A cozinha estava um caos, ele tinha que admitir. Por mais que gostasse de cozinhar e se aventurasse na cozinha vez ou outra, cozinhar pela manhã obviamente não era seu ponto forte. A chaleira chiou, anunciando que a água já estava começando a ferver para o café. Ele largou a massa de panquecas meio batida enquanto se esticava para desligar o fogo. Café e água fervente não faziam uma boa combinação. Despejou a água com movimentos circulares sobre o coador. O cheiro de café invadiu a cozinha. A frigideira já estava bem quente para receber a massa das panquecas, que cresceu lindamente. A última queimou um pouquinho de um dos lados. Ele a colocou por baixo enquanto arrumava a bandeja com esmero.
Foi até o quarto, equilibrando a bandeja com todo o cuidado do mundo, enquanto abria a porta. Acomodou-a sobre a mesa de cabeceira enquanto se aproximava de Cait. Ela ainda ressonava calmamente, e ele odiou acordá-la. Mas qual era o ponto de um café da manhã na cama se a pessoa não acordava com a comida ali? Além do mais, se ele fosse esperar que ela acordasse sozinha, provavelmente não tomariam café da manhã, e sim almoçariam...ou jantariam. Ela não era uma pessoa muito matinal, especialmente nos últimos dias, mas dez horas da manhã era um horário perfeitamente aceitável para se acordar alguém.
Sentou-se na beira da cama ao lado dela, e observou-a por alguns segundos. Ela estava usando apenas calcinha e a blusa do pijama, que estava levemente erguida, revelando a barriga cada vez maior. Mesmo dormindo, ele podia ver a felicidade estampada em seu rosto. Apesar da obra estar um pouco enrolada, todo o resto estava indo muito bem para eles, e Cait estava radiante, ansiosa pela casa e pelo bebê.
Deu-lhe um beijinho terno na testa, seguido por outro atrás de sua orelha, e mais um na base do pescoço, e quando percebeu que ela estava começando a despertar, beijou-lhe na boca. Ela hesitou por um momento, e então, percebendo de quem se tratava, apenas correspondeu.
— Bom dia, querida — Sam falou, sorrindo e se afastando um pouquinho. Ela abriu um dos olhos, em seguida o outro, e então um sorriso enorme ocupou-lhe os lábios. Ela levou a mão à barriga, como se para verificar se ela ainda estava ali.
— Bom dia — respondeu preguiçosamente, espreguiçando-se enquanto Sam pegava a bandeja e colocava sobre suas pernas. Ela ajeitou-se nos travesseiros, sentando-se, um pouco surpresa.
— Feliz aniversário, Cat — ele aproximou-se mais dela, puxando-a para um abraço de urso. Ficaram assim por vários minutos, até que Sam se lembrasse do café, afastando-se com dificuldade — O café vai esfriar.
— Café? — Cait questionou, lembrando-se da recomendação da Dra. Carina para que evitasse seu tāo amado café.
— Descafeinado — Sam explicou, servindo numa xícara. Cait inspirou aquele aroma, sorrindo. Na bandeja, além da garrafinha térmica que continha o café, havia uma imensa pilha de panquecas cobertas com maple syrup e morangos, blueberries e cerejas, além de um pequeno buquê de flores que Sam colhera em sua corrida essa manhã.
— Você que fez? — ela questionou, levantando uma das sobrancelhas enquanto levava a xícara de café até a boca. Molhou os lábios e sorriu. Ela amava um bom café.
— Tudinho — respondeu, satisfeito. A cozinha continuava uma bagunça quando foi para o quarto, mas a diarista de Cait tinha acabado de chegar, e, com sorte, quando finalmente saíssem do quarto, tudo estaria arrumado. Fez uma nota mental para pagar um extra para a mulher pelo transtorno.
Ela deu uma garfada nas panquecas e ele apenas observou-a mastigar com satisfação, dando outra garfada em seguida, mas dessa vez oferecendo a ele, que aceitou sem hesitar.
— Estão deliciosas, Sam — elogiou, lambendo os lábios.
— Eu tenho dois presentes pra te dar — ele disse, terminando de mastigar. Ela não tinha notado ainda, mas a seus pés haviam dois pacotes, um deles era azul, e o outro dourado — Qual quer abrir primeiro?
Ela hesitou por um momento, indecisão estampada em sua face. Comeu mais um pouco, bebericou o café e sorriu.
— O azul — declarou, por fim. Ele nem queria saber que tipo de dedução ela usara para se decidir. Talvez tivesse feito uni-duni-tê.
O pacote azul continha uma caixinha dentro, maior que a de um anel. Ela balançou perto do ouvido antes de abrir. Sam assistiu, ansioso enquanto ela finalmente abria a tampa, revelando uma pulseira de ouro fininha, cinco pequenas bolinhas em seu entorno. Eram versões menores do pingente cintilante de sua gargantilha, bolinhas de ouro branco incrustadas de pequenos brilhantes.
— Cinco? — questionou, retirando a pulseira da caixinha e abrindo o fecho. Ele ajudou-a a colocar no braço.
— Uma para cada ano que nos conhecemos — Sam explicou, o sorriso se expandindo — e vou continuar alimentando essa pulseira, uma por ano, até que não sirva mais. Então vou te dar outra, e encher de pingentes. E mais uma. E então outra.
— É lindo, Sam — encarou-o com os olhos marejados — Você sempre me surpreende.
— Espere até ver o outro presente para falar em surpresa — ele deu de ombros, alcançando o outro presente — Esse não é bem pra você, mas acho que vai gostar.
Cait nem esperou que ele terminasse de falar antes de começar a abrir a embalagem dourada. Era uma caixa de papelão, e dentro dela, coberto por papel seda da mesma cor da caixa, repousava um pequeno body branco. Era a primeira roupinha do bebê. Ela não tinha comprado nada ainda, em partes por medo. Medo de perder o bebê e depois ter que lidar com as roupas. Mas a desculpa oficial para não ter comprado absolutamente nada, era a obra. Ela dizia que comprar coisas antes da casa ficar pronta apenas daria trabalho, uma vez que teriam mais coisas para mudar pra lá. Sam fingia acreditar nisso, mas no fundo ele sabia que era o medo que a impedia. Torceu para que aquela roupinha mudasse isso, a ajudasse a criar coragem, a ajudasse a acreditar.
— Oh Sam — ela falou, agora deixando que as lágrimas escorressem de forma torrencial por sua face enquanto tocava a roupinha, ainda dobrada dentro da caixa.
— Desdobre — Sam falou, simplesmente, cerrando o maxilar para conter suas próprias lágrimas.
Tirou a roupinha da caixa, desdobrando-a. Era um body branco simples, daqueles que as mamães compravam em dezenas quando montavam o enxoval, mas o que o diferenciava dos demais era o que tinha escrito, em grandes letras pretas: Tiny Balfe-Heughan Baby.
Ela apenas continuou segurando-o alto em frente a si, olhando sem piscar, as lágrimas escorrendo e encharcando sua blusa. Depois de alguns segundos, Sam abaixou suas mãos, aproximou-se mais e puxou-a para seu peito, acariciando seus cabelos enquanto ela chorava.
— Me perdoe — ele pediu, apertando-a contra si — Não queria te fazer chorar assim, Cait — imaginou que ela fosse ficar feliz com o presente, e não desmoronar daquela forma, e agora sentia-se mal pela ideia. Maldita hora em que pensou naquilo. Deveria ter ficado só na pulseira — Me desculpe.
Ela parou de chorar imediatamente ao perceber o quanto ele se sentia mal pelas lágrimas. Engoliu o choro e se afastou alguns centímetros dele.
— Sam, eu estou chorando de alegria — explicou, fitando-o com ternura — porque esse foi o melhor presente que eu poderia ganhar e eu jamais conseguirei explicar o quão grata eu sou por isso.
— Mas você estava soluçando agora mesmo. Nunca vi alguém chorar de alegria assim — ele estava atônito.
— O que eu recebi aqui, não foi apenas uma pulseira e uma roupinha de bebê, Sam — ela sentia como se fosse voltar a chorar a qualquer momento, mas segurou, devia a ele aquela explicação — Recebi uma promessa de amor por toda minha vida naquela pulseira, e a de que vai amar ao nosso filho da mesma forma naquela roupinha. Eu sou a mulher mais feliz do mundo por te ter ao meu lado. Me perdoe se algum dia te fiz pensar o contrário.
E então quem cedeu às lágrimas foi ele. Ficaram ali, abraçando um ao outro até que ambos se acalmassem. Depois terminaram de comer as panquecas frias, tomaram o café e fizeram amor.
**
— Você vai me deixar sair dessa cama hoje, Sam Heughan? — Caitriona perguntou, agarrando-se ainda mais a ele. Já era mais de meio-dia e ainda estavam na cama. Agora nus, apenas envoltos pelos lençóis macios.
— Talvez — ele disse.
— Marta já deve ter terminado de limpar a bagunça que você fez na cozinha, se é por isso que ainda estamos aqui — ela riu, quando ele arregalou os olhos á menção da cozinha destruída — Eu te conheço, Sam.
— Melhor do que eu imaginava, pelo visto — sorriu, beijando-lhe o topo da cabeça.
— Preciso achar meu celular, mamãe já deve ter ligado umas mil vezes.
— Ele está aqui — Sam tirou o aparelho de baixo do travesseiro, o olhar mudando para receio enquanto a entregava.
— O que foi que aconteceu, Sam? — perguntou, curiosa. O celular tinha tanta notificação que jamais encontraria a suposta ligação de sua mãe — O que você fez?
— Olhe o twitter — ele disse, por fim.
Cait desbloqueou o aparelho e abriu o twitter, indo direto para as menções. Tinha uma de Sam, como esperado. O tuíte dizia "Ano que vem vamos comemorar os três juntos. Feliz aniversário @caitrionambalfe e obrigada <3", seguido por uma foto. Ela estava usando um vestido branco leve, algumas flores bordadas, a barriga bem visível. Sam tinha a fotografado na dia anterior. Chegara em casa depois de sua corrida matinal e ficara todo bobo ao vê-la na cozinha, segurando uma xícara de chá, a mão apoiada sobre a barriga. Então fotografou.
Eles já tinham conversado sobre contar, e tinham concordado em fazê-lo, então num impulso, antes de começar a fazer o café da manhã, ele tinha postado. Depois se arrependeu, mas já não adiantava querer apagar, porquê tinha certeza que aquilo já fora printado e replicado por todos os lugares. Então fez uma ligação para sua equipe de PR e pediu que liberasse o release confirmando a gravidez. Tudo isso, antes do café. E mesmo que tivessem combinado de contar, ficou com medo da reação dela.
— Agora todo mundo já sabe — ela disse, sorrindo. Sentiu como se todo um peso tivesse sido tirado de suas costas. Estava cansada de mentir e esconder — Mas acho que você esqueceu de algo.
— O quê? — ele perguntou, intrigado.
— Já somos três. Ano que vem seremos quatro — corrigiu-o.
Ele apenas observou-a com uma das sobrancelhas erguidas em questionamento.
— Eddie — respondeu, apontando para a bolinha de pêlos branca e preta que repousava aos pés da cama, ronronando num sono pesado.
N/A: Manip by @itsblancait (no tt) a melhor de todas <3