Floresta do Sul

By InTheClows

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• Livro I • Segundo livro já disponível: Colina do Sul. Chloe Lidell. Desde a barriga foi destinada a algo gr... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXIII
Agradecimentos
Informações sobre o livro II
Curiosidades FS
Aviso extremamente importante
NOVIDADES DO LIVRO EM PAPEL
Aviso (leiam todos, inclusive os que ainda nao terminaram de ler, por favor)
Atualização Completa e Colina do Sul
Ainda há alguém aqui?
Por todos vocês

Capítulo XXIV

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By InTheClows

Já haviam se passado duas semanas.

Rhys me treinava, todos dias. Acabei tendo de deixar a cozinha de vez, ajudando nas patrulhas. E treinando.

Rhys me ensinou muitas coisas sobre a floresta, sobre sobrevivência. A neve já havia coberto as árvores e o chão, mas isso não impediu nosso treino, aliás, Rhys ficou feliz de poder me ensinar as coisas no período mais difícil do ano para a floresta.

Minha precisão no arco era quase perfeita. Eu nunca errava.
Eu cacei, peguei uma corsa grande que comemos no jantar. Senti um peso quando a matei, mas Rhys me ajudou com palavras de incentivo. Ou eu sobrevivia, ou a floresta iria se impor contra mim. Foi a primeira vida que tirei.

Rhys me esperava do lado de fora. Eu já não treinava mais de madrugada, até porque Rhys e eu andávamos meio... ocupados nesse horário. Meu treino agora era depois da patrulha, no campo, e eu tinha com quem lutar. Mesmo que a cada golpe acabasse em beijos.

Ajustei o sobretudo azul marinho sobre os ombros e saímos pelos portões, antes dos primeiros raios de sol. Estava frio, a neve havia parado de cair, mas cobria o chão até a altura dos tornozelos, deixando a caminhada mais difícil. Rhys me ensinou novas armadilhas para neve, novos truques para os golpes. Ele me ensinou tudo que sabia.

– É sempre tão calmo assim? – Pergunto. Estávamos em frente ao rio, na Cachoeira Escondida.

A correnteza forte não deixou que a água congelasse, mas não chegamos perto o suficiente para sentir um pingo dela no corpo. Com certeza estaria em uma temperatura de fazer os dentes baterem, ao mínimo contato.

– Bom, que eu me lembre, nunca tive problemas aqui.

– Não... quero dizer as patrulhas. Nosso objetivo é plantar armadilhas para inimigos, perseguir ele, caso apareça, e observar os sinais por onde ele passou. Até hoje nunca vimos nada, nenhum inimigo, nenhum sinal, nada.

– Preferia que tivesse inimigos? – Um sorriso sarcástico brinca em seus lábios, mas seu corpo está tenso.

– Claro que não. – Respondo baixinho, encarando meus próprios pés. Rhys suspira ao meu lado, entrelaçando os dedos nos meus.

– São importantes. As patrulhas. Depois que... do que aconteceu com minha mãe eles atacaram muitas vezes, e talvez haja um motivo para estarem quietos, talvez esperam que baixemos a guarda.

– Foram os Legionários do Norte? – Ouso perguntar depois de algum tempo. Rhys sabia o que eu queria dizer.

– Não. – Ele balança a cabeça. – Não, não foram.

Embora minha curiosidade estivesse apitando, querendo perguntar quem foi, fico calada. Não queria que ele ficasse relembrando aquela época, o que aconteceu, o que ele foi obrigado a assistir, sozinho.

— Quando eles atacaram o acampamento, e você matou aquele Legionário... Foi por que ele tinha visto meu rosto? — Solto o que circulava minha mente há semanas.

— De fato eu não poderia deixa-lo vivo porque ele reconheceu você, por isso quis te matar. Normalmente apenas causam terror e vão embora. Ou ele te mataria, ou, se fosse embora, venderiam a informação para o rei, ou eles mesmo organizariam um ataque maior para te levar e negociar com o castelo, ou o que quer que quisessem. — Estremeci de leve, apertando o casaco ao redor do corpo. — Mas eu mataria, Chloe, mataria para te salvar mesmo que nada mais estivesse em jogo.

Rhys fez círculos tranquilizantes no dorso de minha mão, e sorri para ele antes de colocar a máscara de volta, enquanto voltávamos ao campo de treinamento.

***

Mais dois dias. Não sabia porque, mas eu ficava contando o tempo. Talvez para ver quanto tempo havia desde que me distanciei de minha fuga.

E quatro meses desde que cheguei na floresta.

– Hoje tenho uma surpresa para você. – Não consigo conter o riso quando Rhys se levanta da varanda, de touca. Ele estava absurdamente lindo e angelical. Talvez eu devesse agradecer mais a neve e o inverno. – Não era essa surpresa. – Ele aponta para a própria touca ao ver que eu estava rindo. – É algo bem maior.

– Um outro lugar inusitado da floresta? – Ele sorri, lembrando da última vez que fiz aquela pergunta e onde fomos parar.

– Não. Um avanço em seu treino. – Automaticamente meus ossos doem.

– Rhys, estou amando aprender tudo que preciso sobre a floresta, ficando mais forte... Mas se você me fazer escalar mais uma montanha, eu jogo você lá de cima.

Rhys solta uma gargalhada deliciosa, enquanto atravessamos os portões e caminhamos em direção aquele lugar que tenho ido todos os dias.

Nós, Rhys e eu, estávamos inseparáveis desde a Festa de Inverno. Todos fingiam que não viam, ouviam, e nós também fazíamos a mesma coisa. Apesar que, em público, o máximo que chegávamos a fazer era sentar um ao lado do outro em todas as refeições. Agradeci silenciosamente a Selena e Laurien por não perguntarem nada quando eu as visitava na cozinha ou em suas casas, mas não podia deixar de notar o olhar malicioso de cada uma.

Você parece estar brilhando. Está radiante. Comentou Selena, certa vez.

– Estou normal. – Respondi, dando de ombros.

Ah sim, nós sabemos o nome dessa normalidade toda.

Eu apenas havia revirado os olhos, mas não pude conter o sorriso, que só arrancou mais frases indiretas delas.

– E o que seria este avanço, então? – Pergunto depois de um tempo em silêncio. Eu já não emitia um ruído sequer quando andávamos.

– Nós iremos passar um dia e uma noite na floresta.

– Mas nós já fizemos isso.

– Sim. – Ele me encara, os olhos brilhando, apesar de uma sombra escura rodear seu olhar nas últimas semanas. – Mas é diferente agora.

– Comprou outro edredom?

– Engraçadinha. – Ele cutuca minhas costelas com o cotovelo, sorrindo. – Nós vamos fazer um verdadeiro teste de sobrevivência.

– Se consegui sobreviver a escalar aquela montanha, consigo sobreviver a qualquer coisa, Rhys.

Nunca me esqueceria daquele treinamento absurdo. Rhys simplesmente decidira que eu precisava aprender a escalar. Como se árvores já não fosse o suficiente. Ele escolheu uma montanha alta e rochosa, mas foi uma das coisas mais árduas que tive de fazer. Fiquei um dia inteiro deitada, relaxando os músculos, depois disso. Como pagamento Rhys fez várias massagens por meu corpo... Bom, talvez não tivesse sido tão ruim assim escalar aquela montanha já que tivemos um dia inteiro só para nós depois disso.

– Achei que eu fosse morrer naquela escalada. – Confesso pulando um galho baixo.

– Prometi a você que não deixaria que se machucasse.

– Tudo bem. – Sorrio. – Pelo menos, agora não irei quase cair do muro quando formos ao Reino de novo.

– Viu só? – Ele diz rindo. – Bom, mas deixe eu contar como será nosso teste de sobrevivência. Seu teste, na verdade. – Ele faz uma pausa quando chegamos ao Campo de Treinamento. – Nós iremos vir para cá sem nada, sem comida, sem barraca, nada. Teremos que fazer tudo sozinhos. Você terá. Eu apenas vou observar e dar algumas dicas com o que for preciso.

-- Qual o objetivo disso?

– A vida aqui é... complicada. Nunca sabemos o que virá depois, o que sobrará. Então quero que esteja sempre pronta para qualquer coisa. – Ele desvia os olhos enquanto fala.

– E quando faremos isso?

– Em dois dias. Até lá, precisa aprender como fazer uma fogueira no inverno.

***

Constantemente Rhys estava tendo pesadelos. Quase sempre eu acordava com seus gritos abafados, seu corpo suado colado ao meu, e muitas vezes ele gritava por mim. Eu acariciava seu cabelo até que ele se acalmasse e seu rosto voltasse a ficar sereno, mas aquilo estava começando a me preocupar. No dia seguinte ele nunca parecia se lembrar de nada, então, eu também não tocava no assunto. A cada dia eu via mais e mais daquela névoa e dor em seus olhos, mas sempre que eu tentava chegar no assunto, Rhys desviava.

– Animada? – Seu sorriso no rosto me fez melhorar minha expressão. Ele estava me esperando no sofá da sala de minha casa, que era onde ele passava a maior parte do tempo também.

— Para congelar lá fora? — Arqueei uma sobrancelha, sorrindo quando ele jogou uma maçã para mim e a peguei no ar. — Por que não estaria?

***

O sol já estava alto e a neve um pouco derretida quando decidi que já não aguentava mais a fome. Estava há cerca de uma hora em meio aos arbustos, o arco e flecha na mão, e nenhum animal passara. Rhys ficou em silêncio o tempo todo, me observando. Eu sabia que se dissesse que minha fome me venceria em menos de uma hora, ele provavelmente viajaria o mundo e voltaria em poucos minutos com algo saboroso para mim.

Mas eu queria fazer aquilo por ele. Uma parte distante de mim gritava que ele estava me ensinando todas aquelas coisas porque queria que eu ficasse ali, com ele, para sempre. E eu estava disposta a isso. Iria sentir falta de Gina e Miranda, mas a essa altura já devia ser perigoso que eu tentasse contatar a elas. Eu deveria ser quase uma procurada, mesmo não tendo cometido nenhum crime. Mas eu com certeza cometeria um se algum guarda tentasse me levar de volta para o Castelo.

Rhys me acompanhou em silêncio quando saí de dentre os arbustos e segui para o lago mais próximo. Graças aos céus ainda não havia congelado. E Rhys continuou calado quando peguei um pedaço grande de madeira, e com a adaga que estava em minha bota, comecei a cortar a ponta, fazendo uma lança.

Deixei a ponta o mais fina possível, guardei de volta a adaga e me aproximei do lago. Os peixes que estavam na borda eram poucos. Mesmo que no inverno fosse mais difícil para caçar, era, com certeza, ótimo para uma pesca com lança. Os peixes estavam lentos, alguns em estado letárgico. Então joguei a lança, rápido, e antes que fossem para longe, peguei três deles.

– Almoço, jantar. – Digo, apontando para os peixes sobre a neve. Alguns ainda se mexiam, mas em breve chegaria seus momentos finais. Tentei não sentir pesar com aquilo.

Rhys estava de braços cruzados, as sobrancelhas erguidas em completa surpresa, orgulho e admiração. Sorrio para ele, e quando os peixes param de se debater, coloco todos espetados na lança, lavo minhas mãos no lago, e voltamos a andar, a lança sobre um de meus ombros.

– Desculpe não ajudar... É só que... quero ver o quanto consegue se livrar sozinha na floresta. – Rhys fala, culpa e peso inundam sua voz, e eu me aproximo cutucando suas costelas.

– Está tudo bem. Estou adorando trocar os papéis e cuidar de você, pelo menos uma vez.

Ele sorri, e então continuamos a caminhar...

Até eu descobrir que outra tarefa complicada já me esperava naquele teste de sobrevivência. Ah, aquele seria um longo dia.




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