Vertan (Filhos do Acordo 5)...

By escrevethais

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Descobrir que aliens existem não foi grande coisa para Carol. Aquilo pelo menos queria dizer que ela não esta... More

Sinopse e Avisos
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Dez
Final

Nove

781 99 31
By escrevethais

Eu ainda não acredito nisso. Puta que pariu, vai ser azarada assim lá no quinto dos infernos.

Encaro a parede do meu quarto no apartamento de Gabi e Kernos, até que a parede começa a ficar desfocada e eu estou vendo manchas onde não tem nenhuma. Eu pensei em várias formas como isso podia dar errado, de verdade. Me preparei para sei lá quantas possibilidades. O pessoal da APLA não me chama de pessimista à toa, mas a verdade é que só prefiro estar preparada para qualquer coisa que acontecer. Mas eu nunca - nunca - imaginei essa possibilidade.

Uma investigação no Acordo. Pior, uma investigação que eu sei que Gabi está mexendo quando tem tempo e que em quatro anos não descobriu mais nada. Não, espera, isso não é o pior. O pior é saber que isso é um assunto delicado, que tenho certeza que muita gente prefere abafar, e que é justamente por isso que me deram essa missão. Estão esperando que eu falhe. Se bobear, estão torcendo para eu morrer. Assim ficam livres dessa confusão toda. Se depois que eu desaparecer, na melhor das hipóteses, Kernos e sei lá quem mais está do nosso lado nisso conseguirem obrigar o Conselho a chamar outro representante da APLA, tudo vai se repetir. Ou vai dar merda de vez, porque eu sei que sou a mais preparada. E, numa situação dessas, sei que sou uma das poucas que não aceitaria ser manipulada.

Puta merda, que caralho, como é que eu vou fazer isso? E eu que achava que ter que trabalhar com um drilliano e ter Lucas como observador já era azar demais. Murphy, eu sei que você me ama, mas pode dar um pouco de sossego, para variar.

Alguma coisa apita. Passo as mãos no rosto antes de olhar para os lados. Ah. A porta. Gabi me explicou isso antes: até as portas internas, se estiverem fechadas, têm um tipo de "campainha" embutida. Estico o braço e aperto a mancha na parede perto da cabeceira da cama. Um painel se abre e aperto um dos controles. A imagem de Ei'ri aparece.

— O que foi? — Pergunto.

Ele passa uma mão pelo cabelo.

— Não foi só você que o Conselho colocou na linha de tiro. Precisamos conversar e decidir o que vamos fazer.

E tem mais essa. Respiro fundo. Ele está certo. Tanto ele, como consultor, quanto Lucas, como observador, estão tão ferrados quanto eu. Querendo ou não, a reputação deles está ligada ao resultado disso tudo. Merda. Ia ser melhor se eu estivesse sozinha.

— Podemos conversar aqui? — Ele continua.

Aqui, no meu quarto? Se o "nós" dele inclui Lucas, não mesmo. Não quero ele dentro de nenhum espaço que seja meu, mesmo que temporariamente.

Balanço a cabeça.

— Gabi ainda está na sala?

— Ela e Kernos estavam subindo quando passei por lá.

Ótimo. Gabi estava tão puta depois da reunião do Conselho que não falei nem meia palavra perto dela no caminho de volta para cá e vim direto para o quarto. Nós duas juntas, com ela puta de raiva e eu do jeito que estou não ia dar em nada que preste. Ou seja, melhor eu já ficar na minha.

— Na sala, então. Já estou indo.

Ei'ri assente e se afasta da porta. A imagem desaparece. Espero que ele esteja indo chamar Lucas, porque eu não vou fazer isso. Ou melhor, espero que não chame. Não preciso dele por perto.

Merda. Preciso me conformar a trabalhar com ele. Ei'ri é mais fácil - ele pode ser um drilliano, mas não me deu nenhum motivo palpável para desconfiar dele. Quer dizer, além de ser um drilliano. Agora, aceitar trabalhar com Lucas? Caralho, que merda. Essa é a única reação que consigo ter. Mas vou ter que dar um jeito, porque é a única opção.

Quando chego na sala, Lucas e Ei'ri já estão sentados. Me deixo cair no sofá de frente para as cadeiras deles e cruzo as pernas, encarando o céu lilás de Nehyna através da janela. Queria poder pelo menos aproveitar o momento. Eu estou em outro planeta, devia aproveitar. Tirar dez mil fotos, no mínimo, mesmo sabendo que quando voltar para a Terra só vou poder mostrar isso para o resto do pessoal da APLA. Mas não consigo.

— A APLA tem alguma informação não compartilhada com o Acordo sobre o comércio de mulheres? — Ei'ri pergunta assim que me sento.

Direto ao assunto. Ótimo.

E seria ótimo se tivéssemos alguma coisa.

Balanço a cabeça.

— A única coisa que a APLA consegue fazer é monitorar os registros de desaparecimentos e tentar identificar se são coisa de aliens. Quando decobrimos que foi caso de abdução, notificamos o Acordo. Nos quatro anos que trabalho para a APLA, nenhuma das nossas notificações deu resultados.

— Não que isso seja uma surpresa, já que o Conselho com certeza sabe sobre o comércio de terráqueas há muito tempo, talvez desde que começaram — ele responde, assentindo.

Dou de ombros. Nenhuma surpresa, mesmo. E todos na APLA imaginam a mesma coisa, pelo menos todos que eu conheço. Mesmo assim, se a única coisa que podemos fazer é notificar, vamos continuar notificando. Pelo menos estamos dizendo que não somos cegos.

— A força-tarefa também não tem nenhuma informação nesse sentido. Todas as trilhas financeiras desaparecem pouco mais de dez anos atrás — Ei'ri conta.

Assinto. Gabi me avisou sobre isso um bom tempo atrás. Na primeira chance que teve, ela voltou para a rede do Acordo para tentar encontrar registros financeiros e tentar pegar mais pessoas como pegou Arcen. Não deu certo. E o pior é que, pelo que ela conseguiu revirar, não parece que os dados foram apagados depois que Gabi veio para cá. Ou eles nunca estiveram na rede, ou alguém fez uma limpa muito antes que ela se envolvesse.

— A única pista é Arcen. Se é que ainda existe alguma coisa que dá para ser tirada dos dados dele.

Ou dele, mas não falo isso em voz alta. Sei que ele está preso, mas a ideia de ir atrás do alien que me encomendou não é uma das melhores. Não se eu tenho que ser profissional. Eu ia adorar me encontrar cara a cara com ele se pudesse fazer um estrago.

E isso é uma coisa que eu já tinha notado. Arcen foi a primeira pessoa a ser presa por causa dos mercados de mulheres e era quem estava mais envolvido com eles, de todos os que vieram depois. Não foi ele quem começou isso, é óbvio, mas ele estava por dentro demais para não ter alguma ligação importante.

— As informações da rede... — Ei'ri começa.

Balanço a cabeça.

— Beco sem saída. Gabi já tentou.

E se Gabi, que consegue passar por qualquer sistema de segurança que os aliens arrumaram até hoje, só conseguiu dizer que os dados foram apagados bem antes da prisão de Arcen - o que bate com o que Ei'ri falou - é porque realmente não tem nada ali. Não na rede.

— Se ainda tiver alguma informação passada, é em servidores locais isolados da rede.

Ei'ri inclina a cabeça e estreita os olhos.

— O que não é muito comum no Acordo.

Assinto. Um servidor isolado da rede é algo raro, mas também é algo que não temos como rastrear. Se fosse, seria mais fácil. E eu já estaria fazendo isso, na verdade.

E é bem interessante que Lucas esteja aqui só de enfeite, aliás.

Olho para ele.

— Não vai falar nada? — Pergunto.

Ele balança a cabeça.

— Meu papel é ser um observador.

Encaro Lucas até que ele cruza os braços. Na defensiva, já? Me seguro para não sorrir.

— Sabe, é interessante o tanto que o Conselho fez questão de te colocar nessa também. Eles não precisavam de um observador para um processo de implementação.

— Precisam se o consultor oficial não tem todas as qualificações necessárias.

Bufo, segurando uma risada, e olho para Ei'ri em tempo de ver quando ele revira os olhos. E eu pensando que era tudo uma grande festa de família... Parece que Lucas não está muito satisfeito com isso tudo.

Ótimo. Posso ignorá-lo mesmo.

Olho para Ei'ri.

— Eu li os relatórios repassados para o Conselho depois que verificaram as propriedades de Arcen. A força-tarefa ou os drillianos tiveram acesso a alguma coisa além deles?

Ele suspira. Lucas faz um ruído irritado e se vira para olhar pela janela. Ceeerto. Tem mais alguma informação e eles não querem me repassar.

Ei'ri suspira de novo.

— Nem todas as propriedades de Arcen foram verificadas pelo pessoal do Conselho. Arcen vem de uma família antiga, tradicional. Algumas propriedades têm valor histórico e simbólico. O governo não permitiu que fossem verificadas. Elas só foram evacuadas e fechadas, com tudo o que estava lá.

Por essa eu não esperava. Mas não vou nem chamar os aliens de retardados, porque essa pode ser nossa única chance de conseguir descobrir alguma coisa.

— Então já sabemos para onde ir — falo.

Ela balança a cabeça.

— Vamos ter que entrar em espaço drilliano. Visitantes são catalogados rigidamente. Vão te cadastrar em todos os sistemas e bloquear nosso acesso a várias regiões por causa da sua presença.

Abro a boca para dizer que consigo me passar por drilliana e paro. Fisicamente, posso me passar por um deles. Moleza. Mas os sensores por toda parte do Acordo estão configurados para detectar espécies. Nem adianta tentar. Ou seja, posso deixar Ei'ri e Lucas irem para lá sozinhos - me julgue, não confio em Ei'ri o suficiente para isso. Ou então...

— E as permissões comerciais? Pelo que me lembro, as naves com permissão comercial não têm a tripulação escaneada, até porque quase ninguém desembarca. Se a nave ficar em órbita, não importa de qual planeta que seja, dá para descermos sem sermos notados, não?

Ei'ri sorri e assente. Okay, preciso admitir que acho que trabalhar com ele não vai ser tão ruim assim.

— Sei quem pode nos ajudar com isso. Um grupo que tem permissão comercial com alto nível de acesso, porque já trabalharam escoltando carregamentos drillianos, além de terem feito alguns trabalhos menos limpos.

Levanto as sobrancelhas. Desculpa, mas tenho o pé atrás com qualquer um que trabalhe com os drillianos.

— E eles são confiáveis? Ou melhor, vão ser confiáveis, levando em conta que podem perder essa permissão comercial se nos descobrirem?

O sorriso de Ei'ri se alarga. Acho que isso é um sim.

— Ah, eles não vão se importar com isso. São um dos grupos aliados à força-tarefa.

Epa, isso realmente muda as coisas. Se é um dos grupos que já está trabalhando com a força-tarefa, posso confiar. Pelo menos Gabi me garantiu que todos os grupos que estavam se juntando a eles eram de confiança. E Ei'ri trabalhou para Kradisla, que é a segunda no comando da força-tarefa. Ele com certeza vai conhecer quem ali pode nos ajudar ou não.

Lucas se mexe.

— Você está sugerindo trabalhar com um grupo de piratas conhecidos...

Me viro para ele.

— Você é um observador. Só observe.

Lucas me encara, de boca aberta, antes de respirar fundo e soltar o ar de uma vez. Coitadinho.

Olho para Ei'ri.

— Quanto tempo até conseguir falar com eles?

— Se Gabriela liberar o sistema de comunicação da força-tarefa, consigo contato imediato.

Certo. Hora de resolver isso, então.

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