Três Dias Com Ele

By DivinoBAtista

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Sinopse: '' Cansada de sofrer desilusões e do "entra e sai" de pessoas na sua vida, Manu decide dar... More

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Prólogo
Um
NOTA DO AUTOR
Lançamento Oficial

Dois

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By DivinoBAtista

Acordei hoje de manhã ainda com a caneta na mão e a minha agenda entreaberta, caída no chão aos pés da cama. Imediatamente me veio à lembrança a conversa que tive com o Rafa na noite anterior, as palavras que ele me disse e que pela primeira vez me pareceram carregadas de um significado a mais, as reticências colocadas ao final de algumas frases que pareciam muito mais um sinal de insegurança que de simples pontuação.

Era impressão minha ou Rafael estava me flertando àquela hora da madrugada?

Eu, Manoela, expert em fantasiar tudo o que acontece ao meu redor, não sabia o que pensar, e sem querer deixei que o meu lado impulsivo se colocasse entre nós.

Sei lá...

Eu literalmente fiquei petrificada ao ler aquelas palavras na tela do meu celular, eu nem soube lhe dizer o "fica com Deus" costumeiro e, simplesmente, ploft, desconectei o chat do facebook.

Não preciso dizer que ainda fiquei por quase meia hora relendo nossa conversa, subindo e descendo a janelinha do messenger, tentando me convencer de que eu estava vendo pêlo em casca de ovo, chifre em cabeça de cavalo e, principalmente, de que o meu amigo virtual não estava se declarando pra mim.

Eu preferia acreditar nisso a passar por uma ilusão novamente...

Custei a dormir. Lembrei do modo como Rafael e eu nos conhecemos num grupo de leitura do facebook.

Eu fã incondicional de romances e ele completamente apaixonado por sagas do tipo Harry Potter e Jogos Vorazes.

No início da nossa amizade eu relutei bastante, policiava a mim mesma constantemente, pois tudo o que eu não precisava naquele momento era arranjar uma paixonite virtual. Mas, com o passar do tempo, uma parte de mim foi relaxando, e sem perceber deixei de temer a proximidade que se fazia cada vez mais entre a gente.

Conversávamos praticamente todos os dias, mais de uma vez por dia até, e até esse aparente flerte do Rafa, eu não havia me dado conta do quanto estávamos presentes na vida um do outro, e mais, do quanto ele me faria falta se um dia a gente deixasse de se falar.

Só de pensar nessa possibilidade, senti um aperto gigante no meu peito.

Eu não queria, não podia estragar tudo novamente com as minhas fantasias, não com ele.

E se o Rafa não estivesse se declarando coisa nenhuma?

E se fosse coisa da minha cabeça, da minha irritante mania de buscar significados inexistentes por trás de palavras que só expressam aquilo que dizem?

Eu simplesmente não sabia o que pensar e apesar do relógio no criado-mudo já apontar quase duas horas da manhã, comecei a fazer o que sei de melhor: escrever.

Não lembro quando adormeci, e se não fosse o despertador tocando sem parar e as batidas insistentes da minha mãe na porta do meu quarto, o provável é que eu teria dormido no mínimo até o meio-dia.

Nada pior que uma noite mal dormida, certo?

Com o meu corpo ainda implorando por pelo menos mais dez minutos na cama sob o calorzinho do edredom, tive que fazer um esforço enorme para levantar e seguir direto para o banheiro. Um banho frio - eu detesto banho frio! - com certeza melhoraria minha cara de sono ou, pelo menos, evitaria os repetitivos comentários dos meus pais sobre o cuidado que devo ter para dormir cedo, e não ficar na internet até altas horas da madrugada.

Enfim, mesmo tendo acabado de acordar, eu estava cansada e não queria outros aborrecimentos logo no início do dia.

Assim, tomei um banho rápido, sequei o cabelo apenas o suficiente para fazer um rabo de cavalo, fiz uma maquiagem leve e vesti a primeira roupa decente que encontrei no guarda-roupa.

Trabalhar na biblioteca da cidade às vezes era um saco porque me impedia de usar os jeans e as regatas que eu tanto amo. Acho que fiquei com uma aparência apresentável, já que pelo menos dessa vez minha mãe não disse nada a respeito.

Tomei um café rápido para aproveitar a carona do meu pai e evitar o possível atraso que a espera no ponto de ônibus causaria.

O fato é que apesar de parecer mais um dia comum na minha vida tão marcada pela rotina que eu deliberadamente estabelecera ao longo dos anos, eu sabia que alguma coisa estava fora do lugar. E claro que esse alguma coisa tinha a ver com o Rafa, e com as frases dele que não me saiam da cabeça.

Por que ele tinha de me dizer aquilo meu Deus? E ainda mais daquela forma?

Eu repetia essas perguntas pra mim mesma a cada cinco minutos, enquanto desesperadamente tentava me concentrar nos comentários que o meu pai fazia a respeito do absurdo que era o aumento da gasolina durante essa crise política e financeira em que o país se encontra.

Acho que ele acabou percebendo que eu não estava muito atenta aos seus desabafos, coitado, e optou por ligar o cd player e deixar que Never say never do The Fray preenchesse o silêncio dentro do carro.

"Pôxa, valeu mesmo Pai!", eu disse mentalmente, "Nunca diga nunca" era exatamente o que eu precisava ouvir pra ficar ainda mais confusa no que diz respeito a todo esse meu recente conflito de sentimentos envolvendo o Rafael.

Papai me deixou na calçada da biblioteca exatamente às 8h:56mim. Eu cheguei portanto 4 minutos adiantada e tudo teria saído de uma forma quase perfeita se meu celular não tivesse começado a vibrar dentro da bolsa que eu sempre carrego comigo. Dentro dela eu tenho praticamente um kit de sobrevivência, além das roupas que levo para trocar na academia e, claro, das apostilas do curso de fotografia.

Como caminhar até à minha sessão na biblioteca e encontrar o celular dentro da bolsa ao mesmo tempo, antes que ele parasse de chamar? Eu não seria a Manoela se conseguisse realizar tal façanha, né?

Então acabei me embaralhando toda ao deixar cair meu estojo de maquiagem na entrada do prédio, enquanto procurava o bendito telefone, o que no fim das contas nem adiantou muito.

Ele parou de tocar antes que eu o alcançasse, e eu só pude perceber que era o Rafa por causa do seu número e da sua foto que ficou estampando a tela do aparelho que, agora, eu segurava nas minhas mãos trêmulas.

OMG!

"O que ele quer agora?!"

Perguntei-me, enquanto apanhava minha maquiagem no chão.

"Calma, Manuzinha, ele te liga todos os dias, por que não faria isso hoje?", meu lado sensato pareceu ter acordado finalmente e, com esse pensamento eu consegui finalmente caminhar até o meu balcão de trabalho na ala 1 do prédio. Pena que não consegui escapar do olhar quase mortal da dona Carmem, a diretora geral da biblioteca Cora Coralina.

Depois de quase quinze minutos de sermão da queridíssima senhora, finalmente pude parar um pouco os meus pensamentos e me concentrar no caos que minha vida tinha se tornado desde a madrugada.

Putz!

Por que não escutei pelo menos ontem os conselhos da minha mãe, e fui dormir às 23h?

Se tivesse feito isso, o Rafa não teria me falado todas aquelas coisas e consequentemente eu não estaria hoje com a cabeça cheia de minhocas.

Por Deus!

Será que existe uma garota mais analfabeta do que eu nesses assuntos do coração?

Por que pra mim as coisas nunca se apresentam como realmente são?

Até ontem ele era apenas meu amigo, o cara com que eu abria o meu coração, a pessoa para quem eu falava sobre o quanto a solidão me assusta e do medo que eu tenho de envelhecer sozinha. Pelo menos era como amigo que eu o enxergava.

Tá, tudo bem...

Eu reconheço que não gosto muito de vê-lo falar sobre as amigas da faculdade, principalmente quando o assunto tem a ver com a tal Priscila.

Não tem muito tempo ele me disse - um tanto envergonhado - estar suspeitando que ela sentisse algo além de amizade por ele: "Vira e mexe a Pri arranja um jeito de me abraçar ou mesmo me tocar, Manu.", ele falou, e desde então eu fico me perguntando como uma garota pode ser assim, tão atirada.

Que raiva dessa menina!

Hã? Espera, como assim?

O que eu estou pensando?!!

Aaaah, não!

Isso não pode está acontecendo!

Será que eu me apaixonei pelo Rafa e não percebi essa tragédia até ontem?

Jesus Cristinho, pensa bem garota, ele, Rafael é seu amigo. Só seu amigo, lembre-se disso e não confunda as coisas!

Estava com minha mente completamente confusa quando escuto a notificação de uma nova mensagem no celular. Pego o aparelho no meu bolso e vejo rapidamente na tela:

Pronto.

Ligar para o Rafa nunca foi difícil pra mim, mas, dessa vez, eu preferiria mil vezes subir e descer correndo o Everest, a ter que fazer isso no estado de confusão em que eu me encontro.

Bom, acho que não tenho alternativa, não vou ter como fugir dele o tempo todo, e pra falar a verdade, eu nem quero isso.

Na verdade, eu nem sei o que quero, já que agora não tenho certeza do papel que ele quer que eu tenha na vida dele.

O que eu sei, a única coisa que sei, é que eu me detestaria se por conta dessa história que por enquanto só existe na minha cabeça, eu visse a estragar a nossa amizade.

Eu não me perdoaria se isso acontecesse.

Pensando nessa possibilidade e sentindo um aperto no peito, disquei rapidamente o número do Rafa na tela.

No segundo toque ele atende.

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