Delitos (Romance Gay)

By d_sell

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De um lado, Tyler, seus problemas em casa e sua falta de aceitação pessoal o fazem cometer o ilícito para aju... More

Considerações Iniciais
Capítulo I - Ao Chão
Capítulo II - Traços
Capítulo III - Consequências
Capítulo IV - Cores
Capítulo V - Permita-se
Capítulo VI - Desabafos
Capítulo VII - Complicações
Capítulo VIII- Cerco Fechado
Capítulo IX - Deriva
Capítulo X - Aproximação
Capítulo XI - Sob o Gotejar
Capítulo XII - Decorrência
Capítulo XIII - Tentativas
Capítulo XV - Ao Acaso
Capítulo XVI - Solidão Ilusória
Capítulo XVII - Amenidades
Capítulo XVIII - Sentimentos Desapercebidos
Capítulo XIX - Alma Liberta

Capítulo XIV - Perspectivas

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By d_sell

Olá, meus amores! Demorei mas cheguei.

Peço para lerem as notas finais, são de extrema importância, no mais, boa leitura!

Deixem as estrelinhas, por favorzinho <3

__________________________


[Gabriel White]

Sua feição amena foi desfeita pelo soar do sino, seus olhos instintivamente abriram-se, desfocados e dilatados; cinzentos. Era o dia.

Seu sorriso formou-se, iluminando sua face. Iria para Pinoa, finalmente.

Pulou da cama, sem hesitar, indo apressadamente para o armário, de onde tirou uma troca de roupas e puxou sua toalha; saindo em seguida do dormitório, a caminho do banheiro. A água percorria por seu corpo, acordando-o; o que foi mais motivador, aquilo estava longe de ser um sonho. Era real. Ele faria de tudo para falar com Jake, e, como Tyler o havia pedido, mandaria o recado para um tal de Yan Selly; embora o nome e as características que o garoto o passara lhe fossem familiares, não conseguia recordar-se com exatidão. Talvez fosse apenas uma sensação.

Depois de voltar ao dormitório para deixar sua toalha, seguiu ao refeitório. Desta vez sentaram-se todos juntos: ele, Sabrina, Lola e Tyler; este último permanecia afastado, havia demorado para dormir, sendo atormentado por diversos tipos de pensamentos que envolviam ele em sua atual realidade, mesclando-se à relação conturbada de amizade que tinha com Gabriel. Tyler havia decidido, iria parar com toda aquela reclusão, explicando...pedindo, na verdade, para que seu colega fosse paciente consigo, e, com a interrupção de tal pensamento, viu o colega levantar-se da mesa.

Após o desjejum, todos voltaram aos seus respectivos dormitórios, para, os que ficariam na ilha, trocarem de roupa para as atividades; e os que não ficariam, para organizarem-se para partir. Gabriel e Tyler estavam inquietos, o loiro pensava e pensava, a todo custo tinha de conseguir contatar o amigo; já o outro, em expectativa, ansiava pelo retorno do garoto que nem havia partido ainda, a fim de saber se ele havia conseguido mesmo aplicar seu plano mirabolante de forma bem sucedida. Mas a hora havia chegado. Depois de um mês enclausurado, parecia uma mentira que ele veria sua cidade novamente; embora não fosse, nem de longe, a maneira que ele gostaria de ver, era melhor que nada.

— Bem, tenho que ir agora... — declarou, desconfortável; era estranho voltar a falar com o garoto depois de quase dez dias sem sequer uma troca de palavras.

— Boa sorte lá... — sorriu minimamente, acentuando os lábios, encorajador, meio sem jeito. Partilhando da mesma sensação de desconforto de Gabriel.

...

A lancha havia atracado no píer, os olhos dos jovens, na ilha opacos, ganhavam um brilho esperançoso, embora fossem apenas algumas horas no continente, a perspectiva de relembrar de suas vidas antes do CRS lhes davam a certeza de que dias melhores viriam. Gabriel mantinha-se quieto, pensativo, tentando realmente criar um plano, para o que até então era apenas uma ideia insensata.

Os internos caminharam até uma van, de um em um, acomodados, com a porta sendo protegida por um dos seguranças, seguiram para os respectivos lugares; consultas oftalmológicas, visitas à nutricionistas, endocrinologistas, realização de alguns exames e, para Gabriel, a hora mais importante havia chegado: ida ao dentista. Tentava disfarçar sua ansiedade focando-se na paisagem no lado de fora, que em sua maioria era constituída por muros e arranha-céus; no intuito de não perpassar nenhuma impressão que o prejudicasse.

Então a van parou, de frente para a clínica. Era agora. Um dos seguranças que os acompanhava ficaria do lado de fora, uma medida profilática em caso de tentativas de fugas.

Gabriel adentrou, respirando profundamente, ansioso e nervoso. Temeroso. Mas era agora ou nunca; colocando em prática os três anos de teatro que havia feito, em uma oficina de seu colégio, deu seu melhor sorriso para a já conhecida recepcionista, seguido de um bom dia caloroso.

— Tudo certo, Carla? — iniciou, encarando-a nos olhos.

— Tudo ótimo — respondeu enquanto dava as costas para ele, pegando a ficha do garoto de uma gaveta, voltando à sua posição de início — e você?

— Ah, não é como se eu estivesse em casa, mas as coisas estão se ajeitando...

Carla sabia de sua situação e do CRS, embora desconhecesse a causa que o levou até lá. Antes de ir para a ilha, o tutor condicional, pessoa responsável legalmente por ele a partir do início de sua reeducação, havia esclarecido as coisas no dentista e escola; lugares comumente frequentados pelo garoto.

— Mas então — voltou a sorrir, de forma um pouco exagerada, inclinando-se no balcão, ficando mais próximo da jovem mulher — eu poderia fazer uma ligação? — sorriu novamente, contido, levantando sutilmente uma sobrancelha.

Já havia desistido de bolar um plano, iria apenas tentar a sorte, e, esperava que ela estivesse ao seu favor.

— Você sabe que eu não posso deixar... — suspirou.

— É rapidinho, juro — inclinou as sobrancelhas para cima, com um sutil beiço nos lábios, em uma expressão mista de infantilidade e de um cachorrinho deixado para trás em uma mudança, cênico.

— Eu posso ser demitida por isso, desculpa, mas não.

— Argh — olhou sutilmente para a bancada que havia, encontrando um desenho de escovas de dentes — você fica aqui, ouvindo tudo o que eu falo; eu preciso de escova de dentes nova, o CRS não dá... — suspirou — por favor, só vou ligar pro meu pai, pra pedir pra ele trazer uma aqui...

A atendente inspirou profundamente, cruzando os braços. A expressão de cachorro abandonado mantinha-se feita na face de Gabriel, deixando-a em um dilema; embora ambos não fossem muito próximos, o garoto sempre que vinha ao dentista, dedicava seus minutos ali, próximo a ela, trocando um punhado raso de palavras, ao invés de ir para a sala de espera, ao lado. Mas era seu trabalho, afinal, não poderia simplesmente arriscar perdê-lo.

— Ainda não me convenceu... — sentou-se, mexendo em alguma coisa no computador.

— Você quer que eu tenha cáries? Olha, é muito importante uma boa higiene bucal, viu? — sorriu, divertido, sem encenar desta vez, real — e mais — levantou um dedo, o indicador, pontuando — você — indicou-a com o dedo — vai estar aqui, logo, não tem problema. Se eu falar qualquer coisa suspeita, você desliga...

— Dois minutos. É tudo o que tem — suspirou, dando-se por vencida à insistência do garoto.

— Ah, muito obrigado.

Gabriel pegou o telefone, discando o número tão conhecido, que reverberava em sua mente. E, com toda a certeza, não era de seu pai.

Agora ele só precisava torcer para que o amigo estivesse na escola, no horário do almoço, assim ficaria mais fácil de ele sair, e também pelo fato de o colégio ser relativamente próximo da clínica. Tocou uma, duas, três e caiu.

Vamos... atenda, por favor, atenda.

Insistiu em retornar, temeroso. Jake precisava atender, ele realmente precisava!

O coração de Gabriel apertou, formando-se, em seguida, um nó em sua garganta. Não poderia botar tudo a perder agora, estava quase conseguindo. Quase. Se não fosse esse maldito quase...

E caiu novamente. Não era possível aquilo. Carla notou a apreensão do garoto ao encarar os nós de seus dedos esbranquiçados em torno do telefone; iria questionar algo, mas teve sua fala interrompida pelo teclar do aparelho; em mais uma tentativa de Gabriel. A cada toque seu coração apertava, ansiando para que houvesse retorno do outro lado, que atendesse; havia chegado tão longe ao conseguir efetuar a ligação, e agora era seu amigo que não colaborava consigo.

Primeiro toque, um pulsar apertado.

Segundo toque, suspiro profundo, desmotivado.

Terceiro toque...

— Alô? — ele atendeu, ele tinha atendido! Finalmente.

Então Gabriel pigarreou, havia dito à Carla que ligaria para o seu pai, e, com uma nova máscara indiferente em seu rosto, sem demonstrar todo o entusiasmo que sentia, iniciou outra encenação.

— Oi, aqui é o Gabriel...

Agora foi a vez do coração de Jake pulsar de forma descompassada, aquela frase, singela fala; o arrepiou por inteiro. Mal podia acreditar que era seu amigo do outro lado. Estava extasiado, bobo, pasmo. Meio confuso e trêmulo, apertou firme o celular em mãos, deixando o talher de seu prato de comida de lado; levantando-se da mesa e saindo do refeitório, as pressas, atrapalhado.

— Oi, Barbie, é você? É você mesmo?

Jake não sabia se ria ou chorava, a sensação era tão nova e intensa, ao mesmo tempo sufocante, na qual o deixava ansiando por respostas, ainda que sem saber se deveria ou poderia perguntar por elas. E Gabriel sentia-se de forma semelhante, tendo de mascarar a enxurrada de sentimentos e emoções que sentia, afinal, aquela ligação era apenas para pedir ao seu pai uma escova de dentes, não é mesmo?

— Ah, o pai não tá? — inspirou fundo, esperando um breve momento para continuar a fala — entendi, entendi...

— Do que você tá falando? — Jake não entendia nada, no mínimo, queria que o amigo confessasse estar com saudades dele, mas nem isso.

— Então, como o pai não tá... Jake, eu to aqui no dentista, sabe onde é, né?

— Sei...é pra responder? — questionou confuso, coçando as sobrancelhas enquanto empurrava a língua contra a bochecha, por dentro da boca.

— Então, eu preciso que você traga uma escova de dentes aqui pra mim, mas tem que ser super rápido, consegue?

— Eu to na escola... — suspirou, meio confuso, começou a entender, deixando-se levar pela conversa — Ah, Barbie, eu tô indo pra ai agora.

— Tem vinte minutos, no máximo — sorriu, ameno, tendo de continuar controlando suas emoções — e não esquece da minha escova, cerdas macias, hein?

— Pode deixar — sorriu abertamente, feliz.

Como, até o meio dia as aulas eram obrigatórias, e pelo início da tarde apenas oficinas e demais disciplinas opcionais; não haveria problema em Jake sair. E foi isso que fez, andando apressado até a saída, como se não visse as pessoas ao seu lado, uma ou duas o chamando, ignorando-as.

Sua mente rodava, sem realmente querer acreditar naquilo, parecia uma peça que sua consciência queria o pregar. Mas, sem dar vazão aos seus pensamentos contraditórios, ele seguiu..

...

Foi andando tão rápido, sem parar, que, ao chegar na frente da clínica, após ter passado na farmácia para comprar a escova, teve de apoiar as mãos nos joelhos para respirar um pouco, inspirando e expirando profundamente.

Hesitante, resolveu entrar, com medo, sem saber ao certo o que o aguardaria; mas, ao passar pela recepção e adentrar a sala de espera seus olhos arregalaram, seu corpo ficou estático; parecia estar vendo uma assombração, um fantasma. Era inacreditável. Mas, ao invés de Gabriel vir abraçá-lo, lamentando de saudades e de sua situação reprimida na ilha, ele apenas passou por ele, caminhando sem olhar pra trás até o fim do corredor, Jake o seguiu, confuso.

— Argh — Gabriel agarrou o pescoço do amigo, o abraçando fortemente — que saudade Manezão, não te abracei antes porque estávamos na frente da câmera, vai saber, né?

— Barbie... — apertou o abraço, envolvendo o amigo da maneira mais abrangente que conseguia — você tá bem? — o garoto assentiu — o que tá fazendo aqui?

— Não é minha casa, mas tô bem sim, não se preocupa, e, dentista, né... — sorriu da carranca que Jake fez, abobalhado — uma vez por mês eles trazem algumas pessoas pra realizarem alguns procedimentos que o CRS não disponibiliza e reabastecer a dispensa com o que não temos na horta.

E era assim que as coisas aconteciam, o CRS, na área da saúde, disponibilizava uma psicóloga e um médico plantonista, no mais, caso houvessem especificações de interno para interno, seria necessário ir ao continente para que tal atendimento fosse realizado. E isso acontecia uma vez por mês, durante quatro dias; como o centro recebia jovens delinquentes de quatro cidades diferentes, cada dia, nesta semana citada, um grupo ia pra sua respectiva cidade. Logo, naquele dia, na sexta-feira, foi a vez de Pinoa e seus internos moradores.

— Vou te ver de novo, então? — separou-se, pondo as mãos no ombro do garoto em expectativa.

— Com sorte sim — passou as mãos por trás da cintura de Jake, o abraçando novamente — mas agora preciso falar umas coisas pra você.

Gabriel precisava agilizar, tinha pouco tempo e estava correndo risco de ficar ali com o amigo, logo, iniciou sua fala, esclarecendo alguns pontos, sem esquecer-se de o que Tyler o havia pedido.

[CRS, Tyler Devon]

Seu dia não estava saindo como o esperado, suas mãos, devido a ansiedade, suavam, deixando o cabo da enxada escorregadio, por vezes errando o local que deveria cavar, para, posteriormente, plantar as sementes de alface e tomate. Estava tão inquieto, e, em compensação à isso, o dia parecia se arrastar, provocando-o, demorando muito para as horas passarem.

Ainda faltava uma hora para as atividades diárias acabarem, e sabe-se lá quantas outras para a lancha voltar ao CRS. Será que Gabriel havia conseguido? Como estariam as coisas em Pinoa? Haviam tantos questionamentos para uma mente sem respostas que Tyler parecia pirar, dando curtos. Sem muito o que fazer, só mentalizava Gabriel, e, onde, exatamente, quer que ele estivesse, o desejava sorte.

...

Sentado na areia, admirava o sol das dezesseis horas que iluminava sua pele pálida; o astro, naquele dia, não parecia estar lá em meio a tantas nuvens. Seus cabelos negros eram tocados e movidos pelo vento, enquanto inspirava e expirava vagarosamente. Sozinho. Volta e meia suas acusações pessoais, juntamente com seus demônios vinham para lhe atormentar, tirando-lhe o sossego. Tyler cogitava a ideia de ser quem realmente era, se outrora seus pais eram o suposto motivo para a incubação, agora, qual seria? Não havia nada em seu caminho, e, cada vez que convivia com Gabriel — exceto nestes dez dias que passaram —, que via seu sorriso iluminar sua expressão... o garoto era tão espontâneo e cheio de si, seguro, amigo; sempre ao seu lado, mesmo quando, de todas as formas, Tyler tentava o censurar, afastando-o. Esse início de sua auto-aceitação, em partes, era relacionada com a ausência de seus pais, noutra, com a presença do colega de quarto.

Suas divagações foram encerradas quando madeixas rosas tomaram o foco de seus olhos, era Sabrina. De início, ele estranhou. Ambos não se comunicavam muito, afinal, em sua concepção, ela era amiga de Gabriel, e aturava Tyler apenas por ele andar com o outro.

— Posso? — questionou ela, referindo-se a sentar ao lado do garoto. Tyler apenas deu de ombros, deixando-a livre para interpretar da maneira que quisesse — por que não gostas de mim? — despejou, direta, após algum tempo sentada, em silêncio.

— Quê? — questionou atônito, sem real compressão.

— Sempre que estamos juntos tu ficas quieto, não falas nada — dedilhou o queixo, ponderando o que falar — ah, aquele dia que fui ao quarto de vocês, tu disseste que era pro Gabriel, sendo que fui lá pros dois...

— Tsc — após fazer sua onomatopeia favorita, estralou um dedo, cerrando brevemente o maxilar — você que não gosta de mim, aí nem forço — fechou a expressão, franzindo o cenho, em troca, recebeu uma risada abafada da garota, o deixando ainda mais confuso.

— Olha, tirando a parte que tu fazes o Gabe de gato e sapato, não tenho nada contra ti — a fala da garota o fez retesar o corpo, sentindo-se levemente culpado e desconfortável — inclusive, eu que o ajudei a levar comida pra tu uma vez que tu não foste jantar.

— Foi tu! — virou-se para ela, impressionado, lembrava-se que Gabriel havia dito para não agradecer a ele, mas sim a outra pessoa, agora tudo fazia sentido — nossa, obrigado então — coçou a cabeça, ato este que repetiu devido a ver o colega de quarto fazer incontáveis vezes. Ela apenas sorriu, como se dissesse "disponha".

— Por que tu fazes isso com ele? — olhou para o mar, desfocada, novamente sendo direta demais, fazendo Tyler voltar a sentir desconforto.

Desta vez ele entendeu perfeitamente o que ela queria dizer, sem precisar perguntar qualquer coisa que fosse. Um silêncio se instalou entre eles; Sabrina parecia compreender Tyler, deixando-o quieto para pensar. Na verdade, mesmo que ele dissesse seus motivos, nada justificaria de modo racional e sensato; e sabendo disso, ele sentia-se mais culpado e idiota, embora, ao seu ver, fosse inevitável uma mudança. Até então, no caso.

Seu olhar encontrou-se com o de Sabrina, Tyler não sabia o que dizer, na verdade, não sabia se realmente precisava dizer algo. O brilho que havia em seus olhos clamava por socorro; sua alma queria se ver liberta, eram quase dezoito anos negando-se a si mesmo, a sua natureza. Então, para encerrar aquele contato constrangedor, abaixou a cabeça; deixando suas madeixas medianas taparem-lhe a face. Envergonhado.

— Eu sou um idiota, né? — auto flagelou-se, quebrando aquele silêncio.

— Acho que todo mundo comete idiotices, quem nunca, né? — riu, mas havia desgosto em seu ato, deixando subentendido se aquilo era à seu respeito ou ao do garoto.

— E...eu — suspirou, não conseguia dizer aquilo em voz, ainda mais com alguém além de si ouvindo — ele, o Gabriel, é diferente, né? — mudou o foco, tirando-se do meio.

— Bem... se tu queres dizer que ele ilumina por onde passa, tens razão — encarou Tyler, tentando analisar sua expressão — mas parece que não é isso que tu estás pensando.

— Eu... — estava nervoso, prestes a falar aquela palavra que o amedrontava — me refiro à sexualidade dele — volveu o olhar ao mar, envergonhado pelo o que estava dizendo.

—Tá, e isso é ser diferente onde? Ele é como todo mundo — aumentou o tom de voz, incerta ao que Tyler estava se referindo — esperava mais de ti, guri — olhou para a direção contrária do garoto, não querendo o encarar.

— Tsc, eu não quis dizer isso — suspirou profundamente — eu... não sou preconceituoso, se é isso que tá pensando — apoiou a cabeça nos cotovelos, que estavam apoiados nos joelhos — até porque estamos falando de igual pra igual — declarou, como um murmúrio ao vento, mais para si do que para a outra.

E ali, de forma natural e quase inconsciente, ele despejou a confissão que guardava a quantas chaves achasse necessário, para alguém que nem era tão importante em sua vida. Mas, ainda que o desconforto houvesse aumentando infinitas vezes, o peso em sua consciência estava quase nulo, deixando-a livre de pensamentos pejorativos a respeito de si mesmo. Ele enfim havia confessado, não com todas as letras, mas de forma clara para que houvesse apenas um significado: Tyler era homossexual.

— 'Pera, o que tu disseste? — exaltou-se novamente, segurando Tyler pelos ombros, meio de lado, em posição desconfortável — tu és do babado também? — sorriu abertamente, incrédula.

— O que isso quer dizer? — estava confuso com toda aquela reação espalhafatosa.

— De forma simples, que tu és como o Gabe.

E, não havia mais como voltar atrás, Tyler, depois de muita repreensão, havia se assumido para alguém que não fosse seu reflexo no espelho. Não havia cem por cento de auto aceitação, mas, com a mente mais clara, a ponte do amor próprio e aceitação começou a ser construída.

...

Tyler, vestindo apenas uma bermuda curta para dormir, passava a toalha em seu cabelo, no intuito de secá-lo. Distraído e sozinho, como usualmente se sentia. Mas, o clique da porta se abrindo, o fez parar sua ação para encará-la. Era Gabriel.

De forma imediata, seu coração disparou-se, minimamente pela conversa com Sabrina, pela tarde; e em maior parte pelas possíveis notícias que o garoto lhe daria.

Gabriel mantinha-se indiferente, estático à porta. Até que o quarto pareceu mais claro, mais iluminado, seu enorme sorriso metálico se fez presente, carregando consigo toda sua carisma e felicidade naquele momento. Ele estava tão animado e feliz. Aproximou-se de Tyler, ainda risonho e energético.

— Eu consegui! — sorriu ainda mais — Tyler — levou as mãos aos ombros do garoto, o segurando, em incredulidade — eu consegui.

E, em um ato espontâneo, Gabriel o abraçou, um abraço quente e fraterno. Carregando alegria e satisfação em primeiro momento, referente a todas as emoções sentidas pelos dois. Tyler, pelo ato imprevisto, manteve-se com os braços parados ao lado de seu corpo, atônito; mas, percebendo que o abraço durava mais do que esperava, acabou por ceder, retribuindo vagarosamente o gesto. E assim ficaram por um curto momento.

— Argh, eu não to acreditando que eu conse... — Gabriel parou de falar abruptamente, ao se afastar de Tyler, mas ainda próximo o suficiente, encarando-o nos olhos — seus olhos são bem negros... e brilhantes — incerto, declarou. Em sua mente, caracterizá-los era para soar como um elogio.

— Ah — levantou uma sobrancelha, desconfortável pelo abraço e agora pelo elogio subentendido, sentindo o sangue subir ao seu rosto, num leve rubor de vergonha, era a primeiro vez que outro garoto o elogiava — valeu...

Quebraram então a pouca distância que os separava, transformando-a em uma maior ainda, quando Tyler voltou a secar seu cabelo e Gabriel deitou-se em sua cama, já de banho tomado. Quando o garoto loiro iniciou seu monólogo, contando tudo o que havia acontecido, volta e meia sendo interrompido por questionamentos do outro, puderam, enfim, compartilhar um momento sem desconforto, apartação; apenas como dois colegas de quarto, dois garoto, ou só dois amigos mesmo.

E, no pensamento de Gabriel, que saia, nos primeiros dias na ilha, durante a noite para observar o céu estrelado, pode achar outra galáxia brilhante nos olhos negros e cintilantes do colega de quarto, que outrora não tinham tanto reconhecimento.

A bandeira branca da paz havia sido estendida entre os dois, enfim.

________________________

Então minha gente, espero que tenham gostado <3 decidi parar de enrolar e deixar acontecer, acho que o enredo tá estruturado o suficiente para começar a desenvolver a parte amorosa como um todo.

Quero, novamente, pedir desculpas pelo atraso, mas tem motivo sim! Ultimamente eu to me sentindo doido, lesado, sério. Têm os trabalhos/técnicas do curso, o faço presencial no turno vespertino; pela manhã, ou estou em inércia ou realizando um trabalho/estudo referente a isso; e, no mas, to estudando para o ENEM/vest, eu nunca fiz a prova e to morrendo de medo de não passar e ter de esperar o ano todo para tentar novamente. Fim do ano acabo o curso e preciso ter minhas metas bem encaminhadas para 2019, e, sofro de ansiedade, logo, tudo isso me afeta bastante, me deixando saturado para escrever Delitos.

Sei que vocês, leitores maravilhosos, não têm nada a ver com meus problemas, porém achei justo explicar-lhes a situação e deixar claro: NÃO IREI DESISTIR DE DELITOS! Jamais! Porém o fluxo de postagem vai ficar irregular, espero que compreendam e continuem comigo nessa. 

Obrigado pela atenção, e, mais uma vez, desculpas <3

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