Faltam dois dias para o ano novo. Até lá, ainda tenho que comprar qualquer coisa para calçar com o vestido e preparar-me mentalmente para apreciar o fogo-de-artifício da varanda da casa do Niall. A Pink ronrona adoravelmente perto do meu ouvido ao mesmo tempo que vejo um filme no tablet. O Sven tentava morder a cenoura que era o nariz do Olaf, no Frozen.
A janela do meu quarto é aberta. Fico ligeiramente assustada. No entanto, quando vejo que é o Niall fico mais aliviada. Ele não podia simplesmente bater à janela e eu ia lá abri-la? Enquanto ele fecha a janela para impedir a chuva de entrar no meu quarto, coloco o filme em pausa e pouso o tablet na mesinha de cabeceiras.
O olhar do Niall foca-se primeiro na saca de papel a dizer "For Woman". Ele sabe que foi naquela loja que eu estive ontem. Também sabe que foi lá que comprei o vestido e sabe que ele está, de certeza, dentro da saca.
"Não mexe!" Aviso e ele faz beicinho.
"Vá lá..." Niall implora, tentando fazer a cara do Gato das Botas.
"Não." Repito e levanto-me, pegando na saca e guardando-a no meu roupeiro. Ele finge amuar e senta-se na minha cama.
Quando vai fazer uns mimos à Pink, esta ferra-lhe o dedo e eu rio.
"Não gosto deste animal." Ele critica e sai da cama, afastando-se o máximo possível da Pink, que o olhava com um desejo de o ferrar outra vez.
"O que vieste aqui fazer?" Pergunto.
"Primeiro, estou um pouco assustado contigo, com a conversa de ontem ao telemóvel." Mete piada. "Segundo, eu tinha umas cenas para te contar, mas tu estavas mais preocupada com o 'Sim, amor, tu vais gostar, adeus'. Isso foi assustador." Niall explica e sorri de lado.
"O que é que me ias dizer?" Questiono, envolvendo os meus braços no seu pescoço à medida que ele abraça a minha cintura.
"A Jenny faz 6 anos amanhã..." Niall responde. "A minha mãe vai fazer uma festa... uma mini festa, e a Isabella e a Jennifer querem-te lá." Ele acrescenta.
"Mais um motivo para rebentar com a minha mesada. Niall, eu vou à falência contigo." Resmungo da brincadeira e ele roça o seu nariz suavemente no meu.
"Vens?" Ele questiona, beijando a pontinha fria do meu nariz.
"Se te portares bem." Brinco e ele dá uma gargalhada irónica.
"Eu porto-me sempre muito bem! Eu na escola só tive duas faltas disciplinares." Niall confessa.
"Só." Repito sarcasticamente e ele assente com a cabeça. "Eu vou." Afirmo e ele aperta-me mais contra si.
"Desta vez não dizes 'Ai'?" Ele troça e leva uma chapada de leve no braço. "A semana estranha passou!"
"E nós voltamos à conversa estranha?" Questiono e ele faz um sim com a cabeça.
"Eu venho buscar-te amanhã, às três. Da tarde." Niall informa e cola os seus lábios nos meus.
"Se te portares mal durante o caminho, levas." Alerto-o e ele finge-se de assustado.
Niall deita-se na cama e eu deito-me ao lado dele. Depois de lhe dizer que estava a ver um filme, ele diz que quer vê-lo também, por isso pego no tablet e clico no "Play". O filme já ia a mais de meio, no entanto ele não queria saber.
Ao ouvir passos nas escadas, não penso duas vezes e empurro o Niall da cama, fazendo com que ele caia. Mesmo antes de ele se levantar e perguntar-me porque raio fiz aquilo, a porta é aberta e ele mete-se debaixo da cama.
"Bater à porta existe." Carranco.
"Sim, ok." Daisy ignora. "Emprestas-me um dos teus trabalhos de biologia para apresentar à professora Gervais?" Ela implora e eu rio sarcasticamente.
"Não senhor." Nego e foco o meu olhar no ecrã brilhante do tablet.
"Por favor..." Daisy pede desesperadamente.
"Não." Repito e ela cruza os braços ao peito.
"Ok, então eu parto um dos vasos da mãe e digo que foi a tua bola de pêlo." Ela ameaça.
"A Pink mal pode saltar para o degrau seguinte, quanto mais para cima de uma mesa." Riposto e ela bufa de irritação. "Eu ajudo-te a fazer um trabalho."
"Não quero ajuda, quero o trabalho." Ela refila.
"Então podes ir embora." Digo calmamente.
Ela grita por breves segundos e sai do meu quarto, fechando a porta com força. O Niall sai debaixo da cama e coloca-se de pé, sacudindo a sua camisola. O seu olhar azul vidra-se no meu.
"E aspirares debaixo da cama?" Niall resmunga e eu rio.
"Eu esqueço-me às vezes." Admito.
Ele volta a deitar-se ao meu lado. Os seus dedos entrelaçam-se nos meus e eu deito a minha cabeça no seu ombro. Não preciso de perguntar ao Niall se ele quer pipocas. Apenas estendo o balde e ele vai comendo algumas.
A Pink ferra a perna do Niall e ele salta ligeiramente. Eu não consigo parar de rir quando o Niall, como vingança, começa a atirar pipocas para a Pink. Nenhuma das pipocas acertou ainda nela. Ela vai cheirar uma e começa a lambe-la. Que coisa fofa.
***
"Achas mal ter comprado um peluche?" Pergunto preocupada. Ela só faz seis anos. E se não gostar?
"Ela vai gostar, antes isso que uma Barbie. Eu perguntei a três pessoas o que dar a uma menina de seis anos e todas elas me disseram Barbie." Niall resmunga.
"E se ela não gostar?" Insisto e ele suspira profundamente.
"Tu estás chata. As raparigas ficam chatas a verter san... Ela gosta." Niall corta-se a meio. Ele não utilizou o verbo "verter", pois não?
"Eu disse que se te portasses mal dentro do carro levavas." Relembro e ele chega-se para o vidro do seu lado, fazendo-me rir.
"Eu tenho, definitivamente, mais medo a ti do que à Melissa." Sinto-me lisonjeada!
"Isso é um grande elogio, obrigada." Vanglorio-me e ele imita a minha reação, no gozo.
Um sem-número de carros estão estacionados na parte de fora da casa gigante da mãe do Niall. Ele disse que ia ser uma mini festa! Não sabia que toda a família dele vinha à festa! Mas porque é que ele não me disse! Eu vou morrer de vergonha. Niall...
Ao contrário dos outros carros, o Niall abre o portão e entra dentro do recinto pertencente à casa. O seu carro fica estacionado perto do jardim e é desligado, após ser parado. Ele retira o cinto e, antes de abrir a porta, repara no meu estado de transe e ri.
"Ninguém te vai morder." Ele avisa-me num tom divertido.
"Eu vou-te morder! Disseste que era uma mini festa!" Ralho e enterro-me no acento, cruzando os braços. Amuei. E desta vez é a sério.
"É uma grande mini festa." Ele corrige-se.
"Eu vou matar-te." Que irónico!
"Vamos lá!" Ele insiste e abre a porta do carro.
Espero que a família dele não seja muito grande. Contudo, pela quantidade de carros que estavam do outro lado do muro, a minha esperança afunda-se no poço das possibilidades. Ele agarra a minha mão enquanto caminha comigo até à porta de entrada.
A uns metros da porta, já era possível ouvir-se o barulho que dentro de casa saía. No mínimo, há trinta pessoas lá dentro e eu duro cinco segundos sem primeiro morrer de vergonha. O que vão pensar? Eu sou uma rapariga normal que aparece do nada a namorar um criminoso.
"Sabias que, em média, 100 pessoas morrem asfixiadas com uma caneta?" Pergunto e ele franze as sobrancelhas para mim.
"Isso veio a propósito de quê?" Ele riposta. Na verdade, é a maneira que uso para empatar no tempo.
"Nada. Apeteceu-me." Minto. E acho que sorri da maneira mais parva de sempre.
"Ninguém te vai morder, já disse!" Niall repete e ri, puxando-me mais para si.
Niall coloca a mão na porta e empurra-a suavemente. O som fica ligeiramente mais alto e duas crianças correm para a cozinha à velocidade da luz.
"Sabias que as pessoas, no geral, têm mais medo às aranhas do que à morte?" O meu tom parece mais desesperado.
"Diih, ninguém quer saber, desculpa." Ele confessa e eu reviro os olhos. Niall cola os seus lábios na minha bochecha : "Vai correr bem, acalma-te!"
A Isabela está sentada entre duas raparigas que não conheço. A Jennifer está com quatro crianças da sua idade, suponho, e a Cheryl está a falar alegremente para uma mulher. São as únicas pessoas que conheço nesta sala de estar.
"Sabias que quando alguém te olha nos olhos durante seis segundos seguidos, sem pestanejar, significa que, das duas, uma: ou te quer matar ou quer fazer sexo contigo?" Este facto veio ao de cima.
"Costumas contar o tempo que olho para ti sem pestanejar?" Ele questiona preocupado e curioso, mas logo a seguir ignoro a pergunta estranha dele quando todos se calam.
O silêncio caíu na sala quando o Niall foi observado por todos. Segundos depois, a única coisa que consigo ver é o Niall a ser abraçado por todos os membros da sua família. É completamente adorável. E, ainda mais adorável do que isto, a Jennifer veio ter comigo, agarrando as minhas pernas.
Só depois da Jenny me abraçar é que as pessoas reparam em mim. Estou no centro de trinta ou quarenta pessoas que me olham atentamente, com a pergunta "Quem é ela"? Certamente, alguns estão a pensar que eu sou prima em terceiro grau da tia avó da irmã da tia do Niall. Talvez, não sei.
"Oh, esta jovem encantadora é a Dianna!" A Cheryl explica e abre os braços para me abraçar.
***
"Achas que ela gostou do urso?" Pergunto ao Niall.
Finalmente, deixamos de ser o centro das atenções. Agora, estavamos sentados no sofá, ao som das vozes misturadas das pessoas, de mãos dadas, como um casal de namorados completamente normal.
"Sim, ela gosta de qualquer coisa." Niall alivia-me e eu deito a minha cabeça no seu ombro.
"Niall..." Chamo.
"Diz?" Ele olha para mim atenciosamente. Olhos azuis a tentar penetrar profundamente nos meus verdes enquanto a minha pele se arrepia.
"Achas que algum dia o Jake vai saber onde é que elas vivem?" Questiono e ele faz um 'sim' triste com a cabeça. "O que achas que ele lhes vai fazer?"
"Não sei..." Ele suspira.
A Cheryl chama toda a gente para a mesa no centro da sala. Dentro de momentos, iriam cantar os parabéns à pequena Jennifer, enquanto a Pudim farejava alguns restos de comida que tinham caído por acidente ao chão e comia alguns deles. Seis velas são acesas e as luzes da sala são apagadas. Não sei como é que ela não ficava com dores musculares nas bochechas. Ainda não parara de sorrir desde que eu cheguei cá.
Depois de a Jennt pedir um desejo, sopra suavemente para as velas e as pequenas chamas desaparecem ao seu sopro leve. As gargalhadas enchem a sala quando ela se põe de pé em cima da cadeira para conseguir cortar o bolo.
O Niall já ia na quarta fatia quando eu acabei a primeira. Nunca hei de compreender a fome que não desaparece do seu ser nem como ele consegue comer tanto em tão pouco tempo. O pequeno James começa a chorar e a esticar os braços para mim e eu fico a olhar para a tia do Niall.
"Oh, querida, queres pegar nele?" A senhora questiona amavelmente e eu assinto com a cabeça.
O bebé é passado para o meu colo. Rapidamente, ele para de chorar e deita a cabeça sobre o meu peito. Por breves segundos, olhei para o Niall e ri da sua reação ciumenta. Enquanto os primos mais novos do Niall vêm o Shrek na televisão, os adultos estão sentados à mesa, a falar de política - eu acho.
O James volta para o colo da sua mãe, já adormecido. Ela agradece-me e eu sorrio vergonhosamente, caminhando para o Niall. Sento-me no sofá em L e o seu braço coloca-se em torno da minha cintura ao mesmo tempo que a sua mão grande faz pequenos mimos debaixo da orelha da Pudim.
"Porquê essa cara de ciúmento?" Interrogo na brincadeira e ele revira os olhos.
"Não estou com ciúmes de nada." Ele defende-se e eu rio.
"Lamento se não posso pegar em ti ao colo." Troço e ele faz uma expressão de indignado.
"Não era por ele estar no teu colo!" Niall resmunga e vira a cara para outro lado.
"Era porquê, por ele estar com a cabeça no meu peito?" Ataco.
"Talvez." Ele acabou de concordar? "Vamos embora?" Niall questiona.
"Porquê? O James vai começar a chorar outra vez?" Gozo com ele, vendo-o cruzar os braços, amuado. Ele mete tanta piada.
"Não. A festa já acabou." Ele explica-se. Sim, claro.
"Pronto, Niall... se isto te deixa mais calmo, tu és mais fofo do que o James." Elogio-o. Porém, só me lembro que o Niall não gosta desses "elogios" depois de terminar a frase. No entanto, ele não parece tão preocupado.
"Oh! Mas isso foi tão simpático da tua parte, agora vamos embora." Ele pede e agarra a minha mão.
A Pudim sai das suas pernas e vai a correr para a Isabella, que estava sentada ao lado dos seus primos a ver o filme. O Niall despede-se da sua mãe e pega noutra fatia de bolo, dando-me de novo a mão. A cadela dele vem a correr ao nosso lado, à medida que respirava de uma maneira ofegante, de boca aberta e com a língua para fora.
O carro entra na autoestrada minutos depois. Não sei como, mas o Niall consegue passar pelas portagens sem ninguém o topar. Antes, perguntava-me como é que ele o fazia. Mas já se passaram dois meses. Já não acho inconveniente fazer essa pergunta.
"Como é o vestido que vais levar no ano novo?" Ele questiona empolgado.
"Roxo." Respondo e ele olha de canto de olho para mim. "Ok, ele tem... um cinto preto e... saia em roda..." Descrevo o vestido. Ou, pelo menos, o que me lembro dele.
"Saia em roda! Que amanhã esteja vento, que amanhã esteja vento!" Niall suplica aos Deuses e eu rio.
"O que vais usar tu?" Pergunto e ele encolha os ombros.
"Uma camisola e umas calças." Ele volve e sai da autoestrada. A conversa vai continuando. Niall farta-se da publicidade irritante e decide mudar de rádio.
'So you wanna play with magic? Boy you should know what you're falling for, baby do you dare to do this? Cause I'm comming at you like a Dark Horse..." A Katy Perry canta.
"Parece a Kat... É ela, não é?" Sorrio e abano a cabeça positivamente, pondo o volume no dobro do que o que já estava.
"She's a beast, I call her Karma..." O Juicy J começa o seu solo e o Niall parece, de repente, gostar mais da música.
"Este gajo já curto." Ele comenta e põe ainda mais alto.
***
Quando sou deixada em casa, a minha mãe recebe-me demasiado preocupada. Ela não diz nada, apenas agarra o meu braço e puxa-me para o meu quarto. A porta é aberta e eu pareço congelar no tempo. Nada estava no sítio. Não demorei muito para perceber quem é que andou a rondar o meu quarto, mas não sei o que é que ele procurava. Deverei avisar o Niall?
"Eu vou ligar à polícia..." A mãe alerta-me e vira-se, preparando-se para ir escadas abaixo e marcar o número que sabe de cor.
"Não. Não o faças. Eu sei quem foi, eu sei o que quer. Não sei é o que levou." Se isto foi uma tentativa para a acalmar, não parece ter funcionado.
Não perco tempo e começo a arrumar as coisas. Se calhar, ao colocar tudo no respetivo sítio, reparo no que me falta. Qualquer coisa a ver com a morada ou local aproximado da casa do Niall. Eu não desenhei nada relativo à casa, por isso os desenhos estão todos. O meu telemóvel estava comigo.
Curioso! Nada me faltava. Apenas estavam as coisas fora do sítio. Mas o que é que se passou aqui? Foi o Jake ou foi outra pessoa qualquer? Não... esperem.
O meu diário.
[Desculpem... eu esqueci me completamente :s eu não sei como pude... bem, aqui está o de ontem. Eu prometo que não volto a esquecer. Além de que ontem o meu telemóvel deu para armar em parvo. Parecia que estava possuído, aserio. [Okay Bruna ninguém quer saber. Mas do que vem a seguir ja vao gostar mais. :)] Eu irei postar o próximo capítulo na segunda sem esquecimentos prometo. Bjs, Búh e até segunda.]