Selvagens

Autorstwa Suehecker

2.3K 140 28

Como se controla o coração, se a única coisa que ele deseja é ser livre? Janice sempre foi apaixonada pela b... Więcej

Comunicado.
Prólogo
Capítulo 2

Capítulo 1

383 31 2
Autorstwa Suehecker


— Isso não pode ficar assim. Não mesmo!

Mergulhada entre as sombras do dia que ameaçava amanhecer, Janice caminhava devagar, em direção ao píer. Olhava para os lados, atenta; em uma mão, a bolsa com os víveres básicos para a viagem de um dia, na outra, os aparelhos veterinários para colher as amostras de que precisava. Podia imaginar seu pai, o renomado Forrest Parker, de braços cruzados ao seu lado, tentando chamar a sua atenção para tamanha insensatez, mas ela não desistiria.

Ainda que todas as condições estivessem contra ela, seria incapaz de desistir.

— Pai, me ajude...

Mesmo com o coração acelerado, ela chegou com desenvoltura à pequena embarcação, o diminuto corpo mal sendo notado através do lusco-fusco. Adentrou a cabine e só então respirou, aliviada, diante da inconsequente aventura que em breve se iniciaria. Girou a chave o mais rápido que pode, e quase vibrou quando os comandos lhe obedeceram. Utilizou da experiência que possuía desde a infância para se desviar das outras embarcações e alcançar o mar o mais breve possível.

— Agora não tem mais volta. Devo ter desobedecido pelo menos a umas dez leis americanas. Se for para ser presa, que seja pelo menos por uma boa causa.

Janice Parker sempre foi uma mulher mais apaixonada pelos animais que pelas pessoas. Filha de um biólogo marinho de origem americana e uma oceanógrafa brasileira, desde a mais breve consciência viu no vultuoso mar e seus mistérios uma mistura de medo e assombro, temor e encantamento. Passou com seus pais grande parte da infância na Bahia, em Mata de São João, já que eles faziam parte da equipe do conceituado projeto Tamar.

Ela se lembrava com carinho de sua mãe, a doutora Alessandra Tavares, sentada com ela diante da praia, distante. Lembrava-se de como a mãe a fazia sorrir e se encher de assombro e encantamento quando via os pequenos filhotes eclodirem de suas conchas e murmurava com um respeito quase religioso:

Contemple o milagre da vida!

Nada mais lógico do que toda essa aventura diante da Natureza a levasse pelos mesmos caminhos que os pais. Janice Parker era dona de uma inteligência indomável e uma vontade ferrenha de nunca desistir. Por isso, antes de completar trinta anos, a jovem fora promovida a chefe bióloga do maior centro de pesquisas e evolução marinha da FIU — Florida Internactional University, na cidade de Miami.

Tornara-se responsável por coordenar cerca de vinte e cinco membros, em diferentes grupos de pesquisas vinculados ao corpo docente, comprometidos com ações ecológicas e evolução marinha. Era uma aventureira audaz, por isso nunca se intimidara com a falta de recursos para concluir sua maior descoberta, a menina dos seus olhos, com a qual revolucionaria a ciência: a cura dos leões-marinhos. Devido à contaminação, eles chegavam à costa da Califórnia desorientados e sofrendo convulsões. Em casos mais graves, muitos desenvolviam erupções na pele, como pústulas esbranquiçadas, sensíveis ao toque. Se os animais não fossem tratados com rapidez, podiam sofrer lesões cerebrais permanentes.

Em tese, a equipe já tinha descoberto a origem da epidemia em uma neurotoxina conhecida como ácido domoico, produzida em algumas algas que sofreram impacto ambiental humano. Os peixes, principal alimento dos leões-marinhos, ingeriam as algas, acumulando as toxinas. Ela só precisava agora mostrar que a sua tese estava certa, recolhendo amostras do ácido em altas taxas nos leões-marinhos. Assim, não apenas teria provas da veracidade de seu projeto, mas poderiam obter recursos para reverter os processos desde o início da cadeia alimentar.

Porém, no dia anterior, Janice foi chamada à sala da direção para ser comunicada de que os recursos fornecidos pelos patrocinadores privados e pelo governo já tinham se esgotado. Nesse caso, o projeto seria encerrado por tempo indeterminado. Ela brigou, chorou e implorou para mudarem aquela tão injusta decisão, mas lhe deram ouvidos moucos. Por isso, após passar a noite em meio às lágrimas de frustração, decidiu tomar para si a obrigação de continuar o projeto.

Inconformada por estar tão próxima da conclusão, ela não se acovardou em concluir tão valoroso projeto e tentar salvar os animais num audacioso plano. Em três dias, Janice e os outros membros da equipe iriam embora ou seriam remanejados para outros projetos. Por isso, não podia perder tempo. Juntou todo o material necessário e se dispôs a pegar uma embarcação "emprestada" para recolher pessoalmente as amostras.

Depois pegaria suas economias e usaria as férias atrasadas para comprar todo o equipamento necessário e concluir sozinha a pesquisa.

O sol, por fim, chegara, mas longe do seu calor habitual, típico da região. Estavam em agosto, por isso, o clima não estava propício a navegações com tantos quilômetros mar adentro, devido à grande incidência de tempestades no meio do oceano. Podia ser perigoso, ainda mais numa embarcação tão pequena, mas pelo menos poderia mergulhar com calma, pois, nesse período, as chances de encontrar tubarões por ali eram mínimas.

Janice contava com a audácia dos venturosos e dos loucos para guiá-la. Não tinha tempo a perder à espera de um instante propício. Precisava utilizar cada segundo do curto tempo a seu favor. Não tinha problema algum em manejar um iate, já que os dirigira desde a tenra infância. Sempre gostou de velejar barcos e, quando completou a maioridade, diferente de todos os cidadãos, sua primeira habilitação foi a Arrais-amador, e, com o tempo, aumentou sua qualificação até a plena, que é de Capitão-amador. Deve ser mais uma das paixões arraigadas da família, uma que seus pais, já aposentados, estavam viajando há meses em mar aberto, dando a volta ao mundo.

Atracou, por fim, na área conhecida. Deixando o cansaço de lado. Como uma criança diante do seu principal brinquedo, Janice vestiu a roupa de mergulho e derramou-se sobre a imensidão azul que tanto a atraía. Explorando as águas cristalinas, ela não hesitou em aproveitar o limite dos seus cilindros de oxigênio, enquanto passava horas submersa nas profundezas do Pacífico.

Ao deparar-se com o cardume de leões-marinhos, encantou-se, como se fosse a primeira vez, com os seus corpos suaves e roliços a dançarem de forma única e intrínseca em meio ao silêncio marítimo. Lembrava-se, emocionada, de tudo o que fizera para chegar até ali, de cada vida animal ceifada na ânsia de salvar a espécie, e sabia que não poderia ter feito nada diferente.

— No que depender de mim, vocês serão salvos! — prometeu, emocionada, enquanto alguns leões-marinhos dançavam ao seu redor.

Agora, só precisava atrair um deles para a superfície, sedá-lo e retirar a amostra. Ela os atrairia até a embarcação com peixes. Caso não funcionasse, trazia sempre consigo frascos de feromônios capazes de atrai-los para o barco. Ficaria esperando com a pistola sedativa em mãos. Sabia que eles podiam ser perigosos quando ameaçados, e seu gesto podia parecer inconsequente, mas não chegara até ali para voltar atrás. Além do mais, não poderia demorar muito, pois seu estoque de oxigênio já estava chegando ao fim.

Foi quando o cardume se agitou à sua volta, como se temesse algo. Janice olhou ao redor, mas não conseguiu identificar nada. Olhou para cima e notou que a parca claridade externa que adentrava o mar começava a desaparecer.

Nesse instante, o fundo do mar se agitou, revoltoso. Como se fosse uma parede viva, a água em turbulência agitou o mar diante de Janice, revolvendo a areia e os peixes, jogando-a com certa brutalidade por uma distância considerável.

Janice sentiu-se indefesa no meio não-terrestre.

Meu Deus, o que está acontecendo?

O pânico adotou uma posição rígida, enquanto ela tentava lutar para sobreviver e manter a sanidade. Ela sentiu o baque do cilindro de oxigênio bater forte em algo que não conseguiu identificar.

Apesar de consciente, a bióloga não tinha como lutar contra a força da natureza naquele momento. Sentiu a epiglote quase se fechar, impedindo-a de inspirar o oxigênio.

Eu preciso ficar tranquila...

Mantenha a calma...

Esse era o único exercício que ela repetia em seus pensamentos naqueles segundos angustiantes. Tudo o que precisava era conseguir voltar à superfície. Para isto, dependia de buscar a calma pela qual tanto ansiava.

Os movimentos intensos da água gradualmente foram diminuindo... Ainda assustada, ela se deu conta de que havia acontecido algum fenômeno natural daquela região.

Meu barco!

Certificando-se dos seus equipamentos de segurança, ela decidiu emergir para verificar se estava tudo certo com o barco. Mas, antes de chegar até ele, uma nova turbulência a pegou, girando-a, torcendo-a, levando-a para longe, fazendo-a perder o controle.

Janice queria gritar, mas sua voz nunca romperia o som do mar em fúria. Tentava se agarrar a pedras e corais, mas não tinha forças suficientes. Seus dedos se cortavam, o corpo magoava e cada vez mais lhe vinha a certeza de que encontraria ali o seu fim. Mas tão repentinamente quanto começou, o fenômeno parou. E, mesmo com o corpo recoberto de dores e machucados, Janice atravessou a água, que se tornara turva, em busca da sua embarcação.

Quando conseguiu subir, constatou que a situação na superfície era muito pior que a presenciada na profundeza das águas, prova disso era que do seu barco não havia mais sinal. Ao seu redor, apenas alguns pedaços de madeira e destroços, que poderiam ser do iate escolar. Ou não.

Céus! O que vou fazer agora?

Estava à deriva, perdida e sem chance de resgate.

Arrastando o olhar para todos os lados, seu bom senso tentou acalmá-la. Entretanto, parecia um ato hercúleo para aquele instante.

Calma, Janice... Calma!

Segurando as lágrimas, fez a única coisa que lhe cabia. Não se desesperou com tubarões, ou possíveis outros terrores aquáticos.

Força, você consegue!

Sim, ela conseguiria e assim o fez, nadou até ao conjunto de destroços mais próximos, capaz de ajeitar da melhor maneira o seu corpo pequeno, e nele se aconchegou. Agora, restava esperar o resgate, ou, confiar que o conseguiria aonde quer que o mar a levasse.

Czytaj Dalej

To Też Polubisz

1.5M 131K 45
✫ 𝐁𝐨𝐨𝐤 𝐎𝐧𝐞 𝐈𝐧 𝐑𝐚𝐭𝐡𝐨𝐫𝐞 𝐆𝐞𝐧'𝐬 𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐒𝐚𝐠𝐚 𝐒𝐞𝐫𝐢𝐞𝐬 ⁎⁎⁎⁎⁎⁎⁎⁎⁎⁎⁎ She is shy He is outspoken She is clumsy He is graceful...
4.5M 286K 105
What will happen when an innocent girl gets trapped in the clutches of a devil mafia? This is the story of Rishabh and Anokhi. Anokhi's life is as...
4.1M 169K 63
The story of Abeer Singh Rathore and Chandni Sharma continue.............. when Destiny bond two strangers in holy bond accidentally ❣️ Cover credit...
275K 31.5K 80
#Book-2 of Hidden Marriage Series. 🔥❤️ This book is the continuation/sequel of the first book "Hidden Marriage - Amazing Husband." If you guys have...