Focus

By saythenamex

107 16 3

Jaebum era cético, não acreditava em lendas antigas e não ficaria com peso algum se invadisse o templo sagrad... More

Raposa do vento e raposa do fogo.

107 16 3
By saythenamex


Jaebum adentrou o terreno do templo sagrado da raposa procurando por Jackson.

Jurava de pés juntos que tinha visto o melhor amigo se esconder entre as enormes árvores do espaço, e visando ganhar o jogo de aposta não pensou duas vezes em pular a parte menor do muro e adentrar a floresta que se estendia escuridão adentro. Usou a lanterna de seu telefone para se encontrar entre os galhos e raízes, silenciosamente procurando pelo chinês ágil. Hora ou outra uma brisa realmente forte soprava, fazendo com que o Im tivesse que parar de andar e fechasse os olhos para não ter nenhuma folha em seus olhos. Nesses momentos, enquanto analisava sua situação, ele percebia que estava cada vez mais fundo dentro da mata, entretanto não estava se importando. Quem pegasse Jackson ganhava uma boa quantia de dinheiro, e Jaebum não era de perder oportunidades.

Contudo foi ao olhar para trás que percebeu que já não existia mais uma trilha para voltar, assim como também não existia nenhum caminho para seguir. O silêncio noturno arrepiou os pelos do garoto, o fazendo soltar um suspiro derrotado e continuar seguindo. Com sorte encontraria o outro lado do terreno e pediria ajuda para chegar em casa, afinal provavelmente ele era o único que invadiria as terras de um semideus dessa forma. Não era muito religioso, desacreditava das lendas sobre demônios e espíritos de animais, então não ficaria com nenhum peso na consciência de saber que invadiu o espaço sagrado de um espirito animal, ainda mais sabendo que era uma raposa — Jaebum não gostava muito delas, tinha certo medo.

Continuou caminhando até encontrar um espaço aberto e sem árvores, foi até ele lentamente, quase perdendo o folego quando finalmente o encarou por inteiro. Era a ponta de um abismo, o Im conseguia ver apenas alguns prédios e casas lá em baixo. Mal tinha percebido que estava apenas subindo a montanha, se afastando cada vez mais de onde jurava ser a porta de entrada. Se seus pensamentos fossem certos, se seguisse descendo o mais reto possível certamente chegaria até o local de entrada e voltaria para a casa de Jackson, contudo haviam milhares de chances de estar errado. Aproximou-se cuidadosamente da beirada, espiando lá em baixo e respirando fundo ao ver a altura em que se encontrava. Não havia chance de descer sem morrer.

Virou-se lentamente, gritando de pavor ao ver a enorme raposa branca sair dentre as árvores. Seu corpo era marcado por esferas vermelhas desenhadas, algo realmente muito bonito e encantador. Os olhos vermelhos pediam por sangue, Jaebum conseguiu identificar isso ao vê-la lamber a boca. Não tinha para onde correr ou para quem gritar, e se continuasse recuando como fazia provavelmente acabaria caindo no abismo e morrendo. Nunca em sua vida tinha visto tal espécie de raposa, ela parecia mais um enorme lobo do que qualquer outra coisa. E ao ver tal animal tão formoso a sua frente, seu medo apenas aumentou. Morreria pelas garras de uma enorme raposa branca e mística.

— Moon! — um doce cantarolar soou entre as árvores, fazendo o vento se agitar e as folhas subirem. A raposa sentou-se imediatamente, ainda fitando Jaebum de forma ameaçadora — Moon, onde você está?

De trás da raposa surgiu uma pessoa alta, entretanto não muito maior que si. Jaebum parou repentinamente de tremer, fitando de forma curiosa a figura que surgiu da escuridão. Não era um humano, não podia ser, afinal tinha orelhas de gato e várias caudas se agitando junto com o vento. Usava uma roupa tradicional oriental branca com detalhes no peito vermelhos e azuis, assim como suas caudas, que eram brancas como o pelo de sua raposa. Os cabelos eram um tom negro realmente intenso, e uma mecha destes era maior do que todas as outras, caindo sobre o corpo magro. Ele não parecia surpreso em vê-lo ali, ao contrário de Jaebum, que tinha os olhos arregalados perante a beleza deste. A figura na realidade o olhava com certo encanto, como se tivesse encontrado algo raro.

Yura.

— Moon, você achou o invasor — o garoto acariciou o pelo da raposa sorrindo.

— Q-Quem é você?

— Não vê? Sou um semideus, dono desse templo — sorriu galanteador, ainda fazendo carinho no enorme animal — E você?

Jaebum não respondeu, estava com medo daquela criatura. Parecia uma pegadinha de mal gosto consigo, entretanto ele tinha a total certeza de que a enorme raposa a sua frente era real e estava sedenta pelo seu sangue, caso contrário pararia de o encarar de forma tão apavorante. O tal semideus raposa ao lado dela sorriu de forma insana, mostrando as prezas afiadas e lentamente se aproximando de Jaebum, que por não ter mais onde para correr apenas fincou os pés no chão e jurou que não sairia dali por nada, mesmo recebendo ameaças. As caudas da criatura se agitaram enquanto ele se aproximava, as orelhas antes relaxadas pareceram tomar vida.

— Vai pular? — soltou um risinho — Aposto que não tem coragem.

— O-O que você vai fazer comigo? — engoliu a seco.

— Não sei, ninguém nunca invadiu meu templo antes — murmurou mexendo com os fios negros de Jaebum, fazendo pouco caso — Eu acho que Moon deve decidir por mim.

A enorme raposa levantou-se no mesmo momento, se aproximando de Jaebum e o fitando intensamente. Naquele momento o humano sentiu, iria morrer de verdade. O animal não tinha aparentado nenhuma empatia consigo desde o encontro há minutos atrás, então provavelmente engoliria seu braço como afirmação de que o semideus pudesse de fato matar o Im. Ele já estava esperando por isso, na realidade, não tinha muita esperança de sair vivo de uma situação como essa. Jaebum ainda não sabia, mas a raposa branca tinha farejado em si algo que já tinha causado muita dor antes. Ela sentia que era melhor cortar o mal pela raíz.

— Moon não sentiu firmeza em você, então... — suspirou desinteressado, segurando Jaebum pela gola e o empurrando em direção ao abismo.

O humano tentou se debater, entretanto o semideus era muito mais forte do que o corpo magro mostrava. Sentiu seus pés se desprenderem do chão, e quando olhou para baixo conseguiu avistar as pequenas árvores e algumas casinhas. Não tinha jeito, iria morrer de certo ao atingir algum galho ou telhado, não tendo sequer chance de ser socorrido. Pior que isso apenas o fato de sua morte provavelmente se passar por suicídio, afinal ninguém iria incriminar uma raposa com círculos vermelhos e uma criatura anormal meio humana com orelhas de gato e nove caudas.

Um barulho estranho se fez entre as árvores novamente, e os dois presentes se viraram para olhar instintivamente. De dentro dos arbustos, com olhos também vermelhos, uma raposa negra surgiu. Junto dela, um tilintar esquisito se fez presente, como se o ser místico fosse algum tipo de fada possuidora de mágica. O semideus imediatamente desfez a expressão antes debochada, observando melhor a nova criatura que tinha acabado de surgir. Jogou Jaebum de lado, mal se importando em vê-lo rolar e acertar as costas em uma árvore. A enorme raposa branca mexeu sua cauda, atenta ao seu dono e esperando por qualquer ordem que fosse. O semideus se agachou perto da raposa negra e suspirou.

— Genko — sussurrou a vendo ir — Significa bom presságio. — fitou Jaebum — Impossível ter algo relacionado a você, entretanto... Não, pode ser possível.

Jaebum parecia tanto com ela, o semideus não pode deixar de compara-los.

— M-Me deixe ir embora, por favor! — implorou.

— Receio que eu não possa te deixar ir, Jaebum — suspirou cansado, chamando a raposa branca até si — Moon, o ajude a se levantar.

A raposa, mesmo que contragosto, rumou lentamente até Jaebum e o puxou pela gola da camiseta, como um gato faz com seus filhotes. O Im se levantou ainda tremendo, vendo ela se afastar com os olhos sanguinários e ir até o garoto de orelhas pontudas. O semideus se aproximou novamente, tocando sua testa com os dedos gélidos e o fitando com certo interesse, suspirando mais uma vez ao se dar conta que o humano poderia ser alguma coisa boa para si. Contudo um sentimento estranho pairava dentro de si, mas ele preferiu esquecer, era impossível acontecer tudo de novo.

— Vamos, Jaebum. Vou te levar ao templo.

— E-Eu quero ir embora.

O semideus se virou sorrindo de uma forma estranha.

— Você só vai quando eu deixar você ir, Jaebum.

***

— Como você sabe meu nome? — perguntou enquanto o semideus escovava seus cabelos.

— Eu sou um ser místico que sabe de tudo, Jaebum.

O semideus se levantou, deixando a escova de lado e observando o garoto. Ele vestia um robe bem preso preto com cerejeiras desenhadas a mão por cima do corpo nu. Os cabelos negros do humano estavam arrumados de um jeito mais bagunçado e leve, como se estivessem sempre balançando com o dançar do vento. No canto da pequena casa, a raposa branca descansava deitada enquanto observava os dois. Moon era bem educada, apesar do olhar ameaçador, e tinha tratado Jaebum com muito cuidado conforme o semideus tinha mandado. Entretanto no menor dos sinais do Im ao tentar fugir ela já o puxou de volta pelas roupas, arrancando risadas de seu dono.

— Burrice sua tentar fugir com Moon ao seu lado — soltou uma risadinha — Achou que ela não iria correr atrás apenas por que eu pedi que cuidasse bem de você?

— Eu só quero saber porque você não pode me deixar ir embora — resmungou contrariado, vendo a raposa branca rosnar — M-Me desculpe.

— Moon é calma, você apenas precisa parar de levantar o tom de voz, eu e ela odiamos o barulho alto — suspirou se deitando na barriga da enorme raposa, aconchegando-se no pelo branco — O Genko de mais cedo significa bom presságio, tenho certeza que preciso mantê-lo aqui se quero ter sorte.

— O que você é, afinal? — perguntou de forma normal, tentando não irritar o animal próximo de si.

— Sou um kitsune, Jaebum, um espirito mensageiro. Raposa de muitas caudas.

— Eu pensei que essas coisas não existissem — resmungou contrariado.

— Entretanto eu estou bem aqui, na sua frente — soltou um risinho.

Jaebum observou o semideus se ajeitar mais perto ainda da raposa branca, vendo-a finalmente fechar os olhos em contentamento. Ambos pareciam como irmãos, unidos se tornavam ainda mais fortes. Naquele momento o Im quis se levantar e correr o mais rápido que suas pernas permitiam, apenas porque temeu o poder dos dois, contudo sentia que se o fizesse Moon não o daria uma segunda chance e arrancaria alguns de seus membros sem piedade. O jeito era esperar que o liberassem ou o matassem de vez, afinal nada de funcional vinha a sua mente enquanto encarava as caudas do semideus se agitando enquanto ele acariciava sua raposa gigante.

Nunca em sua vida se arrependeu tanto de participar de um dos joguinhos de Jackson. Em vários deles tinha se ferrado sozinho, mas nunca em proporções tão grandes e esquisitas como dessa vez. Se pudesse voltar no tempo nem mesmo compareceria a festa do estrangeiro, ficaria em casa dormindo e aguardando o dia nascer da janela de seu quarto, confortavelmente posicionado em sua cama de cobertores quentinhos. Agora precisaria esperar que o semideus enjoasse de si o deixasse ir — isso se o fizesse um dia e não acabasse escolhendo a arma para mata-lo depois de um tempo.

Jaebum sentiu um cansaço repentino o atingindo, os olhos se pesaram e sua cabeça começou a manear. O semideus percebeu isso e estreitou os olhos, cutucando a raposa branca e pedindo silenciosamente para que ela checasse o exterior da pequena casa tradicional. Um estrondo foi ouvido assim que a cauda branca desapareceu pela porta, e não demorou muito para que ambos os semelhantes se levantassem, mesmo que Jaebum estivesse mole, e caminhassem rapidamente para fora. A raposa branca tinha os olhos mais vermelhos do que nunca, e olhava para a entrada de um arco vermelho a frente firmemente.

— Moon, quem é?

A raposa se agitou, farejando perto do arco e logo relaxando. Uma risadinha foi ouvida, Jaebum encarou o semideus o encontrando confuso.

— Moon, se for quem eu estou pensando você pode arrancar a cabeça e—

— Não aja dessa forma, eu vim em paz! — um garoto saiu de trás do arco vermelho, sorrindo.

Ele tinha os cabelos vermelhos bonitos e leves e as extremidades pintadas de branco, assim como suas orelhas. Vestia uma roupa tradicional oriental preta com detalhes em vermelho, haviam formas desenhas graciosamente pelo tecido. Amarradas em sua cintura estavam duas espadas negras com cabos rubros, e pareciam muito afiadas. Tinha apenas cinco caudas, que se agitavam hora ou outra ao ver a raposa branca respondendo ao seu comunicar. As feições jovens causaram em Jaebum certa inveja, afinal ele mais parecia uma criança do que algum tipo de semideus. Em seu rosto algumas marcas vermelhas estavam desenhadas próximo aos olhos, que eram da mesma cor. As pressinhas em sua boca estavam afiadas.

— Precisa de tudo isso? — suspirou arrumando os fios negros.

— Eu queria fazer uma surpresa, mas eu senti a energia vital de um humano e quis o colocar para dormir — o garoto fitou Jaebum — Você nem mesmo tentou protege-lo com selos, que desfeita.

— Jaebum está sobre meus cuidados, não pensei que alguém iria tentar fazer algo contra ele — fez um cafuné no humano instintivamente, assim como fazia em Moon — O que você quer?

O humano se arrepiou com o toque, mas não disse nada. Ainda estava um pouco sonolento e estava gostando do carinho, o fazia ficar um pouco mais mole do que já estava antes. O semideus percebeu que Jaebum quase caía em cima de si e suspirou, chamando Moon para perto e fazendo com que ele se apoiasse na raposa.

— Pare de usar seus poderes nele, Youngjae! — gritou frustrado, sem querer usando o nome verdadeiro do kitsune — Oh, não.

— Shh! — pediu irritado — Só você não falar nada, ele nunca vai saber.

— C-Certo — engoliu a seco — Jaebum, vá se deitar. Você deve estar cansado, foi um dia em tanto, hm?

— S-Sim — resmungo grogue, agarrando-se aos pelos brancos da raposa.

— Moon, o leve pra dentro.

Ambos saíram juntos e entraram. O semideus rumou até próximo a Youngjae, sorrindo em forma de um pedido de desculpas.

— Se ele soubesse do poder que tem ao saber nosso nome Mark...

— Mas ele não sabe, fique calmo — respirou fundo.

— Por que está mantendo esse humano aqui, de qualquer forma?

— Um Genko apareceu mais cedo, Youngjae — explicou — A última vez que vi um me trouxe extrema sorte, e Yura estava comigo na época.

Youngjae suspirou profundamente, fitando com olhos tristes a figura do amigo semideus. O humano que ele tinha aprisionado era parecido com a mulher que Mark tinha conhecido em uma era passada, um de seus únicos amores, quase como uma reencarnação perfeita, apenas alterando o fato de que Jaebum era homem. Fora isso, ambos tinham as mesmas características marcantes, e se o Genko estava novamente sinalizando um encontro dos dois então o semideus da raposa branca deveria estar se iludindo, afinal era impossível que isso acontecesse.

— Yura morreu, Mark. A linhagem dela não pode reencarnar, você sabe—

— Eu sei — pigarreou — Eu só estou o mantendo aqui por conta do Genko, de qualquer forma. Quem sabe ele me traz boa fortuna.

— Você quem sabe — suspirou novamente — Eu só vim visitar, vou atrás do meu familiar.

— E como está Yugyeom? — sorriu.

— Na mesma, ainda apaixonado por mim — soltou um risinho.

— Não é como se você não sentisse o mesmo — murmurou rindo.

— É, talvez.

***

Jaebum abriu os olhos lentamente, espreguiçando-se de forma manhosa. Estava tão confortável na posição em que se encontrava que voltou a fechar os olhos, aninhando-se mais ainda no calor confortável. Depois de alguns segundos, entretanto, um ronronar baixo o assustou, fazendo-o despertar imediatamente e engatinhar para o lado, vendo a enorme raposa branca abrir os olhinhos vermelhos e bocejar preguiçosa, que não demorou em se levantando e ir em direção ao exterior da pequena casa. Moon uivou baixinho ao desaparecer pela porta, assustando Jaebum. Não fora apenas um sonho esquisito de sua cabeça, tudo tinha sido real, e ele infelizmente ainda estava sobre os cuidados do semideus.

Arrastou-se até o exterior da pequena casa, ainda sonolento e tropeçando. O sol atingiu seu rosto em cheio ao sair, e Jaebum precisou colocar a mão sobre os olhos para conseguir se acostumar com a claridade. A luz passava entre as folhas verdinhas das árvores, iluminava os pequenos lagos e estatuas do templo de forma bonita. As flores estavam em sua melhor época, com cores vivas e perfumes agradáveis. A enorme lagoa que se estendia a sua frente tinha água bem clarinha, Moon estava molhando as patinhas nela e esfregando em seu focinho. O semideus não parecia estar próximo, então o Im aproveitou para observar tudo. Fitou as montanhas, lugar onde estava na noite anterior; era realmente alto, a civilização estava do outro lado e Jaebum nunca conseguiria chegar lá.

Precisava encontrar o caminho que usara para adentrar o templo.

— Moon — chamou pela raposa, vendo-a virar a cabeça institivamente — Você me entende, não é? Cadê o semideus?

A raposa obviamente não respondeu, apenas voltou sua atenção para a água limpa.

— Moon não me reconhece por esse nome — alguns sinos tocaram brevemente, Jaebum se virou e fitou o semideus sentado na pequena varanda da casinha, bebendo soju.

— Por qual nome ela te reconhece? — perguntou suspirando.

— Por que quer saber? — indagou arqueando uma sobrancelha, apreciando a bebida fermentada.

— Porque te chamar de semideus sempre é irritante — rolou os olhos.

— Mark — respondeu sorrindo — Moon me reconhece apenas por Mark, é meu nome kitsune.

— Então, Mark — caminhou até a varanda, usando de apoio o pilar vermelho que sustentava o teto alto — Por que mesmo eu ainda estou vivo?

— Porque o Genko provavelmente estava me dizendo que você significa um bom presságio, e eu como semideus não gosto de desperdiçar oportunidades como essa.

— Me parece pouca coisa — resmungou.

— Deveria estar se sentindo feliz que poupei sua vida, hm? — soltou uma risadinha — A queda de cima da montanha seria dolorosa.

— 'Tsc, e pensar que eu vim parar aqui por causa de Jackson — cruzou os braços.

— Nenhum humano fora você adentrou os terrenos do templo ontem, Jaebum. Um espirito de raposa traiçoeiro provavelmente encantou você — riu.

— Era só o que me faltava — bufou irritado.

Mark soltou outro risinho, novamente se calando e observando a paisagem calma de seu templo. Jaebum se ocupou em fazer o mesmo, acalmando seu estado de espirito inquieto e fitando Moon brincar com alguns peixinhos na água clara. Talvez fosse por causa do exterior tão pacifico que o semideus fosse alguém tão calmo. Até mesmo o Im, que vinha da cidade grande, tinha se sentindo mais relaxado ao ouvir apenas os passarinhos cantando ao invés de carros buzinando de um lado para o outro — ou talvez fosse porque Mark era um semideus que ele deveria ser calmo, um espirito mensageiro da raposa, mas o humano ainda não tinha suas conclusões totalmente formadas sobre ele.

— Quem era aquele da noite passada?

— Um amigo semideus meu — deu de ombros — Ele veio fazer uma visita.

— Por que eu me senti cansado quando ele chegou?

— Porque esse é o poder especial de Youngjae, ele coloca as pessoas em estado sonolento e as mata com suas afiadas espadas — disse normalmente, sem sequer ver a cara de espanto do Im — Faz um bom tempo que eu não uso as minhas também.

— V-Você mata pessoas com espadas? — retrucou surpreso.

— Na realidade são katanas, mas sim, mato — bebericou o soju.

— Como pode falar isso tão normalmente?

— É o que eu faço, Jaebum — fitou o humano — Eu protejo meu templo, sirvo minha deusa e mando mensagens para as outras criaturas. Fora quê, estou vivo há um bom tempo, então acompanho a história do mundo enquanto aprecio minha bebida. Não pense que matar é a pior coisa que eu já fiz.

— I-Isso é loucura — murmurou.

— Eu e Moon gostamos — sorriu ao ver a raposa branca se aproximando — Acho que ela gosta mais de você agora, até dormiram juntos.

— Eu discordo — suspirou.

A raposa branca o fitou com os olhos vermelhos e depois fez desfeita, andando em direção as escadas e formosamente subindo, deitando-se ao lado de Mark e esperando carinho deste. O semideus deixou de lado sua bebida e sorriu, acariciando os pelos brancos e bem cuidados de sua mascote. Jaebum os observou em silêncio, vendo o momento em que a raposa fechou os olhos e deixou que os dedos cálidos descessem por seu corpo grande. Eles pareciam ter uma conexão longe de poder ser compreendida por um humano como o Im, mas que certamente era sentida mesmo que de forma quase imperceptível. Não era apenas porque Mark era um semideus raposa e porque Moon era uma raposa mística, tinha algo a mais.

— Eu a salvei quando era bebê — o meio felino disse repentinamente, como se lesse os pensamentos de Jaebum — Foi em uma guerra há pelo menos sete séculos atrás, ela estava ferida e tinha se perdido de sua matilha. Moon sempre foi muito independente desde pequena, mas não conseguiria se virar sozinha no meio de tantos homens. Eu a salvei e ela se tornou minha raposa branca protetora.

— Ela quando pequena provavelmente tinha o tamanho de uma raposa normal.

— Não, ela era bem pequenininha, como um gato — soltou um risinho fofo — Moon apenas tomou tamanho faz um século.

— Pouco tempo — soltou um riso anasalado, vendo a raposa branca abrir os olhos e o encarar com certa raiva — Me desculpa.

Mark sorriu.

— Viu? Vocês já estão se dando bem.

— Eu não quero parecer rude, mas a última das minhas preocupações é ser amigo de uma raposa gigante. Eu apenas quero ir embora.

— Que pena — suspirou ainda sorrindo, dando alguns tapinhas na barriga da raposa — Apenas o tempo determina quando isso irá acontecer, Jaebum.

— Não é você que determina isso? Quer dizer, é só me deixar ir e eu saio por aquelas portas enormes no fim da trilha! — apontou para o lado.

— É, em partes sou eu também, e por hora você fica.

Jaebum soltou outro bufar, vendo Mark gargalhar contidamente e descer da pequena varanda, caminhando em direção ao jardim bem cuidado. Moon também fez o mesmo, deixando Jaebum sozinho sobre o teto alto. A paisagem angelical continuava ali acalmando cada vez mais o humano, que cansado de tentar pensar em um jeito de simplesmente ir embora preferiu tentar se lembrar de quando tinha simplesmente parado e descansado. A faculdade era puxada, os estudos eram algo importante para a família Im, então o filho mais novo estava sempre tentando mostrar um melhor lado de si. Sua vida social também era agitada, toda semana estava com alguém novo, em alguma festa diferente ou fazendo algo incomum.

Raramente tirava tempo para si mesmo, e quando o fazia se arrependia de ficar em casa vegetando. Era contraditório pensar que o ambiente calmo estava pela primeira vez o fazendo querer ficar parado, afinal Jaebum era o tipo de pessoa que pensava que a vida apenas se é vivida se você sai bastante, conhece gente nova e experimenta coisas diferentes, entretanto estar sentado a beira de um enorme lago já era o suficiente para mostrar que estava errado. Se tivesse a chance de voltar para casa vivo certamente aproveitaria melhor seu tempo, parando um pouco com a rotina movimentada. Jackson também aprovaria, afinal ele sempre reclamava de cansaço constante por conta da agenda lotada de compromissos.

Jaebum sentiu uma mordidinha fraca em sua mão, fitando Moon o olhando de forma mais serena.

— O que foi?

A raposa começou a andar em direção a outra parte do templo, pedindo para que Jaebum a seguisse silenciosamente. O humano se levantou e limpou a roupa, caminhando até o outro lado tentando evitar as partes do chão feitas apenas de pedrinhas — estava descalço, afinal Mark tinha enfatizado que não se usa sapatos dentro dos templos. Atravessaram o pequeno jardim e chegaram a um lugar mais reservado, onde sentado em um banquinho baixo o semideus o esperava com alguma comida pronta. Moon deitou-se na porta do pequeno local, esperando mais ordens de seu dono. Jaebum, entretanto, ouviu o estomago roncar assim que finalmente se lembrou de que precisava comer, logo sentando-se de frente para Mark e apreciando tudo com os olhos.

— É pra você, Jaebum — apontou para os pratos apimentados — Eu não como comida humana.

— O que você come? — perguntou retirando os talheres.

— Energia vital — sorriu maldoso, vendo o humano recuar — Mas fique tranquilo, eu não pretendo fazer isso com você. Bom presságio, lembra-se?

— Como quer que eu coma sabendo que você pode estar sugando minha vida agora?

— Não sei, nunca vi nenhum humano negar comida de um semideus.

— Bem, obrigado pela comida — agradeceu brevemente, logo atacando aquilo que o chamava.

Mark observou Jaebum comer de forma rápida, assim como Yura costumava fazer. Sorriu sem sequer perceber, o vendo arrumar os fios negros para trás enquanto engolia uma boa quantidade de comida. Ambos tinham o olhar felino atraente, mas que acabava se tornando suavizado pelo resto dos detalhes do rosto. A boca pequena e avermelhada no centro, o nariz perfeitamente moldado para se encaixar ali e a pele leitosa sem manchas ou imperfeições faziam ambos parecerem praticamente irmãos. Mark sabia que a linhagem de Yura não poderia reencarnar, assim que o último se fosse estava acabado, entretanto Jaebum era praticamente ela em forma masculina, coisa que intrigava o semideus. Youngjae já tinha o alertado sobre isso, poderia ser perigoso, entretanto Mark não se importava, precisava saber mais.

Yura fora seu primeiro amor em milhares de anos, e o semideus nunca conseguiria expressar em palavras tudo que tinha sentido ao vê-la partir da forma que o fez. Todos os seus amigos já tinham alertado sobre a relação com os humanos, mas Mark não conseguiu se conter ao ver tamanha beleza atravessando os templos de forma tão tranquila. Eram tempos difíceis, guerras intermináveis e brigas que começavam e só se encerravam com mortes. Ela era a humana mais calma e ao mesmo tempo mais estourada que o semideus já tinha conhecido, e isso era muito coisa, afinal Mark tinha praticamente o mundo em suas mãos detalhadamente. Yura tinha os modos de uma criança de seis anos, mas ainda sim se afeiçoou ao espirito da raposa no momento que o viu.

Moon nunca gostou muito da mulher, entretanto. Mark sempre pensou que fosse porque a raposa ainda era muito criança e sentia ciúmes, entretanto o tempo passou e nada mudou. Bambam já tinha dito que era porque Yura tinha sangue amaldiçoado correndo em suas veias, contudo Mark estava convencido que tinha outro motivo. Moon apenas pareceu engolir Yura quando a morte estava a esperando na porta, e ficou a semana inteira desanimada por causa da partida dela. Nada comparado ao que Mark sentiu, obviamente, mas a raposa realmente ficou entristecida ao vê-la partir assim que tinha finalmente a conhecido melhor. Youngjae felizmente trouxe Yugyeom e decidiu fazer companhia para ambos, então com o tempo as coisas se ajeitaram.

— Moon, você chegou a farejar Jaebum? — o semideus perguntou curioso — Encontrou algo nele?

A raposa levantou a cabeça assim que ouviu seu nome, fitou Jaebum e em seguida Mark, mantendo o contato visual com o último por bastante tempo. O humano os fitou curioso, silenciosamente perguntando o que estava acontecendo enquanto comia um pouco de arroz. Depois de alguns minutos em silêncio Mark assentiu, fitando Jaebum de cima a baixo e soltando um suspiro um tanto que frustrado.

— Aconteceu algo?

— Moon não conseguiu sentir nenhuma maldição em você, e nem eu, mas isso não é exatamente bom — espreguiçou-se — Vou precisar de Yugyeom aqui.

— Maldição? — franziu o cenho — Por que eu seria amaldiçoado?

— Muitos humanos convivem com maldições de linhagens antigas e não sabem, você pode ser um deles — sorriu fraco — Eu não pretendo perder mais ninguém para algo desse tipo, então quero me assegurar que está tudo bem.

— Por que você, um semideus, não consegue sentir uma maldição em mim?

— Porque algumas são bem mais enraizadas na linhagem do humano, tanto que nem mesmo eu consigo senti-las, afinal eu convivo pouco com vocês e tenho conhecimentos capacitados em certas áreas. Moon geralmente age da mesma forma que eu, mas ela tem os sentidos um pouco mais aguçados já que está em forma de animal místico. Como ela não conseguiu sentir nada eu deveria estar despreocupado, mas isso já se repetiu no passado e eu não pretendo perder mais ninguém por bobagem.

— Quem você perdeu? — perguntou curioso — Era um humano como eu?

Moon choramingou em um canto, atraindo a atenção de ambos.

— Sim — murmurou baixo, fitando o chão — Ela era humana.

— Oh, compreendo — assentiu.

Jaebum preferiu parar de perguntar, parecia ser um assunto um tanto que delicado e ele era o último a querer chatear o semideus e sua raposa branca.

— Yugyeom deve conseguir descobrir, afinal ele vive com humanos — bagunçou os cabelos negros — Talvez Jinyoung também entenda.

— Quem são esses?

— Yugyeom é familiar do nosso visitante da noite passada, Youngjae. Ele é quem cuida do templo de Youngjae, recebe algumas orações e cuida da raposa vermelha do mesmo. Jinyoung é um kitsune selvagem, grande amigo meu.

— Entendi — assentiu enquanto mastigava.

— Não se preocupe, eles vão cuidar bem de você, meu bom presságio.

Jaebum tinha duvidas sobre os motivos de Mark para mantê-lo preso.

***

Yugyeom e Jinyoung observaram quando Jaebum saiu de dentro da pequena cabine vestido com outro tipo de roupa tradicional, dessa vez branca. Os cabelos molhados grudavam em sua testa, mas ele estava tão ansioso com a ideia de ter algum tipo de maldição esquisita rondando a linhagem Im que mal se preocupava com o problema de pegar um resfriado. Foi quando Mark, que conversava tranquilamente com Youngjae em um canto, o viu e tomou a toalha de suas mãos, esfregando os dedos longos pela cabeça encharcada e consequentemente acalmando o humano. Moon ronronou ao se aproximar de todos, esfregando-se timidamente perto da raposa vermelha de Youngjae.

— Não é porque eu sou um semideus bonzinho que você precise automaticamente abusar de minha boa vontade e ficar resfriado — resmungou contrariado, terminando de secar os fios negros de Jaebum — Pronto, assim está melhor.

— Você continua cuidando de mim como se não tivesse tentado me matar a um dia — murmurou envergonhado.

— Eu te disse, Moon desgostou de você a principio e eu segui a intuição dela — soltou um risinho.

— E não é como se Mark conseguisse matar você, de qualquer forma. Ele te viu e espelhou sua imagem em Yura. — Jinyoung interveio sorrindo, observando o exato momento que uma rajada de vendo poderosa praticamente o empurrou — Só estou falando a verdade, Mark.

— Não é como se eu quisesse ouvi-la, raposa ardilosa — resmungou.

Jaebum ainda não entendia muito bem sobre semideuses e seus poderes, mas pelo o que pôde compreender Mark era um espirito da raposa extremamente poderoso, afinal já completava mais de seus 1000 anos vivo e tinha todas as nove caudas, fora que controlava o elemento do ar e facilmente criava esferas de energia destrutivas o suficiente para acabar com a floresta que os cercava. Youngjae não estava muito atrás, entretanto não completara as nove caudas e mantinha parte de seus poderes reprimidos. Yugyeom e Jinyoung tinham praticamente o mesmo nível de influência, contudo o primeiro era um familiar e o outro alguém selvagem.

Estava claro que Jinyoung não se importava nem um pouquinho em falar a verdade para quem quisesse ouvir, e que Mark com certeza o considerava amigo mesmo com esse tipo de personalidade. Youngjae e Yugyeom não eram tão atrevidos assim em provocar raiva no semideus mais velho, entretanto não precisavam dizer o que pensavam para que ele os entendesse. Estava bem claro para todo mundo — menos o humano, obviamente — que Mark apenas mantinha Jaebum vivo porque ele era praticamente irmão de Yura, não realmente mantendo laços de sangue com esta. A história do bom presságio só lhe ajudou um pouco, mas ninguém fora o Im acreditava.

— Jaebum já está pronto, podem verificar se ele tem algum tipo de praga ou sei lá — resmungou — Eu vou entrar um pouco, estou cansado.

O semideus entrou em silêncio, sendo seguido por Moon, Youngjae e a raposa deste. Apenas Jinyoung e Yugyeom ficaram, os três logo se juntando e optando para caminhar e sentar um pouco afastados do templo. Yugyeom explicou que seria rápido e indolor, entretanto a única coisa que Jaebum conseguia pensar era como Mark parecia estressado de repente, como se tivesse envelhecido uns bons anos de repente. Raramente o viu dessa forma tão diferente, afinal ele sempre apresentou a expressão serena e tranquila. O nome da mulher, Yura, parecia causar dores de cabeça intermináveis para a raposa do vento, e isso de certa forma refletia no tratamento dele com Jaebum.

Dentro do templo, enquanto Moon brincava timidamente com Ars, raposa vermelha de Youngjae, Mark caminhava de um lado para o outro tentando esquecer os pensamentos ruins que vieram com a menção do nome de sua antiga amante. Seu amigo apenas o observava um tanto que piedoso, esperando pacientemente a hora em que ele se sentaria no chão emburrado e pedisse por qualquer coisa com álcool o suficiente para encher a barriga vazia de energia. Geralmente Mark não deixava transparecer a raiva e tristeza pela perca da antiga amada, entretanto quando o fazia não tinha nada que o acalmava mais do que uma boa conversa sobre como os humanos eram, e ainda são, pessoas confusas.

— Eu não acolhi Jaebum só porque ele é parecido com Yura, também foi porque o Genko significa—

— Não precisa mais mentir sobre isso pra si mesmo e pra mim, eu te conheço melhor do que ninguém.

— Não é mentir, Youngjae — sentou-se frustrado.

Faltava só a bebida, o semideus mais novo pensou.

— É que quando eu o vi de primeira, eu senti medo. Ele é praticamente a imagem dela, só que homem. Eu realmente pensei, naquela hora quando fitei os olhos rasgados, que ela tinha reencarnado, que a maldição tinha sido um engano, entretanto Moon já tinha me alertado que era tudo ilusão por conta da aparência. Jaebum é Jaebum, de corpo e essência, sem tirar nem por. E até onde eu entendi, ele e ela parecem mais opostos em personalidade do que parecidos, apenas combinando extremamente em alguns pontos. Yura e Jaebum tem a mesma humanidade estranhamente puxada para o místico, coisa que me confunde às vezes. Acho que tê-lo matado teria me feito mais tranquilo.

— Claro que não teria, Mark — soltou um risinho, meio triste pela declaração dolorosa do amigo — Matar Jaebum só te faria mais amargurado, não fique pensando que apenas porque ele teve o mesmo fim que ela algo iria mudar. Yura ainda é uma parte importante dentro de você, e Jaebum vai fazer o mesmo que ela, Mark.

— Fazer o quê? — questionou entre suspiros, já sabendo o que o amigo iria dizer.

— Jaebum vai fazer você se apaixonar, mas não porque ele parece com seu único amor humano ou porque ele tem um corpo bonito, e sim porque você se apegou a ele pensando que se o cuidasse como amigo ou apenas alguém que fica perto, o sentimento de carinho que sente por todo e qualquer humano iria desaparecer, mas isso não aconteceu. Jaebum é exatamente a pessoa que você procura no céu, Mark. Você procura um deus como ele, mas sempre encontra esse tipo de pessoa aqui na terra humana, e eu sinceramente não acho que isso vá mudar.

— Não é justo — murmurou triste, deitando-se sobre Ars e recebendo um ronronar dela — Não é justo que eu compacte bem com humanos, Youngjae.

— Você que é um semideus bom demais, pensa que a humanidade tem jeito — sorriu fraco, acariciando os fios negros de Mark — Mas não faz mal amar um humano às vezes.

— Eles envelhecem, eu não.

— Mas você não deixou de ama-los um segundo sequer, não?

***

— Você está limpo até onde eu posso ver, mas não é uma garantia.

— Já é o suficiente, obrigado por isso, Yugyeom — Jaebum curvou-se em respeito.

— Não foi por nada — sorriu.

O familiar se levantou, curvando-se rapidamente e ajudando Jinyoung a fazer o mesmo. Ambos desapareceram pelas árvores, deixando apenas Jaebum sozinho enquanto a enorme lua iluminava parcialmente o cenário a sua volta. Tinha sido um bom tempo, apesar de ter estranhado a língua em que os dois falavam por alguns segundos. Yugyeom tinha as mãos gentis e tocou seu rosto suavemente, tracejando linhas imaginárias enquanto recitava algo em uma língua antiga. Jinyoung, ao contrário deste, apenas observava silenciosamente, o estudando cantinho por cantinho e procurando com seus olhos de guerreiro qualquer coisa errada no sangue do Im. Tudo estava dentro dos conformes, de acordo com ambos, então Jaebum preferia acreditar.

Ouviu um barulho conhecido, folhas se remexendo enquanto alguém passava, e instintivamente virou a cabeça para ver quem chegava. Um garoto alto, com pernas finas e cabelo negro atravessou a floresta com suas orelhas se mexendo, as nove caudas dele se agitavam. Ao seu lado uma enorme raposa negra passeava, os olhos amarelos mirando Jaebum com nada mais do que indiferença. O garoto tinha os olhos azuis e os lábios carnudos, cheios de beleza e sorrisos que certamente o causavam inveja. O humano não perguntou quem ele era ou o que queria, não foram precisas palavras naquele momento. A raposa era a mesma de antes, de quando Mark pretendia empurra-lo, e ela mantinha a mesma pose, contudo um pouco mais abusada. Talvez fosse por causa da presença de seu dono.

Yura — o semideus silabou sorrindo — Você parece filho de Yura, ou alguém da linhagem dela. Talvez bisneto.

— Quem é Yura? — perguntou curioso.

— A antiga amante da raposa do vento. A herdeira das bênçãos de deuses há muito tempo esquecidos.

— Mas ela morreu por conta de uma maldição.

— Errado — negou sereno, ainda sorrindo — Yura morreu porque não se permitiu ver o que os olhos dela insistiam em mostrar. Morreu sabendo que amou e foi amada, mas isso não foi o suficiente. Eu cansei de explicar isso a Mark, mas ele não me ouve.

— Quem é você?

— Bambam, semideus de enorme sabedoria, mais do que o normal, pelo menos — acariciou os pelos de sua raposa negra — Essa é Sky. Nós apenas estamos de passagem, diga a Mark que usei o portal dele.

— Claro — assentiu.

Bambam o fitou, com um sorriso carregado de empatia.

— Se permita enxergar, filho da semente vermelha. As coisas serão fáceis pra ti.

***

Jaebum aproximou-se de Mark, observando ele ressonar enquanto Moon zelava pelo sono deste. Deitou-se timidamente ao lado dele, já acostumado com o calor vindo do corpo da raposa branca e do sentimento estranho provindo do semideus. Estava cansado de tanto pensar, cansado de ficar longe da cidade — ao mesmo tempo em que não desejava partir. Cansado de tentar compreender porque sentia raiva ao ouvir o nome de Yura sendo que não chegou a sequer conhece-la, e cansado de tentar se conter e não perguntar diretamente a raposa do vento porque ela fora tão especial assim. Tudo estava realmente confuso dentro da mente do Im, ele precisava de um tempo para simplesmente deixar tudo em branco.

Os dedos longos de Mark se esgueiraram entre seus fios negros, iniciando um cafune que desarmou qualquer tipo de parede que Jaebum montava em volta de si contra ele. Seus olhos pesaram quase que imediatamente, como se seu corpo de repente tivesse sido desligado. Moon ressonou em baixo de si, ronronado enquanto Mark também acariciava os pelos brancos. Os três ficaram um tempo quietos, apenas aproveitando dos carinhos e olhares cheios de ternura e simpatia.

— Durma, foi um dia complicado.

A voz de Mark era serena o suficiente para fazer alguém dormir de repente, mas Jaebum se fez de forte apenas para continuar a sentir os dedos longos em contato com seu couro cabeludo, fazendo um carinho tão bom que o resto do mundo parecia quase que sem graça. Enquanto pensava, com as pálpebras pesadas, sobre o dia anterior e sua quase morte, o Im se perguntava se tivessem se conhecido de forma diferente a situação se seguiria da mesma forma. Se Mark optasse por conhecê-lo de outra forma, talvez em uma visita oficial ao templo, se ele e Moon fossem aparecer e acabar novamente com a ideia de raptar Jaebum por conta de um bom presságio. Era bem provável que não, afinal ele ainda era um semideus poderoso e dono de uma raposa branca incrivelmente bela, não precisava de si, mas o humano preferiu pensar que era importante o suficiente para que ele viesse atrás novamente.

— Não, eu não iria, Jaebum — soltou um risinho, assustando o garoto — É meio que suicídio aparecer para um humano dessa forma.

— Você por acaso tem um poder especial de ler mentes? — perguntou mau humorado, pensando se talvez ele não tinha ouvido sobre os elogios.

— Só quando você pensa de forma intensa, assim eu consigo ouvi-los transbordando de sua mente — explicou — Eu só ouço duas ou três coisas de você, e metade delas são sobre comida ou sentir falta de sua cama. É a primeira coisa realmente importante que eu ouço.

— Como se sentir fome não fosse importante.

Mark o fitou, um sorriso entristecido em seus lábios brincava com o coração do Im. Ele, naquele momento em especial, pareceu realmente triste.

— Você quer voltar pra casa?

Se perguntassem isso a Jaebum há horas atrás, quando ele ainda não tinha realmente conversado com todos os semideuses e interagido com suas raposas, o humano provavelmente diria que sim, que desesperadamente desejava voltar e viver aquilo que chamava de "vida". Mas ao se brevemente lembrar-se de sua vida, revendo os momentos em que precisou acordar cedo porque Jackson estava bêbado na porta da sua casa e quando ouvia reclamações de seus pais sobre sua preguiça e notas baixas, ele passou a pensar que Mark fora uma ótima companhia, mesmo quando tentou empurra-lo de um barranco. Nada em sua vida até então tinha o proporcionado tanta coisa boa, mesmo quando se divertia, e por mais que sentisse falta de casa Jaebum sabia muito bem que também sentiria falta de Mark e Moon, e provavelmente machucaria não vê-los como realmente eram.

— Eu não tenho certeza — respondeu sonolento.

— Eu ouvi — sorriu fraco.

— Você está pretendendo me deixar ir embora?

Mark pareceu pensar de repente, suspirando.

— Há situações que não quero ter que lidar novamente, e que com sua presença provavelmente irão acontecer várias vezes.

— Que tipo de situações?

— A primeira já aconteceu, agora há pouco. A vontade imensurável de atacar seus lábios.

Jaebum corou levemente, resmungando palavras incompreensíveis. Mark continuou.

— A segunda é o peso de saber que seu mundo está girando lá fora, mas que você está preso aqui sem ter muita coisa pra fazer. Faculdade, amigos, parentes... Estão todos vivendo e existindo, enquanto você está aqui.

— Não é como se eu me importasse o suficiente para me sentir assim, de qualquer forma — suspirou — Meu único amigo é Jackson, e depois que ele arrumou um namorado nós não somos mais os mesmos. Meus pais só sabem reclamar sobre as minhas notas, dizendo que eu não sirvo como empreendedor. E a faculdade... Eu já estava pensando em tranca-la mesmo.

— Ser humano é complicado.

— Disse o semideus.

Os dois se entreolharam nesse momento e riram. Não era uma risada diferente das que dava com seus amigos na infância, Jaebum pensou. Era normal, como se Mark não tivesse nove caudas e orelhas de raposa, ou como se não tivessem deitados em cima de Moon, que era pelo menos o triplo dos dois e tinha pelugem branca com desenhos vermelhos. Eram apenas Mark e Jaebum naquele momento, e ele se sentiu bem em pensar que as coisas poderiam ser assim pra sempre. O semideus mal viu quando o humano se aproximou, vidrado pela sua risada gostosa e sorrindo, segurando seu rosto graciosamente com as mãos quentes e plantando um beijo singelo em seus lábios desacostumados. O beijo se intensificou, mas manteve um ritmo consideravelmente lento. Quando se separaram, a troca de olhares foi longa e significativa.

— Sua primeira situação eu resolvi, Mark.

***

— O que é isso? — Jaebum perguntou sentando-se ao lado do semideus, observando o livro enorme que ele carregava.

— Um livro — respondeu rindo, causando um rolar de olhos no outro.

— Você foi sempre piadista assim ou eu perdi alguma coisa?

— Estou brincando, é um livro sobre a lenda dos filhos da semente vermelha — o nome despertou algo em Jaebum, mais do que curiosidade — É bem antigo, eu estou apenas movendo de lugar.

— Sobre o que ele fala?

— Sobre a trindade de raposas especiais — explicou enquanto deixava o livro sobre a mesinha — Há muito tempo atrás existiram três raposas diferentes, cada uma com um poder único e incomparável. Elas plantaram sementes pelo mundo, crianças nos ventres de mulheres humanas, visando fazer com que cada vez mais kitsune nascessem, entretanto o plano falhou, já que todas as crianças nasciam sem alteração nenhuma, completamente humanas. Frustradas com isso, as raposas tentaram mais algumas vezes antes de desistirem, porém obviamente não funcionou.

— E as crianças? O que aconteceu com elas?

— A maioria viveu a vida normalmente, na realidade — abriu o livro, mostrando as figuras das raposas — Algumas desenvolveram poderes, mas morreram muito novas. É difícil identificar uma criança filha da semente vermelha, elas geralmente só apresentam poderes quando muito velhas, e morrem em seguida por não conseguir lidar com eles. Bambam mesmo, um amigo meu, viu uma morrer diante de si. Ele só não me disse quem era.

— Isso é um pouco triste — suspirou.

— É história Jaebum, nós semideuses precisamos ter conhecimento dela — sorriu fraco — Essas crianças ainda existem por aí, geralmente não completam quinze anos, e se o fazem, morrem de forma mais dolorosa ainda.

— Mas isso não foi há muito tempo?

— As sementes nem sempre florescem rápido, lembre-se disso.

Jaebum se remexeu, um pouco incomodado. A história parecia algo que ouviria em algum filme, não uma realidade próxima a sua — na realidade, ter Mark ao seu lado já parecia algo esquisito. Lembrou-se dos dizeres de Bambam, a forma serena com que ele tinha dito filho da semente vermelha. Não parecia ser brincadeira, entretanto o Im sabia muito bem que era impossível ter algum poder em especial preso dentro de si, caso contrário certamente já teria sentido antes. Talvez fosse apenas coincidência, talvez ele estivesse enganado; haviam várias possibilidades, e Jaebum preferia acreditar em qualquer uma que explicasse sua humanidade total.

— Como essas crianças percebem o que são antes de morrer?

— Não percebem, geralmente elas se negam a ver — respondeu folheando o livro — Pode parecer que não, mas eu enxergo muito mais do que você pode pensar. Aqui no templo não há presença demoníaca, mas lá fora há tantos demônios quanto há estrelas no céu. Se imagine uma criança, um dia normal e cega sobre o mundo sobrenatural, de repente ver um horrendo monstro sugando energia de alguém no meio da rua, não é nada fácil, hm?

— E elas sabem o que são?

— Não, apenas ficam assustadas e surtam, se negam a ver o que está a sua frente — suspirou — Não as culpo, provavelmente nenhuma delas sabia sobre a existência de kitsunes.

— Deve ser horrível.

— Eu nem imagino como.

Jaebum decidiu não prolongar a conversa, estava assustado demais com a possibilidade de ser alguém como essas crianças. Nunca tinha visto nada de anormal em sua infância, e se tinha provavelmente era culpa de Jackson e sua mente fértil, contudo Mark tinha dito que alguns só sentiam a diferença quando mais velhos, e Jaebum estava no auge de seus 20 anos. Não era tão tarde assim, era? Se fosse realmente filho da semente vermelha, morreria? Não queria morrer, odiava a ideia de não ter feito todas as loucuras que desejava para sua vida insana, fora quê, seus pais não ficariam contentes caso deixasse de terminar a faculdade de administração. Como ele se livraria das maldições de sua mãe se estivesse morto? Odiou a ideia de pensar ser enterrado.

— Você está pálido — Mark murmurou tocando as bochechas do Im, o assustando — Está se sentindo bem?

— Eu preciso de um pouco de ar, só isso — sorriu fraco, levantando-se.

— Quer companhia? — fechou o livro — Se não minha, de Moon?

— Estou bem, obrigado — suspirou — Eu prometo não fugir.

Mark sorriu sereno, assentindo.

— Sei que não iria.

Jaebum tropeçou até chegar ao lado de fora do templo, inspirando e expirando todo o ar possível enquanto descia as poucas escadas que o levariam até a grama verdinha. Sentia naquele momento um pouco de tudo; dor, angustia, felicidade e contentamento. Por motivos variados e pensamentos distintos, sabia bem que as coisas boas que preenchiam seu peito eram a minoria pelo fato de nada acalmar seu coração desesperado, nem mesmo o sorriso de Mark. Era estranho pensar no mundo com um olhar diferente, ainda mais sabendo que ele provavelmente não tinha mudado nada, e sim si mesmo. Jaebum sempre fora muito cético em relação a tudo, duvidava que um dia conseguisse enxergar fadas como algo aceitável para as crianças, contudo estava ali, vivendo com um semideus e sua raposa enorme.

Era simplesmente loucura.

— Oh, você novamente! — Bambam sorriu enquanto passeava com Sky, cumprimentando Jaebum.

— Olá — sorriu forçado, curvando-se em respeito — Eu estava indo dar uma volta.

— Não vou lhe impedir, vim conversar com Mark sobre alguns assuntos.

— Ele está lá dentro, sinta-se à vontade.

Bambam assentiu, ainda sorrindo, e caminhou serenamente com sua raposa negra para dentro do templo. Jaebum optou por não perder mais tempo, caminhando com os pés nus pela grama verdinha e gélida, adentrando a floresta como fizera antes de todos os acontecimentos estranhos começarem. A floresta estava vazia, os pássaros que comumente cantavam boa parte do dia estavam estranhamente silenciosos, como se algum predador diferente caminhasse entre eles, apenas esperando a hora certa para atacar. De alguma forma, sem sequer sinal do vento balançando as folhas no chão, Jaebum se sentia ainda mais vulnerável. O silêncio era assustador.

Entretanto o último de seus problemas era o medo do silêncio — o Im estaria feliz se fosse. Alguma coisa em sua cabeça parecia girar, destruindo todos os seus pensamentos sãos em relação a sua concepção de mundo, revirando o que chamava de estômago enquanto algo realmente ruim ocorria dentro de si. Não era filho da semente vermelha, mal tinha o poder de acordar de manhã no horário certo, quem dirá poder ver demônios andando normalmente pela rua. Bambam certamente estava enganado sobre sua afirmação, não era possível que realmente fosse algum tipo de semideus super poderoso.

Jaebum mal sabia fritar ovo, se tivesse poderes destruiria o mundo.

— Você está aqui! — sentiu braços fortes apertarem seu pescoço, o sufocando momentaneamente.

O humano virou-se bruscamente, se soltando de quem o segurava. O sorriso no rosto perfeito de Jackson o acalmou por um momento, tudo parecia normal.

— Jackson! — abriu os braços repentinamente, puxando o chinês para perto de si — Por Deus! O que está fazendo aqui?

— Os meninos me disseram que você entrou aqui, eu estou te procurando há dois dias! — suspirou aliviado, retribuindo o abraço do mais velho.

Jaebum não viu o sorriso de Jackson.

— Dois dias? Por que se deu esse trabalho todo?

— Porque você é importante pra mim.

Jaebum não viu os olhos de Jackson.

— Pensei que você tivesse deixado de lado o perfil emotivo que carrega e virado um homem difícil.

— Há coisas mais importantes para se lidar.

Jaebum não viu as garras de Jackson crescendo por trás de si, e tampouco sentiu quando elas perfuraram suas costas.

O sangue que manchou a mão de Jackson era vermelho como a pétala de uma flor venenosa, e ele achou deliciosa a forma de como o líquido viscoso desceu pintando o resto de seu braço. Jaebum fraquejou, engasgando-se momentaneamente e perdendo o movimento das pernas de repente, apoiando involuntariamente o corpo no de Jackson, respirando com dificuldade. As orelhas castanhas apareceram na cabeça do chinês, assim como suas seis caudas e um sorriso perverso que certamente desconcertou mais ainda o Im. Não fazia sentido que ele fosse realmente algum tipo de semideus ruim, mas Jaebum mal conseguia raciocinar direito no momento.

— Não deveria ter se envolvido com esse projeto de gato, hyung — sussurrou sorrindo ladino, quase que rindo.

— J-Jackson — arfou de dor, tropeçando pra longe.

A roupa branca estava manchada de vermelho, e doía como o inferno.

— Mark não é o semideus que você merece como tutor, e eu esperava ser um ótimo professor — suspirou lambendo as garras negras, deliciando-se com o medo do Im — Você não poderia ter esperado um pouco? Você seria um ótimo aluno. Filhos da semente vermelha são tão poderosos, Jaebum.

Jaebum não aguentava mais ouvir sobre semideuses, raposas, filhos ou bastardos. Ele só queria que aquela dor infeliz dentro de si parasse, que o veneno que corria dentro de suas veias fosse nada mais do que algum anticorpo, algo normal. Jackson sempre fora forte, nunca mostrou incertezas e tinha um olhar tão felino que o Im jurava poder vê-lo se transformar em um gato algum dia, e no entanto ali estava ele, realmente transformado, mas semelhante a uma pantera negra e sua presa. Jaebum não compreendia como tudo poderia dar errado justamente consigo, estava marcado de sangue pela maldade.

— Yura também não me aceitou, sabe — suspirou — Ela era tão teimosa quanto você.

Yura. Jaebum reconheceu o nome assim que o ouviu.

— Eu pensei que por causa da maldição ela não pudesse continuar sua linhagem, mas você é idêntico a ela. Foi aí que as coisas casaram e eu entendi tudo; os filhos da semente vermelha só nascem uma vez, de um jeito, com características iguais, e se sobrevivem ninguém mais nasce da mesma forma, se morrem a semente prossegue até que o portador dela viva. E você está vivo, ainda está.

Jackson o olhou esperando por uma resposta, e suspirou cansado em seguida.

— Eu vou ter que esperar pelo próximo filho da semente vermelha — sorriu — Espero que venha outro homem, vocês são mais o meu tipo.

Jaebum queria retrucar, queria gritar e espernear, mas não conseguia. O veneno dentro de si parecia ter paralisado todos os seus músculos, nada se movia do jeito que deveria. Viu as garras ainda manchadas se aproximarem de si, tão perigosas quanto da outra vez, o sorriso insano de Jackson se aumentando conforme ele chegava cada vez mais perto. Jaebum já conseguia sentir o gosto da picada que sentiria, da dor horrenda e das últimas palavras suplicando por ajuda, suplicando para que Mark aparecesse com Moon e salvasse o dia.

Contudo não fora Mark que aparecera.

A raposa era vermelha como o sol, as caudas com pontas laranja pareciam labaredas de fogo. Ela caminhou em volta de Jackson com os olhos cinzentos, quase como uma imperatriz, silenciosamente se aproximando. Jaebum não precisou suplicar pela ajuda dela, a boca enorme e cheia de dentes afiados tomou sua posição segundos antes do chinês ataca-lo, aterrissando na perna e rasgando um pedaço facilmente. O urro de dor assustou Jaebum, que já fragilizado pelas cenas anteriores e o corte em suas costas se permitiu cair no chão, ainda observando a enorme raposa despedaçar o corpo de Jackson na sua frente — não realmente arrancando enormes pedaços.

O chinês era forte, revidou o quanto pode, deixando-a machucada, contudo nada forte o suficiente para derruba-la. Jackson pareceu desistir ao ver a raposa vermelha marchar em direção a si com a boca vermelha de sangue negro, os olhos cinza se tornando realmente poderosos. Naquele momento, pareceu conveniente fugir, e fora isso que ele fizera. Antes, entretanto, lançou um olhar perigoso ao Im, que já sentia o corpo parar de responder quase que imediatamente. A última coisa que Jaebum viu claramente foram os dois enormes olhos da raposa, em seguida apagou.

O nome dela poderia ser Focus, Jaebum pensou antes de ver as caudas alaranjadas e vermelhas se mexendo como o fogo.

***

Ao abrir os olhos lentamente o Im sentiu um ronronar característico, já estendendo a mão para o lado e procurando o focinho de Moon, que pedia por carinho quase que sempre. Não sentindo a raposa, assustou-se e levantou rapidamente, fitando o corpo vermelho em baixo de seu corpo. Os olhos cinzentos se revelaram bonitos e calmos, olhando a si de forma carinhosa e quase que apelativa. Naquele momento, enquanto se perdia na aparência encantadora da raposa fogo, Jaebum pareceu-se lembrar dos ocorridos passados, imediatamente tocando suas costas atrás do sangue. Encontrou apenas uma enorme cicatriz, que facilmente era sentida sobre o tecido fino de cetim que cobria seu corpo. Não doía mais, não tanto pelo menos.

— Finalmente! — Yugyeom bradou de repente, assustando Jaebum. Ele mal tinha visto o garoto em um canto, também ressonando — Mark está prestes a incendiar a floresta atrás do demônio que te provocou isso.

— Mark o quê? — gritou alarmado, se levantando sem jeito.

Jaebum teria ido de cara com o chão se a raposa fogo não tivesse servido de apoio.

— Obrigado — sussurrou envergonhado, levemente ouvindo alguma resposta em seu subconsciente. Naquele momento em especial ele preferiu ignorar suas loucuras.

Seguiram os três para fora, Jaebum sendo o mais rápido. Moon estava logo à porta, e levantou-se assim que viu o adormecido atravessando o patente, pedindo carinho deste. O Im concedeu alguns afagos rapidamente, enquanto com os olhos procurava por Mark. A frente do templo, perto do enorme lago de águas limpas, Youngjae parecia tentar controla-lo, juntamente com Jinyoung. Ambos seguravam as mãos dele, gritando a plenos pulmões sobre controle e outras questões morais para os deuses e semideuses. Mark, entretanto, não parecia ouvir, estava furioso e Jaebum conseguia ver isso nos olhos dele.

— Do que adiantar destruir o templo que você demorou tanto pra construir por causa de um demônio Mark? — Youngjae gritou frustrado.

— Você não entende, eles não podem me tirar Jaebum assim! Não depois que eu—

— Ele está acordado! — Yugyeom gritou rapidamente, atraindo a atenção dos dois.

Foi automática a forma com que Mark se soltou dos dois e olhou Jaebum curioso, perguntando-se internamente se a vida não lhe pregava uma pegadinha. Ele não estava totalmente bem, era claro nas olheiras do corpo pálido e na enorme cicatriz nas costas, mas Jaebum estava ali, com sua enorme raposa vermelha como o fogo observando tudo com os olhos serenos, porém afiados. Seus pés se moveram sem pedido, correndo até aquele que tinha praticamente roubado todos os seus sentidos em apenas três dias. Era destino, deveria ser.

— Você quase me matou do coração — abraçou o Im com força, esmagando-o contra seu corpo tentando comprovar que ele estava ali, vivo.

Jaebum nunca tinha se perguntado como era sentir o calor de Mark inteiramente, mas os braços finos em volta de sua cintura já o diziam que era uma das melhores sensações de todas. Não era algo que sequer tinha pensando que conseguiria sentir, e tampouco conseguia descrever em palavras. Foi imediato o movimento para retribuir, abraçando-o de volta em um carinho que poderia durar séculos. Os outros garotos observavam em silencio, esperando o momento que Mark finalmente explicaria para Jaebum o que estava acontecendo.

— Não sabia que eu era tão importante assim — soltou um risinho, largando o semideus.

— Claro que é! — gritou frustrado, acertando um tapa no braço do Im.

Focus imediatamente levantou-se, rosnando feroz.

— Me desculpa — Mark murmurou envergonhado, curvando-se perante a raposa do fogo — Me perdoe, santidade vermelha.

Os outros três garotos fizeram o mesmo, assim como Moon e Ars, que observavam quietas.

Jaebum estava confuso.

— Por que estão fazendo isso?

— Porque você, tapado, é uma santidade do fogo agora. Portador do elemento mais forte e mais volátil do submundo. Semideus do fogo, dono da raposa vermelha da cauda flamejante — Jinyoung exclamou meio irritado.

— E-Eu? — soltou uma gargalhada — Eu mal sei fritar ovo, Jinyoung.

— Semideuses não precisam aprender, se essa é sua preocupação — Mark arrumou a postura, sorrindo.

— Mark, é impossível.

— Não é, Jaebum — tocou o ombro do maior, suspirando — Não é impossível. Você é filho da semente vermelha, um dos únicos que viveu tanto. É claro quê, sua vida é perigosa a partir de agora, ainda mais se você se assumir como dono da raposa vermelha, mas é sim possível. Se pararmos pra pensar, eu ter gostado tanto de você está no sangue.

— Sangue?

— Yura, ela tem o mesmo sangue que você, a mesma aparência — tocou o rosto de Jaebum suavemente, sorrindo — Ela só era mais chatinha, mas eu sinceramente acho que prefiro você a ela.

— Isso é uma surpresa — Youngjae exclamou de lado, rindo.

— Então é isso, eu vou ter que viver como vocês?

— Não é obrigação sua, se não quiser — Yugyeom explicou sorrindo — Você não tem obrigação como semideus, não nasceu sobre o juramento. Entretanto, que fique claro uma coisa: você tem a eternidade de um, a raposa de um e os poderes de um, saiba usa-los se decidir viver enquanto pode como humano. É claro, você ainda está em fase de transição, não tem poder algum e logo entrará em uma dor necessária para despertar seus dons, coisa que é complicada, mas se for aceita como deve ser não causa problemas graves.

— Mas se eu sou imortal, não vivo como humano, não há chance disso acontecer.

— Ninguém precisa saber que você é um semideus, Jaebum. As pessoas morrem.

Jaebum suspirou assustado, fitando Mark atrás de respostas. O olhar do semideus era claro, ele estava adorando a ideia de poder passar o resto de sua vida imortal com o Im, entretanto respeitaria a decisão dele de viver como humano. Mark sempre fora assim, muito calmo e sereno, então não seria surpresa caso ele o deixasse partir sem muitas brigas — mas certamente choraria, ele fazia a pose sentimental.

— E o que você acha, Mark?

O sorriso do semideus fora gentil e apaixonante.

— Eu acho que, independente do que você escolher, eu vou ficar feliz em saber que vou poder ter minha vida inteira pra te observar, Jaebum, mesmo que de longe.

Para o recém-semideus aquilo era o bastante. Ainda que não fosse apaixonado pela raposa do vento, achava agradável a forma que a boca dela se encontrava e encaixava perfeitamente com a sua, arrancando mais do que simples suspiros. Se precisasse escolher, ainda que meio receoso, certamente ficaria ao lado dos novos amigos, afinal sua vida como mortal já não estava muito boa. Resolveria com os pais em outro dia, quando arrumasse tempo.

— Bem... Então eu escolho facilitar seu trabalho ficando ao seu lado, Mark.

O semideus sorriu, o puxando para outro abraço. Jaebum encontrou nele o calor que procurava no céu, mas ironicamente tinha encontrado na terra.

Continue Reading

You'll Also Like

91.8M 2.9M 134
He was so close, his breath hit my lips. His eyes darted from my eyes to my lips. I stared intently, awaiting his next move. His lips fell near my ea...
210K 9.5K 59
Orm Kornnaphat's feelings for Lingling Sirilak have undergone a transformation over time. Initially, at the age of 11, Orm held an unromantic, platon...
1.9M 83.6K 127
Maddison Sloan starts her residency at Seattle Grace Hospital and runs into old faces and new friends. "Ugh, men are idiots." OC x OC
294K 14.3K 94
Riven Dixon, the youngest of the Dixon brothers, the half brother of Merle and Daryl dixon was a troubled young teen with lots of anger in his body...