigo buscar umas roupas que eu preciso que sejam lavadas com urgência?"

baby you can keep

"- A minha ex esposa é a Danielle, Fábio."

baby you can keep

"- Acha que pode me beijar e sair do meu carro assim?"

baby you can keep

"- Reciprocidade. Se você quer gozar, terá que me fazer gozar. Fui claro, agora?"

baby you can keep

"- Eu estava indo embora quando eu vi você parado, quase desacordado nos braços de um albino. Em seguida chegou o ruivo de carro e o albino te jogou no banco de trás. Eles pareciam estar muito bem. Eu lembro que eles saíram cantando pneu e por um tempo eu consegui acompanhá-los, mas depois eu os perdi de vista. Fui trabalhar em Long Island e na volta decidi estacionar o carro e comer alguma coisa naquele McDonald's. Foi quando eu menos esperava, você, o cara que eu tinha olhado a noite inteira entrou pela porta descalço e com uma cara de cachorro perdido."

Cada conversa que eu havia tido com o Pablo explodiram na minha cabeça ao mesmo tempo. Como fumaça de uma enorme explosão, eu podia ouvir sua voz se propagando através do tempo, vindo a tona em minha memória.

Sobre o palco, aquela figura performática parecia ser uma outra pessoa. Alguém que eu nunca sequer tinha visto. Talvez, aquele fosse ele de fato e toda a imagem que eu havia construído a respeito dele fosse apenas uma mera projeção de como eu gostaria que ele fosse. Ele caminhava de um lado para o outro com suas pernas longas e musculosas de um lado para o outro feito um felino. Era sexy, era vulgar, era provocativo. E eu cheguei a pensar que ele era um cara certinho de igreja.

Pablo deu um salto e ainda no alto esticou ambas as pernas ao mesmo tempo e caiu no chão em um espacate. Pensei em como ele conseguiu fazer aquilo sem estourar as bolas no chão. Os rapazes atrás dele simplesmente utilizaram uma das pernas como apoio e jogaram o corpo para trás. Todos caíram de costas ao mesmo tempo no chão.

Nas caixas de som a música alta era contagiante, a Pablo dublava:

Other cities always make me mad

Other places always make me sad

No other city ever made me glad

Except New York

I love New York

Paulo me traiu. Daniel também traiu minha confiança. Fernando traiu minhas expectativas por não ser gay. Meu pai me trocou pela Edna. A única pessoa que não traiu minha confiança foi o Roger. Muito pelo contrário. Naquele momento senti saudade do cheiro dele, da companhia dele e até das mensagens com teor abusivo de super proteção. Mas ele também, assim como todos, tomou um rumo. Só eu que tinha investido tempo e dinheiro para mudar de vida em outro país e lá estava eu. Trabalhado em uma lavanderia, lavando calçotas de aposentadas e cuecas de couro de garoto de programa. Não tinha sido esse o meu plano. Não foi pra isso que me mudei para os Estados Unidos. Eu me sentia aquelas naves espaciais de filmes sci-fi que ficam presas no horizonte de eventos de um buraco negro, sendo sugado e destruído por sua gravidade a qualquer custo. Tentando inutilmente escapar do fim certeiro.

Eu me senti deslocado e enraivecido ao ver todos ao meu redor pulando e dançando. Aparentemente ali ninguém tinha problemas, todos estavam com as contas pagas e com o relacionamento indo de vento em popa. Todos alegremente cantavam em uníssono:

I love New York

I love New York

Naquele momento eu queria que Nova York se fodesse. Que fosse engolida por um mar de lava, que fosse alvejada por uma tempestade de meteoros, que fosse apagada do mapa por um tornado de magnitude F-360.

Pablo, chegou bem próximo a mim e se ajoelhou praticamente na minha frente. Apontou para alguém na multidão atrás de mim e cantou:

If you don't like my attitude

Then you can F off

Mas eu senti que aquelas palavras tinham sido exatamente para mim. Eu era o única pessoa que estava reprovando a atitude dele naquele momento. Todos os outros machos do recinto pareciam estar gostando do espetáculo. Fechei um punho com tanta força que senti minhas veias do braço saltarem. Eu tinha que tomar uma atitude. Eu não podia passar por aquele vexame ouvir ele dizer aquilo sobre eu ir me foder se eu não estivesse gostando de sua atitude, ver ele seminu rebolando para quem quisesse ver e ficar calado.

Just go to Texas

Isn't that where they golf?

Assim que Pablo se levantou e se dirigiu ao outro lado do palco com seus dançarinos no seu encalço, coloquei o meu copo de cerveja sobre o palco e firmei minhas mãos no tablado. Eu estava decidido a subir e jogar o meu copo de cerveja inteiro na cara dele. Foi quando uma mão forte fechou ao redor do meu punho. Cerrei o cenho e virei a cabeça com um olhar puto. Achei que fosse dar de cara com um dos seguranças que estavam por perto justamente para impedir aquele tipo de atitude. Entretanto, quem segurou meu braço foi um cara aleatório que estava parado ao meu lado esse tempo todo.

- Não vale a pena. - Ouvi ele dizer ao pé do meu ouvido.

- Oi? - Perguntei. Não que eu não tivesse entendido, mas querendo saber quem era ele para tentar me impedir de fazer o que eu tinha vontade.

Olhei mais uma vez para o Pablo e lá estava ele rebolando e dublando a si mesmo. Senti um aperto mais forte no meu punho direito. Olhei mais uma vez para o mala ao meu lado e ele fez que não com a cabeça e sinal para que eu o seguisse com a outra mão. Olhei para o Pablo e ele estava justamente olhando para mim e para a mão do cara presa no meu pulso. Até que não seria tão ruim sair dali de mãos dadas com outro macho como se Pablo não fosse porra nenhuma. E foi exatamente o que eu fiz. Peguei meu copo de cerveja, segurei a mão do cara que não me deixou subir no palco e me perdi na multidão junto com ele. Atrás de mim, ouvia a voz de Pablo dizendo:

New York is not for little pussies who scream

If you can't stand the heat

Then get off my street!

Com certa dificuldade, nos esgueirando pela lateral da casa, chegamos até o bar e dali para a fora da balada eram apenas alguns passos. Olhei para trás e senti que eu e Pablo trocamos um último olhar. Nos lábios dele eu pude ler:

Get off of my street

Get off my street

You get off of my street

Mostrei o dedo do meio para ele e saí de mãos dadas com o macho desconhecido.

Exagerado? Sim, esse é o meu sobrenome. Eu não ia deixar barato. A minha real intenção era acabar com o show do King Kobra e colocar um basta na minha relação com Pablo. Fosse ela qual fosse. Não éramos namorados, não éramos casados, mas havia algo entre nós. Além de saber onde eu morava, Pablo sabia que eu tinha sido dopado e desovado no meio do nada. Ele se prontificou a me ajudar e a entrar na minha vida. Ele me deu um par de chinelos, pelo amor de Deus! Se eu não fosse tão lerdo, podia ter desconfiado de algo. Devia ter perguntado quem era o King Kobra. Será que ele teria me falado?

Absorto em meus pensamentos, não reparei que o cara a minha frente estava com a mão estendida e a espera de um cumprimento até que com a outra mão ele me deu cutucão.

- Prazer, meu nome é Joshua. - Ele disse com um sotaque diferente. Logo percebi que não era de Nova York.

- Fábio. - Respondi apertando sua mão.

- Eu percebi que você estava prestes a fazer uma besteira lá dentro e decidi te tirar de lá.

Disfarcei e naquele momento me senti um idiota. Coloquei as duas mãos dentro dos bolsos de trás da minha calça como eu costumava fazer na escola quando ia parar na diretoria por brincar de pega-pega na hora do intervalo. As inspetoras morriam de medo das crianças racharem a testa na quina dos pilares que havia no pátio.

- Sim. Eu estava prestes a fazer uma merda... das grandes. - Assumi.

Para variar, pensei.

- Você se importa de ir tomar uma cerveja comigo em algum bar perto daqui? - Ele perguntou com cara de cão sem dono.

- Já está tarde. Eu acho melhor eu ir para casa.

Da última vez que acompanhei estranhos saindo da Bottoms up acabei indo para em Long Island. Eu não ia permitir que isso acontecesse novamente.

- Uma cerveja apenas?

Continuei olhando sério para ele querendo que ele percebesse que independente de sua cortesia, a sua insistência não me convenceria a sair com ele. Eu não era idiota. Aquele convite para uma cerveja incidiria em uma noite de sexo casual. Esses encontros fortuitos em baladas sempre tinham o mesmo propósito. A música dentro da balada continuava alta. Embora na calçada o som da cidade era mais alto, ainda assim era possível ouvir os estrondos vindo das caixas de som lá de dentro. Pablo me viu saindo de mãos dadas com Joshua. Talvez uma cerveja não seria tão mal assim. Pelo menos deixaria Pablo ciente que ele não era o único disputado na noite.

- Eu escolho o local. Pode ser?

- Fechado. - Ele respondeu.

Começamos a caminhar lado a lado pela calçada deixando a Bottoms up para trás.

***

Música que inspirou esse capítulo:

I Love New York - Madonna

Lyric:

I Love New York

I don't like cities, but I like New York
Other places make me feel like a dork
Los Angeles is for people who sleep
Paris and London, baby, you can keep

Baby, you can keep
Baby, you can keep
Baby, you can keep
Baby, you can keep
Baby, you can keep
Baby, you can keep
Baby, you can keep
Baby, you can keep

Other cities always make me mad
Other places always make me sad
No other city ever made me glad
Except New York
I love New York
I love New York
I love New York

If you don't like my attitude, then you can F-off
Just go to Texas, isn't that where they golf?
New York is not for little pussies who scream
If you can't stand the heat, then get off my street

Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street

Other cities always make me mad
Other places always make me sad
No other city ever made me glad
Except New York
I love New York
I love New York
I love New York

Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street
Get off my street

Tradução:

Eu Amo Nova Iorque

Eu não gosto de cidades mas eu gosto de Nova Iorque
Outras cidades fazem me sentir uma babaca
Los Angeles é para as pessoas que dormem
Paris e Londres,baby pode ficar com elas

baby, pode ficar com elas(repete 8x)

Refrão:
Outras cidades sempre me deixam louca
Outros lugares sempre me deixam triste
Nenhuma outra cidade jamais me deixou alegre
Exceto Nova Iorque
Eu amo Nova Iorque
Eu amo Nova Iorque
Eu amo Nova Iorque

Se você não gosta da minha atitude,então vá se f..
Vá para pro Texas Não é lá onde jogam golf?
Nova Iorque não é para as garotinhas escandalosas
Se você não pode suportar o calor,saia do meu caminho

saia do meu caminho (repete 8x)

Refrão

saia do meu caminho (repete 15x)

***

HOMOFOBIA É CRIME SIM. DENUNCIE.

Polícia Federal: denuncia.pf.gov.br

Direito Homoafetivo: www.direitohomoafetivo.com.br

ABGLT: www.abglt.org.br

CVV | Centro de Valorização da vida: https://www.cvv.org.br/

DISQUE 100

***

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