Obra de arte

By saythenamex

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Não conversavam, não trocavam olhares, era apenas Jaebum, Yugyeom, o céu e os pincéis. More

Uma obra de arte para uma obra de arte.

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Jaebum deixou suas malas ao lado da porta, checando mais uma vez o horário e esperando alguns minutos para finalmente tocar a campainha, não demorando a ser atendido por uma empregada. Suas malas foram levadas por dois homens fortes e robustos, que subiram as escadas belas com detalhes dourados e sumiram por um dos lados, mais precisamente o da direita. Uma empregada jovem o conduziu até o escritório pessoal de Kim Mark, o sócio mais influente para a multinacional exportadora de petróleo da família Im e grande amigo desta. Mesmo que ele fosse alguém consideravelmente novo, tinha apenas 26 anos, Mark ainda sim era um grande homem que tinha herdado todo o poder de seu pai muito novo, e felizmente aprendeu rápido como o mundo dos negócios funcionava, não perdendo tempo em expandir mais ainda as conquistas de seu pai, ampliando o negócio e criando parceria com várias empresas. Jaebum, que era filho mais velho entre seus dois irmãos, estava começando a entrar no mundo comercial, sendo instruído por seu pai e aprendendo aos poucos. O Kim ofereceu ajuda para treina-lo e o Im não pensou duas vezes ao aceitar.

— Aqui está ele! — Mark sorriu bagunçando seus próprios cabelos castanhos, deixando de lado uma pilha de papéis provavelmente importantes — Meu sócio, Im Jaebum! Você cresceu, eu vejo.

— Acho que um pouco — soltou um risinho contido, abraçando carinhosamente o mais velho — Você me viu há três anos, não?

— Sim, você tinha 19 na época — suspirou nostálgico — Deuses! O tempo passa rápido demais, Jaebum.

— Realmente — assentiu envergonhado, sentindo-se estranhamente acolhido pelo estrangeiro.

— Não se incomode com meu animo, por favor! Have a sit, here. — apontou uma poltrona vermelha, sentando-se em frente ao coreano — Vamos apenas conversar, quero saber suas preferências pela comida e temperatura da água do banheiro, afinal você agora faz parte da minha mínima família.

— Bem, eu não sou muito exigente, como praticamente de tudo e não ligo para a temperatura da minha água.

— Oh, mesmo comida americana? — sorriu — Eu sou acostumado a pedir apenas coisas comumente estrangeiras, então fiquei preocupado com o seu gosto.

— Não, imagina! — riu — Eu como de tudo, Mark hyung.

— Que alivio! — levou a mão ao peito, suspirando feliz — Pensei que estivesse sendo ingênuo em pensar que todo mundo gosta de batata frita e bife.

Jaebum riu novamente, fazendo com que Mark também compartilhasse algumas risadas fracas. Uma conversa se seguiu durante o restante da tarde, onde o estrangeiro vez ou outra começava a falar em inglês, obrigando o Im a repuxar um pouco mais os conhecimentos e tentar responde-lo com um inglês enferrujado, felizmente sempre conseguindo. Algumas empregadas entraram pelo fim da tarde, enquanto o sol desaparecia entre a colina verde e vasta que era o terreno dos Kim, trazendo bolinhos e chá. Jaebum reparara que Mark gostava muito de chá, e não concluía isso só porque ele ficava imensamente feliz ao tomar o líquido quente, e sim porque sempre que se encontravam ele fazia questão de ter um pouco deste por perto, desfrutando da quentura e sabor com classe e paciência. Talvez fosse influência de sua mãe, que antes de falecer também sempre estava com uma xícara em mãos.

— Você deve ter percebido que eu gosto bastante de chá — comentou risonho.

— Bem, é algo que eu não deixei passar — bebericou seu café.

— É influência do meu irmão, desde criança ele sempre me obrigou a tomar — deu de ombros — Yugyeom nunca ligou muito pra outra coisa que não fosse pintar, beber chá ao fim da tarde e praticar seu inglês.

— Seu irmão não é nativo da América como você? — perguntou curioso.

— Oh, não não! — deixou a xícara de lado, sorrindo — Nós nos mudamos quando eu ainda era muito jovem, Yugyeom nasceu na Coréia.

— Entendi — assentiu.

— Você deve estar cansado pela viagem longa, não é? Eu ainda te ocupei falando a tarde inteira! — levantou-se apressado, puxando Jaebum para fazer o mesmo — Vou te mostrar seu quarto, Jaebum. Você precisa descansar.

— O-Ok — riu-se contido.

***

Jaebum sempre teve a mania de acordar no meio da noite e apreciar o céu negro. Não que fosse algo correto a se fazer isso visando sua rotina sempre muito pesada e puxada pelos pais empreendedores, contudo na maior parte do tempo ele não se importava com o dia que estava prestes a nascer, apenas com as estrelas e a lua. Mesmo que acordasse cansado no dia seguinte, observar os pontinhos brancos em contraste com a escuridão assustadora era algo que o acalmava, de alguma forma. Seus irmãos nunca compreenderam sua admiração pelo céu noturno, e Jaebum mesmo tinha suas dúvidas sobre seu gosto, contudo se ele pudesse apenas fazer isso em silêncio ele faria sem reclamar, e ninguém parecia se importar mais com essa mania depois de alguns meses. Como o Im sempre desejava era apenas ele e o céu por um bom tempo até que finalmente voltasse a sentir sono, se rendendo aos cobertores macios e travesseiros fofinhos, apagando e sendo acordado em algumas horas por seu irmão mais novo.

Não seria diferente apenas porque estava morando com Mark. Muito pelo contrário, a visão aberta dos campos seria apenas um empurrãozinho para que tal mania continuasse a existir por tempos. Jaebum não tinha mais compromissos pela manhã, segundo seu hyung ele não tinha horário para acordar desde que sempre estivesse lendo e estudando quando pudesse, tirando dúvidas e o acompanhando em alguns compromissos. Para o Im, que era sempre incomodado logo cedo e apenas se deitava quando a noite já tinha caído há tempos, as palavras doces de Mark nunca pareceram tão animadoras como antes. Poderia descansar como um ser humano que era, não se importando tanto assim com os deveres que teria no dia seguinte. Jaebum não podia se sentir mais realizado ao saber que poderia ver sempre o céu.

E era isso que ele estava indo fazer. Andando de pijamas pela casa, não se importando em encontrar alguma empregada, caminhou até a varanda aberta do último andar. Os pés descalços tocavam o chão frio de mármore, hora ou outra causando arrepios no menino de cabelos negros e pele levemente morena. De longe, enquanto observava pelas portas de vidro, conseguia ver uma pequena parte de seu objetivo se estendendo pelo horizonte, o chamando. Ao se aproximar, contudo, percebeu que não era o único ali, encontrando um menino alto de cabelos castanhos como o de Mark e silhueta delicada e serena. Ele também usava pijamas, mas apresentava um robe de cetim por cima da roupa relaxada. Em sua frente, parcialmente pintada, uma tela estava presa ao cavalete. Nas mãos do garoto, delicadamente deixado ali, um pincel sujo de tinta escura retocava algo ali e aqui no branco que restava, fazendo movimentos que por um momento hipnotizaram o Im. Aquele menino era a suavidade em pessoa, chegava a ser estranho vê-lo tão sútil.

Pigarreou envergonhado, abrindo as portas de vidro e tomando a atenção do jovem artista para si.

— Eu posso dividir o espaço com você?

Ele pouco fez, apenas assentiu calmamente e voltou a prestar atenção em sua pintura, não interessado em Jaebum ou em qualquer outra coisa que não fosse ela. O maior tomou espaço no local, apoiando-se nos pilares de mármore e apreciando a visão estrelada em silêncio, hora ou outra ouvindo o barulho dos pinceis sendo trocados e colocados dentro do copo com água.

— Você é o irmão mais novo do Mark hyung?

— Sim.

Ele talvez não fosse de falar muito, Jaebum concluiu. E mesmo não dizendo praticamente nada, a suavidade dele atraiu fortemente o Im.

***

A primeira semana morando com os Kim se encerrava.

Jaebum não conseguiu controlar sua mania — e curiosidade —, então não fora surpresa contemplar o céu estrelado pela madrugada pelos dias que se seguiram, encontrando-se novamente com Yugyeom, irmão mais novo de Mark. Ele sempre estava pintando outro quadro, dia após dia. A temática noturna era presente mesmo com as passagens das horas, coisa que agradava levemente Jaebum. As pinceladas eram suaves, tal como a presença do garoto, deixando o Im ainda mais encantado com a forma dele de agir e existir. Não conversavam, não trocavam olhares, era apenas Jaebum, Yugyeom, o céu e os pincéis. E de alguma forma ou de outra, isso acalmava o estado inquieto do Im ao sempre estar próximo de algum Kim. Claro, quando era com Mark as coisas fluíam mais naturalmente já que ele sempre fora um grande apoio e suporte, entretanto Yugyeom era calado e reservado, o oposto de seu irmão mais velho, o que deixava Jaebum confuso sobre ele. Algumas vezes pegava o Kim o observando pelo canto dos olhos, mas ele simplesmente voltava a prestar atenção no que fazia.

— Quantos anos você tem? — perguntou casualmente, fitando o céu.

— 19.

— Só três anos mais novo que eu — suspirou — Você pretende assumir a empresa de seu irmão, algum dia?

Yugyeom o olhou ressentido, negando em movimentos desajeitados. Ele parecia envergonhado.

— Eu não levo jeito pra isso.

Jaebum soltou um risinho contido.

— Eu também não levava, se quer saber — sorriu — Mas seu irmão e meu pai me ajudaram bastante a compreender o mundo complexo dos negócios, hoje tenho mais facilidade.

— O hyung é bem gentil — o Kim assentiu observando seu quadro, suspirando irritado em seguida e retirando a tela do cavalete — Um lixo.

— Ei, ei! — chamou atenção do garoto, o assustando por um momento — Não jogue fora, estava ficando lindo.

— Não, não estava.

— Eu estava achando—

— Faz dias que não consigo fazer nada decente, é frustrante — cortou Jaebum, bagunçando os cabelos castanhos e fazendo um bico irritado — Vou jogar fora!

— Dê-o pra mim — pediu receoso, estendendo o braço trêmulo.

Yugyeom o fitou intensamente, de cima a baixo, enquanto pensava se era mesmo certo romper uma barreira tão grande assim entre si e o moreno. Não gostava de se abrir, não gostava de conversar ou sequer trocar algum contato físico com os outros, entretanto dia após dia Jaebum aparecia e continuava insistindo para que isso se revertesse. Ele sempre estava ali, o observando com seus olhos rasgados e personalidade instigante, procurando em suas expressões suaves e despreocupadas alguma coisa fora a serenidade aparente, não encontrando muito. O Kim não o julgava como alguém hostil, entretanto, gostava da companhia dele mesmo quando não trocavam nenhuma palavra sequer. Fazia-se apenas uma semana, contudo fora impossível acabar não se acostumando com a figura masculina do amigo de seu irmão mais velho.

— O que pretende fazer com ela?

— Vou emoldurar, é claro! — sorriu fraco.

— M-Mas está feia!

— Bom, eu não acho — aproximou-se com o braço estendido — Se acha que está feia, pinte outro e decidimos, mas por enquanto isso fica comigo.

Jaebum suavemente pegou a tela das mãos bonitas de Yugyeom, segurando-a como se fosse ouro entre os dedos de pontas avermelhadas.

— Se esforce, Yugyeom — corou fraco — Tenho certeza que vai conseguir pintar algo que te agrade, e quando isso acontecer eu mesmo te ajudo a se livrar desse quadro que você desgosta.

— Vai mesmo se livrar dele? — perguntou receoso.

Jaebum estendeu seu dedo mindinho.

— É promessa de amante da noite.

— Então é uma promessa — sorriu envergonhado, enrolando seu dedinho mindinho no dele.

***

Depois de quatro semanas Jaebum continuava visitando a varanda, sempre revendo Yugyeom.

Ele não o deixava mais ver o que pintava, sempre virando o cavalete ou o tampando com o corpo grande, sorrindo envergonhado ao ver que o mais velho se aproximava. Segundo Mark, Yugyeom estava há semanas trabalhando na pintura que tinha desenhado e estava consideravelmente mais animado e sociável, saindo mais de seu quarto e compartilhando o café da manhã ou almoço com os moradores da casa — que consistiam em basicamente Mark e Jaebum. O Kim mais velho nunca tinha visto nada parecido antes, contudo o alegrava a ideia de ver seu irmão mais novo sendo mais alegre pelas manhãs e pegando um pouco de sol. Jaebum desconfiava que Mark sabia sobre seus encontros com Yugyeom pela madrugada, mas como ele não dizia nada ambos não discutiam sobre isso.

— Você está realmente animado, aposto que é um quadro belíssimo — comentou bagunçando os fios negros, sorrindo.

— Acho que é o mais bonito que já fiz — suspirou feliz observando os traçados que terminava de fazer — E está pronto, eu acho.

— Você acha? — perguntou curioso.

— Estou com medo de mexer em mais alguma coisa e acabar estragando — sorriu envergonhado — Você quer ver?

Jaebum se sentiu nervoso com o sorriso dele, ansioso por finalmente ver o que assolava a mente do Kim por semanas e também porque seu coração deu um pulo estranho, parecendo querer saltar de seu peito. A personalidade serena do garoto mais novo o encantava de uma maneira assustadora, coisa que fazia seu estômago se revirar em sentimentos que a mente não conseguia mais processar. Parecia besteira pensar que estava se afeiçoando demais ao menino de expressões maturas, contudo nada mais poderia explicar tamanho rebuliço dentro de seu corpo quente e trêmulo.

— Me dói saber que vamos ter que nos desfazer daquele quadro — caminhou calmamente até o mais novo, o fitando atentamente.

Yugyeom era extremamente bonito, Jaebum não conseguia evitar quase babar ao vê-lo.

— Antes de finalmente olhar, posso te pedir uma coisa? — colocou-se em frente a obra, sorrindo tímido.

— Claro.

— Fecha os olhos, hyung?

Jaebum não demorou em atender o pedido, sentindo arrepios por todo o seu corpo ao ouvir a voz tão aveludada tomar uma intensidade antes nunca conhecida. Ele era um garoto de várias facetas, afinal.

— Obrigado por isso.

O mais velho estava prestes a perguntar algo, contudo se calou ao sentir a suavidade em seus lábios, o fazendo relaxar os ombros tensos por um momento. As mãos bonitas e gélidas do Kim tocaram seu pescoço com serenidade, causando um choque térmico em ambos. Jaebum estava atônito, mas ainda sim não deixou de corresponder ao selar que estava recebendo, não enrolando em pedir para que aprofundassem o ato. Yugyeom, entretanto, parecia estar travando uma batalha interna consigo mesmo, coisa que o Im confirmou ao vê-lo estremecer sobre suas mãos — que foram estrategicamente postas na cintura fina. No final das contas, ele correspondeu, não deixando de satisfazer Jaebum, que o encarava a semanas se perguntando como seria se fossem de fato mais próximos do que tinham se tornado no mês que se passara entre as madrugadas frias da Coréia.

Ao findarem o ósculo, Jaebum sorriu bobo ainda com as mãos no corpo bonito.

— Eu acertei hyung. Eu sabia que para lábios tão macios e gostosos eu precisava dessa cor rosada.

— Acertou, Yugyeom? — abriu lentamente os olhos, vendo o mais novo sair de sua frente e mostrar o quadro.

— Uma obra de arte para uma obra de arte, Jaebum hyung.

Jaebum viu seu retrato e sorriu envergonhado. Yugyeom era mais do que a serenidade em pessoa, ele era um garoto extremamente encantador que parecia ter lançado um feitiço em Jaebum, que se encontrava apaixonado.

— Uma obra de arte para uma obra de arte, Yugyeom.

Tomou-lhe os lábios novamente.

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